quinta-feira, julho 14, 2016

Impasse no Mercosul - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 14/07

Criado em 1991 como um bloco para desenvolver o comércio e a economia dos quatro países fundadores - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - diante de um mercado mundial cada vez mais acirrado e complexo, o Mercado Comum do Sul, o Mercosul, incorporou a Venezuela, definitivamente, em 2013- o processo se arrastava desde 2003 - , e é justamente seu mais novo membro o foco da recente crise da organização.

Mergulhada no caos econômico e político, a Venezuela reivindica o comando do Mercosul, por seis meses, até a escolha da próxima presidência, ocupada num sistema de rodízio entre os membros. Ocorre que, diante do grave quadro do país, há dúvidas se o governo de Caracas tem condições reais hoje de assumir essa missão.

A decadência da economia venezuelana, baseada nos recursos advindo do petróleo, cujo preço desabou no mercado mundial nos últimos anos, provocou um preocupante processo de destruição da força produtiva do país. Há desabastecimento de todos os tipos de produtos, de comida a medicamentos, e os venezuelanos já são obrigados a atravessar a fronteira da Colômbia em busca de insumos básicos.

Recentemente, importantes empresas multinacionais abandonaram o país e o Citibank fechou contas usadas pelo Banco Central da Venezuela para operações em moeda estrangeira. Há claras desconfianças internacionais sobre a capacidade de recuperação da venezuelana.

Soma-se à essa situação a disputa política interna cada vez mais dura entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição, que hoje é maioria no parlamento. Herdeiro de Hugo Chávez, mentor da economia e da política venezuelanas como conhecemos hoje, Maduro endureceu o discurso e as medidas contra os rivais. Há denúncias de desrespeito aos direitos humanos e até a Organização dos Estados Americanos (OEA) cogitou sanções à nação caribenha.

Portanto, há motivos para que os membros do Mercosul, como o Brasil, discutam a conveniência de os venezuelanos assumirem a presidência provisória do bloco. O momento é de instabilidade na economia mundial. O plebiscito que definiu a saída do Reino Unido da União Europeia e o surgimento de importantes associações comerciais, como a Parceria Transpacífico, vão exigir unidade, planejamento, força política e metas do Mercosul rumo à recolocação no mercado mundial.

É urgente também a restruturação do bloco, longe das ideologias políticas que marcaram seu rumos nos últimos anos. E o Brasil precisa assumir urgentemente o comando dessas reformulações.


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