FOLHA DE SP - 28/04
É duro aceitar que algumas pessoas são mais capazes e mais afortunadas do que outras
Há muito suspeitava que um dia as mulheres mais bonitas iam ser de alguma forma castigadas por nossa sociedade. Meu temor, em parte, se confirmou. Incluindo aí também um castigo para os homens mais bonitos. E por quê? Porque pesquisas recentes parecem provar que homens mais bonitos e mulheres mais bonitas têm mais sucesso profissional, e isso é "imperdoável" num mundo em que a inveja e o ressentimento fazem a política das nações. Vivemos numa era do ressentimento.
Claro, dirão que critérios de beleza variam. Sim, numa certa medida mais gordinhas hoje parecem estar em baixa. As magrelinhas podem fazer sucesso em passarelas e nos espelhos de lojas, mas nem sempre encantam o desejo de todos os homens. E mais: não creio que as figuras das "bruxas" deixem alguma dúvida sobre o que era "feio" (não me refiro às mulheres, muitas delas bonitas, que hoje se dedicam a cultos da Europa pré-cristã).
De qualquer forma, o livro "Beauty Pays: Why Attractive People Are More Successful" (A beleza paga: por que as pessoas mais atraentes são mais bem-sucedidas), de Daniel Hamermesh (indicado pelo excelente artigo do "Valor Econômico"), aprofunda o que é essa beleza que paga bem no mercado profissional. O artigo parte da bela Marissa Meyer, CEO do Yahoo!, para discutir o novo problema a ser enfrentado pelos mais bem-sucedidos que forem mais belos.
Os burocratas dos tributos (em países como os EUA), parasitas que passam o dia pensando em como tirar dinheiro de quem produz dinheiro, já tiveram uma ideia incrível: taxar quem tiver mais sucesso profissional e for bonito.
Como será que esse personagem de Kafka (vejo-o como um rato cheio de formulários na mão) vai fazer para identificar a beleza como parte da razão de uma pessoa ser ainda mais achacada pelo fisco? Testemunhos dos "prejudicados" na carreira pela "injusta" beleza dos outros? O livro em questão, no seu capítulo oito, discute as possíveis "proteções legais para os feios"!
Difícil dizer, mas sem dúvida vão descobrir uma forma, porque o Estado está sempre aquém na "ponta da entrega", mas sempre além da imaginação em competência na "ponta da arrecadação".
A base do ódio organizado à beleza e à riqueza (travestido de taxação em nome da justiça "sócio-estética") é o velho ressentimento. Nietzsche é um analista social e político muito mais sofisticado do que o guru Marx. Luta de classes é o "nome fantasia" do ressentimento que se tem contra os mais afortunados e mais competentes. É difícil aceitar que algumas pessoas sejam mais capazes e mais afortunadas (a velha Fortuna de Maquiavel, que, como toda mulher, ama a ousadia e a coragem) do que outras.
Adam Smith, pai da noção de sociedade comercial (ou sociedade de mercado), sabia que havia um risco de crescimento da "frouxidão" generalizada com o enriquecimento. Mas a contingência (ou acaso ou fortuna) que está na base da visão de mundo de Smith fere nossa sensibilidade de carentes.
Sua "cosmologia" não parece reconhecer uma ordem inteligente superior que equilibre de modo "justo" as diferentes capacidades pessoais. A famosa "mão invisível" equilibraria apenas os resultados totais da riqueza, mas não a inveja de quem é menos capaz.
A sociedade de mercado é uma ferida narcísica incurável para quem nela fracassa. E é difícil não ser, uma vez que todos somos infelizes e carentes em algum nível. Os "marcadores" dessas diferenças que ninguém quer dizer o nome (beleza, riqueza, inteligência, originalidade), acolhidas pela sociedade de mercado, são detestados pelo narcisismo carente, fonte inesgotável de ressentimento.
Portanto, a psicologia nietzschiana do ressentimento deveria ser mais levada a sério quando se discute política no mundo contemporâneo.
