quinta-feira, julho 07, 2016

A despiora nas lojas - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 07/07

O comércio paulista está parando de piorar. Tanto que os economistas da Federação do Comércio de São Paulo se animaram a refazer as estimativas do faturamento para o ano de modo até otimista.

Quer dizer, otimista para os tempos que correm. Em vez de encolher, o valor das vendas do varejo ficaria estagnado neste 2016. A projeção anterior, baseada em dados disponíveis até dezembro de 2015, era de queda de 5% (em termos reais: já descontada a inflação).

Há outros indícios recentes, embora tênues, de fundo do poço na vida real, talvez até por exaustão (embora as coisas sempre pudessem piorar, a caminho da depressão).

O preço do metro quadrado dos imóveis anunciados em São Paulo parou de cair, por exemplo, embora ainda baixe ao ritmo de 7,6% ao ano (nos 12 meses até junho, em termos reais), conta baseada no índice FipeZap. O preço médio cai desde janeiro de 2015. Mas subia mais de 5% ao ano ainda em junho de 2014. Em junho de 2012, a insustentáveis 14% ao ano.

COMÉRCIO GRANDE

Voltando ao comércio paulista, trata-se de um negócio grande, com faturamento anual que anda pela casa de R$ 564 bilhões, equivalente a quase 10% do PIB, do tamanho da economia brasileira.

Apesar da despiora esperada pela FecomercioSP, a desgraça é grande. O valor das vendas está 10,6% abaixo do pico alcançado em fevereiro de 2014. Houve uma perda de quase R$ 67 bilhões no valor de vendas. É como se todas as lojas do Estado mais rico do país ficassem fechadas por um mês e meio.

De onde veio a ligeira despiora de ânimos? Segundo dados divulgados nesta quarta (6), nos 12 meses contados até abril, o faturamento caía ainda ao ritmo de 6% (sobre igual período anterior). No entanto, a queda dos primeiros quatro meses de ano sobre o primeiro terço ano passado foi menor, de 2%.

Além do mais, a confiança dos consumidores aumentou nos últimos dois meses. "Se mantida", pode fazer a melhora nas vendas ficar visível entre julho e outubro, estimam os economistas da Fecomercio.

A despiora se deveu ao "desempenho acima do esperado dos setores de supermercado e farmácias e perfumarias". O conjunto dessas lojas está faturando 5% mais, nos últimos 12 meses.

Em termos anuais, quem padece mais são as lojas de eletrodomésticos, as concessionárias de veículos e as lojas de material de construção, todas com perdas de faturamento superiores a 15% em 12 meses. O comércio de roupas, com perda de 12,5%, e o de móveis, com queda de 9,5%, não estão muito longe.

O valor das vendas de eletrodomésticos encolhe desde dezembro de 2013. O de veículos, desde junho de 2014. As vendas desses produtos foram aquelas que mais receberam estímulos no governo Dilma 1, por meio de reduções de impostos sobre a produção industrial, entre outros.

Além da recessão, parece ter havido esgotamento da capacidade e do interesse de consumir esses bens. Era como se o governo estivesse promovendo uma pedalada no consumo, insustentável e que deixou algum buraco na receita de impostos.

Enfim, essas melhoras de ânimo na economia em geral são muito tênues e, por ora, se sustentam apenas na promessa de começo de fim da desordem no governo.

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