sexta-feira, agosto 15, 2014

Somente para otários - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 15/08


RIO DE JANEIRO - "Caro senhor. Vimos por este meio informar que temos reservado em seu nome um fantástico Leitor MP5 multimídia. Para lhe enviarmos esta fabulosa oferta, precisamos que nos confirme os seus dados aqui. Atenciosamente, Fulaninhos Associados, CNPJ tal". Tsk, tsk. Nesta, deram-se mal --preciso tanto de um fantástico Leitor MP5 multimídia quanto de um lumbago.

"O Banco do Brasil informa que ainda não recebeu o recadastro de sua conta. Para continuar utilizando os serviços BB como Internet Banking, Cartão Múltiplo, BB Telefones e Caixas Eletrônicos, é necessário realizar o procedimento. Clique aqui para continuar a regularização". Parece uma notificação simpática --exceto pelo fato de que não sou e nunca fui cliente do Banco do Brasil.

"Segue em anexo a cópia do comprovante do depósito em PDF onde está a descriminado demais detalhes do crédito [sic]. Informamos que o valor foi creditado em sua conta com sucesso! Qualquer dúvida em relação entrar em contato conosco que explicaremos. Clique no link!". Negativo. Não aceito dinheiro de gente que não sabe escrever português direito.

"Notificação de autuação de infração do trânsito seguido de multa [seguem-se local, dia e a hora da infração]. Abra o anexo para ver a notificação da infração, contendo a especificação dos prazos recursais e de defesa prévia". Ué --como posso ser multado se não tenho carro, nem o hábito de andar pelas breubas em que a infração foi cometida?

"Parabéns, Ruy! Você foi o ganhador! Caso não consiga visualizar a imagem abaixo, clique neste link!". E por aí vai, a uma média de três ou quatro por dia. São mensagens que chegam pela internet. Aceite uma delas, e você está pronto para cair no golpe do bilhete premiado de loteria que a velhinha insiste em lhe vender na rua porque não tem tempo para levá-lo à Caixa.


Tirania do acaso - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 15/08


SÃO PAULO - De manhã você está cheio de energia e planos grandiosos e à tarde já não existe mais. O trágico acidente que tirou a vida de Eduardo Campos e mais seis escancara um fato sobre o qual evitamos pensar: estamos irremediavelmente sujeitos aos caprichos do acaso.

Ainda não dá para saber o que provocou o desastre, mas, se seguiu o padrão usual, resultou de uma combinação de vários elementos, que podem incluir desde um parafuso defeituoso até uma decisão infeliz do piloto, tudo temperado pelo mau tempo. Isoladamente, nenhum desses fatores derrubaria o avião. Para que isso ocorresse, cada um deles teve de desdobrar-se numa ordem precisa e fatal. Oito nós a menos na velocidade do vento poderiam ter mudado tudo.

Como razões evolutivas nos predispuseram a procurar ordem em tudo --até onde ela não existe--, nossa espécie desenvolveu uma verdadeira fobia ao acaso, que se materializa na forma de ciência, pseudociências e religiões. O quinhão de acaso que cada uma delas está disposta a tolerar em suas explicações define sua maturidade. Do meteorologista que se resignou com os sistemas caóticos que caracterizam sua especialidade ao crente que em tudo vê marcas do desígnio divino, a diferença é mais de grau do que de natureza.

O fato de não haver como escapar à tirania do aleatório não implica que não possamos tentar domesticar o acaso. Ele, afinal, costuma aparecer em encadeamentos complexos dos quais dominamos um ou mais elementos. É impossível eliminar a possibilidade de acidentes aéreos, mas podemos tomar medidas para tornar aviões mais seguros ou, no limite, nem entrar numa aeronave.

Sucessos são apenas probabilísticos e meramente circunstanciais. A aviação mais segura não evitou que Campos morresse num desastre nem impede que o sujeito que fica longe de aviões tenha sua trajetória interrompida por outro tipo de acidente.

Basicamente, "shit happens".


Uma URV para os tributos - JOSÉ PAULO KUPFER

O GLOBO - 15/08


Proposta de simplificação tributária prevê mecanismo para superar o impasse da distribuição de receitas, que tem inviabilizado todas as reformas


Poucos temas são mais mencionados em campanhas eleitorais e menos levados à frente depois delas do que o da reforma do sistema tributário. Desta vez não está sendo diferente, e as propostas já estão aparecendo.

Uma das mais completas e interessantes, concebida pelo Movimento Brasil Eficiente (MBE), sob a coordenação do economista Paulo Rabello de Castro, promete simplificar o sistema, numa transição ao longo de quatro anos, sem novos tributos e sem alterar a divisão do bolo tributário entre União, estados e municípios — esta a verdadeira razão da eterna frustração das reformas.

Ninguém desconhece as distorções e disfunções do sistema tributário brasileiro. Não se trata apenas da carga tributária excessiva, que rivaliza com a de países ricos e se situa muito acima da vigente em economias de porte semelhante. Os tributos, além disso, são de má qualidade, acentuam as desigualdades de renda, incidindo mais sobre quem pode menos, e ainda afetam negativamente a competitividade econômica.

Se já não bastasse, esses tributos são difíceis tanto de cobrar quanto de pagar. O conjunto de normas tributárias em vigor ocuparia, segundo relata a proposta do MBE, um volume de sete toneladas, com mais de 40 mil páginas gigantes, de três metros quadrados cada uma — um feito digno do “Guiness”. Também é um recorde mundial o total de 2.600 horas anuais gastas por empresas no Brasil com a apuração e o pagamento de impostos.

De acordo com a proposta do MBE, no fim dos próximos quatro anos, os principais tributos atuais seriam concentrados em dois impostos: um ICMS nacional e um novo Imposto de Renda. O primeiro, tributo de valor adicionado, reuniria impostos e contribuições sobre a produção e o consumo, como o próprio ICMS atual. Ele seria unificado e arrecadado pela União — e não mais pelos estados — e distribuído a estados e municípios por critérios automáticos. O outro seria um novo Imposto de Renda, formado pelo atual IR e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), que, ao fim do processo, seria exclusivamente federal.

Na busca da simplificação, a proposta do MBE tem a vantagem de não embarcar na ideia atraente, mas desastrosa, de promover algo como um imposto único, do tipo da saudosa, para muitos, Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A maior atração de um tributo com essa característica — a simplificação na arrecadação e pagamento —, no entanto, perde longe para as distorções que pode produzir nas cadeias de produção, retirando do sistema tributário sua importante função de induzir crescimento para determinados setores e inibir outros, cujo exemplo padrão é o do fumo.

Todas as tentativas de simplificar o sistema tributário têm esbarrado, principalmente, na disputa entre os entes da Federação pelo poder de cobrar o ICMS, tributo com maior peso isolado no conjunto da arrecadação, acima de 20% do total. Imposto estadual, o ICMS obedece a legislações tributárias diferentes em cada um dos 27 estados, do que resulta uma kafkiana teia de normas e regulamentos. Nesse emaranhado, produtos essenciais podem ser taxados com alíquotas maiores do que bens supérfluos, numa distorção entre as muitas que formam uma rede infindável de absurdos, promotoras de disfunções econômicas e sociais.

A proposta do MBE promete superar esse impasse, que tem inviabilizado todos os esforços de reforma, pela arrecadação e distribuição de verbas por meio de um mecanismo de transferência de recursos capaz de garantir a manutenção da participação de cada estado e município no bolo de arrecadação — chamado de URV Fiscal. A promessa inclui a redução da carga tributária dos atuais 36% do PIB para 30%, em 2022.

Quem sabe não está aí o até hoje nunca encontrado caminho das pedras.

O varejo sente o tranco - CELSO MING

O ESTADÃO - 15/08


Os tombos sucessivos das vendas do comércio varejista não podem ser vistos como efeitos de fatores episódicos e, portanto, de curta duração


Os tombos sucessivos das vendas do comércio varejista não podem ser vistos como efeitos de fatores episódicos e, portanto, de curta duração.

Esta é uma leitura conveniente para os defensores da atual política econômica desequilibrada. A forte queda das vendas ao consumidor em junho sobre maio (veja o gráfico), por exemplo, é interpretada como efeito inevitável da realização da Copa do Mundo, que teve muitos feriados e deixou o consumidor pouco disposto a largar o sofá e a reforçar as prateleiras da despensa de casa. Ou, na linha do que alegam as autoridades do Ministério da Fazenda, é mais uma dessas consequências da crise externa, contra as quais não haveria lá muito o que fazer.

Mais realista é entender que os desaceleradores imediatos das vendas internas são, em primeiro lugar, os estragos causados no poder aquisitivo do consumidor pela inflação. Em segundo, o esgotamento das políticas casuísticas de reduções tributárias e de alavancagem do crédito, que beneficiaram alguns setores, como o de veículos, o de aparelhos domésticos e o de materiais de construção. E, em terceiro lugar, o aumento das incertezas sobre a economia.

Sobre o impacto da inflação, não é preciso dizer muita coisa, a não ser advertir que a disparada dos preços dos serviços (alta de 8,44% no período de 12 meses terminado em julho) deixou menos margem no orçamento do trabalhador para compra de bens de consumo duráveis.

As reduções de IPI, especialmente, nas vendas de veículos não criaram mercado, como tanta gente acredita. Apenas anteciparam compras. Agora endividado, o consumidor não voltará tão cedo a puxar pelo seu cartão de crédito. É por isso também que, do ponto de vista do interesse das montadoras, essas bondades acabam tendo resultados de qualidade duvidosa. Concentram as vendas em determinado período e, em seguida, amontoam estoques de produtos acabados cuja desova exige promoções custosas e descontos sobre os preços.

