sexta-feira, junho 17, 2016

Vendam a Petrobras e o resto! - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 17/06

Sérgio Machado me parece o mais despudorado de todos os que fizeram delação premiada. Seja ou não verdade tudo o que diz, nota-se a sua disposição de arrastar, e com certo prazer perverso, companheiros de viagem para a lama na qual chafurdou e se refestelou sem quaisquer limites. Que tipo de gente converte a própria família numa organização criminosa?

Ele é também chegado a uma metáfora bastante crítica sobre o padrão de governança no Brasil. Olha o próprio país com esgar de desprezo em razão dos maus costumes de sua elite dirigente. Machado é certamente do tipo que aprecia a honestidade e a rigidez de alguns governos europeus. Mas deve considerar que isso não é pra nós.

Em solo pátrio, ele prefere ser agente da bandalheira. Exportou um braço do clã, um filho, para fazer safadeza lá fora. Roubava para partidos e roubava para si mesmo. Consta que vai devolver R$ 75 milhões.

Uma de suas expressões despertou em mim certo fascínio enojado, mas que dá o que pensar. O homem afirmou que a Petrobras é "a madame mais honesta dos cabarés do Brasil". Bem, a minha primeira tentação é pedir que Machado tenha mais respeito com os cabarés. Quando se trata de metaforizar, as mulheres dedicadas a divertir os outros por dinheiro não merecem ser associadas a boa parte dos políticos. Até porque têm o direito de fazer as próprias regras para o seu corpo. A canalha que tomou conta do Estado é que não tem o direito de usar o Brasil como propriedade privada.

Que mal fizeram as putas todas ao país? Respondo: nenhum! E essa gente que está por aí, que converteu a "política" numa grande delegacia de "polícia"? O Brasil resgatou a origem comum dessas duas palavras, que a civilização havia se encarregado de separar.

"Madame mais honesta dos cabarés"? Machado quis dizer que, na comparação com outros órgãos públicos e com outras estatais, até que a Petrobras é bastante séria. E quem o diz é um criminoso confesso, que passou os últimos 13 anos da vida assaltando os cofres públicos.

Digam-me aqui: quem há de negar que, nesse particular ao menos, ele fala a verdade? A Transpetro só foi um antro de roubalheira porque é subsidiária de uma estatal. E então se chega ao nome do problema.

É claro que acredito na possibilidade de haver dirigentes honestos de empresas públicas, mas prefiro depender pouco do arbítrio pessoal. Enquanto houver estatais no país, que sirvam aos interesses de partidos e de políticos, os brasileiros continuarão vítimas de safados. É preciso cortar o mal pela raiz.

E a raiz do mal é o estatismo, que impõe à iniciativa privada o comportamento criminoso. E não estou dizendo que os empresários que se meteram em lambanças sejam vítimas. São criminosos também. Quando se tem, no entanto, Machado no comando, qual é a alternativa para fazer negócios com a Transpetro? E a quem Machado servia?

Não é mera coincidência que os maiores escândalos da nossa história tenham vindo à esteira da demonização das privatizações, empreendida pelo PT, e pela óbvia hipertrofia do Estado nesses últimos 13 anos.

Uma estrutura criminosa dessa dimensão não teria sido erigida sem o aporte de uma cultura que valorize o crime: o estatismo.

O resto é conversa mole de falsos indignados. Privatização já!


Recuperar a Petrobras - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 17/06

A Petrobras descobriu que o campo de Libra, que explora junto com sócios de vários países, tem mais petróleo do que se imaginava e a empresa está conseguindo reduzir o tempo necessário para a perfuração dos poços e a extração do petróleo. Notícias assim dão novo gás à companhia que tem estado há dois anos mais ligada às notícias sobre o escândalo de corrupção.

Apesar das boas notícias, a empresa tem um longo trabalho pela frente para reconquistar a confiança da sociedade e do mercado. Para entender mais da empresa que passou a presidir, Pedro Parente, tem feito reuniões com funcionários para ouvi-los. Nestes encontros, vem o desabafo de trabalhadores que ouvem ofensas quando dizem que são da Petrobras.

— Foi uma minúscula minoria de funcionários que produziu esse problema. A grande maioria é de gente decente, honesta, trabalhadora. Tive reuniões dramáticas, com mais de 4.000 colaboradores. Relatos de pessoas que dizem: “eu ando nas ruas e as pessoas me dizem: ‘você é Petrobras, então é Lava-Jato’”. A maioria está envergonhada com o que aconteceu — conta.

Em entrevista que concedeu ontem ao meu programa na GloboNews, Pedro Parente detalhou a notícia que foi divulgada na noite da quarta-feira:

— O último poço perfurado em Libra mostra uma coluna de petróleo de 410 metros. A melhor medição feita até agora é da ordem de 301 metros. Isso é uma indicação da quantidade de óleo.

A produtividade média por poço aumentou, e o tempo de produção de petróleo caiu pelo esforço contínuo de aperfeiçoar tecnologias. O principal custo de exploração e produção é a perfuração de poços. Como as sondas são pagas por dia, há uma importante redução de custos, quando se diminui o número de dias necessários para a perfuração.

— Nós reduzimos junto com nossos parceiros a menos da metade os custos de produção em termos de dias necessários.

Apesar de ser uma pequena minoria de funcionários que fez o enorme estrago na empresa, ele admite que isso só foi possível porque “o sistema de governança e controle não estavam funcionando”, por isso outra área de atuação é exatamente a de melhorar a governança.

