terça-feira, setembro 27, 2016

Antes de elogiar Haddad, Gregorio Duvivier precisa conhecer São Paulo - KIM KATAGUIRI

FOLHA DE SP - 27/09

Com a notícia de que nem o candidato a prefeito Fernando Haddad (PT) acredita na própria campanha, Gregorio Duvivier resolveu escrever um texto de autoajuda para petistas decepcionados com o desempenho do prefeito com um dos maiores índices de rejeição da história de São Paulo.

Do alto de sua torre de marfim –que, com certeza, não fica na cidade de São Paulo–, Gregorio crê que todo repúdio à gestão do prefeito petista é mera implicância. Afirma até "que todo dia o paulistano abre o jornal ansiando por um escândalo de corrupção envolvendo o prefeito".

Polarizando o debate de maneira absolutamente boba, essa tentativa de psicanalista das massas dá a entender que o paulistano torce contra si mesmo, que quer ser roubado simplesmente para atacar um político que não dá razões para ser criticado.

A realidade é muito mais dura do que a teoria mirabolante de Gregorio. Haddad não "levou cinema para a periferia" –na verdade, entregou menos da metade das obras que prometeu para os mais pobres.

Vale lembrar que as intenções de voto de Haddad são menores entre os eleitores com renda média de até dois salários mínimos, aqueles que não vivem em abstrações, mas na cidade de São Paulo, e sentem na pele o desastre da gestão petista.

Concordo com Gregorio quando ele diz que Haddad "priorizou a bicicleta". De fato, nunca vimos tantas obras para bicicletas e tão poucas para pessoas.

A ciclovia da Faria Lima, por exemplo, custou, em média, cinco vezes mais por quilômetro do que a construída em Paris –qual a definição de superfaturamento, mesmo? Apesar da tal prioridade, boa parte das ciclovias foi extremamente malfeita, e a tinta de algumas já está até sumindo. Aposto que Haddad não se reelegeria nem se bicicletas votassem.

Há, sim, motivos para elogiar São Paulo. Nenhum deles é mérito de Haddad. O cidadão paulistano desconfia dos políticos. A cidade protagonizou as maiores manifestações da história do Brasil e se livrou de um governo corrupto e autoritário. Pintou de verde e amarelo as ruas que só conheciam o vermelho. Quebrou a hegemonia de um discurso que afundou o país.

Ainda assim, a cidade é esperançosa. Tanto o é que deu uma chance para aquele que prometeu ser diferente de todos os outros, mas que, no fim, acabou sendo pior.




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