segunda-feira, julho 11, 2016

Dólar sob intervenção - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 11/07

A rápida valorização do real nas últimas semanas trouxe de volta preocupações pertinentes com a competitividade das empresas exportadoras do país.

Depois de superar R$ 4 no início do ano, a cotação do dólar caiu abaixo de R$ 3,20 nos últimos dias. O movimento barateou as importações e encareceu os produtos destinados ao mercado externo.

O risco para as exportações não decorre apenas do novo patamar do câmbio. Ainda mais deletérias são as frequentes e acentuadas oscilações da taxa, que atravancam o planejamento de quem busca os consumidores estrangeiros.

Isso considerado, é plenamente defensável a decisão do Banco Central de retomar as intervenções no mercado visando sustar as idas e vindas da moeda norte-americana —a despeito de, em princípio, seus dirigentes serem adeptos do regime de livre flutuação cambial.

Em sabatina no Senado, quatro novos diretores da instituição defenderam que não deve haver uma meta para as cotações, como muitas vezes se tentou no passado com resultados de inócuos a desastrosos. Trata-se, isso sim, de lidar realisticamente com distorções comuns em economias emergentes como a brasileira.

Nesses casos, pratica-se em geral a flutuação sujeita a interferências —ou "suja", como se convencionou chamar. O motivo é que países onde as condições políticas e econômicas são mais instáveis acabam sujeitos a mudanças bruscas nos fluxos de capital estrangeiro.

Tome-se o exemplo do Brasil. O pessimismo com os rumos do governo Dilma Rousseff (PT) impulsionava a compra de dólares, elevando a taxa de câmbio; já a troca de governo e de equipe econômica contribuiu para a rápida reversão da tendência.

Em cenários assim, cabe ao BC suavizar a intensidade das variações e seu impacto sobre o cotidiano de empresas, investidores e consumidores —sem, no entanto, incorrer no erro de pretender manipular as taxas conforme as preferências do governo de turno.

Evidentemente, o ideal é equacionar os desequilíbrios históricos que levam à volatilidade da moeda. Rombos orçamentários e inflação resistente forçam a adoção de juros elevados, que atraem ao país o dinheiro da especulação global, igualmente capaz de fugas abruptas nos momentos de crise.

Em termos práticos, deve-se buscar, a longo prazo, juros reais semelhantes aos do resto do mundo, algo como 1% ao ano nos dias de hoje. Fora disso, qualquer intervenção cambial, por justificável que seja, será apenas paliativa.


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