— Outro aspecto da questão é lembrar que a gente tem que fazer a empresa se recuperar dos resultados desse processo de roubalheira que aconteceu e de má gestão. Vários projetos mostraram investimentos elevadíssimos e sem qualquer retorno — disse.

Um dos investimentos é o Comperj, no qual foram gastos US$ 13 bilhões. Ele diz não saber se o investimento será recuperado e que há um custo enorme com segurança e manutenção. Por enquanto está definido que a parte de gás será terminada. Para o resto não há previsão.

A empresa terá que fazer um programa de venda de ativos para reduzir o seu alto grau de endividamento, que está em cinco vezes a geração de caixa, quando o saudável é de uma ou duas vezes. Perguntei sobre alguns ativos à venda, e Parente contou que esta semana recebeu as propostas para a compra de uma fatia da BR Distribuidora.

— Temos que analisar essas ofertas para ver se elas estão valorizando adequadamente esse ativo. Se não estiverem, nós temos que revisitar essa discussão.

Parente disse que ainda não avaliou as opções para a Braskem. Sobre o gás, contou que duas unidades de liquefação com suas térmicas foram postas à venda, o que também pode acontecer com as distribuidoras.

Sobre os preços dos combustíveis, Pedro Parente contou que a Petrobras já tem liberdade de preços. Ele disse que considerou, ao ir para o cargo, que para recuperar a credibilidade no mercado e na sociedade a empresa precisaria de liberdade na definição de preços e de não ter interferência política nas nomeações.

Perguntei sobre o fato de estar fazendo planos de longo prazo num governo que é interino. Ele disse que não há tempo para pensar na interinidade.

— A empresa precisa de uma estratégia que vá além do curto prazo. Os investimentos da Petrobras têm maturação longa, de dez anos ou mais. O pior erro seria ficar parado esperando a decisão do Congresso sobre o processo de impeachment.

O que ele tem em mente como objetivo mais importante é fazer o país voltar a ter orgulho da empresa.

O que se vê, o que não se vê - ELIANE CANTANHÊDE

O ESTADO DE S.PAULO - 17/06

Estamos todos prestigiando o que se vê e se ouve nas delações de Sérgio Machado, mas desprezando algo que é igualmente importante: o que não se vê e não se ouve nessas mesmas delações. Juntando as duas pontas – o que ele disse e o que ele não disse –, chegaremos às possíveis consequências desse tsunami que se abate não apenas sobre o governo interino, nem só sobre Brasília, mas sobre todo um sistema de financiamento de campanhas que se embola com a roubalheira pura e simples.

O que se vê e se ouve quanto ao presidente interino Michel Temer na versão de Machado, que presidiu a Transpetro de 2003 a 2014, é que Temer, como vice, teria pedido a intermediação de Machado para obter doações de R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012.

O que não se vê nem se ouve é que, apesar de Machado dizer que desviou mais de R$ 100 milhões para a cúpula do PMDB, ele citou Renan (R$ 32 milhões!), Sarney, Jucá e o insaciável Edison Lobão, mas excluiu desse bolo justamente o próprio presidente do partido, que era Temer. Não disse que despejou dinheiro em campanhas, em contas ou no bolso de Temer. No máximo, disse que ele voltou a presidir a sigla para desempatar a disputa entre deputados e senadores peemedebistas por dinheiro. Se a cúpula toda do PMDB estava no “rachuncho”, o presidente não deveria estar? Pela delação, não estava.

Tem-se que, pelo que se tem até agora, a situação de Temer no caso Machado está menos para a de Renan, Sarney, Jucá e Lobão, que recebiam boladas milionárias e até mesadas, e mais para, por exemplo, a de Jandira Feghali (PC do B), Cândido Vaccarezza, Jorge Bittar e Luiz Sérgio (PT) e José Agripino Maia (DEM), citados por receberem doações registradas como legais por empreiteiras. Detalhe: eles teriam pedido para eles próprios, enquanto Temer teria pedido para terceiros, ou seja, Chalita.

Nunca se sabe o que ainda pode vir de delações, gravações e versões atingindo o presidente interino e, além disso, foi temerário (sem trocadilho) Temer dizer que “alguém que tivesse cometido esses delitos irresponsáveis não teria condições de presidir o País”, referindo-se à acusação de Machado. E se, amanhã ou depois, surgirem evidências de que os dois se encontraram na Base Aérea e discutiram financiamento de Chalita às vésperas da eleição de 2012?

“Você acha que eu preciso de intermediários para falar com empresário, para pedir doação de campanha para a empresa X, Y ou Z? Ainda mais de um sujeitinho (Machado) como esse?”, me disse Temer ontem, relatando que recebeu Machado, pelo menos uma vez, no gabinete de vice-presidente e na residência do Jaburu e que, de fato, vez ou outra, para ganhar tempo, mantém conversas na Base Aérea, mas não se lembra desse encontro de 2012.

De qualquer forma, a metralhadora giratória de Sérgio Machado é muitíssimo grave, atinge o coração do PMDB, alveja sete partidos, inclusive o PSDB, e reforça duas questões muito delicadas: 1) qual a alternativa ao governo Temer agora?; 2) se não sobra ninguém e nenhum partido, que candidatos teremos em 2018?

O bloco PSDB/PMDB/PPS/DEM ameaça incluir na acusação contra Dilma Rousseff, no processo de impeachment, o relatório preliminar do TCU apontando 23 irregularidades e/ou crimes de responsabilidade nas contas dela em 2015. Já a turma PT/PC do B/PDT contra-ataca tentando anexar as gravações e delações de Machado na defesa dela. Nada disso deve ter efeito prático, mas aumenta o descrédito geral.

