domingo, março 27, 2016

Dá pra acreditar? - SUELY CALDAS

O ESTADO DE S. PAULO - 27/03

O que será do Brasil se o impeachment for aprovado? E o que será, se for rejeitado? As apostas se multiplicam, mas nenhuma com previsibilidade certeira e muito menos acompanhada de uma agenda econômica confiável e capaz de pôr fim à crise política. As que preveem o afastamento de Dilma Rousseff trazem alguma esperança quanto ao futuro, mas advertem que não será rápido nem fácil reverter os males que ela plantou e fincou raízes nos últimos cinco anos. E se Dilma ficar? Aí o futuro fica turvo, embaralhado, o pessimismo se espalha, a esperança se esvai. E a quem defende sua renúncia como um gesto de grandeza ela responde com um NÃO -definitivo e sem volta.

No limbo, desgovernado e zanzando sem rumo segue o País com sua economia cada dia mais despedaçada. Este ano o PIB vai recuar entre 3,5% e 4%, o 2º pior entre 188 países listados pelo Fundo Monetário Internacional. Sem dinheiro, o investimento público minguou, o estatal afundou com o maior prejuízo da história da Petrobrás e o privado sumiu com incertezas no futuro e descrença no governo. O desemprego dispara. Segundo o IBGE, em um ano a taxa de desemprego saltou de 6,8% para 9,5%, em janeiro. De toda a população em idade ativa, só 49,8% estavam empregados em fevereiro, mês em que 174 mil trabalhadores do comércio foram demitidos em seis regiões metropolitanas (imaginem nas regiões pobres do Norte e do Nordeste). Diariamente centenas de lojas, bares e pequenos comércios fecham as portas pois não conseguem vender, os donos ficam com dívidas; os empregados, sem emprego; as famílias, ao relento. Enquanto isso, em Brasília, governantes, deputados e senadores, com seus empregos e salários garantidos, batem boca, confrontam-se, ampliam a longa lista de investigados pela polícia, incitam o ódio que alcança as ruas.

Seja quem suceder à presidente, é indispensável fazer um inventário dos erros e estragos cometidos por ela nos últimos cinco anos e dar a eles desdobramentos com dois propósitos: nunca voltar a repeti-los e buscar meios de corrigi-los e superá-los para seguir em frente. Não foram poucos nem irrelevantes. Estes estragos se espalham na Petrobrás, nos fundos de pensão, nos bancos públicos, em programas sociais, nas renúncias fiscais, na escolha de empresas campeãs, nas licitações públicas incompetentes que geraram atraso e afastaram investimentos privados em projetos de infraestrutura. E o erro maior, que abriu um guarda-chuva protetor e acolhedor de todos os outros erros: permitir que a corrupção se espalhasse por todos os espaços onde circula dinheiro público, da construção de uma hidrelétrica a contratos bilionários de empreiteiras com a Petrobrás, passando por obras em estádios de futebol e muitos, muitos etc...

Nesses erros sempre há a mão grande e autoritária da presidente interferindo aqui e ali, ora assustando quem deseja (e desiste de) investir, ora distribuindo favores fiscais e de crédito para empresas escolhidas,deixando a maioria de fora e mandando a conta para os brasileiros pagarem. Mas não só. Há também a vocação desmedida e sem limites para gastar dinheiro público de forma ineficaz, atabalhoada e marqueteira numa profusão de programas sociais populistas que não se sustentam no tempo e acabam no limbo, descontinuados, suspensos ou extintos por falta de verbas, como vem acontecendo neste segundo mandato. Ou penalizam aqueles de resultado positivo, como o Bolsa Família, que não foi reajustado este ano, mesmo com a inflação encostando em 10%.

Resultado: a gastança multiplicou, o dinheiro acabou, a dívida pública aumentou tanto que o Brasil teve sua classificação rebaixada e paga juros altíssimos no crédito externo, a crise fiscal se agravou porque há três anos o PIB só desaba e leva junto a receita tributária. Para mascarar essa realidade, Dilma violou a Lei Fiscal com suas pedaladas que hoje dão base para o pedido de impeachment. E como ela reage? Piora a meta fiscal para 2016, projetando gastar mais e produzindo o terceiro déficit primário anual seguido, desta vez de R$ 96 bilhões. Dá para acreditar?


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