Dica: o ódio às belas, rancor atávico das feias, o ódio aos mais capazes, rancor atávico dos menos capazes, nunca foi descrito de modo tão claro como pela filósofa Ayn Rand em seu "Revolta de Atlas" (uma das referências bibliográficas que nossa universidade nega a seus alunos), livro antídoto às mentiras do ressentimento. Leia
segunda-feira, abril 28, 2014
Por que o governo erra tanto? - CLAUDIO ADILSON GONÇALEZ
O ESTADO DE S. PAULO - 28/04
A má condução da política econômica brasileira não decorre de meros equívocos de gestão
São sobejamente conhecidas as causas da quase estagnação da economia brasileira nos últimos anos. As condições internacionais tornaram-se menos favoráveis, principalmente o fim do boom de preços das commodities e a elevação (ainda relativamente modesta) dos juros internacionais de médio e longo prazos. Mas, mais importante, é o fracasso, hoje inconteste, da nova matriz macroeconômica, o pomposo apelido escolhido pelo governo para a combinação de deterioração das contas públicas,perda de autonomia do Banco Central, ativismo cambial, política industrial alicerçada em subsídios e aumento do protecionismo para setores escolhidos e excessiva interferência governamental na economia.
Esse diagnóstico já foi explorado adnauseam por vários e competentes analistas. Meu propósito neste artigo é tentar responder a questão que está no título, qual seja, a razão de o governo cometer tantos equívocos na condução da política econômica.
Todo governante sabe que em democracias, em última instância, os eleitores o julgarão nas urnas pelo que sentem em seus bolsos. O célebre slogan do marqueteiro do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, James Carville, "é a economia, estúpido!", dito há cerca de duas décadas, mantém- se mais atual do que nunca.
No Brasil, as pesquisas mostram que a queda na avaliação positiva do governo e a consequente redução nas intenções de voto em Dilma se devem principalmente à elevação da inflação, que acaba contaminando a percepção do eleitor sobre outras questões tais como risco de perder o emprego, aumento dos juros, etc.
Dessa forma, é óbvio que o governo não erra porque quer. Errar é humano, mas a má condução da política econômica brasileira não decorre de meros equívocos de gestão. A raiz do problema está na forte componente ideológica de membros do alto escalão governamental, que os impede de entender e respeitar os princípios básicos que regem o funcionamento de uma economia de mercado.
Na literatura há dois livros admiráveis que analisam os principais obstáculos ao crescimento econômico sustentável da maior parte das nações. O primeiro, The Elusive Questfor Growth (A Elusiva busca do crescimento),foi escrito em 2001 por Willian Easterly, economista que ocupou destacados postos no Banco Mundial.
O segundo, de 2012, Why Nations Fail? (Por que as nações fracassam?), de autoria de Daron Acemoglu e James Robinson, já é considerado um dos mais completos trabalhos escritos até o presente sobre a importância de instituições políticas inclusivas para o crescimento econômico.
Mas quais as principais lições que podemos extrair desses trabalhos que podem nos ajudar a entender as causas dos desacertos da política econômica brasileira? As ideias de Easterly podem ser resumidas em uma única frase, usada com abundância em seu livro, qual seja, "as pessoas respondem a incentivos". O autor demonstra que muitos programas do Banco Mundial,baseados em perdão de dívida, ajuda externa e crédito barato, que visavam a promover a industrialização de países pobres como Bangladesh e Paquistão, por exemplo, fracassaram porque as instituições sociais e políticas dessas nações não eram capazes de gerar incentivos corretos para o empreendedorismo. Aproximar-se da elite econômica, que também detinha o poder político, e angariar benefícios via corrupção e troca de favores era muito mais rentável do que assumir riscos empresariais, mesmo dispondo de crédito altamente subsidiado para o investimento. Nesse ambiente não há espaço para a meritocracia e para a inovação.
Já o trabalho de Acemoglu e Robinson faz uma extensa e detalhada análise histórica, desde o período neolítico aos nossos dias, e demonstra de forma cabal que a diferença de crescimento econômico entre as nações não se deve, como muitos pensavam e alguns ainda pensam, a fatores geográficos, culturais, religiosos ou raciais. A linha divisória está na existência ou não de instituições sociais inclusivas, no sentido de que o sistema político não seja dominado por determinados segmentos da elite econômica que impedem o funcionamento da destruição criativa, sem a qual não haverá inovação nem crescimento econômico sustentável.
Um ponto importante no trabalho de Acemoglu e Robinson é que a história demonstra que é possível nações com estruturas sociais não inclusivas, desde que dotadas de um governo central capaz de impor regras, registrarem fases de forte crescimento econômico induzido pelo Estado, como ocorreu na ex-União Soviética entre as décadas de 20 e 60 do século passado e que fascinou muitos analistas ocidentais em relação aos méritos do regime econômico comunista.
