sábado, abril 30, 2016

Instabilidade e desemprego - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 30/04

Desde o primeiro mandato, a presidente Dilma investiu alto na manutenção dos postos de trabalho no país. Renúncia fiscal, desoneração da folha de pagamento e incentivos à indústria - um dos mais importantes setores da economia. As providências foram frustradas. A arrecadação encolheu e, na sequência, o rombo fiscal se tornou mais profundo. Hoje, no ápice da crise política, quando o impeachment bate à porta da presidente, o país convive com duas situações, que deprimem a economia e exigirão medidas amargas para realinhar o país na rota do desenvolvimento. O deficit nas contas públicas chegou a R$ 7,9 bilhões, o mais alto em 19 anos, o que estreita a margem de manobra do Estado para reerguer o país.

O desemprego fechou o primeiro trimestre em 10,9%, ou seja, atinge mais de 11 milhões de profissionais, segundo os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da mais alta taxa da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua - sondagem mais abrangente, iniciada em 2012, que substituiu a Pesquisa Mensal de Emprego, que, por 36 anos, levantou o índice em seis regiões metropolitanas.

Na comparação com o último trimestre de 2015, o número de desocupados cresceu 22%, e, em relação a igual período do ano passado, o aumento foi bem maior: de 39,8%. A população ocupada, que totalizou 90,6 milhões, diminuiu 1,7% sobre trimestre encerrado em dezembro, e 1,5%, de janeiro a março deste ano. Ante O cenário tão cruel, os brasileiros decidiram trabalhar por conta própria. A alta foi de 1,2% frente o período de outubro a dezembro, e de 6,5% em relação ao primeiro trimestre de 2015.

Quaisquer medidas adotadas pelo provável governo Michel Temer para reaquecer a economia não terão resultado imediato. Vários fatores vão influenciar o processo, a começar pelo comportamento do Congresso Nacional frente ao que for anunciado pela futura equipe econômica. Haverá respaldo político para o receituário anticrise? Ou prevalecerá o toma lá dá cá que emperra a aprovação de providências indispensáveis para debelar a crise? O mercado estará atento a cada passo. Postegar ações necessárias para garantir credibilidade aos que chegarem ao comando da nação implica manter o desânimo dos investidores, hoje retraídos frente à crise instalada no país.

De nada adianta lamentar o leite derramado. A tragédia está pronta. Resta recolher os escombros, resultado dos desacertos e conflitos, e reconstruir os caminhos para que o país possa trilhar rota que o leve à recuperação dos empregos, dos investimentos e alcance a alavanca do desenvolvimento. Mantidos os atuais impasses, decorrentes de conflitos de interesses, além do desemprego, a nação amargará a perda de conquistas importantes, que guindaram social e economicamente milhões de brasileiros, e verá inflar as estatísticas da fome e da miséria. O momento não contempla espaço para debates estéreis, mas impõe responsabilidade de todos aqueles que têm poder de decisão para tirar o país da estagnação.

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