Outro fator de desaceleração das vendas no varejo são as incertezas sobre o futuro, que levam o consumidor a uma reação mais conservadora. Ele percebe que a economia vai mal das pernas, que seu emprego está ameaçado e que um ajuste de contas é inevitável. Por isso, prefere não assumir mais compromissos que comprometam seu orçamento.

Tudo isso empurra para outro nível de questionamento. A política econômica do governo Dilma privilegiou o consumo e descuidou do investimento. Além disso, afrouxou excessivamente os controles das finanças públicas, desarrumou a economia e semeou o desânimo. Os resultados estão sob os olhos de todos e são sentidos ainda mais inclementemente no bolso de cada um.

Para consertar o que está aí não bastarão duas ou três demãos de tinta. O experimentalismo adotado pela administração Dilma trouxe prejuízos demais. O governo que tomar posse em janeiro, qualquer que seja ele, não só terá de distribuir uma conta enorme pela sociedade. Terá de ir aos fundamentos da economia, para recobrar a confiança hoje perdida e criar condições que deem sustentação ao crescimento econômico.

CONFIRA:

Distorções na petroquímica

Para reduzir importações de combustíveis, a Petrobrás está vendendo gasolina misturada com nafta (outro derivado do petróleo). Por isso, precisou importar mais nafta, principal insumo da petroquímica. A Braskem, principal grupo petroquímico do Brasil, está reclamando de que a Petrobrás quer agora descarregar sobre o setor da petroquímica a nafta bem mais cara.

Achatamento

O problema é consequência de duas distorções. A primeira é provocada pelo governo Dilma que achatou os preços dos combustíveis com o objetivo de segurar a inflação. É a mesma que vai sangrando o caixa da Petrobrás. A segunda distorção tem a ver com a derrubada dos custos da petroquímica nos Estados Unidos provocada pelo forte barateamento do gás natural de xisto, que pode substituir a nafta.

Sem resposta

Para as duas distorções, o governo Dilma não tem resposta adequada.

Era da incerteza - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 15/08



O Brasil vive um momento de profunda incerteza, como naqueles dias nublados em que não se vê muita coisa ao olhar para o horizonte. Na economia, há dúvidas em muitas áreas ao mesmo tempo e isso reduz o ímpeto para os investimentos produtivos e faz oscilar a bolsa ao sabor da notícia de cada dia. A política vive, a 50 dias das eleições, um ambiente de comoção e mudança.

Um cenário assim piora ainda mais a economia. Os indicadores não estão bons há algum tempo. De vez em quando sai uma taxa positiva, mas não chega a afastar o quadro mostrado pelo conjunto dos outros índices. Os números de cada dia desenham o movimento de pequenas altas, e sucessivas quedas, que vão confirmando a conjuntura em desaceleração forte. Um ano em que os empresários pisaram no freio, em que a indústria encolheu, as vendas diminuíram e as perspectivas pioraram.

Nem mesmo um ano ruim seria anormal na economia, já que há ciclos, fases, e freio de arrumação. O que é de fato preocupante é que o Brasil vem crescendo pouco há anos e o ritmo diminuirá ainda mais em 2014 porque os investidores estão com temores sobre o futuro.

Há perguntas demais para respostas pouco sólidas. Os dois candidatos à frente nas pesquisas precisam explicar melhor como pretendem enfrentar e superar os vários obstáculos que estão impedindo o Brasil de crescer. A dúvida maior recai sobre a presidente Dilma, porque ela tem o mais elevado percentual de intenção de votos, é a governante que tomou decisões que levaram a vários problemas e não tem demonstrado qualquer interesse de falar sobre a superação das dificuldades para a economia brasileira.

Dilma prefere repetir frases fabricadas pelo seu marketing que não guardam relação com a realidade, como a de que Fernando Henrique teria deixado o país numa situação equivalente à que a Argentina está agora. Qualquer pessoa que acompanha o assunto conhece os fatos e despreza essas frases de efeito. Entre investidores, isso pega mal porque se vê a governante fugindo das explicações que precisa dar sobre seu projeto para ajustar o que tem que ser corrigido de imediato na economia e no setor energético.

A incerteza alimenta o pessimismo e até o exagera às vezes. O dado da Pesquisa de Clima Econômico da FGV mostrou que o grau de confiança está no pior nível desde o Plano Collor. A pesquisa é feita com metodologia alemã desde 1989. Evidentemente que não há nada parecido agora com aquele momento, janeiro de 1991, quando o país vivia uma recessão, com o dinheiro confiscado, mas essa é a percepção dos economistas pesquisados. É preciso mudar isso.

O ambiente econômico pode se alterar com um choque de confiança, mas ele terá que vir da política, que neste momento vive o período de luto e dúvida que se segue ao trauma provocado pela morte de Eduardo Campos. Ainda que fosse o terceiro na disputa, Campos tinha grandes chances de ser um líder importante em qualquer cenário, ou consolidando uma terceira via, ou empurrando os outros candidatos a assumirem posições mais objetivas em relação aos dilemas econômicos e ambientais. Campos não teria muito tempo no horário de televisão, mas já vinha rodando pelo setor privado, explicando suas ideias. O candidato Aécio Neves tem também feito esse esforço. Já a presidente Dilma tem mais dificuldades de dizer como superará os problemas da economia, porque teria que, em primeiro lugar, reconhecê-los.

A retirada súbita de Eduardo Campos do cenário político nacional torna inevitável o reconhecimento de como a República brasileira tem sido marcada pelo trágico e o inesperado. Um longo governo oligárquico, duas ditaduras, um suicídio, uma renúncia, um impeachment, a morte de Tancredo no momento da posse e perdas de lideranças com futuro promissor vão deixando suas cicatrizes na República brasileira.

O futuro será delineado nos próximos dias quando saírem as primeiras pesquisas de intenção de voto neste novo tabuleiro eleitoral que surge após a queda do avião em Santos. Antes, será preciso a coalizão PSB-Rede anunciar o que vai fazer diante da fatalidade. Por enquanto, há muitas vozes e pouco consenso.


A saída da desconfiança - PEDRO LUIZ PASSOS

FOLHA DE SP - 15/08


Das prioridades para 2015, confiança é a nº 1, até para a economia sair da retranca e partir para o ataque


Com a indústria vivendo seu pior momento, como há muito não se via, e a economia cada vez mais na base de são Tomé, esperando para ver, o que não pode escapar das discussões, neste período eleitoral, é a confiança --um conceito subjetivo, mas sem o qual nem o mais brilhante plano fica de pé.

De todas as prioridades elencadas nessas discussões, a confiança é a necessidade número 1, seja para não queimar o novo governo já na largada, envelhecendo-o precocemente, seja por ter chances de ser recuperada rapidamente, havendo um bom esquema tático. Tão ou mais importante será a renovação da equipe para assegurar o entusiasmo indispensável para superar as dificuldades e chegar à vitória.

A questão é o que fazer para a economia sair da retranca e partir para o ataque. São dois os problemas centrais, ambos correlacionados como irmãos siameses: a trajetória fiscal (ou seja, a evolução das receitas e despesas do governo) e as perspectivas do crescimento econômico. Hoje, mais que os fatores usualmente alegados para o baixo crescimento, como a crise global, o descompasso entre o que o governo arrecada e o que ele gasta retira dinamismo da economia.

A confiança baixa decorre de certo ceticismo a respeito de como desatar o novelo fiscal. Ele vai esmorecendo o crescimento quanto maior a progressão do gasto público em relação à receita fiscal, que, por sua vez, depende da atividade econômica. Noutra forma de encarar tal equação, quanto menos cresce a economia, menor é a arrecadação e maior o endividamento público, que ferve o juro, cujo caldo desarranja o investimento e o consumo.

No atual estágio da restrição fiscal, já não basta eliminar a chamada contabilidade criativa do Orçamento federal, com o governante reconhecendo as desonerações, os subsídios de juros e outros gastos camuflados. Quando a despesa crescia acima da receita, e tem sido assim anos a fio, havia um problema em perspectiva. Mas, se o gasto continua se expandindo com a receita estagnada, há algo muito pior.

Com o nível de custos de todo tipo e origem inflacionando produção e renda, elevar a carga tributária é a não solução, já que está em jogo a mudança do passivo de desconfiança pela crença de empresários, investidores e trabalhadores sobre as perspectivas de crescimento. É essa visão que constrói a confiança.

Deve-se reconhecer que essa não é tarefa fácil pelo tanto que ela foi minada por políticas mal planejadas e mal concebidas. Sabe-se também que boa parte do gasto público é inflexível. Mas é possível gastar menos e com maior eficácia. Na governança pública, por exemplo, sobretudo onde os interesses de governo não se harmonizem com os de Estado, dá para poupar impostos ou empregá-los mais de acordo com os anseios da sociedade. Reaver a autonomia das agências regulatórias, que são órgãos de Estado, e não de partidos, também permite melhorar a eficiência das decisões sobre a economia.

Quando brota o sentimento de insatisfação, como os manifestados sobre saúde, educação e segurança nas sondagens de opinião, é porque a qualidade do gasto público e o papel do regulador não estão à altura do que a sociedade espera em troca do que paga sob a forma de tributo. Vai-se minando assim a confiança, que pode evoluir para o desalento, se a autoridade não se reconhece como parte principal desse processo.