Mas os autores demonstram que tais crescimentos são temporários e autolimitantes, pois os detentores dos poderes econômico e político impedem o funcionamento da destruição criativa, o verdadeiro motor do crescimento. Do Oriente Médio na Revolução Neolítica, passando pelo Império Romano e pela
União Soviética, a história está repleta de exemplos da ascensão, da estagnação e do desmantelamento de economias baseadas nesse tipo de instituição social excludente.
Portanto, compreender os princípios básicos que norteiam o funcionamento das economias de mercado não é tarefa simples, tampouco intuitiva. E é isso que falta aos principais responsáveis pela condução da política econômica brasileira, mais do que boa vontade de acertar. Sobretudo, há uma evidente dificuldade em captar, em toda sua profundidade, a ideia aparentemente simples, mas valiosa, de que as pessoas respondem a incentivos.
E esse desconhecimento que faz o governo acreditar que pode baixar na marra juros e tarifas de serviços públicos, aceitar alto risco de apagão por falta de energia, controlar preços, alterar constantemente as regras do jogo na economia,beneficiar setores escolhidos em detrimento de outros e não perceber que isso corrói os incentivos para investir e assumir riscos empresariais, a despeito da generosa oferta de crédito subsidiado.
São sobejamente conhecidas as causas da quase estagnação da economia brasileira nos últimos anos. As condições internacionais tornaram-se menos favoráveis, principalmente o fim do boom de preços das commodities e a elevação (ainda relativamente modesta) dos juros internacionais de médio e longo prazos. Mas, mais importante, é o fracasso, hoje inconteste, da nova matriz macroeconômica, o pomposo apelido escolhido pelo governo para a combinação de deterioração das contas públicas,perda de autonomia do Banco Central, ativismo cambial, política industrial alicerçada em subsídios e aumento do protecionismo para setores escolhidos e excessiva interferência governamental na economia.
Esse diagnóstico já foi explorado adnauseam por vários e competentes analistas. Meu propósito neste artigo é tentar responder a questão que está no título, qual seja, a razão de o governo cometer tantos equívocos na condução da política econômica.
Todo governante sabe que em democracias, em última instância, os eleitores o julgarão nas urnas pelo que sentem em seus bolsos. O célebre slogan do marqueteiro do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, James Carville, "é a economia, estúpido!", dito há cerca de duas décadas, mantém- se mais atual do que nunca.
No Brasil, as pesquisas mostram que a queda na avaliação positiva do governo e a consequente redução nas intenções de voto em Dilma se devem principalmente à elevação da inflação, que acaba contaminando a percepção do eleitor sobre outras questões tais como risco de perder o emprego, aumento dos juros, etc.
Dessa forma, é óbvio que o governo não erra porque quer. Errar é humano, mas a má condução da política econômica brasileira não decorre de meros equívocos de gestão. A raiz do problema está na forte componente ideológica de membros do alto escalão governamental, que os impede de entender e respeitar os princípios básicos que regem o funcionamento de uma economia de mercado.
Na literatura há dois livros admiráveis que analisam os principais obstáculos ao crescimento econômico sustentável da maior parte das nações. O primeiro, The Elusive Questfor Growth (A Elusiva busca do crescimento),foi escrito em 2001 por Willian Easterly, economista que ocupou destacados postos no Banco Mundial.
O segundo, de 2012, Why Nations Fail? (Por que as nações fracassam?), de autoria de Daron Acemoglu e James Robinson, já é considerado um dos mais completos trabalhos escritos até o presente sobre a importância de instituições políticas inclusivas para o crescimento econômico.
Mas quais as principais lições que podemos extrair desses trabalhos que podem nos ajudar a entender as causas dos desacertos da política econômica brasileira? As ideias de Easterly podem ser resumidas em uma única frase, usada com abundância em seu livro, qual seja, "as pessoas respondem a incentivos". O autor demonstra que muitos programas do Banco Mundial,baseados em perdão de dívida, ajuda externa e crédito barato, que visavam a promover a industrialização de países pobres como Bangladesh e Paquistão, por exemplo, fracassaram porque as instituições sociais e políticas dessas nações não eram capazes de gerar incentivos corretos para o empreendedorismo. Aproximar-se da elite econômica, que também detinha o poder político, e angariar benefícios via corrupção e troca de favores era muito mais rentável do que assumir riscos empresariais, mesmo dispondo de crédito altamente subsidiado para o investimento. Nesse ambiente não há espaço para a meritocracia e para a inovação.