Aliás, bastou a Dilma botar o pé fora do Planalto para o PT trocar de posição com o PMDB: era alvo principal desde o mensalão, agora cedeu a vez ao PMDB de Temer. Confirmando que a munição mais pesada e a maior publicidade (para o bem e para o mal) são sempre para quem está no poder.

Reação emblemática - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 17/06

O presidente Michel Temer fez bem em refutar publicamente as acusações do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de que intermediou uma propina para a campanha de Gabriel Chalita a prefeito de São Paulo. A frase emblemática de sua indignação é politicamente desastrosa, mas ao mesmo tempo, por isso mesmo, reveladora de uma verdadeira indignação.

‘Alguém que teria cometido aquele delito que o cidadão (Sérgio) Machado mencionou não teria condições de governar o país”, afirmou o presidente interino, no que pode ser considerada a antítese do que um político cauteloso, como é Temer, faria em situação análoga. Mas Temer sabe que a sua não é uma situação qualquer.

Enquanto não estiver efetivado no cargo, o que só acontecerá se o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, for aprovado pelo Senado, ele só ganhará credibilidade com ações concretas, e não pode se dar ao luxo de deixar que desconfianças cresçam em torno de seu governo, já abalado por vários casos de suspeitas de corrupção no primeiro mês.

O presidente interino perdeu ontem mais um ministro, o do Turismo, Henrique Eduardo Alves, da cota dos que nunca deveriam ter sido nomeados, pelo potencial de problemas que sabidamente trariam. A denúncia de Sérgio Machado sobre a suposta intermediação de Temer a favor de Chalita é um tiro de raspão, e não parece ter muita lógica no xadrez político em que transitam o senador Renan Calheiros, o protetor de Machado, e Temer.

Os dois disputam a liderança do PMDB e recentemente estiveram a ponto de duelar pela presidência do partido. Não é crível que Machado se dispusesse a ajudar Michel Temer a se fortalecer elegendo o prefeito de São Paulo. Os procuradores de Curitiba terão muito trabalho para confirmar certas denúncias de Sérgio Machado, pois elas não batem com a realidade política.

É o caso do deputado Heráclito Fortes, do PSB, que responde com seu habitual bom humor à denúncia de que pediu propina para liberar um projeto de interesse da Transpetro em uma comissão que presidia: “Que diabo de propina é essa que você faz um favor agora e só vai receber dois, três anos depois?”. É que Heráclito, à época, era senador e tinha mandato mais longo.

Também o senador Aécio Neves rebate a denúncia alegando que em 1998 não havia nenhum projeto de ser presidente da Câmara dois anos depois, e que, se tivesse que eleger uma bancada para apoiá-lo, elegeria deputados de diversos outros partidos, pois o PSDB normalmente elegeria uma grande bancada por estar no governo. Seria uma ação como a que o deputado afastado Eduardo Cunha fez para se eleger presidente da Câmara, financiando uma bancada suprapartidária de grandes dimensões.

São questões que as investigações poderão esclarecer, mas, enquanto isso não acontece, todos os envolvidos nas denúncias ficarão com uma espada sobre a cabeça por um bom período. Por isso fez bem o presidente interino ao reagir imediatamente e com rapidez, pois ninguém mais do que ele precisa se apoiar em uma legitimidade que, no momento, somente uma atuação política eficiente e acima de suspeitas pode dar.

As medidas econômicas que o governo vai enviar ao Congresso, especialmente a que coloca um teto nos gastos públicos, representam essa possibilidade. A curto prazo, no entanto, ações políticas simbólicas são importantes, e por isso a saída do ministro Henrique Eduardo Alves é outra medida importante para evitar novos problemas.

Temer, conspirações e dinheiro - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 17/05

Pensar a política em termos de arranjos conspiratórios parece-se com fazer ou ler horóscopos. É parecido ao menos na tentativa de catar ao léu fatos que se casem com uma teoria que justifique uma visão amalucada ou interessada, do mundo.

Adeptos do pensamento da conspiração devem estar tendo trabalho com os desdobramentos da crise. Em vez de engrenagens e manipulações, há caos e abalos de forças sísmicas sob controle de ninguém, nem mesmo na Justiça ou na Procuradoria, que se batem.

Sim, vê-se tentativa de salvar algo do incêndio judicial da política, talvez um plano, mas não conspiração. O governo está pedindo fiança quase integral ao "empresariado".

Quanto às conspirações da política-politiqueira, as teorias e as tentativas reais de levá-las a cabo ficam cada vez mais risíveis.

Haveria um arranjo entre o governo de Michel Temer e Eduardo Cunha para salvá-lo da guilhotina –se houve, não funcionou. Haveria um grande arranjo, velho de quase um ano, para salvar enredados na Lava Jato, pelo menos os do governo –mal houve, não funcionou. Há cada vez mais portas de cadeia abertas.

Haveria um conluio entre "o empresariado" e os golpistas jatolavados para derrubar Dilma Rousseff. Não havia, mas funcionou. Para começar, nem há empresariado unificado, articulado e mobilizado para tanto (embora, sim, grupos menores de empresários tenham organizado ou financiado a campanha de manifestações contra a presidente ora afastada).

Mais divertido, há quem diga que na liderança do golpismo estariam "rentistas", sendo que os maiores banqueiros do país se opuseram, de um modo ou outro, ao impeachment. Mas, sim, o PMDB fez um programa liberal radical para se legitimar com o dinheiro grosso.