O melhor a fazer é desobstruir os entulhos que entravam o crescimento, tais como o investimento em concessões de logística (essencial para a produtividade da economia) e em petróleo e gás (estratégico tanto para o balanço de pagamentos como para a ignição das cadeias produtivas). É como dominó: tombou-se a Petrobras com o congelamento dos combustíveis e caíram, em seguida, o setor do etanol e outras peças relevantes do circuito produtivo.

Ajuste fiscal e realismo tarifário são avenidas para resgatar a confiança, a antessala do crescimento e das conquistas do emprego e da renda. A inflação pode crescer no curto prazo, mas, ao contrário do cenário atual, terá projeção cadente --e, tanto quanto ela, os juros, o descompasso orçamentário e, portanto, os riscos de carga tributária ascendente e de endividamento em bola de neve.

Com um bom time, muita clareza e firmeza de propósito, a desconfiança sairá de cena, liberando a volta do crescimento.


Indústria e burocracia - MAURICIO CANÊDO PINHEIRO

O GLOBO - 15/08


Somos um país cujo ambiente de negócios se mostra, no mínimo, hostil


A edição de 2014 do relatório “Doing business” não trouxe surpresa quanto à avaliação do Brasil. Continuamos um país cujo ambiente de negócios se mostra, no mínimo, hostil (116ª colocação de um total de 189 países). E boa parte desse problema se deve à burocracia imposta pelo governo às empresas. Somente a título de ilustração: no Brasil, uma empresa gasta em média 2.600 horas por ano somente para lidar com os trâmites contábeis e burocráticos envolvidos no pagamento de impostos. Não há nada sequer parecido em nenhum outro país. Ressalte-se que não se trata da carga tributária em si, mas da complexidade das regras que soterram os empreendedores com montanhas de formulários e procedimentos.

A redução desses custos deveria ser uma agenda prioritária de política industrial. Mas, muitas vezes, a própria política industrial é a fonte desses custos. Quando digo isso, tenho em mente especificamente a política de conteúdo local no setor de petróleo, mas esse argumento também se aplica a outras iniciativas de fomento à indústria.

Desde a Rodada 7, em 2005, o processo de aferição do cumprimento dos requisitos de conteúdo local passa pela emissão de certificados por entidades credenciadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Posteriormente, a prestação de contas também deve ser fiscalizada pela agência reguladora do setor. E os requisitos se aplicam a dezenas de itens e subitens que são insumos no processo de exploração e produção de petróleo e gás. Trata-se de procedimentos complexos e que envolvem muita burocracia.

Lembro-me que participei de um seminário sobre a política de conteúdo local no setor petróleo que envolvia funcionários das empresas do setor. Certa hora, um dos apresentadores resolveu fazer um comentário marginal sobre algum aspecto da prestação de contas. De uma hora para outra, o que era um seminário sobre os rumos da política, se transformou em uma longa troca de experiências de como preencher formulários. Horas de trabalho de pessoas altamente qualificadas, um recurso especialmente escasso no caso brasileiro, sendo alocadas para cumprir burocracias.

Em outros artigos já ressaltei a necessidade de alterações na política de conteúdo local no setor de petróleo. Não quero me alongar nos motivos, mas basicamente defendo que a política seja gradativamente atenuada com o passar do tempo. No entanto, me parece absurdo que um volume tão expressivo de investimentos — estamos falando de centenas de bilhões de dólares nos próximos anos — seja realizado sob um regime que envolve esse nível de complexidade e burocracia. Isso por si só já deveria ser suficiente para justificar mudanças na política.

Entretanto, esse não parece ser o caso. Recentemente a Petrobras sinalizou (novamente) que não vai conseguir cumprir os requisitos de conteúdo local da Rodada 7. A resposta da agência reguladora foi taxativa: qualquer mudança será na direção de aumentar as exigências. Aparentemente, seguiremos alocando mal nossos recursos.

A reeleição e a Petrobras - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 15/08


A presidente Dilma Rousseff agora acha que a empresa deve ser preservada da campanha eleitoral



Voltas que o mundo dá. A presidente Dilma agora acha que a Petrobras deve ser preservada da campanha eleitoral. “Se tem uma coisa que tem que se preservar, porque tem que ter sentido de Estado, sentido de nação e sentido de país, é não misturar eleição com a maior empresa de petróleo do país. Não é correto, não mostra qualquer maturidade.”

Quem agora diz isso é a mesma candidata que, a partir de 2009, transformou a partidarização do papel da Petrobras no pré-sal em plataforma de lançamento de sua candidatura à Presidência. É difícil que alguém já tenha se esquecido da sua campanha eleitoral em 2010, saturada por cenas em que a candidata aparecia, em sondas, plataformas e navios, com mãos lambuzadas de petróleo, envergando indefectíveis capacetes e macacões da Petrobras.

O problema é que, desde então, a Petrobras converteu-se em inesgotável poço de temas espinhosos, que a presidente preferiria não ter de tratar na campanha da reeleição. O Planalto tem boas razões para estar preocupado. O potencial de desgaste político é, de fato, grande.

Para começar, é preciso ter em mente que, por impressionantes que sejam, as perdas decorrentes das trapalhadas de Pasadena são incomparavelmente menores que as envolvidas no faraônico projeto da Refinaria Abreu e Lima, imposto pelo Planalto à Petrobras. E, como já tive oportunidade de destacar em artigo publicado neste mesmo espaço, em 4 de julho, sob o título “Desperdício em grande escala”, Dilma Rousseff é a figura chave para esclarecer como essa imposição de fato se deu, pois ocupava posições centrais em cada um dos principais elos da cadeia de comando com que o Planalto controlava os investimentos da Petrobras. Era, ao mesmo tempo, ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, coordenadora do PAC e presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

Mas as dificuldades com as duas refinarias são apenas parte dos espinhosos problemas que vêm aflorando na empresa. O irresponsável represamento de preços de combustíveis vem não só impondo grande desgaste ao governo, como exigindo dotes de malabarista para tentar manter um discurso que faça sentido sobre a questão. A rápida deterioração das contas da Petrobras, na esteira da “queima de caixa” decorrente desse represamento, vem reforçando expectativas de que o governo não terá como deixar de aumentar preços de combustíveis logo após as eleições. Mas, empenhado em vender a ideia de que a inflação voltará a ficar abaixo do teto de tolerância da meta no fim do ano, o governo não quer dar alento a expectativas de um “tarifaço” pós-eleitoral. É o que explica as manifestações desencontradas sobre correção de preços dos combustíveis que vêm sendo feitas pelo governo e pela Petrobras.

Em entrevista ao “Valor” de 11 de agosto, Rui Falcão, presidente do PT, preocupado com a questão, apresenta a melhor racionalização que conseguiu articular para a política de represamento de preços de gasolina: “...Você tinha que fazer uma escolha entre remuneração de acionistas e o poder aquisitivo da população. E a Petrobras, além de ter acionistas, é um patrimônio do povo brasileiro.”

A racionalização revela visão confusa e deturpada do problema. O povo brasileiro, através do Tesouro, é o acionista controlador da Petrobras. Manter preços de gasolina irrealistas é uma política pervertida que subsidia proprietários de automóveis à custa do povo brasileiro. O governo só teve de apelar para esse represamento populista de preços porque não soube conduzir a política macroeconômica. Agora, só lhe resta tentar evitar na marra que a inflação fique ainda mais alta do que já está.

Sobram razões para o Brasil lamentar o desaparecimento prematuro de Eduardo Campos, um dos políticos mais talentosos e promissores de que o País dispunha. Como bem mostrou sua entrevista ao “Jornal Nacional”, na véspera do acidente que lhe foi fatal, o candidato do PSB à presidência tinha visão extremamente lúcida da urgência de se dar encaminhamento mais consequente às grandes questões que hoje afligem o país.

Chute a santa, mas adore Dilma - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 15/8


Campos é agora um respeitável sonhador morto. Não se aceitava era haver um crítico vivo


No Brasil, é permitido chutar a santa.

No Brasil, é permitido dizer que Jesus Cristo era um banana.

No Brasil, é permitido sacanear com igual ignorância ou sabedoria o sagrado e o profano.

E não esperem ler aqui a defesa de alguma forma de censura. Cada um diga o que quiser. E arque com as consequências aceitáveis na democracia. É a natureza do jogo.

Mas um território se pretende verdadeiramente divino e imune à crítica: o do petismo, incluindo os espaços que ele diviniza. Os quatro analistas do Santander, como sabemos, foram para a fogueira em razão de um texto sacrílego.

Nesta semana, mais uma não-notícia ganhou ares de escândalo, inflamando o espírito jihadista. A consultoria Rosenberg Associados, numa síntese notável, considerou que Dilma ainda é a favorita, mas emendou: "O cenário mais provável é a continuidade da mediocridade, do descompromisso com a lógica, do mau humor prepotente do poste que se transformou em porrete contra o senso comum".

É só a opinião de uma consultoria. Fez-se uma gritaria danada na imprensa. Alberto Cantalice, vice-presidente do PT e autor da lista negra de jornalistas (estou lá, o que me honra), afirmou que o partido iria ignorar a avaliação. Mas o seu exército pediu que se queimassem as bruxas.

Segundo a metafísica dos fanáticos --e isto, ao menos, essa gente preserva do socialismo--, é preciso fulminar a opinião contrária como expressão do Mal. A crítica nunca é tomada como um caminho legítimo, ainda que errado.

Alguém considera, por exemplo, ruim ou péssima a gestão de Fernando Haddad em São Paulo, como fazem 47% dos paulistanos? Descarte-se as possibilidades de o prefeito ser incompetente, ter errado nas escolhas ou alimentar interesses menores --afinal, só os "inimigos" os têm. Os descontentes ou estão a serviço da reação ou são pessoas abduzidas por um espírito maligno, que as faz perder a capacidade até de arbitrar o que é melhor para si mesmas.