Já o trabalho de Acemoglu e Robinson faz uma extensa e detalhada análise histórica, desde o período neolítico aos nossos dias, e demonstra de forma cabal que a diferença de crescimento econômico entre as nações não se deve, como muitos pensavam e alguns ainda pensam, a fatores geográficos, culturais, religiosos ou raciais. A linha divisória está na existência ou não de instituições sociais inclusivas, no sentido de que o sistema político não seja dominado por determinados segmentos da elite econômica que impedem o funcionamento da destruição criativa, sem a qual não haverá inovação nem crescimento econômico sustentável.
Um ponto importante no trabalho de Acemoglu e Robinson é que a história demonstra que é possível nações com estruturas sociais não inclusivas, desde que dotadas de um governo central capaz de impor regras, registrarem fases de forte crescimento econômico induzido pelo Estado, como ocorreu na ex-União Soviética entre as décadas de 20 e 60 do século passado e que fascinou muitos analistas ocidentais em relação aos méritos do regime econômico comunista.
Mas os autores demonstram que tais crescimentos são temporários e autolimitantes, pois os detentores dos poderes econômico e político impedem o funcionamento da destruição criativa, o verdadeiro motor do crescimento. Do Oriente Médio na Revolução Neolítica, passando pelo Império Romano e pela
União Soviética, a história está repleta de exemplos da ascensão, da estagnação e do desmantelamento de economias baseadas nesse tipo de instituição social excludente.
Portanto, compreender os princípios básicos que norteiam o funcionamento das economias de mercado não é tarefa simples, tampouco intuitiva. E é isso que falta aos principais responsáveis pela condução da política econômica brasileira, mais do que boa vontade de acertar. Sobretudo, há uma evidente dificuldade em captar, em toda sua profundidade, a ideia aparentemente simples, mas valiosa, de que as pessoas respondem a incentivos.
E esse desconhecimento que faz o governo acreditar que pode baixar na marra juros e tarifas de serviços públicos, aceitar alto risco de apagão por falta de energia, controlar preços, alterar constantemente as regras do jogo na economia,beneficiar setores escolhidos em detrimento de outros e não perceber que isso corrói os incentivos para investir e assumir riscos empresariais, a despeito da generosa oferta de crédito subsidiado.
Etanol: até quando? - AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 28/04
Pare para pensar: quantas vezes, nos últimos tempos, você passou num posto de combustíveis e abasteceu seu carro flex com etanol? Se você considera apenas o bolso, e é natural que seja assim, é provável que pouquíssimas vezes não tenha enchido o tanque com gasolina. Não é um contrassenso num país como o Brasil?
A mais verde e amarela das tecnologias alternativas, muito menos poluente e danosa ao ambiente e à saúde das pessoas, e uma das mais eficazes opções à queima do combustível fóssil, vive crise sem precedentes no país.
Tenho andado muito pelo interior do Brasil e visto de perto o vigor da nossa agropecuária e a dedicação dos nossos produtores. Por tudo isso, é contraditória a gravidade da crise por que passa a nossa produção de álcool. Nos últimos anos, mais de 40 usinas fecharam. Outras estão em processo de recuperação judicial ou enfrentam graves dificuldades. Milhares de pessoas já perderam o emprego.
Trata-se de situação completamente distinta da que se projetava poucos anos atrás. Até então o Brasil estava fadado a ser a maior potência mundial de energia renovável.
Caminhávamos para ser a vanguarda da sustentabilidade, exemplo em um mundo em busca de fontes não fósseis, limpas e mitigadoras do aquecimento global pela redução das emissões de CO2.
Descarrilamos, contudo.
Não foi obra do acaso. Não foi barbeiragem de produtores, nem irresponsabilidade de investidores. Não foi mera consequência da mudança de ventos na economia global.
Foi, isso sim, produto de equívocos cometidos por uma gestão que está matando o etanol brasileiro. É um estrago de grandes proporções, que se espalha por longa cadeia de produção que envolve 2,5 milhões de trabalhadores e centenas de municípios do país.
Sem perspectivas de melhora, as usinas não investem, o mercado não reage e o Brasil chega ao ponto de importar etanol dos EUA --e com desoneração tributária concedida pelo governo federal. Como pode?
Os produtores não precisam de muito, mas têm nos faltado o básico. Basta que o governo não atrapalhe, como tem feito, defina uma política de longo prazo para o setor energético e reestabeleça condições mínimas de competitividade: equilíbrio na formação de preços, tributos adequados e algum amparo na forma de linhas de crédito que realmente funcionem.
Não é algo tão complicado, mas é tudo o que o governo petista não faz.
Há uma crise de confiança instalada no país. As vítimas vão caindo pelo caminho --e são cada vez mais numerosas.
