segunda-feira, setembro 12, 2016

A última palavra - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 12/09

Com os jornais (não a Folha), rádios e TVs endossando a cada minuto a asneira de chamar a Paraolimpíada de Paralimpíada, será inevitável que, em suas próximas edições, os aurélios e houaisses oficializem essa agressão à língua. A internet, por exemplo, já decretou que o certo é o errado —se você digitar "Paraolimpíadas" no Google, ele sublinhará a palavra de vermelho e dirá que você está procurando por "Paralimpíadas".

Sérgio Rodrigues, em seu magnífico livro "Viva a Língua Portuguesa!", recém-lançado, discute esse e outros problemas envolvendo nossa atual maneira de falar e escrever —erros que estão virando "acertos" pelo poder da mídia, acertos que estão sendo transformados em erros pela atuação das patrulhas e os modismos sem causa que, de repente, contaminam até os mais conscientes. Importante: seu livro não tem nem sombra do mau humor típico dos puristas do passado, nem prega o liberou-geral que hoje tentam nos impor.

Como se fala? "Andáime" ou "andãime"? "Gratúito" ou "gratuíto"? "Ióga" ou "yôga"? "Vende-se casas ou vendem-se casas"? "Incluso" ou "incluído"? Falando em "mídia", uma importação anglófila, não seria melhor trocá-la por "meios de comunicação de massa"? (Não!) E o "risco de morte", que está substituindo o corretíssimo "risco de vida"? E as expressões saídas do nada e que flanam por aí com a maior naturalidade, como "melhor idade", "por conta de" e "obrigado eu"?

Sérgio discute a emergência de palavras como avatar, disruptivo, escopo, gentrificação, proativo, randômico e outras que, até há pouco, podíamos passar sem. E um capítulo delicioso é o que explica a origem de "acabar em pizza", "pé na jaca", "lavagem de dinheiro" e "mensalão".

A língua, para ele, respira melhor quando nada é imposto ou proibido, e os falantes têm a última palavra.


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