sábado, março 12, 2016

Defenda-se! É amanhã ou nunca - FERNÃO LARA MESQUITA

O Estado de S. Paulo 12/03

Poucas coisas podem ser mais traumáticas e perigosas que o impeachment de um presidente da República no meio de uma grande crise econômica. Este governo que se propõe o papel de valhacouto de foragidos é uma. Fez as coisas de tal maneira que continuar com ele é morte certa. Diante dessa perspectiva, a incerteza, ainda que tão ampla que dá vertigem, é o melhor dos mundos.

A cada minuto que passa aumenta a pena retroativa a trabalhos forçados a que o lulismo condenou cada brasileiro. Já regredimos ao menos dez anos e o relógio continua correndo para trás, cada vez mais aceleradamente. A catástrofe que atingiu nosso fragilíssimo ecossistema institucional é de proporções ambientais. Nada nele escapou a estes 13 anos de derrame de lama e só ao longo das próximas décadas se poderão medir todos os efeitos do desastre. Desde já é certo, como comprova a decisão de anteontem do STF de, em plena tempestade, não apenas libertar réus, mas “perdoar” todo o mensalão, que o decano de seus ministros descreveu como “um ataque doloso e sistemático de uma quadrilha organizada com o propósito de destruir os fundamentos da democracia, da República e do Estado de Direito”, que será tão difícil reconstituir a democracia no Brasil depois do PT quanto as condições do Rio Doce de voltar a sustentar a vida depois da Samarco.

O mundo viu isso cem vezes no último século do milênio passado. A especialidade desse “esquerdismo” corrosivo, morto em toda parte menos aqui, de que o bandalho-sindicalismo brasileiro se apropriou, sempre foi transformar em verdadeiros os seus diagnósticos mais falsos. Fomenta o ódio de classes até torná-las irreconciliáveis, como dizia que eram “seus interesses” quando reinava a paz; insufla o racismo e a intolerância à diferença até transformá-los em sangue para provar que “estavam apenas ocultos”; incendeia o campo para destruir a agricultura e comprovar que há “ociosidade da terra”; semeia insidiosamente os privilégios que falseiam a livre competição para imputar ao mercado e às“contradições do capitalismo” a vitória do desmerecimento. Corrompe sistematicamente as instituições democráticas para denunciar a “democracia burguesa” como “intrinsecamente corrupta”; instila na imprensa ondas especulativas insidiosas contra tudo e contra todos para, chegada a sua vez, poder posar de vítima; atiça tribunais uns contra os outros para exacerbar ânimos e forçar erros de modo a “provar” que não há Justiça isenta.

As gerações se sucedem rápido neste país sem memória, mas não é verdade que tenha sido sempre assim. O Brasil está irreconhecível! Tudo o que tocam esses Midas pelo avesso entra em decomposição. Mas seu objetivo sempre foi claro e confesso. Tem sido uma longa jornada, mas não houve um único desvio. São de 1990 tanto o Foro de São Paulo, criado para reorganizar a esquerda latino-americana, batida pela execrada prosperidade promovida pelos governos“neoliberais” do continente, quanto a eleição do aparelhamento dos fundos de pensão das estatais, o maior volume de dinheiro entesourado existente no País, como Luiz Gushiken, da esquerda ilustrada trotskista, fez ver à esquerda tosca do bandalho-sindicalismo, como um instrumento para a tomada do poder.

Não há registro das minúcias do parto da decisão por essa troca de armamento, mas a ideia de que com dinheiro se toma mais facilmente o poder do que com balas é, claramente, o acrescentamento que o bandalho-sindicalismo, que sempre usou esse recurso para se instalar e se manter em suas sinecuras, embalado pela ascensão fulminante do capitalismo de Estado chinês, aportou ao receituário de Gramsci para se atirar a voos mais altos e trazer as coisas até onde vieram.

Corre em paralelo, na mesma época, o investimento no controle dos sindicatos do setor financeiro, com os quais se institui a “PT-Pol” (de “polícia”, hoje substituída pela Receita Federal com seus supercomputadores liberados para agir à revelia do Judiciário), entidade bem conhecida das redações que desde aquela época começam, por meio dela, a “ter acesso” aos pormenores da vida dos inimigos do partido nos momentos em que tais expedientes se faziam mais úteis. Estavam postos os ingredientes essenciais do presente desastre.

Em meados dos anos 90, já com farta colheita de prefeituras, estoura o primeiro escândalo do PT no poder, denunciado pelo “quadro” histórico Paulo de Tarso Venceslau, em tudo, menos pelas proporções, idêntico aos de hoje: um esquema de cooptação de empresários venais que pagavam impostos municipais “a mais”, contratavam a consultoria CPEM, de Roberto Teixeira, compadre de Lula e dono do apartamento onde ele mora até hoje, que “descobria o erro” e abria os cofres das prefeituras para “devolver a diferença” ao empresário amigo com posterior“rachuncho”, excluídas do qual ficavam as vítimas de sempre: o povo, especialmente a parcela mais dependente da assistência do Estado, esta que, quanto mais empobrecida pela corrupção, mais exposta ao “pai dos pobres” fica.

Dois anos tentando em vão denunciar a falcatrua a Lula, e o ingênuo Paulo de Tarso se convence da verdade, vai ao Jornal da Tarde e denuncia a roubalheira.“Estarrecidos”, os petistas montam uma comissão de investigação chefiada por José Eduardo Cardozo, que, verde ainda, a leva longe o bastante para que todos os narizes se voltem para Lula, de onde emanava o mau cheiro. E então... golpe! Paulo de Tarso é que é expulso do partido, enquanto José Eduardo cai no ostracismo até que Dilma o arranque de lá.

Desde então tem sido só mais do mesmo. Só que muuuito mais do mesmo. O Congresso Nacional foi dissolvido em dinheiro. Não há mais uma Justiça brasileira; há uma “Justiça de Curitiba” e a outra. A economia está em estado de coma e jamais será reanimada à força, nem de muque nem de novas tapeações. É preciso reabrir a possibilidade da democracia, da vitória do direito, da reconciliação nacional.

Defenda-se! Defenda seus filhos! Defenda o Brasil!

Não haverá outra chance. É amanhã ou nunca.

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