sábado, junho 13, 2015

A energia nuclear não pode ser descartada - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 13/06

Para não depender apenas da boa vontade de São Pedro, com chuvas que encham os reservatórios, o Brasil agora necessita de uma base de geração térmica mais sólida

 
Com a matriz energética dependendo cada vez mais da boa vontade de São Pedro, pois as hidrelétricas que estão sendo construídas ou entraram recentemente em funcionamento não possuem reservatórios — e operam, portanto, com a vazão natural dos rios —, o Brasil deve pôr de lado os preconceitos e constituir uma base de geração térmica mais sólida. A opinião é do ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, e soa como alento. O ministro já governou o Amazonas e sabe, por experiência própria, o quanto é difícil conduzir uma economia (e, no caso de Manaus, a capital amazonense, com parcela expressiva de indústrias) sem contar com um sistema elétrico confiável.

A base térmica da matriz elétrica foi montada no Brasil mais para situações de emergência do que para garantir o suprimento do mercado de forma permanente. Assim, a maior parte das termelétricas foi projetada para ser ligada eventualmente ou durante alguns meses do ano, no chamado período seco, quando é preciso poupar água dos reservatórios remanescentes de hidrelétricas. São térmicas que queimam óleo combustível ou diesel.

Depois que se tornou evidente a necessidade de uma base térmica mais sólida, o Brasil passou a contar com mais térmicas a gás natural, embora tenha que importar volumes consideráveis desse combustível. E a energia procedente da biomassa enfim entrou na matriz. O carvão deixou de ser descartado, e já se buscam tecnologias que possibilitem o uso adequado e mais eficiente do mineral para geração de energia.

Mas nada é tão relevante para a base térmica do que a energia nuclear. Tais usinas têm alta capacidade de geração, podem ficar relativamente próximos aos centros de consumo ou de áreas que precisem de reforço no fornecimento de eletricidade. Funcionam por vários meses sem interrupção (com paralisações programadas para troca de combustível e manutenção preventiva), não emitem dióxido de carbono e têm impacto ambiental controlado. O custo da energia nuclear é compatível com a média da matriz elétrica mesmo levando-se em conta elevados investimentos em segurança contra acidentes.
ADVERTISEMENTAté o fim desta década o Brasil terá três grandes usinas nucleares em funcionamento situadas entre os dois principais centros de consumo (São Paulo e Rio). O país acumula larga experiência na operação dessas usinas, mas precisa de um modelo que agilize a construção e o investimento, com a participação de grupos privados. Novas tecnologias permitem que se construam usinas nucleares intrinsecamente seguras (cujos mecanismos de segurança sejam independentes da ação humana).

Como disse o ministro das Minas e Energia, a opção nuclear tem de ser considerada, sem preconceitos.

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