quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Antes que Dilma se complique mais - ROSÂNGELA BITTAR

VALOR ECONÔMICO - 18/02

A meta, a ser alcançada com a mobilização de todos os instrumentos à mão, é aquilo que, tecnicamente, se define como "atitude positiva em relação a Dilma". A avaliação da presidente sofreu queda vertiginosa e, se ficar tudo como está, o governo agravará a situação de tal forma que impedirá até a expectativa de solução.

O senso comum tem atribuído o revés sofrido pela presidente, traduzido em pesquisa em que 47% dos entrevistados a consideram desonesta, 54% a definem como falsa, e 50% a chamam de indecisa, como uma frustração da propaganda e das promessas da campanha eleitoral. O marketing mais visível da campanha de Dilma, especialmente no segundo turno, foi centralizado no ataque e destruição do adversário. E as promessas foram poucas, Dilma sequer teve plano de governo a apresentar, uma omissão proposital, para não abrir flancos.

Portanto, via-se fragilidade e desproporção entre as razões supostas e os índices vertiginosos ladeira abaixo.

O cientista político, sociólogo e especialista em marketing eleitoral Antonio Lavareda, explica, discordando do diagnóstico, por que a presidente Dilma Rousseff enfrenta zona de tamanha turbulência. A solução mais imediata, a seu ver, é a comunicação, a propaganda mesmo. "O marketing é um instrumento importante para alavancar a avaliação dos governantes", assinala, contra a opinião dos que veem no instrumento a representação da mentira.

Para Lavareda, se Dilma, durante esse mês, estivesse recorrendo ao marketing para explicar à população, de alguma forma, algumas medidas mais duras que tomou, ou divulgando à população alguma coisa positiva que eventualmente tenha feito, iria ter um equilíbrio maior para compensar o volume de noticiário negativo da mídia - jornal, rádio, televisão, internet.

A propaganda compensaria de alguma forma isso. "Não se pode dizer quanto, mas compensaria".

O oposto, segundo o professor, é o cidadão ficar em casa vendo televisão, ouvindo o rádio e ligando a internet e só receber notícia negativa do governo.

"O problema é o volume brutal de noticiário negativo sobre ela. Petrobras, em primeiro lugar, na categoria ética, judicial, criminal. De outro lado, o noticiário sobre economia: o PIB caindo, projeção do PIB caindo, inflação, é muita notícia negativa".

Lavareda situa na categoria de lenda a avaliação de que o problema está na decepção do eleitorado com as promessas não cumpridas.

"São fatos negativos que geram notícias negativas: Petrobras, PIB, derrota na eleição da Câmara, real com a maior desvalorização frente ao dólar, são coisas substantivas, ninguém estás inventando nada". Se os fatos substantivos e novos de 2015 fossem todos positivos, diz, e se Dilma não tivesse cumprido as promessas de campanha, alguém iria reclamar? Até as denúncias de corrupção não teriam peso, como em outras ocasiões. Lembra o sociólogo que a população, de uma maneira geral, é pouco exigente do ponto de vista ético.

Agora, do que fazer propaganda, se o país vai mal e o governo parece não ter o que apresentar? "Não sei o que ela está fazendo ou deixando de fazer. Se ela chamar o pessoal da comunicação e disser: veja o que estamos fazendo, ainda que novidade não seja, nossos programas de educação, de saúde, se começamos a fazer algo na segurança pública, vamos lançar logo o pacote anticorrupção. No território da mídia, viajar mais, produzir fatos, reuniões, anúncios, explicações, encontros com empresários, sindicalistas. Mas só isso não resolve. Se não recorrer à propaganda, ao marketing na sua dimensão publicitária, e não houver ocorrência de fatos positivos, ela vai cair mais e se complicar adiante". O cientista político completa o raciocínio: "Se é que já não se complicou".

Pelo menos ao eleitorado que votou nela dá um alimento para manter atitudes positivas em relação a ela no maior percentual possível", afirma.

Dilma estava presente na TV, de forma intensiva, durante todo o ano passado, até 26 de outubro. Primeiro, ao acelerar inaugurações, viagens, palanques do governo em todo o país, na prévia da campanha eleitoral, e depois na campanha propriamente dita, em que tinha o maior tempo de propaganda gratuita na televisão e no rádio possibilitado por sua vasta aliança partidária.

Os fatos e notícias negativas existiam, tanto na mídia quanto na oposição, essa principalmente no segundo turno, quando também tinha mais volume e espaço. Nada, porém, capaz de obscurecer a exposição da presidente.

Agora a oposição não tem horário eleitoral, mas a mídia tem grande volume de notícias negativas para reverberar, porque os fatos são negativos. E Dilma desapareceu. Do ponto de vista técnico, "se ela tivesse com uma presença de comunicação, com alguma intensidade, teria caído, porque os fatos de governo são negativos, mas não tanto como caiu" 


Uma situação destacada por Lavareda diz respeito ao fato de que Dilma não está falando sequer com o seu próprio eleitorado. Se a eleição fosse hoje, ela receberia menos votos do que recebeu em 26 de outubro. "O eleitorado dela está atônito. Ouve que a Petrobras era uma caverna de Ali Babá, que ela mentiu, que a economia está caindo, e não ouve nada em contrário. O sujeito que pediu voto em casa para ela não tem como dar explicações à família." 

A presidente não poderia imaginar que, em um cenário negro como esse, iria expandir sua base de apoio. Se tivesse conseguido manter a base de apoio explicitada na eleição, sem comunicação, já seria uma proeza política. O esforço que precisa fazer agora é para perder o mínimo possível até ter condições de atuação política e de gestão do governo para começar a ganhar. Ela tem que fazer um esforço para perder o mínimo possível.

Antonio Lavareda resume: "Marketing político não resolve a vida. Mas ajuda como o diabo".

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