A matriz dessa visão de mundo é o fascismo, de direita ou de esquerda. Os novos arautos, como antes, falam em nome do progresso, da igualdade e do Bem. Foi com a colaboração de obreiros assim que Hitler e Stálin se apresentaram como engenheiros de homens. Mataram milhões sem piscar. A tarefa de transformar o morticínio em teoria política, em categoria de pensamento e numa forma de ascese ficou a cargo de intelectuais --incluindo os da imprensa.

O tucano Aécio Neves está padecendo nas mãos do espírito miliciano deste tempo. Um candidato de oposição, Santo Deus!, é constrangido a evitar críticas ao governo, ou pesará sobre ele a suspeita de que, se eleito, vai punir os pobres. Não era diferente com Eduardo Campos, tornado agora um respeitável sonhador morto. Quem o viu no "Jornal Nacional" pode ter ficado com a impressão de que era candidato à Presidência não porque tivesse algo a dizer, mas porque não tinha como escapar dos entrevistadores. Outro elogia o homem "que buscava o sonho". Huuummm... Só não conseguia aceitar o político que buscava outra... realidade! Admiro o decoro com cadáveres, desde que se respeitem os vivos.

A imprensa é a primeira a demonstrar, com correção, que uma política desastrada de combate à inflação jogou parte da conta nas costas da Petrobras, cujo valor de mercado despencou. Ai de Aécio, no entanto, se apontar o desastre! Com ar inquiridor, lá vem a pergunta: "Então, se o senhor vencer a disputa, vai elevar o preço dos combustíveis?" Se ele diz "não", passa a ser usuário do mal que denuncia; se diz "sim", ninguém quer saber como e quando a correção seria feita. Busca-se um título ou uma síntese bucéfala: "Se eleito, tucano diz que aumenta o preço da gasolina".

"É uma pergunta legítima", dirá alguém. Tudo o que interdita o debate e torna a realidade ainda mais obscura agride a verdade e o processo democrático. De resto, é preciso definir se entrevistadores perguntam para, de fato, saber ou para desmoralizar o entrevistado. Será assunto de outra coluna.

Está com vontade de criticar a Dilma, leitor? Não seja herético ou iconoclasta! Chute a imagem de Nossa Senhora, a santa que a governanta já chamou de... "deusa"!

A sangue quente - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 15/08


Se ainda não há fatos a comentar, só nos resta raciocinar sobre hipóteses. É assim, meramente hipotético, que se desenha o horizonte eleitoral a partir da morte do candidato do PSB, Eduardo Campos.

No necessário afã de analisar o quadro por ora presumido (inexistente do ponto de vista estrito da realidade), as premissas não necessariamente estão corretas e, portanto, as conclusões de hoje podem ou não se realizar.

De onde convém conferir a elas peso relativo. Rezou o consenso nas análises políticas feitas a sangue quente logo após a confirmação do acidente que a eleição presidencial virou de cabeça para baixo, voltou ao ponto zero, sofreu uma mudança radical e que nada do que aconteceu até agora pode ser considerado.

Houve até quem dissesse que as pesquisas de opinião deveriam ser rasgadas, por inúteis. Um exagero, pois não medem apenas as intenções de votos entre os candidatos. Por outra, registram as respectivas taxas de rejeição, as posições do eleitorado de acordo com as faixas etárias, de renda, escolaridade, distribuição de votos por regiões, dados importantes que não se perdem como referência.

Evidentemente, haverá mudança no cenário. Só não é possível - fora do terreno da especulação - dizer ainda qual a dimensão dela nem em que qual direção será. Nos mais das vezes as variáveis mais lógicas contrariam o resultado esperado. A realidade costuma ser desobediente.

Por exemplo: quando Eduardo Campos e Marina Silva anunciaram a inesperada aliança, em outubro de 2013, a interpretação da maioria dos analistas (entre os quais me incluo) foi a de que haveria um abalo na eleição, que a tradicional polarização entre PT e PSDB estaria definitivamente ameaçada e que aquela união alteraria o quadro de maneira acentuada.

A tragédia do avião que caiu em Santos não permitiu que soubéssemos o restante da história, mas até aqui o roteiro não havia obedecido ao previsto: com a exposição inicial proporcionada pelo lance político, o candidato do PSB chegou a alcançar 15% nas pesquisas, mas depois voltou ao patamar entre 8% e 9%, enquanto foi se confirmando concentração da disputa entre Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves.

Eduardo Campos estava com dificuldade para explicar seu discurso sobre a "nova política", era muito cobrado a respeito das fontes de recursos para executar as propostas que apresentava, carregava a tarefa de aparar arestas em setores refratários à sua vice Marina Silva e, ao mesmo tempo, a missão de seduzir o eleitorado identificado com o simbolismo da antipolítica representado por ela.

E agora? Agora há pouquíssima margem para manobras. A lei eleitoral dá ao PSB dez dias, a contar de ontem (14), para registrar outra candidatura no Tribunal Superior Eleitoral ou abrir mão de disputar a Presidência. O prazo vence no sábado (23).

A direção do partido bem como a candidata a vice até ontem se recusavam a conversar sobre o futuro antes de concluídas as homenagens fúnebres a Eduardo Campos. As lideranças do PSB estavam em São Paulo ocupadas com a liberação dos restos mortais para o velório e enterro, no Recife.

Isso aconteceria no fim de semana ou até depois, pois a viúva de Eduardo Campos, Renata, determinou que o corpo do marido só fosse liberado junto com o das outras seis vítimas. Sobraria muito pouco tempo para uma decisão política. O que encaminha a solução para a saída mais natural, que é o nome de Marina Silva.

Isso por si só zera o jogo? Depende. De vários fatores. Do comportamento do eleitorado que pode não ser o mesmo que deu a ela 20 milhões de votos em 2010; do PSB, cujo controle estava nas mãos de Eduardo Campos; da repercussão no eleitorado do Nordeste; na durabilidade da comoção nacional que lamentavelmente só fez o País despertar para a qualidade de Eduardo Campos após a sua morte.

O PSB fica num dilema: vai com Marina ou racha com ela ou sem ela.

Tema para Genoino - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 15/08


Os réus do mensalão receberam, aos olhos da opinião pública, penas adequadas à gravidade do mais sério escândalo político da História recente do país



O sistema penal brasileiro reserva aos réus do precioso colarinho branco — ou seja, fazem parte de algum setor da chamada elite nacional — vantagens e benesses que ficam longe das normas impostas aos condenados que pertencem, digamos assim, à grande massa dos colarinhos sujos. São considerados sujos, não se deve esquecer, porque quem os usa simplesmente não tem recursos para lavá-los.

Há menos de um ano — nove meses — o ex-deputado José Genoino e um pequeno bando de outros réus começaram a cumprir penas razoavelmente severas por suas participações no chamado “processo do mensalão”, um dos escândalos políticos mais sérios da História da política brasileira. As penas decididas pelo Judiciário mereceram o aplauso da opinião pública. Seria interessante saber se a plateia continua batendo palmas, em face do episódio mais recente dessa triste novela.

Deve ser registrado que não se trata de caso raro. Os tribunais brasileiros, deve-se registrar, não olham para a cor dos colarinhos de quem julgam. E os réus do mensalão receberam, aos olhos da opinião pública, penas adequadas à gravidade do mais sério escândalo político da História recente do país. A tal da opinião pública reagiu de forma inteiramente coerente com essa gravidade. Pouco menos de um ano já se passou, mas é tempo suficiente para que a turma da arquibancada já tenha esquecido o episódio. E sempre há um episódio recente para alimentar a curiosidade e a indignação da plateia.

Vamos ver se ela mostrará alguma indignação diante do fato desta semana: a transferência para o regime aberto de Genoino e um outro condenado, menos conhecido: Jacinto Lamas (um nome que alguns diriam profético), ex-tesoureiro do antigo PL (hoje PR). Esse regime significa cumprir a pena em casa. Pode-se dizer que é muito pouco diferente da liberdade absoluta.

Genoino anuncia um livro de memórias sobre a mais recente Assembleia Constituinte. É pena que não tenha escolhido o mensalão como tema.

As múltiplas sucessões de Eduardo - JOAQUIM FALCÃO

CORREIO BRAZILIENSE - 15/08

São pelo menos três vagas abertas com a morte de Eduardo Campos: a sucessão do candidato presidenciável, do governador de Pernambuco e do presidente do PSB. Vejamos as duas principais.

Paradoxalmente com Marina Silva, abriram-se mais chances de chegar ao segundo turno que Eduardo perseguia. Para decifrar o cenário possível, há que combinar a legislação eleitoral com estratégias políticas.

A lei dá preferência ao PSB para escolher novo candidato. O PSB vai exercer o direito. Mas quem o faz é a maioria absoluta dos órgãos executivos dos partidos da coligação: PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL. Provavelmente eles optarão por Marina Silva porque ela tem votos e possibilidades.

Vislumbra-se o segundo turno porque basta somar os cerca de 9% de votos que Eduardo já tinha nestas eleições com os cerca de 12% dos votos que Marina teve nas eleições passadas e os votos que serão conquistados pela emoção nacional. Some-se a isso, ainda, o fato de que Marina deve barrar, com mais facilidade do que Eduardo, o avanço que Dilma tem feito no voto dos evangélicos.

