terça-feira, novembro 10, 2015

Feministas igualitárias - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 10/11

Nossa primeira demanda é acabar com a diferença na idade de aposentadoria. Onde já se viu a mulher poder se aposentar antes?


Sou o presidente da ONG Feministas Unidas pelas Mulheres Estranhas e Igualitárias (Fumei), e ia aderir à campanha #AgoraÉQueSãoElas, cedendo este espaço para a jornalista Joice Hasselmann, que acaba de sair da VEJA. Mas desisti, pois Joice é muito independente e pouco igualitária para representar minha ONG, que não aprecia esse tipo de postura. Ela também é bonita e feminina demais para falar em nome das mulheres estranhas que idolatram Simone de Beauvoir, aquela submissa ao amante Sartre. Sei que o leitor pode achar estranho que um homem presida uma entidade feminista, mas não há nada de anormal nisso. Ora, todos esses homens que cederam o espaço nos jornais por um dia às mulheres, preservando os demais dias do ano para si, agem de forma similar, como se a mulher fosse tão fraca a ponto de necessitar de um empurrãozinho masculino, uma concessão abnegada. Vai entender!

A Fumei defende bandeiras mais radicais, pois percebeu que muitas mulheres que se dizem feministas chegam a um limite o qual não estão dispostas a avançar. A Fumei, ao contrário, busca igualdade plena entre homens e mulheres. Por isso que nossa primeira demanda é acabar com a diferença na idade de aposentadoria. Onde já se viu a mulher poder se aposentar antes? Ainda mais quando sabemos que sua expectativa de vida é maior. Qual a lógica desse privilégio?

Além da idade igual de aposentadoria, a Fumei defende o alistamento obrigatório das mulheres nas Forças Armadas. Algumas feministas lutaram no passado pelo direito de a mulher ingressar no Exército, mas achamos isso muito pouco. Queremos o dever, tal como ocorre com os homens.

Outra coisa que tem chamado a nossa atenção é a enorme desproporção entre homens e mulheres na população carcerária do país. Simplesmente quase 95% do total de presos são homens. Onde está a igualdade? Como podemos combater as desigualdades no mercado de trabalho se não atacarmos também a desigualdade na quantidade de presidiários?

A Fumei condena veementemente os protestos de outras feministas em igrejas, esfregando os seios nus na cara dos padres. Isso já é coisa do passado, não tem mais graça. Em nome da igualdade, queremos ver as feministas balançando os peitos na cara dos aiatolás do Oriente Médio, na cara dos líderes do Estado Islâmico. A mulher na Arábia Saudita não pode nem dirigir ou usar biquíni, e as feministas vão focar na “opressão” ocidental?

Algo que irrita profundamente nós da Fumei é mulher que deixa o homem trocar o pneu furado do carro ou matar baratas. Coisa de mulherzinha que alimenta a desigualdade. O certo é a mulher meter a mão na massa e trocar o pneu sozinha, mesmo debaixo de chuva, e deixar de frescura e pisar na maldita barata, mesmo que descalça. A igualdade é fundamental, companheiras!

Alguns chatos, como aquele presidente do Instituto Liberal, falam que o feminismo igualitário é coletivista, que não enxerga indivíduos, que não reconhece que homem e mulher são complementares, e não inimigos mortais. Mas não caímos nessa ladainha. Sabemos que a família é como uma luta marxista, só que em vez de classes, se dá entre gêneros. O macho oprime a fêmea, e isso precisa acabar.

Economistas mostram que diferenças em salários médios derivam das escolhas feitas, do perfil de trabalho, da maior quantidade de mulher em profissões mais flexíveis com o tempo, e pelo fato de serem elas que engravidam, algo que ainda não temos muito como mudar. Não importa essa lógica toda. Somos pós-modernos, estamos acima da razão, não precisamos de coerência. O relevante é só pintar a mulher como vítima e o homem como opressor, tudo em nome da igualdade.

Por isso, não suportamos essas mulheres fortes, independentes, tais como Margaret Thatcher, Carly Fiorina ou Ayn Rand. Preferimos aquelas que só chegaram aonde chegaram graças a um homem, como Dilma, criatura de Lula. A nossa presidenta sempre usou a cartada sexual, inclusive no título do cargo, lembrando que era mulher e que toda crítica que recebe é fruto do machismo. Thatcher nunca se vitimizou assim, nem Ayn Rand. Não ajudam em nossa causa.

Mas, apesar de toda a consideração para com Dilma, a Fumei precisa defender seu impeachment. Afinal, estamos aqui lutando pela igualdade plena das mulheres estranhas, e convenhamos, Dilma é excelente ícone do grupo. Se Fernando Collor, com “aquilo roxo”, foi alvo de um processo de impeachment, não seria justo blindar Dilma agora. Queremos igualdade, e só haverá igualdade se Dilma também cair, como aconteceu com Collor. Seja nobre, Dilma. Renuncie em nome da igualdade!

Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal

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