Existem tentativas recorrentes de arranjos, mesmo de conspirações. Mas os envolvidos são apenas parte de engrenagem ou caos maior, não dominam as forças principais, não se conhecem, desconfiam de si, se traem, dão maus passos.

Temer estava confiante a ponto de nomear um ministério em parte jatolavável. Caíram ministros e deve cair mais um de seu núcleo íntimo assim que vierem as delações maiores das empreiteiras.

Cunha está no caminho lento e gradual da prisão. Aécio Neves rala na ladeira do vexame a caminho de um precipício ainda sem nome. PT e PMDB ou "centrinhão" e PC do B se uniram em protesto contra as denúncias do bandido da Transpetro, Sérgio Machado.

Os teóricos da conspiração podem se divertir com o fato de que empresários graúdos se juntam para dar apoio ao governo de Meirelles, o subgoverno central de Temer. O governo, que sempre teve a economia como prioridade, agora vê o assunto como esteio. Oferece reformas cada vez mais "radicais". No meio desse salseiro político e crise grave de emprego, propôs entregar também uma reforma trabalhista.

Sim, há desconfiança de que o governo não vai entregar o prometido, que a desordem parlamentar aumente. Mas há no Congresso o sentimento de que não há alternativa afora Temer. No entanto, há Renan Calheiros, na contracorrente faz dois anos.

A fome do governo Temer e políticos e a vontade de comer das "reformas econômicas" do empresariado podem se juntar mais. Ainda não se sabe o que o povo esfolado terá a dizer.

Inverno em Curitiba - FERNANDO GABEIRA

O Estado de S. Paulo - 17/06

No poema de Antônio Cícero, o inverno no Leblon é quase glacial. Lembrei-me do poema e da canção cantada por Adriana Calcanhotto porque fez frio no Leblon. Imagine em Curitiba.

Enquanto a economia brasileira vai, aos poucos, buscando seu rumo, a imprevisibilidade maior está na política e em seus desdobramentos.

O deputado Eduardo Cunha deve cair e pode passar o inverno na cadeia. Isso é previsível; o comportamento dele, uma incógnita. Seria ele capaz de enfrentar longos anos de cadeia, sem buscar um acordo de delação premiada?

O mais resistente dos empresários, Marcelo Bahia Odebrecht, parece decidido a fazer a delação premiada. Os que resistem com base ideológica, como José Dirceu e João Vaccari Neto, teriam acenado com uma nova modalidade de acordo: a leniência partidária.

De um modo geral, os acordos de leniência são feitos com empresas. Um acordo de leniência partidária seria uma jabuticaba, e sua menção foi criticada por procuradores. Tudo indica que suas chances são mínimas. A proposta revela uma inflexão. Os partidos são responsáveis pelo que aconteceu nos governos do PT. Vaccari não pegava todo aquele dinheiro para guardar em sua mochila. Nem José Dirceu usou a fortuna que lhe foi destinada apenas com gastos pessoais.

O que eles parecem estar querendo dizer é isto: não é justo que apenas alguns indivíduos paguem por um comportamento que envolve uma organização partidária.

Naturalmente, está contida nessa proposta a sugestão de que trabalharam para o partido e esperam, agora, uma socialização da responsabilidade.

É possível que esteja embutida na proposta a espera da própria redução da pena, na suposição de que a divisão do fardo alivie os ombros dos indivíduos.

Acho ingênuo supor que os partidos sobrevivam depois de reconhecerem sua culpa e pagarem pesadas multas. Mas, se escaparem, não estariam sobrevivendo como uma farsa, fingindo que nada aconteceu?

Uma outra variável importante neste cenário foi o pedido de prisão da cúpula do PMDB. O pedido vazou, foi criticado, defendido e acabou sendo negado esta semana pelo ministro Teori Zavascki.

Observando-o à distância, dois fatores emergiram no próprio vazamento. Um deles é a articulação para sabotar a Operação Lava Jato. O outro, a pura distribuição de propinas: quem levou quanto, por que e quem entregou o dinheiro?

Mesmo sem entrar no mérito de um texto que desconheço, é possível concluir que não só teremos o presidente da Câmara preso, mas o do Senado sob constante pressão.

A Lava Jato tem seu rumo, a recuperação econômica, também o seu. Cada qual segue seus trilhos, mas a tendência no horizonte é de que a Lava Jato, por meio de extensas delações, apresente uma radiografia completa do processo de financiamento político no Brasil.

Isso significa que é muito tênue o fio da recuperação econômica quando o processo político entra em decomposição.

Muitos acham que o problema foi resolvido com o financiamento público de campanha. Não foi. Há sempre novos truques na cartola. E a Lava Jato não conseguirá repatriar todo o dinheiro desviado, favorecendo alguns competidores no futuro próximo.

Os partidos seguem um pouco como sonâmbulos. Mas deviam perceber que, apesar da responsabilidade dos indivíduos, o próprio sistema político se inviabilizou.

Nada será como antes da Lava Jato. Será preciso aprender a fazer campanha com pouco dinheiro, quase nenhum, abandonar as superproduções do marketing, retornar ao mundo das ideias.

A ideia de José Dirceu e de Vaccari – se é que é deles mesmo – não tem nenhuma chance de vingar. Mas isso não impede os partidos de buscarem a Lava Jato dispondo-se a discutir responsabilidade e reparação.

Imagino como as raposas do PMDB ou mesmo o núcleo duro do PT devam achar ridícula essa proposta. Lembro apenas de uma frase célebre: a raposa sabe muitas coisas, o porco-espinho sabe uma só, que é se defender.

