sexta-feira, novembro 06, 2015

Clareza, volver - CELSO MING

ESTADÃO - 06/11

O BC passou a admitir mais abertamente que empurrou para 2017 a convergência da inflação para o centro da meta (4,5%)


O Banco Central deixou de lado nesta quinta-feira a linguagem cifrada e quase sempre ambígua dos seus relatórios, atas e comunicados e tentou ser mais claro na sua comunicação.
Passou, por exemplo, a admitir mais abertamente que empurrou por um ano o período de convergência da inflação para o centro da meta (4,5%). Até outubro ainda insistia em que entregaria a inflação no centro da meta no fim de 2016. Quando percebeu que foi ultrapassado pelos fatos, voltou ao hermetismo e às expressões confusas. Agora, declarou sem rodeios que a entrega da inflação no centro da meta ficou para 2017 - e não mais para “o horizonte relevante da política monetária” - horizonte sempre cambiante, como as partículas subatômicas.

Foi o que garantiu, nesta quinta-feira, em entrevista coletiva à imprensa o diretor de Política Econômica do Banco Central, Altamir Lopes. As razões para o adiamento da convergência da inflação já eram conhecidas, mas ficaram mais explicitadas.

A primeira delas foi o impacto produzido pela recomposição dos preços administrados, aqueles que dependem de decisão do governo. Essa carga sobre a inflação foi bem mais forte do que esperava o Banco Central, que não contava com reajustes tão altos das tarifas da energia elétrica e dos combustíveis. Aí, boa dose de sinceridade nunca é demais.

Não mencionado por Altamir Lopes, dá para acrescentar entre as causas do adiamento o efeito inflacionário produzido também pela alta do dólar no câmbio interno, de mais de 50% apenas em 2015.

O outro fator que levou o Banco Central a deixar para 2017 a convergência da inflação para a meta foi a enorme incerteza produzida pela área fiscal do governo federal. É um campo sobre o qual o Banco Central vinha pisando em ovos com salto alto, supostamente para não deixar em má situação o ministro da Fazenda da administração anterior, que dizia e repetia, com escancarada cara de paisagem, que tudo ia muito bem, obrigado, nas contas públicas.

A última ata já mencionava as incertezas provocadas pelo emperramento do ajuste fiscal tanto no governo federal quanto no Congresso. Mas, nesse ponto, ainda falta clareza. Em vez de insistir em que “o balanço do setor tende a se deslocar para a zona de neutralidade” e coisas dessa ordem, o Banco Central seria mais bem entendido se dissesse de uma vez que há incertezas demais na área fiscal e que isso não ajuda a combater a inflação. Mas, ainda assim, que continua apostando em que as coisas acabem entrando nos eixos.

O problema é que a lenga-lenga do governo e do Congresso deixa tudo nublado. Se, por exemplo, não sair a aprovação da CPMF, o governo será obrigado a puxar para cima a Cide, que é um tributo embutido no preço dos combustíveis. Seria injeção de alta dose de inflação na veia. Essa ameaça paira sobre os mercados dos preços, do câmbio e dos juros.

Se essa manifestação de transparência do diretor Altamir Lopes for indicação de mudança na maneira de se comunicar com o público, então o Banco Central estará aumentando a eficácia de sua política monetária.

CONFIRA:




Os gráficos mostram como evoluem exportações e importações por volume negociado - e não por preço.

A prova do quantum

Altamir Lopes apontou o aumento do volume (quantum) exportado e, ao mesmo tempo, a redução do volume importado como os melhores indicadores do ajuste por que passam as contas externas. Esse ajuste, por sua vez, é o melhor indício de que a economia está se acertando: “O quantum das exportações é que vai dar o tom do ajuste externo, contribuindo de forma expressiva para o PIB”, disse Altamir.

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