É o futuro do Brasil que está sendo sabotado. No caso do etanol, é toda uma experiência de mais de 40 anos que está sendo jogada no lixo pela vanguarda do atraso.
Os donos do poder - NELSON PAES LEME
O GLOBO - 28/04
Saqueiam o Erário de forma torpe, solerte e desavergonhada. E nenhuma força do restante da sociedade civil lhes contrapõe qualquer resistência
Raymundo Faoro, em seu antológico “Os donos do poder”, faz um diagnóstico certeiro e preciso da origem do patrimonialismo brasileiro: a Casa de Aviz portuguesa no Século XIV. Os reis de Portugal se consideravam proprietários do país e da nação. Essa cultura atravessou mares e séculos e se enraizou com toda a força no Brasil e na nossa concepção de Estado soberano. Hoje já não há a Casa de Aviz. Outros são os tempos e outros são os donos do poder. A Petrobras que o diga.
O Estado brasileiro sempre foi um paquiderme a serviço desses “donos” eventuais do poder. Inicialmente foram os próprios reis portugueses, depois os imperadores, depois os militares positivistas da República Velha. Depois o ditador Vargas em duas etapas, sendo que na última já dividiu parte do poder (inclusive a Petrobras) com um peleguismo ainda incipiente e amadorista. Nada parecido com o atual, altamente sofisticado e requintado. São pelegos muitas vezes com PhD e que andam acompanhados, em jatinhos executivos, de poderosos empreiteiros e subempreiteiros de gigantescas obras públicas. Alguns com mandato popular nas câmaras, assembleias legislativas e até no Congresso Nacional. Pelegos que tomam vinhos caríssimos de safras de colecionador, mas não arredam pé de um sindicalismo em decadência porque alinhado a um socialismo que já não existe. Um socialismo que foi atropelado pela revolução científico-tecnológica e pela deterioração da vida planetária, de todas as espécies viventes a exigir rever as prioridades no campo do social e da própria economia de mercado.
Com a ditadura militar que tomou conta do Brasil de 1964 a 1984, esses líderes sindicais de outrora se organizaram com mestres acadêmicos, também sindicalistas públicos em estado de pureza ideológica, egressos das universidades estatais, na resistência democrática, e fundaram um partido político, com o placet dos militares, especialmente do general Golbery do Couto e Silva, pretenso ideólogo do regime militar. Estratificou-se assim uma tecnoburocracia de oposição à tecnoburocracia militar no governo e que passou a dominar o aparelho partidário do Partido dos Trabalhadores, desfraldando a bandeira do vestalismo na política e do igualitarismo no social.
Esse partido, aparentemente ingênuo e idealista, forjado ainda nos ideais distributivistas da pré-Guerra Fria e do trotskismo revolucionário do princípio do século passado tinha, no entanto, um projeto histórico de poder idêntico ao dos reis de Portugal, dos imperadores, dos militares positivistas, dos ditadores e dos militares golpistas: tomar conta do aparelho do Estado e tornar-se dono da República e de sua economia altamente estatizada e burocratizada. O próprio Faoro já vaticinara: “Sobre as classes sociais que se digladiam, debaixo do jogo político, vela uma camada político-social, o conhecido e tenaz estamento burocrático nas suas expansões e nos seus longos dedos.” Esses longos dedos hoje pertencem a esses novos donos do país.
Ascenderam ao poder. Locupletaram-se nas companhias e bancos estatais, reinventando o “presidencialismo de coalizão” com o pior do fisiologismo herdado da ditadura militar. E aí estão. Não há força que os remova. Saqueiam o Erário de forma torpe, solerte e desavergonhada. E nenhuma força do restante da sociedade civil lhes contrapõe qualquer resistência. Até quando irão corroendo o tecido republicano, ninguém sabe. Seu combustível é a ignorância, a indigência cultural e a miséria humana.
As próximas eleições gerais que se avizinham serão decisivas para o futuro desses novos “donos do poder” e sua percepção atrasada e ultrapassada de Estado. Mas, seja qual for seu resultado, esta República se esgotou. É ingente um novo pacto que inaugure a próxima, em que o poder seja realmente partilhado com o soberano: o restante do povo brasileiro que a tudo assiste perplexo e desorientado. Uma imensa tarefa de reconstrução do Estado brasileiro é o que se espera, mas ainda não se percebe no discurso dos candidatos.