O estar na cadeia é a compreensão de que o mundo ruiu e o passar do tempo na cela, um longo aprendizado sobre negação, resistência e, finalmente, o desejo de negociar.

A experiência de cadeia também mostra que, quanto mais autoconfiante você se mostra, mais dura é a queda.

O que José Dirceu e Vaccari parecem ter dito com a proposta é isto: Não fomos apenas nós. Onde estão os outros?

Esse tipo de apelo parece muito distante de Lula, que é a voz mais poderosa do PT. Ainda há poucos dias ele voltou a dizer numa entrevista para o exterior que ninguém é mais honesto do que ele, nenhum procurador, juiz ou delegado.

Ele não consegue entender o absurdo de sua frase. Como é que o líder máximo de um partido que dominou o País com uma corrupção sistêmica, com tantos companheiros na cadeia, continua se achando o mais honesto do País?

Lula e Dilma vivem ainda na fase da negação. O que prolonga essa ilusão é a certeza de que muitos não conhecem os fatos e os tomam por perseguidos políticos. E que os círculos mais próximos continuam coniventes com tudo o que aconteceu na presunção de que o cinismo é a única alternativa num mundo em que os fatos importam menos que as narrativas.

Os ventos que sopram de Curitiba podem congelar essas ilusões. Marcelo Odebrecht, José Dirceu e João Vaccari Neto, a julgar pela ideia de leniência partidária, descobriram que acabou o tempo de fingir que não aconteceu nada.

Aprender com os caídos torna a própria queda menos dolorosa. Não posso garantir que a verdade liberta. Ela pode levar gente para a cadeia. Mas seu efeito positivo será uma lufada de vento fresco na política brasileira.

O faz de conta vai acabar e a realidade que nos espera é um sistema político em ruína. Pode ser o marco inicial da reforma.

*Fernando Gabeira é jornalista

O mundo paralelo de Arno - FERNANDO DANTAS

O ESTADÃO - 17/06

PT parece ter a peculiaridade de passar a mão na cabeça dos seus tecnocratas fracassados



A história da política econômica no período de governo petista é bem conhecida. De início, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deu continuidade e aprofundou as políticas de responsabilidade fiscal, controle da inflação e melhorias da regulação herdadas do governo Fernando Henrique Cardoso. A violenta crise da transição política foi domada e, com ajuda do boom de commodities, a economia brasileira decolou.

Em 2006, Guido Mantega substituiu Palocci na Fazenda. No ano anterior, a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, torpedeara a proposta de ajuste fiscal de longo prazo de Palocci e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Mantega deu sinais de que continuaria a política econômica de Palocci, mas gradativamente promoveu uma virada heterodoxa. Em 2008 e 2009, com a crise global, a mudança foi intensificada. A economia foi bastante bem de 2004 a 2010, numa combinação dos frutos das reformas de FHC e do Lula inicial, que prevaleceram no início deste período, com os impulsos à demanda da fase heterodoxa, que culminaram no crescimento de 7,5% em 2010.

A partir daí, a receita desandou, consequência do abandono do impulso reformista que prevaleceu até 2005 e do fato de que estímulos à demanda são um remédio de curto prazo que se esgota e que, se aplicado no momento errado, deixa efeitos colaterais ruinosos.

Foi nesse momento que ganhou relevo no governo a figura do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Talvez até mais do que Mantega, foi Arno quem insistiu para que a receita errada, que dava resultados cada vez piores, fosse mantida a ferro e fogo.

Evidentemente, os impulsos têm contrapartida fiscal. Gasta-se de antemão o que não se tem (ou se abre mão de receitas), numa aposta cega de que a economia responderá com aceleração, criando num momento subsequente os recursos para reequilibrar as contas. Havia, porém, um arcabouço institucional voltado à responsabilidade fiscal, que atrapalhava os planos de ministrar o remédio ad infinitum, independentemente da (não) reação do paciente. Arno liderou os esforços para contornar esse arcabouço, com as notórias pedaladas, a contabilidade criativa e a concessão de aval da União a rodo para os Estados se endividarem.

O resultado desastroso da terapia, amplamente previsto por multidões de economistas, chegou de forma mais definitiva e dramática em 2015, com a enorme crise fiscal e econômica que o País está vivendo. O veredicto implícito do desastre, do qual Arno foi um dos principais artífices, foi dado pela própria Dilma Rousseff, ao chamar Joaquim Levy, antípoda acadêmico e ideológico do ex-secretário do Tesouro, para arrumar a casa. Levy foi substituído por Nelson Barbosa, que de forma mais gradualista também tentou combater a crise fiscal para resgatar a confiança. A equipe de Meirelles continua na mesma direção, herdando as propostas de limite dos gastos públicos e da reforma da Previdência.

Na quarta-feira (15/6), de forma quase sobrenatural, Arno disse que o objetivo de Temer é “destruir o que foi construído durante os 12 anos de administração petista” e “colocar o Brasil em condições de não crescimento”. É um absurdo tão grande que não há como fugir de duas hipóteses: ou se trata de cegueira em grau assustador para quem chefiou o Tesouro Nacional ou de má-fé intelectual num nível que desmerece o debate público.

A apresentação de Arno foi feita durante um evento da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, e aparentemente não foi confrontada. Assim como ocorre com os envolvidos em escândalos (que, aliás, espalham-se democraticamente por todos os partidos), o PT parece ter a peculiaridade de abrigar e passar a mão na cabeça dos seus tecnocratas fracassados. E isso é péssimo para um partido que ainda pode ter um importante papel a representar na história política brasileira.

