A divulgação de dados pouco auspiciosos sobre a economia da China provocou nesta segunda-feira (4) a queda da Bolsa de Valores de vários países, incluindo o Brasil, e levou à desvalorização da maior parte das moedas emergentes. Como em 2015, o real esteve entre as mais prejudicadas –e já não surpreende que seja assim.
É que, de certa forma, pode-se relacionar o grau de desenvolvimento institucional (e de acumulação de poder) de um país à confiabilidade de sua moeda. Quanto mais elevado aquele, maior será esta.
Em alguns casos, atinge-se prestígio tal que a moeda se torna referência de valor global (dólar, euro, libra esterlina e iene, por exemplo), e não só para os cidadãos do país. Oscilações nas cotações tendem a ser consideradas reflexos de diferenças de ciclo econômico e níveis de juros, em geral não indicando um quadro de desconfiança.
Entre muitos emergentes, porém, o padrão monetário local serve como meio de transação apenas interno e reserva de valor menos confiável. A cotação dessas moedas em relação a referências sólidas é percebida como critério para avaliar a economia nacional.
Assim é por aqui, onde a população vê o nível da moeda americana diante da brasileira como atestado de saúde –ou, no momento, de doença. Em 2015, o país se destacou como o mais febril: o dólar saltou de R$ 2,7 para quase R$ 4; a desvalorização do real foi menor somente que a do peso argentino.
Verdade que parte dessa depreciação decorre de razões externas, como os juros nos EUA e a queda de preços de matérias-primas. Até aí, portanto, nada de anormal na perda de valor do real.
De fato, até meados do ano passado, a dinâmica da moeda brasileira seguia o padrão global, salvo por um surto de desvalorização em março, no auge da insegurança em relação ao balanço da Petrobras.
A partir de julho, todavia, o cenário muda. Quando o governo Dilma Rousseff (PT) abandona as metas de economia no Orçamento, escancarando o descontrole da dívida pública, a perda de valor do real se acentua e adquire vida própria.
Tem-se aí um dos resultados do descalabro administrativo da gestão petista: o enfraquecimento dos fundamentos que dão guarida ao valor da moeda, fazendo o país regredir a um padrão de instabilidade que se acreditava superado.
Parte desse ajuste no câmbio até é desejável, pois ajuda a devolver competitividade à indústria nacional e a diminuir o deficit nas contas externas (facilitando exportações, e não importações). Mas não se trata apenas disso, infelizmente.
A cotação do dólar, no fundo, reflete o temor de que, sem a adoção de medidas adequadas, o crescimento exponencial da dívida interna levará a uma erosão institucional ainda mais dramática e selvagem –um processo de inflação crescente, que atinge a todos, sobretudo os mais pobres.
Em outras palavras, a preocupante desvalorização do real é apenas sintoma de um quadro bastante grave da economia brasileira.
E o que explica a desvalorização de praticamente todas as moedas relevantes do mundo quando comparadas ao dólar americano? O dólar canadense valia mais que o americano até pouco tempo e agora está na casa dos 72 centavos... acho meio simplista essa visão.
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