sexta-feira, julho 29, 2016

Pokémons contra o terror - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 29/07

Os responsáveis pela segurança na Rio-2016 conclamaram a população a ficar de olho em malas, bolsas e mochilas abandonadas em lugares públicos, porque podem conter explosivos. A ordem é não tocar nelas e alertar o policial mais próximo, para que este acione o esquadrão antibomba. Em segundos, surgirão homens vestidos de astronautas, trazendo pela coleira um robô que, como um cão farejador, irá radiografar o objeto e, se preciso, desarmar ou detonar o artefato.

Nos últimos dias, tivemos alguns casos de alarme na cidade. Felizmente, todos falsos, já que as bolsas e mochilas só continham cuecas sujas, celulares velhos e CDs piratas de funk e axé. Mas a recomendação continua — não se pode cochilar no item terrorismo. Temo apenas que, com a alegria que — contrariando as pesquisas — toma conta do Rio, as pessoas se dediquem cada vez mais a se abraçar, fazer amizades e tirar selfies umas com as outras, como está acontecendo, esquecendo a vigilância.

Uma solução para isso seria trazer logo o Pokémon Go para o país. É o único jogo para smartphone que tira seus usuários do estado de letargia doméstica e aparvalhamento mental que caracteriza esses brinquedos e leva as pessoas para as ruas, onde elas precisam ficar espertas para descobrir e capturar os "pocket monsters" — os monstros de bolso, que aparecem virtualmente em alguma praça ou avenida.

Nos EUA, Canadá, Japão, Alemanha, Austrália e outros países em que foi lançado, ele tem feito crianças e adultos sair pelas cidades e, hipnotizados, cruzar fronteiras nacionais, invadir santuários religiosos e cair em bueiros, dar topadas em postes ou ser atropelados.

No Rio, se liberado o joguinho, bastaria que as pessoas se dispusessem a procurar objetos suspeitos com a mesma sofreguidão com que caçarão os benditos pokémons.


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