A crise e o crédito consignado - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S. Paulo - 17/06

Uma das poucas fontes de crédito a baixo custo para as pessoas físicas, e considerada uma modalidade à prova de inadimplência, uma vez que o valor das prestações é descontado diretamente da folha de pagamento do tomador, o crédito consignado também foi atingido pela recessão econômica que o País enfrenta. Com a queda na arrecadação de impostos e sem dinheiro em caixa para bancar as despesas de custeio, vários Estados e municípios passaram a atrasar o depósito dos salários do funcionalismo, o que acabou atingindo os bancos que concedem esse tipo de empréstimo.

Em abril, o montante de crédito consignado concedido para servidores públicos municipais, estaduais e federais totalizou cerca de R$ 170,3 bilhões. Esse valor representa quase 10% do saldo de crédito total do País. Nos Estados e municípios que deixaram de pagar o que devem, as instituições financeiras suspenderam a contratação de novas operações e passaram a notificar judicialmente os governos municipais e estaduais.

O caso mais grave é o do Estado do Rio de Janeiro, onde o pagamento dos vencimentos de alguns setores do funcionalismo público já está atrasado há mais de quatro meses. Com isso, cerca de R$ 500 milhões deixaram de ser pagos às instituições financeiras que firmaram convênio com o governo estadual para conceder crédito consignado aos servidores. Pelas estimativas do mercado financeiro, bancos de médio e grande portes teriam concedido ao funcionalismo público fluminense cerca de R$ 5 bilhões nessa modalidade de empréstimo.

O governo do Rio de Janeiro reconheceu o problema, mas alegou que não pode fazer o depósito dos valores a que as instituições financeiras têm direito por causa dos embargos nas contas estaduais que foram determinados pela Justiça, beneficiando juízes, desembargadores, promotores, procuradores e defensores públicos, em detrimento das demais categorias. Só no mês de abril, os arrestos totalizaram mais de R$ 750 milhões, o que, segundo as autoridades fazendárias, teria comprometido a gestão de caixa.

Outro caso grave é o do Estado do Rio Grande do Sul, cujas finanças se encontram deterioradas. Depois de ter dado um calote na dívida com a União, para priorizar o pagamento do funcionalismo estadual, o governo gaúcho teve as contas bloqueadas por determinação do Ministério da Fazenda. Além disso, os repasses do Fundo de Participação dos Estados a que o Rio Grande do Sul tinha direito também foram suspensos pela Secretaria do Tesouro Nacional, o que obrigou o governo estadual a parcelar o pagamento do funcionalismo e o deixou em dificuldades para pagar as consignações bancárias, além de fornecedores e empresas terceirizadas.

A diferença com o Rio de Janeiro é que, no Rio Grande do Sul, a instituição financeira mais atingida por problemas com o pagamento do crédito consignado pelo Tesouro estadual é o Banrisul, que pertence ao Estado. O banco é responsável por mais de R$ 3 bilhões do total de R$ 8 bilhões concedidos pelos convênios de crédito consignado em todo o Estado. Sergipe, Espírito Santo, Pará e Distrito Federal, que ainda têm bancos próprios (nas demais unidades da Federação os bancos estaduais foram privatizados), enfrentam problemas semelhantes.

Os atrasos no pagamento dos bancos, pelos Estados e municípios, criam graves problemas para todos os envolvidos com operações de crédito consignado. Quando a administração pública atrasa ou parcela pagamento do funcionalismo, os bancos podem incluir os servidores em listas de inadimplentes – uma punição injusta, na medida em que a culpa não é dos tomadores. Mesmo que aleguem não dispor de recursos em caixa, os governos municipais e estaduais podem responder a ações por apropriação indébita. E os pequenos e médios bancos especializados nessa modalidade de crédito podem ficar com a higidez ameaçada. Essa é mais uma das consequências da atual crise fiscal.

Não é pouco - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 17/06

Ao recrutar Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn, Temer conseguiu atrair um leque de profissionais da melhor qualidade


Michel Temer assumiu a Presidência há cinco semanas. E a vida não lhe tem sido fácil. Às voltas com embaraços da Lava-Jato, excessos do Centrão, protestos contra a extinção de ministérios e queixas quanto ao seu “gabinete de homens brancos”, Temer confessou à “Folha de S.Paulo” (13/6) que o exercício do cargo “tem sido uma guerra”.

Mas, apesar da sensação de desgaste e irresolução que tem emanado dessas muitas dificuldades e das idas e vindas de Temer, há que se reconhecer o notável sucesso que seu governo vem mostrando diante de dois desafios cruciais. Em pouco mais de um mês, ele conseguiu montar uma equipe econômica de excelente nível e, ao mesmo tempo, esboçar a consolidação de uma base parlamentar ampla, que, por problemática que seja, se tem mostrado razoavelmente eficaz.

Não é pouco. Ao concentrar seu limitado capital político inicial na consecução desses dois objetivos, Temer tornou bem mais crível a perspectiva de levar adiante o difícil programa econômico que contempla para o país.

Para dar o devido valor à montagem de uma equipe econômica tão boa — em tão pouco tempo e em condições tão adversas —, é preciso ter em mente que há mais de uma década não se vê no país equipe de nível similar. Sem ir mais longe, basta comparar a tripulação que hoje se tem na Fazenda e no Banco Central com a que foi recrutada pela presidente Dilma no seu primeiro mandato.