Saqueiam o Erário de forma torpe, solerte e desavergonhada. E nenhuma força do restante da sociedade civil lhes contrapõe qualquer resistência
Raymundo Faoro, em seu antológico “Os donos do poder”, faz um diagnóstico certeiro e preciso da origem do patrimonialismo brasileiro: a Casa de Aviz portuguesa no Século XIV. Os reis de Portugal se consideravam proprietários do país e da nação. Essa cultura atravessou mares e séculos e se enraizou com toda a força no Brasil e na nossa concepção de Estado soberano. Hoje já não há a Casa de Aviz. Outros são os tempos e outros são os donos do poder. A Petrobras que o diga.
O Estado brasileiro sempre foi um paquiderme a serviço desses “donos” eventuais do poder. Inicialmente foram os próprios reis portugueses, depois os imperadores, depois os militares positivistas da República Velha. Depois o ditador Vargas em duas etapas, sendo que na última já dividiu parte do poder (inclusive a Petrobras) com um peleguismo ainda incipiente e amadorista. Nada parecido com o atual, altamente sofisticado e requintado. São pelegos muitas vezes com PhD e que andam acompanhados, em jatinhos executivos, de poderosos empreiteiros e subempreiteiros de gigantescas obras públicas. Alguns com mandato popular nas câmaras, assembleias legislativas e até no Congresso Nacional. Pelegos que tomam vinhos caríssimos de safras de colecionador, mas não arredam pé de um sindicalismo em decadência porque alinhado a um socialismo que já não existe. Um socialismo que foi atropelado pela revolução científico-tecnológica e pela deterioração da vida planetária, de todas as espécies viventes a exigir rever as prioridades no campo do social e da própria economia de mercado.
Com a ditadura militar que tomou conta do Brasil de 1964 a 1984, esses líderes sindicais de outrora se organizaram com mestres acadêmicos, também sindicalistas públicos em estado de pureza ideológica, egressos das universidades estatais, na resistência democrática, e fundaram um partido político, com o placet dos militares, especialmente do general Golbery do Couto e Silva, pretenso ideólogo do regime militar. Estratificou-se assim uma tecnoburocracia de oposição à tecnoburocracia militar no governo e que passou a dominar o aparelho partidário do Partido dos Trabalhadores, desfraldando a bandeira do vestalismo na política e do igualitarismo no social.
Esse partido, aparentemente ingênuo e idealista, forjado ainda nos ideais distributivistas da pré-Guerra Fria e do trotskismo revolucionário do princípio do século passado tinha, no entanto, um projeto histórico de poder idêntico ao dos reis de Portugal, dos imperadores, dos militares positivistas, dos ditadores e dos militares golpistas: tomar conta do aparelho do Estado e tornar-se dono da República e de sua economia altamente estatizada e burocratizada. O próprio Faoro já vaticinara: “Sobre as classes sociais que se digladiam, debaixo do jogo político, vela uma camada político-social, o conhecido e tenaz estamento burocrático nas suas expansões e nos seus longos dedos.” Esses longos dedos hoje pertencem a esses novos donos do país.
Ascenderam ao poder. Locupletaram-se nas companhias e bancos estatais, reinventando o “presidencialismo de coalizão” com o pior do fisiologismo herdado da ditadura militar. E aí estão. Não há força que os remova. Saqueiam o Erário de forma torpe, solerte e desavergonhada. E nenhuma força do restante da sociedade civil lhes contrapõe qualquer resistência. Até quando irão corroendo o tecido republicano, ninguém sabe. Seu combustível é a ignorância, a indigência cultural e a miséria humana.
As próximas eleições gerais que se avizinham serão decisivas para o futuro desses novos “donos do poder” e sua percepção atrasada e ultrapassada de Estado. Mas, seja qual for seu resultado, esta República se esgotou. É ingente um novo pacto que inaugure a próxima, em que o poder seja realmente partilhado com o soberano: o restante do povo brasileiro que a tudo assiste perplexo e desorientado. Uma imensa tarefa de reconstrução do Estado brasileiro é o que se espera, mas ainda não se percebe no discurso dos candidatos.
Os antitudo e a eleição - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 28/04
Partidários de Dilma Rousseff agarram-se a uma conta aritmética para brandir otimismo sobre sua reeleição: a soma das intenções de voto dos outros candidatos é uma fração do eleitorado da presidente. Conclusão aparentemente óbvia, Dilma não teria para quem perder. Mas há sempre a chance de perder para si mesma.