A escolha do novo candidato a vice é feita também por maioria absoluta dos partidos da coligação. Pode vir do PSB ou de qualquer outro. Basta ser filiado. Se for candidato - como Romário, do Rio, ou Rodrigo Rollemberg, de Brasília -, terá que renunciar à candidatura, é óbvio.

Se Marina pretender ampliar sua base em São Paulo, o vice pode vir a ser Márcio França, Walter Feldman ou Luiza Erundina, nomes do mesmo PSB. Se for para o Nordeste, o nome natural seria Roberto Freire, do PPS. Simbolicamente de Pernambuco. Daria inclusive à nova chapa conotação mais à esquerda, de mais nítida oposição à Dilma e ao PT. Outro pernambucano é o ex-deputado Maurício Rands, que só não saiu candidato a governador pela coligação liderada pelo PSB porque não é do núcleo eduardista.

A nova chapa presidenciável tem mais possibilidades de se caracterizar como alternativa ao PT e ao PSDB. Não terá a cautela de disputar o centro dos eleitores, como tentaram Aécio Neves e Eduardo Campos, quase se indistinguindo um do outro.

Já na sucessão de Eduardo em Pernambuco, o cenário é difícil. Armando Monteiro, do PTB, passou os quatro anos de senador indo a todos os municípios. Está em campanha há muito tempo. Político focado, tem hoje mais de 40% de intenções de voto. Mas as pesquisas mostram que mais da metade desses 40% são eleitores que acreditam que Armando é o candidato de Eduardo. Não é. É Paulo Câmara, do PSB, e Raul Henry, de vice, do PMDB.

Eduardo iria usar a propaganda na televisão para desfazer o equívoco. E repetir o que fez na eleição de prefeito - transferir a excelente avaliação como governador para a esperança de bom governo com Paulo Câmara. O desafio agora é: quem vai convencer o eleitor que o candidato de Eduardo era realmente Paulo Câmara, não Armando Monteiro?

Mas a morte de Eduardo é muito mais do que mera e complexa questão de sucessões. Morre com ele um dos possíveis futuros do Brasil. Somos menos. Ficamos menos. Fogem do futuro alguns valores necessários. Talvez o maior de todos seja o da valorização da família como unidade básica da sociedade, com seus problemas, magias, alegrias e tristezas. (Muito além de eventuais indicações de parentes para cargos públicos.)

Do avô Miguel Arraes de ontem ao filho Miguel de hoje, a vida de Eduardo sempre passou pela família. Renata, sua mulher, de personalidade presente, é do melhor de Pernambuco. Participava com evidente solidariedade de objetivos, sonhos, percalços e destinos do marido. Companheira. Política sim, sem nunca ter sido política nem pretendido ser.

A valorização da família, da família hétero e com filhos, tradicional, independentemente dos novos formatos de família, seria com certeza, querendo ou não, uma das principais mensagens ao Brasil. Mensagem palpável pelo exemplo. Casal como permanentes companheiros recíprocos e, ao mesmo tempo, pais a construir um país melhor para seus filhos e os nossos.

Por baixo dos panos - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 15/08

Ao sentir que existe o perigo de o PSB tomar um rumo diametralmente oposto ao traçado por Eduardo Campos em sua campanha, apoiando oficialmente ou em uma aliança branca a reeleição da presidente Dilma Rousseff, sua família não se furtou a definir uma posição a favor da candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência da República.

Seu irmão, também membro do diretório nacional do partido, disse que a vontade de Campos seria que Marina o sucedesse. O filho mais velho, João, postou no Facebook uma mensagem direta: as bandeiras de meu pai precisam ser levadas adiante.

Quem as representará melhor? Marina, que era sua vice, ou Dilma, que era seu alvo preferencial?

Enquanto a direção nacional do partido, tendo o novo presidente Roberto Amaral à frente, se escudava no luto oficial para adiar a discussão da sucessão, por baixo dos panos as negociações já começaram, especialmente através do ex-presidente Lula, para que o PSB não lance candidato próprio, ou lance um nome de sua base política que não seja Marina, a pretexto de preservar a estrutura partidária.

Na verdade, além do interesse político de recolocar o PSB na base aliada governista, há a preocupação de ala importante da direção nacional da legenda de não perder o controle sobre a máquina partidária. Com a assunção de Marina Silva à condição de candidata oficial do condomínio PSB-Rede, o controle da campanha passará naturalmente para os seus aliados. É Marina, e não qualquer outro político do PSB, que detém hoje uma expectativa de poder altamente avaliada, e por isso os candidatos pelo país afora devem também pressionar a direção nacional para que ela seja a escolhida.

Marina não dará nenhum passo para ser indicada, e terá que ser convidada pela direção nacional dos partidos aliados, na sua maioria já dispostos a apoiá-la. Ela sem dúvida começa a campanha com alto potencial de crescimento, e deverá atrair boa parte dos eleitores que hoje se declaram indecisos, ou dispostos a anular o voto, especialmente os jovens, que já começaram nas redes sociais campanha pela sua candidatura.

Embora se apresente como alternativa ainda mais viável à polarização PT/PSDB, num primeiro momento Marina deve tirar mais votos de Dilma do que de Aécio Neves, mas pode retardar o crescimento dos tucanos. Uma perspectiva radicalmente oposta ao quadro atual, que Eduardo Campos gostava de lançar nas conversas, era a possibilidade de ele ir para o segundo turno contra Aécio Neves, com a presidente Dilma ficando de fora.

Essa hipótese se torna mais possível, embora improvável, com a candidatura de Marina, que acrescenta elementos novos à disputa. A ex-senadora terá, no entanto, mais dificuldades em sua campanha do que teria Eduardo Campos, já que ela não contará com um partido unido a apoiá-la.

O PSB entrará em disputa interna, e também com a Rede, o que é perigoso para uma campanha majoritária. Além do mais, acordos feitos por Eduardo Campos em vários estados poderão desaparecer com uma candidatura Marina. O PMDB do Mato Grosso do Sul, por exemplo, com a candidatura de Nelsinho Trad, de uma família do agronegócio, já anunciou que reverá a aliança.

Em Pernambuco, o PSDB acha que agora tem espaço para polarizar com a presidente Dilma porque Marina não terá um terço dos votos que Eduardo teria, e um eleitorado de oposição ficará em busca de um candidato. Em São Paulo desaparece a campanha para o PSB, pois Marina foi contra a aliança.

Os apoios estruturais, montados com candidatos a deputados, ela não terá em São Paulo, onde foi muito bem votada em 2010. Pode repetir a boa votação na capital, mas no interior a falta de estrutura a prejudicará. Em Santa Catarina, o grupo político dos Bornhausen, que lançou Paulo Bornhausen ao Senado, não tem ligações com Marina e tende a apoiar o candidato tucano à Presidência.

Em Alagoas, Marina se recusava a subir no palanque de Benedito de Lira, do PP, candidato ao governo apoiado por Campos. Em Mato Grosso, o senador Pedro Taques, do PDT, que apoiava Campos, já anunciou que mudará para apoiar a candidatura de Aécio Neves.

Com Marina em campo, como se vê, são muitas as alternativas abertas com a saída de cena de Eduardo Campos, e é impossível prever o que acontecerá. Quem disser, a esta altura, que sabe o que vai acontecer, estará errando.

O fator Marina - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 15/08


BRASÍLIA - Clériston Andrade era o favorito ao governo da Bahia, em 1982, quando morreu num acidente de helicóptero às vésperas da eleição. Seu sucessor, João Durval Carneiro, ganhou espetacularmente depois de uma campanha relâmpago empurrada pela comoção e por Antonio Carlos Magalhães, o ACM.

O Brasil não é exatamente a Bahia, 2014 não é 1982, e o líder mais próximo ao que já foi ACM é Luiz Inácio Lula da Silva, que está com Dilma. Mas com Marina Silva não se brinca.

Evangélica, carismática, com uma biografia de romance, Marina acumulou um rico capital de votos em 2010 e teve 27% de intenções de voto no Datafolha de abril, quando nem era candidata. A quanto ela poderá ir nas próximas pesquisas?

Dilma Rousseff e Aécio Neves, tremei. No rastro da comoção nacional pela morte estúpida de Eduardo Campos, apoios da família dele à sua vice serão avassaladores. O irmão, Antônio, já se manifestou publicamente. E quando a mulher, Renata, ladeada pelos cinco filhos, inclusive o bebê Miguel, lançar Marina? E quando a mãe, Ana Arraes, apadrinhar a candidatura aos prantos?

Se Marina tem a força eleitoral, Eduardo Campos é quem tinha o poder político. Cabe agora a ela somar as duas coisas para se tornar uma candidata competitiva. Aliás, para se tornar candidata. Não será fácil.

O PSB, que batia continência a Campos, terá --já tem-- restrições à "agregada". Afinal, Marina nunca escondeu que o PSB era um ritual de passagem até a criação da Rede.

O PSB ligado aos tucanos, liderado por Márcio França, de São Paulo, não tem força para puxar o partido para Aécio. Mas o PSB do agora presidente Roberto Amaral pode muito bem empurrá-lo de volta aos braços de Lula e Dilma.

Resta saber quem, no partido, vai trocar a grande novidade da campanha, com altos índices nas pesquisas, por outra que tem alta rejeição e é alvo de enormes críticas --como foi, inclusive, de Eduardo Campos.