A experiência mostra que formar uma equipe de alto nível é sempre muito difícil. Mais difícil ainda para um governo interino, como o atual, que, na melhor das hipóteses, terá pouco mais de 30 meses de mandato. Vale aqui lembrar a enorme dificuldade que teve o presidente Itamar Franco para conseguir compor uma equipe econômica razoável no início do seu curto mandato.

Tendo nomeado, ao longo dos primeiros sete meses de governo, três ministros da Fazenda, que, em média, duraram 75 dias no cargo, Itamar deixou ao quarto ministro — Fernando Henrique Cardoso — uma missão impossível: encontrar profissionais com perfil adequado que se dispusessem a integrar a quarta equipe econômica de um presidente que se mostrava absurdamente instável e mercurial, com menos de 20 meses de mandato e às voltas com uma taxa de inflação da ordem de 30% ao mês. Ter enfrentado com tanto sucesso essa missão impossível e viabilizado o Plano Real talvez tenha sido o melhor momento da longa carreira de FHC, por mais notável que tenha sido seu desempenho posterior como presidente da República.

Por razões um tanto distintas, Temer parecia fadado a enfrentar sérias dificuldades para compor uma equipe econômica razoável. E, no entanto, ao recrutar Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn, acabou conseguindo atrair um leque de profissionais da melhor qualidade e montar uma equipe econômica para ninguém botar defeito.

Diante do quadro de devastação que hoje se vê, não se pode subestimar as reais proporções do desafio de reconstrução que o governo tem pela frente. E é reconfortante saber que, ao enfrentar tal desafio, o governo pelo menos poderá contar com uma equipe econômica extraída do que o país tem de melhor.

É mais do que sabido, contudo, que a superação da crise deverá exigir bem mais do que uma equipe econômica de alto nível. Seria desajuizado, a esta altura, dar asas a devaneios de onipotência tecnocrática. Uma equipe de qualidade é absolutamente fundamental. Mas, tendo em vista a agenda de política econômica que hoje se faz necessária, a superação da crise também deverá exigir sólido respaldo do Congresso.

Não se pode dizer que Temer tenha descuidado desse segundo requisito. Muito pelo contrário. Apostou parte substancial do seu capital político inicial na composição de um ministério que possa lhe assegurar, na medida do possível, uma base parlamentar minimamente confiável, no terreno movediço de um Congresso acossado pela Lava-Jato.

É só o começo. Ainda há muita incerteza pela frente. E tudo indica que, da perspectiva de Temer, continuará sendo “uma guerra”. Mas é um bom começo.

O País e seu governo - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S. Paulo - 17/06

O Brasil enfrenta dois grandes problemas. Um deles é a corrupção generalizada na vida pública. A delação de Sérgio Machado, portanto, não conta nenhuma novidade, apenas confirma e aumenta a lista dos suspeitos que sempre frequentaram a política brasileira e se tornaram mais conspícuos desde que a corrupção foi elevada à condição de método pelos governos do PT e seus aliados. E é por se terem tornado os principais agentes da corrupção no governo que os petistas foram os primeiros a ser denunciados e condenados, a partir do mensalão. Como era inevitável, sobram denúncias agora para os ex-aliados do lulopetismo, e de quebra para quem, antes na oposição – como os tucanos –, é acusado agora de ter-se comportado exatamente “como todo mundo”.

De qualquer modo, é motivo de regozijo a evidência de que pelo menos esse grave problema nacional – a corrupção na vida pública – começa a ser enfrentado com determinação e eficiência. A exacerbação do sentimento de impunidade dos corruptos teve o efeito positivo de estimular o País a reagir homogeneamente. A Operação Lava Jato simboliza esse fenômeno. Por essa razão, ela é intocável.

A boa notícia de que está aberto o caminho para o combate eficiente à corrupção não elide o fato de que existe um país a ser governado – e esse é o outro problema a que nos referimos no início deste editorial. Um país a ser resgatado, para começar, do fundo do poço em que foi jogado pela irresponsabilidade populista, com decisiva colaboração dos corruptos de todas as bandeiras.

A quem cabe a responsabilidade de governar o País?

Mais uma vez, a resposta é institucional. Essa responsabilidade cabe a quem foi eleito para substituir o presidente da República em seus impedimentos – como é o caso no momento – e suceder-lhe na eventualidade da vacância do cargo, que ocorrerá quando se consumar, como tudo indica que acontecerá, o impeachment de Dilma Rousseff: o vice-presidente Michel Temer.

Temer é um dos nomes citados por Sérgio Machado como beneficiário do esquema de corrupção na Transpetro, por ter sido atendido, em 2012, segundo o delator, no pleito de uma “doação” de US$ 1,5 milhão para a campanha do então candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita. Trata-se de uma denúncia que deve ser rigorosamente investigada e, se for comprovada, levará Temer a julgamento quando não estiver mais exercendo o mandato presidencial, de acordo com os mesmos dispositivos legais que no momento protegem Dilma.

Michel Temer é o presidente em exercício e é a ele que cabe a responsabilidade constitucional de governar o Brasil, enfrentando a extremamente difícil tarefa de corrigir os erros e equívocos de 13 anos de lulopetismo. Outra coisa é o boicote revanchista por parte daqueles que acusam o governo de ser “golpista” e “ilegítimo”. Mas é o que se pode esperar dos corruptos que levaram a desesperança aos lares brasileiros ou de quem ainda se ilude com os políticos que por mais de uma década prometeram a igualdade e grandeza e entregaram uma economia falida.

