FOLHA DE SP - 03/06
Notícia sobre Alckmin deu o inexistente como certo
Em nome de um país mais honesto, os brasileiros de bem apoiam firmemente o combate à corrupção. A nação vem sendo passada a limpo e vive um momento importante de sua história, enfrentando uma crise de natureza moral que atinge grande parcela dos homens públicos.
Pois é justamente nesse momento delicado, quando a imprensa confirma o seu protagonismo ao lado do Ministério Público, das polícias e do Judiciário, que a responsabilidade do jornalismo aumenta.
Fatos criados e propalados sem os compromissos próprios do jornalismo podem comprometer ou colocar em risco o processo democrático.
Erros, é claro, ocorrem. Mas erros graves podem punir injustamente, e de maneira irreparável, homens públicos de bem, pessoas honestas que têm, no nome, o seu primeiro e maior patrimônio.
Esta Folha publicou, no dia 20 de maio, reportagem afirmando que o ex-governador Geraldo Alckmin teria recebido dinheiro —R$ 5 milhões— da concessionária de estradas CCR para caixa dois de sua campanha ao Governo do Estado de São Paulo em 2010. Segundo o texto, tal fato constava de uma investigação a cargo do Ministério Público.
A defesa do ex-governador, depois de publicada a reportagem, obteve cópias integrais da tal investigação. Nela simplesmente não consta nenhuma referência, muito menos acusação, sobre Geraldo Alckmin. O fato, noticiado como verdadeiro, não existe. Não havia nem sequer menção indireta ao ex-governador.
Publicada às vésperas da sabatina Folha-UOL-SBT, essa reportagem fez com que, nessa entrevista, Geraldo Alckmin gastasse o tempo precioso destinado à divulgação de propostas apenas para se defender da falsa acusação.
Mais: a falsa notícia foi replicada em outros jornais e repercutiu nas TVs, nos sites de notícia e nas rádios —testemunho da credibilidade que esta Folha habitualmente tem. Uma simples busca no Google mostra a propagação da falsa notícia, assim como a sua inserção nociva no debate eleitoral.
A reportagem deu o inexistente como certo, e a Folha embarcou no erro jornalístico. Alertado, o jornalista buscou hipóteses futuras para justificar seu erro no presente.
Se alguma fonte passou ao jornalista a informação falsa, merece descrédito. Mas, se o jornalista fez a aposta de que o fato virá a existir, inaugurou um novo segmento do jornalismo: o da quiromancia investigativa.
O jornalismo trabalha com o presente e reconstrói o passado. Um fato não existente no processo, diz a ciência jurídica, simplesmente não existe. Não há justiça como aposta de que algo venha a se concretizar. Nem para os que trabalham na edificação de falsas realidades.
O jornalismo não deve e não pode agir sem o emprego da melhor técnica, com açodamento. Quanto mais fidedigna e precisa for a imprensa, mais livre ela será. Pois, sem ela, não existe justiça. Sem justiça, não há liberdade. E, sem liberdade, não existe democracia.
Marcelo Martins de Oliveira
Criminalista, advogado do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e ex-conselheiro da OAB/SP
Viva! O Murilo voltou! O povo está feliz novamente.
ResponderExcluirO partido fez o quê? O advogado fez o quê?
ResponderExcluirMAM