Palácio do Planalto, Brasília - FERNANDO GABEIRA

O ESTADO DE S.PAULO - 15/08


Internet é isto mesmo: um território livre onde se trocam informações, críticas e insultos. É raro uma pessoa pública nela encontrar apenas elogios. E raro um texto sobre ela que não desperte comentários sacanas. Wikipédias, desciclopédias, com informações truncadas, dizem o que querem e, se as pessoas acreditassem firmemente no que leem na rede, ficariam paralisadas caso encontrassem um personagem dos verbetes, o médico e monstro. Suas reações seriam como as de Alec Guines no Dr. Strangelove, de Stanley Kubrick: os gestos desmentiriam as palavras, o abraço se transfiguraria num soco, e vice-versa.

Num prefácio para o livro do treinador Rômulo Noronha sugeri a natação como uma das táticas para enfrentar comentários negativos. Você os lê, mergulha e, nos primeiros cem metros, começa a achar que não foram tão graves assim. Nos 400 metros, já admite que talvez possam ajudar você de alguma forma, na autocompreensão ou na aceitação do mundo.

Algo muito grave acontece quando os ataques nascem num computador do Palácio do Planalto, sede do governo federal. É o caso das inserções feitas na biografia dos jornalistas Carlos Sardenberg e Miriam Leitão.

Como sempre, o governo reagiu, a princípio, dizendo que era difícil rastrear a origem das notas, os dados foram desmanchados - a mesma tática usada para as gravações das câmeras naquele problema de Dilma Rousseff com uma diretora da Receita Federal. A segunda explicação também é clássica: o Wi-Fi do Planalto é usado por visitantes, pode ter sido alguém de fora - de preferência, da oposição.

Às vezes paro para pensar: por que o PT faz tanto mal a si próprio? Deixo o campo estritamente moral para raciocinar apenas de uma forma política. O caso do Santander é típico: uma nota realista sobre o comportamento do mercado provocou uma grande reação, sua autora foi demitida e o banco, forçado a se derreter em desculpas.

O mercado deve ser livre para fazer suas previsões. E arcar com as consequências. O mercado tinha uma visão negativa no primeiro mandato de Lula. E errou, pois o País iniciou um processo de crescimento.

A pressão contra o Santander, além de sugerir censura, amplificou a análise do banco, que em outras circunstâncias ficaria restrita aos clientes especiais. Assim mesmo, aos que se orientam politicamente por cartas bancárias. O governo conseguiu transformar uma simples análise num debate nacional, o que era um consenso entre analistas de mercado se tornou uma consistente crítica à política econômica de Dilma.

A julgar pelo digitador do Palácio do Planalto, as coisas estão pegando aí, na política econômica: os dois jornalistas atingidos são críticos das medidas do governo com base nas evidências.

No universo político, a artilharia sempre foi comandada pelos blogueiros mantidos por empresas do Estado. Eles cuidam de nos combater com dinheiro público e racionalizam essa anomalia com a tese de que uma verba muito maior é usada pelos meios de comunicação que criticam o governo.

Os intelectuais dissidentes em Cuba dão de barato que o governo os vigia, os boicota e promove campanhas para assassinar sua reputação. Mas é uma ditadura.

Num país democrático, essas práticas, além de condenáveis, não são eficazes. Todo este universo de rancor acaba se voltando contra os agressores, que, como dizem os orientais, sempre se desequilibram no ataque. Os nove jornalistas atacados, nominalmente, por um dirigente do PT tiveram a solidariedade internacional, uma nota de apoio da organização Repórteres sem Fronteiras.

O PT sabe que existe um nível de rejeição ao partido nas grandes cidades - em Vitória os petistas já não usam estrelas e bandeiras vermelhas, talvez nem barba. O que parece não perceber é como seus movimentos autoritários aumentam a rejeição. É como se um partido abrisse mão de seduzir e se focasse apenas em intimidar.

Esse é um jogo muito perigoso. Em primeiro lugar, porque há muitos homens e mulheres que não se intimidam. Em segundo, porque envenena uma atmosfera que já é medíocre com atos de campanha sem graça, muitos bebês no colo, Dilma comendo cachorro-quente. Come cachorro-quente, pequena. Olha que não há mais metafísica no mundo, senão cachorro-quente.

O PT conseguiu construir uma linguagem própria. O verbete aloprado é um descoberta para se distanciar de seus combatentes da guerra suja. Digo com conhecimento de causa. Depois das eleições de 2006, interroguei todos os chamados aloprados. Era estranho que aloprados tivessem coletado mais de R$ 1 milhão. Mais estranha, ao longo dos interrogatórios, a recusa em responder, a frieza matemática em usar os mecanismos legais em sua defesa. Aloprados?

Se um dia aparecer o aloprado do computador do Planalto, observem como se esquiva, como é difícil achar nele algum traço que o defina como aloprado, como resiste às provocações. Ele é resultado de uma cultura que domina a política brasileira desde 1992. A constante tentativa de liquidar o outro é uma arma típica de ditaduras. Infelizmente, para uma grande parte da esquerda, a democracia ainda não é um valor estratégico.

Não sei qual será o resultado das eleições. Mas acho que o PT faz tudo para merecer uma derrota, algo que lhe dê pelo menos a chance de refletir sobre o período sombrio que acabou instalando no Brasil.

Uma força verdadeiramente democrática, à esquerda, seria boa para o futuro.

Será que é preciso que Cuba desmorone, que a Venezuela fracasse mais claramente, para que os petistas se convençam de que esse não é o caminho?

Sei que assim procedendo me exponho ao Twitter de todos vocês. Mas é preciso combater essa cultura de ressentimento e mediocridade que leva um digitador do Palácio do Planalto a dedicar sua tarde ao ataque a jornalistas na Wikipédia.

Não é um aloprado, mas um caso extremo e talvez cristalino: revela, em toda a sua profundeza, o abismo em que nos lançaram.


Exemplo de aeroportos deveria agilizar novas concessões - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 15/08


A experiência bem-sucedida ainda não foi suficiente para vencer preconceitos ideológicos que levam governo a ditar regras irrealistas nas licitações


Não se trata apenas de esperança. Desde que passaram a ser geridos nos moldes do setor privado, os aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas só melhoram.

Investimentos que andavam a passos lentos foram acelerados, e a flexibilidade na administração permitiu que medidas emergenciais pudessem ser adotadas para facilitar a vida dos usuários. Essa experiência deve se repetir agora nos aeroportos do Galeão e de Confins, entregues para a gestão privada.

Como porta de entrada para muitos visitantes, a primeira impressão deixada pelos aeroportos dessas cidades era (e ainda é, no caso do Rio) terrível. Outros países, economicamente menos desenvolvidos que o Brasil, e com tráfego aéreo menor, conseguiram renovar os aeroportos, assegurando mais conforto aos usuários.

Por capricho ideológico, o Brasil relutou em seguir o exemplo internacional e manteve os grandes aeroportos sob a administração de uma estatal federal (Infraero) com visão ultrapassada na gestão desse tipo de infraestrutura. Diante de uma situação quase insuportável, os governos Lula e Dilma acabaram cedendo e concordaram em transferir a administração de grandes aeroportos para consórcios formados majoritariamente por instituições de direito privado. Mesmo assim, sob a condição que a estatal Infraero permanecesse com participação acionária de 49% nesses consórcios.

Além de obter uma expressiva receita direta com as concessões, o Tesouro não terá mais a responsabilidade de subsidiar os investimentos necessários ao bom funcionamento desses grandes aeroportos. As tarifas cobradas dos passageiros e das companhias aéreas continuarão reguladas pelo poder público. É uma receita importante, mas não foi a principal fonte de atração dos grupos de investidores que disputaram os leilões. Pelos aeroportos circulam diariamente milhares de pessoas, consumidores com razoável poder de compra. A utilização inteligente de espaços disponíveis pode fazer com que esses consumidores se ocupem nos momentos de espera, adquirindo produtos, alimentando-se, entretendo-se ou usufruindo de algum outro serviço.

A experiência bem-sucedida da concessão de serviços públicos ainda não conseguiu vencer o preconceito ideológico contra tais investidores, infelizmente. Sem alternativa, o governo tem promovido licitações dos serviços, mas sempre criando restrições que retardam o processo ou afastam interessados. Várias licitações de rodovias fracassaram simplesmente porque as autoridades insistem em definir taxas internas de retorno do capital, a partir de cálculos alheios à realidade de mercado. Se esse preconceito fosse vencido, o ritmo de investimentos na infraestrutura poderia ter se multiplicado, contribuindo para um crescimento menos insatisfatório da economia.

O remendo cambial - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 15/08


A economia brasileira está cheia de remendos - arranjos improvisados para disfarçar problemas -, e um exemplo notório dessa política tem sido a intervenção no câmbio para conter a inflação. É uma política perigosa e, no fim das contas, ineficaz, têm advertido economistas do setor privado. Mas o alerta foi até agora desprezado pelas autoridades. Na segunda-feira o Banco Central (BC) vendeu 4 mil contratos de swap cambial, no total de US$ 198,8 milhões. A intenção é aumentar a oferta de moeda americana, deter sua valorização e impedir a contaminação dos preços internos por um dólar mais caro. A estratégia atingiu o limite, ou logo atingirá, avisam especialistas do mercado e de consultorias independentes.

O BC já comprometeu mais de US$ 91 bilhões, pouco menos de um quarto das reservas cambiais, em operações de swap. Desde agosto do ano passado esse tipo de transação vem sendo realizado em todos os dias úteis. É uma espécie de venda futura. No fim do prazo combinado, o investidor poderá receber a moeda americana pelo preço estipulado na data da operação. Estará protegido, portanto, no caso de uma grande valorização do dólar.

