segunda-feira, março 07, 2016

Crise política paralisa tudo - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 07/03

As turbulências do ambiente político, marcado nos últimos dias pela aceitação de denúncia contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pelo Supremo, pela delação premiada de Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, e pela condução coercitiva do ex-presidente Lula, para prestar depoimento à Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato, contribuíram para lançar mais dúvidas sobre a possibilidade de um acerto do governo com o Congresso, com vistas a destravar o diálogo em torno de medidas de retomada da economia.

A histórica queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 e o consequente empobrecimento da população brasileira - a renda per capita diminuiu 4,6% - não deixam dúvida quanto à urgência de se encontrarem saídas para evitar que esse desastroso desempenho contamine 2016. Caso isso ocorra, o país vai experimentar a mais grave recessão da história recente, com consequências ainda mais danosas para o emprego e a renda das pessoas, além da perda total de tudo o que o país vinha conquistando desde a estabilização da moeda, há 20 anos.

Entre os dados do PIB informados na semana passada pelo IBGE, está o preocupante mergulho dos investimentos, que registraram queda 14,1% em 2015, o maior tombo em 18 anos. Trata-se de indicador que reflete com exatidão o ânimo dos agentes econômicos. Para um país como o Brasil, são necessários investimentos anuais que correspondam a pelo menos 22% do PIB para garantir a expansão da oferta de infraestrutura, bem como a expansão e a modernização do parque industrial. Esse nível de investimento, no caso brasileiro, deveria ser mantido por cerca de 10 anos. O Brasil nunca conseguiu manter essa recomendação técnica por mais de dois ou três anos.

Entre 2010 e 2014, os investimentos ficaram em 20% do PIB ou muito próximos disso. A queda de 2015 baixou esse patamar para 18% e, até agora, são pessimistas as previsões para 2016. A falta de investimentos sinaliza baixo crescimento da produção nos próximos anos, além de recuo no processo de modernização, inovação e, portanto, de aumento da produtividade da economia. É consenso entre empresários e economistas não vinculados ao governo que a retomada do dinamismo na atividade econômica passa necessariamente pela volta do investimento, tanto público quanto privado. Mas, no Brasil, essa retomada está bloqueada por pelo menos dois fatores.

O primeiro é consequência dos últimos anos da política econômica equivocada que levou à quase destruição do parque industrial do país. Depois de um período relativamente longo de câmbio desfavorável, a indústria nacional, além da dificuldade para exportar, perdeu boa parte do mercado interno para a importação. Em 2015, a indústria teve, segundo o IBGE, perda de 6,2%. Com isso, o setor acumula uma custosa ociosidade que, enquanto não for superada, vai contribuir para o engavetamento dos projetos de investimento.

O segundo fator é a falta de percepção de que o governo, de fato, caminha para equilibrar suas contas, condição inicial para a volta dos investimentos públicos, para o controle da inflação e o consequente recuo nas taxas de juros. Depende tudo isso da volta à normalidade na política e da credibilidade do governo, o que parece ainda distante.

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