quarta-feira, maio 11, 2016

País escreve nova página - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 11/04
Se as previsões se confirmarem, e metade mais um dos 81 senadores da República decidirem pelo afastamento temporário por 180 dias da presidente Dilma Rousseff, o 11 de maio de 2016 passará para a história política brasileira como a data em que o país terá a chance de reencontrar o caminho do equilíbrio político-institucional e do desenvolvimento socioeconômico. Os legítimos representantes do povo brasileiro na mais alta Casa Legislativa interromperão um governo inepto que foi instaurado no Brasil pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Será o fim de uma era em que o grupo político há 13 anos no poder exportou dos movimentos sindicais a prática obsoleta do fracionamento ao valorizar ao extremo a política do "nós contra eles", confrontando a unidade nacional e estimulando a divisão do povo brasileiro: pobres contra ricos, negros contra brancos, nordestinos contra sulistas etc. Neste movimento deliberado de promover o sectarismo, a Presidência da República estabeleceu uma relação absolutamente inapropriada com movimentos e centrais sindicais como MST e CUT. É inaceitável que o Palácio do Planalto, sede do governo de todos os brasileiros, se torne um bunker partidário com militantes gritando palavras de ordem e estendendo bandeiras nas dependências de um patrimônio que pertence à nação.

A democracia brasileira passa por um momento de enorme provação. As forças políticas e sociais que defendem os interesses do país têm o dever de fortalecê-la, em um esforço de reconstrução nacional. Esse ato de civismo também se faz necessário para dissipar o fantasioso discurso de golpe, apregoado pelos que ainda estão no poder. Boa parte desse grupo usou a mentira como arma política e agiu com desfaçatez ao confundir a coisa pública com interesses partidários e pessoais. Não encarou os problemas de maneira republicana. Apelou para subterfúgios, como atribuir a grave crise econômica à conjuntura mundial.

E, dentro do cenário global, faz-se mister inverter em 180 graus a política externa do Brasil. É preciso se aproximar de quem possa trazer riquezas e parcerias reais, sem a hegemonia do viés ideológico. A visão distorcida do PT e seus seguidores enterrou o protagonismo do Itamaraty, obscurecido nos últimos anos pelo atrelamento a projetos demagógicos e autoritários. Ao se aliar a governos autodenominados bolivarianos - que mais se assemelham a ditaduras bananeiras -, o Palácio do Planalto chancelou políticas clientelistas praticadas por países que manobram a ignorância do povo e adotam o desrespeito à democracia como prática recorrente.

Numa economia combalida como a nossa, também não é aceitável que recursos que deveriam ser investidos na precária infraestrutura nacional sejam desviados para esses países. A farra com a carteira do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) retirou a possibilidade de se investir em escolas, hospitais e tantas outras obras. Quem de fato produz neste país não tem acesso às linhas de crédito dos bancos oficiais, utilizados para priorizar os mais próximos e para tampar os gigantescos rombos das pedaladas fiscais. Tudo feito à margem da Constituição, em nome da reeleição, caracterizando o chamado "estelionato eleitoral", para a manutenção de um projeto de poder.

Afora os graves equívocos cometidos na condução dos interesses do país, este governo mostrou-se mortalmente atingido por uma praga nacional: a corrupção. O avanço das investigações conduzidas brilhantemente pela força-tarefa composta por diferentes órgãos de Estado e pelo juiz Sérgio Moro desarticulou o esquema montado para perpetuar o projeto de poder de um grupo político, com ramificações em diversos partidos. É o imperativo da lei - e não uma conspiração golpista - que se tornou a maior ameaça às estrelas petistas, que foram surpreendidas em negociações espúrias para se esconder na sombra da impunidade. A Lava-Jato teve profundo impacto no país e precisa continuar com solidez, a fim de descontaminar a nossa sociedade da cultura da roubalheira.

Está também nas mãos de Michel Temer e dos novos atores do poder o início de investigações profundas em órgãos estratégicos do governo, não só como a que ocorre na Petrobras, mas também no BNDES, na Eletrobras, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal e em grandes fundos de pensão, como Previ, Petros e Postalis. Cabe também aos novos ocupantes do poder impedir que o Bolsa Família seja utilizado eternamente como moeda de troca para garantir votos dos menos favorecidos. Ninguém quer acabar com os programas sociais. O brasileiro é, por natureza, um povo solidário. Mas esses programas têm de oferecer uma porta de saída para seus beneficiários, ingressando-os no mercado de trabalho e garantindo o acesso à educação de qualidade. E só serão sustentáveis no dia que se der o mesmo valor a quem produz neste país, lastreando as riquezas geradas à distribuição real de renda.

Em 13 anos de poder, o PT não fez as reformas estruturais necessárias ao crescimento e à adequação do nosso país para os desafios do século 21. Queimou o capital político defendendo-se de mensalões e petrolões. Teve a chance de colocar em prática o discurso de ser diferente dos outros e interrompe melancolicamente sua passagem dizendo que os outros são iguais. Cabe, agora, ao partido, fazer uma profunda reflexão sobre seus atos. Desempenhar seu papel de oposição, mas com a responsabilidade que se espera de um partido de expressão nacional, e superar o anacronismo ideológico para entrar em sintonia com as necessidades do mundo contemporâneo.

Neste 11 de maio, o Brasil prepara-se para escrever uma nova página na história. A partir da votação de hoje no Senado, o país tem tudo para encerrar a passagem de um grupo que, entre outros disparates, defendeu uma política de gêneros nas escolas públicas. Espera-se que as amargas lições deixadas pelo lulopetismo nos lembrem de que a política do vale-tudo chegou ao fim. Com a iminente decisão da maioria dos senadores, um novo lema se impõe no país: populismo nunca mais.

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