Até aqui, o BC tem sustentado o jogo sem ter de enfrentar uma sangria de reservas. Suas intervenções têm servido para manter a cotação do dólar entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Diante desses números, a estratégia parece ter dado certo, até agora. O objetivo básico, segundo dirigentes do BC, tem sido evitar grandes solavancos no mercado cambial. Mas um número crescente de especialistas diverge dessa avaliação.

Segundo alguns, o BC comprometeu um volume excessivo de reservas e tem hoje pouco espaço para manter essa política. Somando-se a dívida externa e os outros compromissos em moeda estrangeira chega-se ao total de US$ 219 bilhões. Para esse cálculo se tomam como referência dados oficiais de junho. Esse valor corresponde a cerca de 58% do volume de reservas. No fim de 2012, a exposição ao risco cambial estava em US$ 121 bilhões e o volume de reservas era muito parecido com o de hoje. Essa avaliação é rejeitada por outros economistas, porque é impróprio, segundo argumentam, equiparar uma operação de swap à contratação de uma dívida. Se o jogo der certo, ou enquanto der certo, o BC poderá ficar livre de qualquer desembolso. De toda forma, há um risco inegável, podem responder os outros.

Sem entrar nessa discussão, é possível apontar como certo um efeito indesejável das intervenções no câmbio. Ao ampliar a oferta de dólares no mercado, o BC mantém o real valorizado, mais do que estaria se o jogo das cotações funcionasse mais livremente. Isso encarece os produtos brasileiros em dólar e barateia os estrangeiros. Dificulta as exportações, facilita as importações, prejudica os produtores nacionais, principalmente os da indústria, e afeta a criação de empregos. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a cotação do real está entre 5% e 15% acima do ponto compatível com as condições econômicas do País.

Alguns críticos chamam a atenção para as tendências do mercado internacional. Se o dólar continuar ganhando força na maior parte do mundo, o BC enfrentará dificuldade crescente para conter a depreciação do real. Isso dependerá da recuperação dos EUA e da perspectiva de aumento de juros pelo banco central americano.

Mas o argumento mais poderoso é de ordem interna. Apesar da intervenção no câmbio e de outros expedientes, como a contenção dos preços da eletricidade e dos combustíveis, a inflação permanece alta. Falta cuidar com determinação dos principais focos de pressão inflacionária. O governo continua estimulando mais o consumo do que a produção e, além disso, o gasto público permanece excessivo e ineficiente. O efeito do câmbio sobre os preços tem sido muito menos perigoso em países com inflação menor e fundamentos mais sólidos. O swap cambial é basicamente um remendo, como os estímulos fiscais ao consumo, a maquiagem das contas públicas e a contenção de tarifas. Política séria é outra coisa.

Falta de água não é culpa de São Pedro - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 15/08

A crise hídrica que afeta São Paulo deve ser vista além dos limites do estado. Outras unidades da Federação enfrentam o desafio de abastecer de água doce a população crescente. Entre elas, Minas, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Apesar do sinal vermelho, porém, as autoridades dão a impressão de não se dar conta da gravidade do problema e, com isso, mantêm o grande público à margem da questão.

Possuir cerca de 12% da água doce superficial disponível no planeta criou no Brasil a cultura do desperdício, que, aliada à da falta de planejamento, cria as condições para que o país sofra dramas que poderiam estar distantes. A crise da água não pode ser debitada apenas a São Pedro. Fatores climáticos e geográficos contam, mas não respondem sozinhos pela escassez do recurso indispensável à vida.

Conhecem-se as necessidades mínimas de consumo per capita para manter a qualidade de vida adequada em cidades moderadamente desenvolvidas. Censos do IBGE informam o número de habitantes de cada urbe. Projeções vão além. São capazes de dizer as mudanças que ocorrerão no perfil demográfico regional, nacional e mundial. Não há por que, portanto, administradores se dizerem surpresos com os caprichos da natureza.

Faltam providências sérias. A água deve ser tratada como bem estratégico cuja política precisa ser integrada às demais políticas públicas. É o caso de agricultura, indústria, comércio, saúde e educação. O saneamento básico tem de ser encarado com seriedade e determinação. Mais: há que convocar a população para que coopere no uso racional do insumo e na manutenção dos mananciais. Além de ações em escolas, igrejas, condomínios e clubes, campanhas educativas têm de ser veiculadas pelos meios de comunicação de massa e mídias sociais.

É preciso alertar para banhos intermináveis, mangueiras que limpam calçadas e carros, torneiras abertas enquanto se lavam louças ou se escovam os dentes, vazamentos negligenciados, descargas esbanjadoras, máquinas domésticas ligadas sem completar a capacidade. O desperdício de alimentos e energia, vale lembrar, tem grande impacto sobre a água. É urgente acordar para a urgência da economia. Sem conjugar o verbo poupar, flexiona-se o faltar. São Paulo, a mais rica unidade da Federação, serve de exemplo.

É tudo o que o MTST queria - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 15/08


A lei que regulariza a ocupação de um terreno de 150 mil metros quadrados a 4 quilômetros do Estádio Itaquerão, por isso chamada de Copa do Povo, sancionada com vetos pelo prefeito Fernando Haddad, constitui uma preocupante demonstração de força do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Saem ganhando ele e todos os que acham que podem criar fatos consumados por meio de atos violentos. Perdem os cidadãos honestos que confiam no primado da lei e da ordem. E perdem os sem-teto que estão há muito tempo na fila de espera de moradia, que tudo indica serão passados para trás.

Melhor incentivo não pode existir para a multiplicação das invasões do MTST do que a sua consagração por meios legais. O Movimento dos Sem-Terra (MST), do qual o MTST é uma espécie de versão urbana, já havia demonstrado isso. Os que participaram disso - vereadores e prefeito -, ou porque se acoelharam diante dos arreganhos dos líderes dos chamados sem-teto ou porque partilham suas ideias, poderão em breve se dar conta do jogo perigoso em que entraram. O MTST já deu provas de que está disposto a ir muito além do aceitável até mesmo por seus aliados e simpatizantes no poder e, por isso, não têm como fugir da obediência a certos limites.

Tão grave quanto o recuo dos vereadores diante da ameaça do MTST de tumultuar a vida da cidade durante a Copa do Mundo, mais do que costuma fazer habitualmente, foi a quebra de um acordo pelo prefeito - o que revela mais uma faceta do "poste" de Lula. Para aprovar o projeto que legalizou a invasão, os vereadores que compuseram a maioria para tal impuseram como condição incluir nele dispositivos que impediriam os invasores de furar a fila dos cadastrados na Secretaria Municipal de Habitação para receber moradia.

Haddad concordou, mas depois vetou esses dispositivos, abrindo caminho para que o MTST determine quem vai receber as moradias a serem construídas no terreno da Copa do Povo - de 3 mil a 4 mil apartamentos, segundo as estimativas. O vereador José Police Neto (PSD), autor do projeto, que trata também de outras questões referentes a moradias populares, reagiu com indignação: "O governo pediu para usar o meu projeto para resolver um problema dele - o acordo feito com o MTST para a Copa do Povo. Só aceitei porque recebi do prefeito Haddad a garantia de que a sanção seria completa. Ele me falou isso pessoalmente. Fiquei perplexo com os vetos".

Além da "falha de comportamento ético" cometida por Haddad, segundo Police Neto, os vetos criam um problema grave. Apesar da alegação do prefeito, de que eles se destinam apenas a assegurar o cumprimento das regras do Ministério das Cidades (as habitações serão construídas pelo programa Minha Casa, Minha Vida), na prática abrem caminho para que o MTST mande e desmande na Copa do Povo, fazendo sua própria lista de beneficiários. Seria ingenuidade acreditar que ele não tentará tirar proveito político das invasões.

É para favorecer seus militantes que o MTST age. Na sua lista de beneficiários das moradias têm preferência os militantes que lhe pagam mensalidade de R$ 50 e participam das manifestações e das invasões, o que é possível no programa Minha Casa, Minha Vida - Entidades. Deve ser por isso que Haddad fala em regras do Ministério das Cidades. Por que então ele se comprometeu com os vereadores que isso não seria aplicado nesse caso?

A aceitação do princípio de que o movimento que invade terrenos determina quem receberá as moradias semeia a desordem nos programas habitacionais e comete flagrante injustiça com os que estão esperando há mais tempo. E favorece com dinheiro público grupos de ação direta travestidos de sociais. É tudo o que o MTST queria.

A única esperança de evitar os problemas criados por essa lei, agravados pelos vetos de Haddad, é a representação encaminhada pela Promotoria de Habitação e Urbanismo ao procurador-geral de Justiça do Estado, Márcio Elias Rosa, pedindo-lhe que avalie a constitucionalidade da lei.

Medalha para o futuro - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 15/08


Aos 35 anos, o carioca Artur Avila conseguiu um feito inédito para a ciência brasileira. Conquistou a Medalha Fields, o prêmio mais importante do mundo na matemática e, agora, a maior láurea já obtida por um pesquisador nacional.

Conhecida como o Nobel da matemática, a medalha é atribuída a cada quadriênio a cientistas de até 40 anos de idade. Desde sua concepção, em 1936, jamais um latino-americano a havia recebido.

Ainda mais notável, enquanto pesquisadores renomados de países em desenvolvimento costumam concluir sua formação nos EUA ou na Europa, Avila finalizou seus estudos no próprio Brasil, no Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, no Rio de Janeiro).

Suas contribuições são decisivas em várias áreas da matemática, entre elas a de sistemas dinâmicos --cujas ferramentas são usadas, por exemplo, para descrever a evolução de epidemias e estudar como surgem espécies animais.