Soluções alternativas e miraculosas para colocar o País no rumo certo, como a delirante ideia da convocação de eleições presidenciais antecipadas, só servirão para tumultuar ainda mais o ambiente político, satisfazer momentaneamente a sanha revanchista de Lula e sua tigrada e, pior do que tudo isso, retardar a adoção das medidas e dos programas urgentemente reclamados para atacar a questão que está na origem de todos os problemas sociais que a cada dia mais se agravam. O fato de Michel Temer ter sido citado na delação de Sérgio Machado não pode ser pretexto para que o País experimente a paralisia que muitas vezes precede a catarse. O governo não pode perder um minuto no combate, entre outros, ao enorme desajuste das suas contas, com todas as consequências negativas na atividade econômica, provocado pela farra do populismo irresponsável do PT com os recursos públicos.

Em resumo: a corrupção é endêmica, mas está sendo firmemente combatida com o indispensável apoio dos brasileiros. A tarefa ainda mais difícil e complexa de tirar o País do buraco é responsabilidade do governo que, gostemos ou não, saiu das urnas de 2014.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

PRESIDENCIÁVEIS SÃO REJEITADOS POR 62% PARA 2018

Levantamento do instituto Paraná Pesquisa avaliou que os possíveis candidatos a presidente em 2018 são rejeitados, em média, por 62,6% dos eleitores. A pesquisa atesta: 73,4% disseram não votar “de jeito nenhum” em Lula, fazendo do petista o mais rejeitado dos candidatos; 62% não votam em Geraldo Alckmin (PSDB); 61,9% em Aécio Neves (PSDB); 58,2% em José Serra (PSDB) e 57,5% em Marina (Rede).

VOTO CERTO
Pela pesquisa, 10,3% votariam em Lula de certeza. Está empatado com Marina (10,1%). Aécio tem 8,5%, Serra 6,6% e Alckmin 6,3%.

VOTO POSSÍVEL
Lula tem o menor “potencial de votos”: apenas 13,9% disseram “poder votar” no ex-presidente. Serra tem 32,2%, Marina 30% e Aécio 26,8%.

NÃO É GOLPE
Segundo o Paraná Pesquisa, 66,7% dos brasileiros avaliam que o impeachment de Dilma não é “golpe”, como alardeiam os petistas.

DADOS DA PESQUISA
O Paraná Pesquisa entrevistou 2.044 eleitores, em 162 municípios de 24 estados brasileiros, entre 11 e 14 de junho. A margem de erro é 2%.

RENAN AUTORIZA ‘INFILTRADOS’ DE JOÃO SANTANA
O presidente do Senado, Renan Calheiros, talvez sem saber, autorizou o trânsito livre da turma ligada ao marqueteiro João Santana, que está preso, na produção de um “documentário do golpe”, com a visão petista do impeachment. Ao contrário dos jornalistas que fazem a cobertura da Comissão do Impeachment, cujo acesso é restrito, a equipe de Santana tem passe-livre ao Senado só desfrutado por senadores.

BOCA LIVRE PÚBLICA
A turma do “documentário do golpe” utiliza como “bases” os gabinetes e até carro oficial dos petistas Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann.

PEDIDO NEGADO
O credenciamento da turma de João Santana foi recusado pela área de Comunicação do Senado. Mas Renan fez exceção à norma padrão.

MILÍCIA EM AÇÃO
O grupo do “documentário do golpe” constrange senadores, jornalistas e até assessores. E se recusa a revelar, é claro, quem os financia.

PROJETO DE REJEIÇÃO
O Senado pode barrar o ex-chanceler petista Antônio Patriota para a embaixada do Brasil em Roma. Ele constrangia diplomatas bajulando Dilma, apesar do bullying que sofria dela. Pode ter a mesma sorte do irmão Guilherme, cuja indicação para Genebra o Senado rejeitou.

ÍMPETO FREADO
O presidente Michel Temer pretendia um pronunciamento muito mais duro contra Sérgio Machado, mas foi desaconselhado por assessores. Acabou convencido do risco de “descer ao nível do delator”.

PEDE PRA SAIR, MINISTRO
Coube ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) a missão de passar a Henrique Eduardo Alves o recado do presidente Michel Temer, solicitando que se demitisse. Esta coluna informou segunda-feira (14) que tem sido estimulada a saída voluntária de ministros sob suspeita

NOVOS TEMPOS
O ministro Blairo Maggi se reuniu no Banco do Brasil para discutir dívidas dos produtores rurais. Diretor de agronegócio, José Carlos Reis, ficou impressionado: “Nunca fizeram isso [na era PT]”, disse.

MAIS DO MESMO
A Cia Nacional de Abastecimento (Conab) será chefiada pelo PTB no governo Michel Temer. A desculpa é a mesma dos Correios, feudo do PSD: tudo fora acertado antes da determinação de “nomes técnicos”.

#NÃOVAITERGREVE
Enquete entre estudantes da Universidade de Brasília sobre a proposta de greve estudantil “contra o golpe e os cortes do governo Temer" mostrou que 81% são contrários. Somente 19% querem a folga marota.

MINISTRO DEBAIXO DE SAIAS
Após Gleisi Hoffmann (PT-PR) citar a demissão de Henrique Alves, na reunião do impeachment, o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) reagiu: “Os ministros deste governo se demitem, não se escondem na saia de ninguém”. Até Gleisi achou graça. Pareceu concordar.

DENTRO DA LEI
O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), rebate a delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. “Não há mal um presidente de partido pedir doação oficial”, avalia.

PENSANDO BEM...
...agora sem o cargo e sem foro privilegiado, o ex-ministro do Turismo Henrique Alves deveria reservar passagem com destino a Curitiba.