terça-feira, junho 09, 2015

Montadoras exportam mais - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 09/06
 

Montadoras exportam mais (Editorial) Tradicional locomotiva da indústria brasileira, o setor automotivo tem refletido com clareza o que se passa com a economia do país. O choque de realidade, que ocorre desde o fim do ano passado, quando se tornou impossível continuar escondendo das parcelas menos informadas da população que não vivíamos no paraíso, tem levado as montadoras a perdas expressivas, maiores mesmo do que as da média da indústria em geral.

Nos últimos anos, muita gente se deixou levar pelo acesso facilitado ao crédito e pela concessão de incentivos fiscais localizados nos preços finais dos carros e dos eletrodomésticos de linha branca, e acabou se endividando. As montadoras, animadas com a corrida que entulhou as ruas de automóveis, deram resposta rápida e eficaz, promovendo a expansão da oferta.

Tudo parecia correr às mil maravilhas. Só parecia, porque não faltaram especialistas para alertar que a corrida ao crédito para o consumo de bens e serviços - detalhe que, por algum tempo, garantiu altas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) - vinha se distanciando da prudência e gerando crescimento que não se sustentava nem na produção em geral nem em produtividade da economia brasileira.

Por ser movida pelo crédito e pela segurança no emprego da maioria dos consumidores, a indústria automotiva foi uma das primeiras a sinalizar o descarrilamento da economia brasileira e avança rapidamente na geração da pior das notícias: o desemprego. É certo que as montadoras têm tentado segurar ao máximo o pessoal qualificado. Mas cerca de 6 mil pessoas foram despedidas e pelo menos 15 mil estão em férias antecipadas.

Ontem, a Associação Nacional do Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou os dados de produção do setor em maio: queda de 25,3% em comparação com maio do ano passado. Com esse resultado, a produção acumulada em cinco meses de 2015 já é 19,1% em relação a 2014 e revela a tendência de superar a previsão de recuo de 25% até o fim do ano.

Felizmente, escaldado pelos erros de política econômica cometidos nos últimos anos, quando o calendário eleitoral ditou muitas decisões equivocadas, o governo não dá, até o momento, sinal de que vai repetir a política de desonerações tributárias localizadas, na expectativa de conter o desemprego. As montadoras têm se submetido ao desconfortável, mas inevitável, dever de casa de ajustar a produção e os estoques à realidade.

Estão certas de que o Brasil vale a pena e que, por isso mesmo, o melhor a fazer é se preparar para o tempo das vacas magras, de modo a superá-lo sem deixar a credibilidade financeira no caminho. Mais do que isso, algumas montadoras sediadas no Brasil estão retomando com sucesso as exportações. As vendas ao exterior cresceram 41,7% em relação a abril e 16,5% em comparação com maio de 2014. É certo que os novos patamares do câmbio ajudam. Mas isso não é tudo. Recentemente, por pressão das montadoras, o governo brasileiro renovou importante acordo automotivo com o México, país com dinamismo diferente das trapalhadas venezuelanas e argentinas. Pode não ser a salvação da lavoura, mas a busca agressiva de mercados no exterior é caminho que o Brasil precisa retomar e, para isso, cabe ao governo deixar para trás o viés ideológico que ajudou a manter o país fora de acordos com parceiros que realmente interessam.

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