A comunidade acadêmica nacional tem motivos para celebrar. À distinção conferida a Avila somam-se dois sinais de prestígio para o Brasil. Em reunião anterior ao Congresso Internacional de Matemáticos, que se realiza nestes dias em Seul, Coreia do Sul, decidiu-se que o Rio sediará o próximo encontro, em 2018. Pela primeira vez o evento ocorrerá na América Latina.

Além disso, a capital fluminense foi escolhida para hospedar, em 2017, a Olimpíada Internacional de Matemática, tradicional disputa entre alunos pré-universitários.

Pesquisador do Impa e do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Paris), Avila afirma, com razão, que a medalha "tira um pouco do complexo de vira-lata da comunidade científica brasileira".

Se seu sucesso coroa o desempenho da matemática de alto nível no país, contudo, não se pode deixar de observar o brutal contraste com a precária situação do ensino básico dessa mesma disciplina.

Basta dizer que, na última edição do Pisa, um exame internacional padronizado, dois em cada três alunos brasileiros de 15 anos mostraram-se incapazes de entender percentuais, frações ou gráficos. Tampouco conseguiram interpretar situações que exigem deduções diretas a partir de uma informação.

O resultado pífio tem como consequência prática uma inaptidão para lidar com situações cotidianas que envolvam números e grandezas, além de uma baixa procura por carreiras ligadas à área científica.

Mudar essa situação é crucial para o futuro do país, mas a tarefa exige tempo. De imediato, a conquista de Artur Avila pode servir de inspiração nas escolas --e como estímulo aos governantes, que precisam fazer a sua parte.

Aprofundar as desonerações tributárias - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 15/08


As reduções tópicas de impostos são apenas parte do serviço. Para completá-lo, além de horizontalizá-las, não se pode deixar de cortar gastos em custeio


Embora o PT seja defensor do aumento de impostos para “fazer justiça social”, o governo Dilma terminou reconhecendo, de forma indireta, que a carga tributária é excessiva, prejudica a economia, e, por consequência, a geração de empregos e renda. Foi quando começou a reduzir os encargos sobre a folha de pagamentos, na chamada política de desonerações.

Poucos países do mundo subtraem das rendas da sociedade o equivalente a 37% do PIB, como o Brasil. Apenas em algumas economias desenvolvidas europeias, nas quais o contribuinte é bastante taxado, mas recebe em troca serviços públicos de primeira qualidade. Não precisa contratar seguro de saúde e gastar na educação dos filhos. Ao contrário do brasileiro, punido duplamente: nos impostos e nas despesas com serviços essenciais não prestados com eficiência pelo Estado. Quer dizer, a carga de tributos, no Brasil, é fator de “injustiça social”.

Outro reconhecimento implícito dos malefícios tributários tem sido o sucessivo corte de IPI para incentivar a venda de veículos e eletrodomésticos. Como previsto, as medida funciona. Mas tem alcance limitado pela capacidade de endividamento das famílias e mesmo de reposição desses bens: não se troca sempre de carro nem de geladeira. Há equívocos, no entanto, na forma como o governo executa o acertado programa de desonerações. O primeiro é restringi-lo apenas a alguns segmentos da produção. A redução de impostos precisa ser ampla, para oxigenar toda a economia. Pelo menos nos pesados encargos sobre a folha de salários — em certos casos, ela custa o dobro para o empregador, em função dos gravames —, a lista de setores beneficiados foi expandida para 56. Pode ser mais. E quanto mais, melhor, por incentivar a formalização do mercado de trabalho.

Outra falha é não haver a contrapartida do corte nos gastos de custeio. As desonerações subtraem recursos da coleta de impostos, compensados , porém, no futuro, pela arrecadação adicional derivada do crescimento da economia. Mas, no primeiro momento, há perda efetiva para o Erário.

É preciso quebrar o padrão criado no Brasil de tucanos e petistas de o Estado sempre ampliar os gastos para financiá-los com mais impostos. É emblemático que nos governo do PSDB (FH) a transferência de recursos da União para estados e municípios tenha levado ao artifício da criação das “contribuições” (CPMF, a mais conhecida delas). Compensaram-se as perdas do Executivo federal com um imposto sob disfarce, cuja característica principal é não ser repartido com o resto da Federação.

Com o PT, a partir de 2003, a tendência se manteve. E assim, de 1997 ao ano passado, os gastos federais saltaram de 14% do PIB para 18%. E a carga tributária foi atrás. As desonerações tópicas são apenas parte do serviço. Para completá-lo, além de horizontalizá-las, não se pode esquecer da ponta dos gastos em custeio.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

‘Nossa relação era muito forte’
Lula, que silenciou quando liderados do PT chamaram Eduardo Campos de ‘playboy’


VICE DO PSB É O PRINCIPAL OBSTÁCULO DE MARINA

Com a trágica morte de Eduardo Campos, o vice-presidente que gosta de se posicionar como “esquerda do PSB”, tornou-se o principal empecilho à candidatura de Marina Silva à Presidência. Ele agora assume o comando do partido. Considerado um “tiranossauro da velha esquerda brasileira”, ele foi contra o rompimento com o governo PT para lançar candidatura própria. Foi contra até à aliança com Marina.

MISSÃO IMPOSSÍVEL

Aliados cogitam Roberto Amaral para vice, numa tentativa de tentar a concordância dele para lançar Marina à Presidência pelo PSB.

FIM DO 2º TURNO

Líderes tucanos temem que Roberto Amaral submeta a Dilma e a Lula, a quem é ligado, o caminho que o PSB deve seguir.

OUTROS COTADOS

O PPS defende Roberto Freire para vice de Marina. No PSB, há quem prefira outro pernambucano, Maurício Rands, muito ligado a Campos.

RENATA É OPÇÃO

Marqueteiros do PSB sugerem Renata Campos, mulher de Eduardo, para vice de Marina. As duas se tornaram bem próximas na campanha.

DOAÇÕES DE EMPRESAS SUSPEITAS IMPLICAM PETISTA

Fiscal implacável das doações de campanha até para correligionários, o deputado Henrique Fontana (RS), ex-líder do PT na Câmara, está enrolado na revelação de documentos apreendidos por investigadores que o relaciona entre sete deputados que pediram doações a empresas suspeitas de ligação ao cartel dos trens. O documento foi entregue pelo Conselho de Defesa Econômica (Cade) a autoridades federais.

EMPENHO

Fontana chegou a dizer que não pediu nem recebeu doações dessas empresas, mas admite empenho pela “expansão do modo ferroviário”.

ME DÁ UM DINHEIRO AÍ...

Além de Fontana, fazem parte da lista de deputados apontados como pedintes Carlos Zaratini e Jilmar Tatto, ambos do PT de São Paulo.

OUTROS PEDINTES

Também estão na lista Jaime Martins (MG) e Milton Monti (SP), do PR; Leonardo Quintão (PMDB-MG) e Vanderlei Macris (PSDB-SP).

ALAVANCA

Lideranças de Pernambuco não falam publicamente, mas em particular dizem que a comoção pela morte de Eduardo Campos deve alavancar a candidatura de Paulo Câmara (PSB) para governador.

FRAQUINHO

Membros do Conselho de Ética consideraram “fraco” o relatório de Júlio Delgado (PSB-MG) pedindo a cassação de André Vargas, que foi mais centrado no jatinho do doleiro do que no casos de tráfico de influência.

ATO ECUMÊNICO

O senador João Capiberibe (PSB-AP) organizou ontem à noite um ato ecumênico em memória de Eduardo Campos, em Macapá. A expectativa inicial do partido era reunir 20 mil pessoas.

BRONCA COLETIVA

Aline Peixoto, mulher de Rui Costa, candidato do PT ao governo, rodou a baiana em Jequié (BA), onde não encontrou material de campanha do marido no comitê de Euclides Fernandes (PDT) e Antônio Brito (PP).

TRAUMA

Candidato ao Senado, Paulo Bornhausen (PSB-SC) ficou abalado com a tragédia que matou Campos: “Me veio à memória o acidente aéreo do Júlio Redecker. Acompanhei a busca pelos corpos, foi um horror”.

CNC COCHILANDO

Dorme no ponto o presidente da Confederação Nacional do Comércio, Antônio de Oliveira Santos, que há 34 anos se agarra como carrapato ao cargo: até agora os candidatos a presidente não conhecem as demandas do setor que gera mais de 40 milhões de empregos no País.

JUSTIÇA LENTA?

Advogados têm reclamado do sistema de acesso processual, no Superior Tribunal de Justiça. Eles demoram mais de quinze minutos para ter acesso. O sistema está sempre muito lento.

DINHEIRO É VENDAVAL

A mulher do governador capixaba Renato Casagrande (PSB) gastou só R$ 282 em viagem a São Paulo, em 2013. Mas a do antecessor Paulo Hartung pegou pesado com o erário, entre 2007 e 2010: R$ 83,7 mil.

BOA NOTÍCIA

Em meio à consternação pelo falecimento de Eduardo Campos, uma notícia positiva: o possível adiamento da propaganda eleitoral gratuita.


PODER SEM PUDOR

MALÍCIA POLÍTICA

Implacável líder da UDN, Carlos Lacerda interpelou ACM, da corrente "chapa branca" do partido, sobre a visita dele ao "inimigo", presidente JK. Ele confirmou o papo às 10h da manhã e observou, cheio de malícia:

- ... antes de mim, esteve por lá, às sete horas, o Magalhães Pinto. Referia-se ao presidente da UDN. "A raiva de Lacerda passou para o outro Magalhães", divertiu-se ele, ao lembrar o caso no livro "ACM fala de JK".