Na pesquisa Ibope de abril, Dilma, mesmo em queda, marcou 37%, enquanto Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e os sete anões somaram apenas 25%. É a expressão do desconhecimento dos candidatos anti-Dilma, mas também da sua incapacidade até agora de despertar o eleitor. Toda a oposição junta equivale ao contingente de desesperançados da política, aos antitudo.
Um a cada quatro eleitores está declarando voto nulo ou branco. É uma taxa excepcionalmente alta para padrões brasileiros. Parece mais uma forma de o eleitor expressar sua insatisfação com o sistema político em vigor do que um plano para outubro. Na solidão da urna, todos esses brasileiros vão invalidar os votos?
Pelo retrospecto, é improvável. A média histórica de votos inválidos é ao menos metade do que aparece hoje nas pesquisas: se considerarmos todos os primeiros turnos presidenciais entre 1989 e 2010, dá 12%, mas caindo. Nos três últimos, a taxa baixou para 9%. E foi ainda menor nos segundos turnos: 6%.
Por que, então, o branco/nulo está tão alto? Porque grande quantidade de brasileiros não está nem aí para o que vai acontecer nas urnas. Responder que vai anular ou votar em branco é, também, um jeito menos vexatório de dizer "não sei".
Três de quatro eleitores que estão hoje no branco/nulo dizem ter nenhum ou pouco interesse no pleito de outubro. Já entre os eleitores de Dilma, Aécio e Eduardo a maioria declara ter muito ou médio interesse na eleição. Ou seja, quem já se decidiu é o eleitor mais politizado ou que ainda acredita na política. Os demais só vão fazer sua opção quando não tiverem outra saída.
A implicação desses números é que, mantida a tendência histórica, a maioria dos eleitores que aparecem hoje na coluna do branco e nulo vai migrar para algum dos candidatos a presidente no decorrer da campanha eleitoral. Mas para qual?
Raramente para a incumbente. Na pesquisa Ibope de abril, 75% dos eleitores que declararam que votariam em branco ou anulariam escolheram a seguinte frase para descrever sua opinião sobre Dilma: "Não votaria nela de jeito nenhum para presidente". Apenas 12% admitiram a possibilidade de votar na petista. O resto não soube responder ou não a conhece o suficiente.
Se não será majoritariamente para Dilma, para quem, então, migrarão os eleitores insatisfeitos? Aécio Neves e Eduardo Campos têm chances equivalentes entre si, mas não muito maiores do que a presidente: 63% dos antitudo não votariam de jeito nenhum no tucano, e 61% dizem o mesmo sobre o pernambucano.
O problema parece estar também na imagem dos candidatos de oposição, ambos netos e herdeiros de políticos tradicionais. Mesmo mais conhecida do que Eduardo e Aécio, Marina Silva teria, se candidata, menor rejeição entre os insatisfeitos. Só 53% dos antitudo se dizem também anti-Marina. Entre eles, ela vai melhor até do que Lula, que alcança 60% de rejeição nesse grupo.
A rejeição maior a Dilma indica que alguém da oposição teria mais chances de conquistar o voto dos insatisfeitos. Mas não só.
CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari comparou o perfil dos eleitores que declaram voto na presidente, na oposição e em ninguém. Da geografia à escolaridade, passando por renda, cor e religião do eleitor, quem diz que votaria nulo ou em branco é muito mais parecido com o eleitor oposicionista do que com quem declara voto em Dilma. É o que basta? Depende da presidente.
Se confiar apenas na aritmética e não conquistar parte dos antitudo, Dilma deve desocupar o Planalto antes do previsto.
Partidários de Dilma Rousseff agarram-se a uma conta aritmética para brandir otimismo sobre sua reeleição: a soma das intenções de voto dos outros candidatos é uma fração do eleitorado da presidente. Conclusão aparentemente óbvia, Dilma não teria para quem perder. Mas há sempre a chance de perder para si mesma.
Na pesquisa Ibope de abril, Dilma, mesmo em queda, marcou 37%, enquanto Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e os sete anões somaram apenas 25%. É a expressão do desconhecimento dos candidatos anti-Dilma, mas também da sua incapacidade até agora de despertar o eleitor. Toda a oposição junta equivale ao contingente de desesperançados da política, aos antitudo.
Um a cada quatro eleitores está declarando voto nulo ou branco. É uma taxa excepcionalmente alta para padrões brasileiros. Parece mais uma forma de o eleitor expressar sua insatisfação com o sistema político em vigor do que um plano para outubro. Na solidão da urna, todos esses brasileiros vão invalidar os votos?
