quarta-feira, outubro 14, 2015

Incerteza - CELSO MING

O ESTADÃO - 14/10

Não se sabe sequer quem será governo amanhã nem que força terá para sanear as contas públicas



O quadro é de dominância da incerteza.

Estamos em meados de outubro e, no entanto, não há decisão no Congresso a respeito do ajuste fiscal que deveria produzir, ainda neste ano, o superávit primário das contas públicas de 0,15% do PIB.

Pior ainda, não se sabe sequer quem será governo amanhã nem que força terá para sanear as contas públicas e tirar a economia da enrascada. Fica tudo dependendo do jogo político. E este, por sua vez, continua sendo surpreendido pelas revelações da Operação Lava Jato, que tiram e põem protagonistas.


Projeções do mercado para 2015


Do ponto de vista do estado geral da economia, a melhor escolha política não se dá entre impeachment e não impeachment. A melhor escolha é uma solução rápida, qualquer que seja ela, e a recomposição imediata de forças que sustentem as decisões que tiverem de ser tomadas. Um processo prolongado deixaria tudo parado, em franca deterioração.

Semana após semana, a Pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com cerca de 100 instituições, apresenta projeções cada vez mais pessimistas: afundamento do PIB e da produção industrial e inflação cada vez mais alta (veja o gráfico acima).

Os dirigentes do Banco Central, dos quais se espera capacidade de conduzir as expectativas, continuam repetindo as mesmas afirmações, como se as coisas estivessem seguindo o giro normal dos astros na abóbada celeste e das estações do ano. Por isso, não passam firmeza, nem a curto prazo.

O compromisso mais importante da autoridade monetária é entregar a inflação no centro da meta (4,5%) ao fim de 2016. No entanto, diante da atual desordem fiscal e da falta de conserto imediato, não se sabe mais para onde vai a inflação. Espalha-se entre os observadores a percepção de que a política monetária (política de juros) já não ancora nada, nem os preços nem as expectativas. Nessas condições, não dá para recomendar nova escalada dos juros básicos com o objetivo de garantir o cumprimento da meta. No entanto, nem sobre isso o Banco Central consegue passar segurança.

O governo não esconde que um forte aumento da carga tributária é inevitável para fechar as contas públicas, entre outras razões, porque a derrubada do PIB vai puxando a arrecadação para baixo, seja porque o consumo caiu, seja porque o empresário prefere fazer caixa com o que deveria recolher à Receita, mesmo correndo o risco de pagar multa e juros de mora.

No entanto, não há disposição do Congresso para aprovar aumento de impostos. Autoridades do governo ainda avisam que, nessas condições, serão obrigadas a baixar decreto que aumente a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, a Cide – um tributo regulatório cobrado sobre os combustíveis, que ganharia funções arrecadatórias, com as distorções previsíveis. Se isso se confirmar, os preços dos combustíveis voariam para a galharia de cima e a inflação, novamente, galoparia, por isso mesmo e pelo impacto da alta das cotações dólar.

É a dominância política. Quem viver verá.

CONFIRA:


Cotação do dólar, em reais


O câmbio flutua, continua repetindo o presidente do Banco Central. Mas flutua aos solavancos. Nesta terça-feira, disparou 3,23%, ao ritmo da incerteza, como o gráfico está mostrando.

Cada vez mais longe

Se estão certos os analistas que mais acertam as projeções da inflação, os chamados Top Five, então o Banco Central vai ficando cada vez mais distante da realidade. Para esses, 2016 terminará com a inflação em 6,26% – e não nos 4,5%, como quer o Banco Central. Ou seja, a expectativa dos que mais acertam vai se afastando do que imagina a autoridade monetária.

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