Pelo retrospecto, é improvável. A média histórica de votos inválidos é ao menos metade do que aparece hoje nas pesquisas: se considerarmos todos os primeiros turnos presidenciais entre 1989 e 2010, dá 12%, mas caindo. Nos três últimos, a taxa baixou para 9%. E foi ainda menor nos segundos turnos: 6%.
Por que, então, o branco/nulo está tão alto? Porque grande quantidade de brasileiros não está nem aí para o que vai acontecer nas urnas. Responder que vai anular ou votar em branco é, também, um jeito menos vexatório de dizer "não sei".
Três de quatro eleitores que estão hoje no branco/nulo dizem ter nenhum ou pouco interesse no pleito de outubro. Já entre os eleitores de Dilma, Aécio e Eduardo a maioria declara ter muito ou médio interesse na eleição. Ou seja, quem já se decidiu é o eleitor mais politizado ou que ainda acredita na política. Os demais só vão fazer sua opção quando não tiverem outra saída.
A implicação desses números é que, mantida a tendência histórica, a maioria dos eleitores que aparecem hoje na coluna do branco e nulo vai migrar para algum dos candidatos a presidente no decorrer da campanha eleitoral. Mas para qual?
Raramente para a incumbente. Na pesquisa Ibope de abril, 75% dos eleitores que declararam que votariam em branco ou anulariam escolheram a seguinte frase para descrever sua opinião sobre Dilma: "Não votaria nela de jeito nenhum para presidente". Apenas 12% admitiram a possibilidade de votar na petista. O resto não soube responder ou não a conhece o suficiente.
Se não será majoritariamente para Dilma, para quem, então, migrarão os eleitores insatisfeitos? Aécio Neves e Eduardo Campos têm chances equivalentes entre si, mas não muito maiores do que a presidente: 63% dos antitudo não votariam de jeito nenhum no tucano, e 61% dizem o mesmo sobre o pernambucano.
O problema parece estar também na imagem dos candidatos de oposição, ambos netos e herdeiros de políticos tradicionais. Mesmo mais conhecida do que Eduardo e Aécio, Marina Silva teria, se candidata, menor rejeição entre os insatisfeitos. Só 53% dos antitudo se dizem também anti-Marina. Entre eles, ela vai melhor até do que Lula, que alcança 60% de rejeição nesse grupo.
A rejeição maior a Dilma indica que alguém da oposição teria mais chances de conquistar o voto dos insatisfeitos. Mas não só.
CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari comparou o perfil dos eleitores que declaram voto na presidente, na oposição e em ninguém. Da geografia à escolaridade, passando por renda, cor e religião do eleitor, quem diz que votaria nulo ou em branco é muito mais parecido com o eleitor oposicionista do que com quem declara voto em Dilma. É o que basta? Depende da presidente.
Se confiar apenas na aritmética e não conquistar parte dos antitudo, Dilma deve desocupar o Planalto antes do previsto.
Perdendo o respeito - VALDO CRUZ
FOLHA DE SP - 28/04
BRASÍLIA - A liturgia do poder diz que algo anda errado quando um visitante, convidado ao palácio, não poupa de críticas seu anfitrião. Pior quando os áulicos presentes ao salão não escondem sua satisfação com o desconforto do chefe.
Pois tal cena se deu em pleno Palácio do Planalto, durante recente reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão, que reúne governo, empresários e sindicalistas para debater os rumos do país.
Presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, Ubiraci Oliveira, para surpresa dos presentes, disparou críticas ao governo.
Protestou contra promessas não cumpridas de verbas para mobilidade urbana. "O governo foi à TV em junho passado e apresentou um investimento de R$ 50 bilhões. Mas o que estou observando é que, de lá para cá, a situação não melhorou."
Disse mais. "Enquanto isso, corte no Orçamento para fazer superavit, taxa de juros nas alturas e exorbitantes transferências de recursos ao exterior para pagamento de juros aos bancos estrangeiros."
Dilma, na mesa principal, ouvia a tudo de semblante carregado. Na plateia, ministros e assessores faziam, protegidos dos olhares da chefe, gestos de concordância. Teve quem sorrisse de satisfação. Talvez nem tanto pelo conteúdo, mas pela coragem do convidado.
Ao final, Ubiraci foi efusivamente cumprimentado por colegas do Conselhão. Um empresário disse: "Mandou bem". Da anfitriã, ganhou um aperto de mão seco.
O sindicalista lavou a alma de muito assessor que já não aguenta mais as descomposturas da chefe e de empresários que se cansaram do jeito sabe tudo de Dilma.
Enfim, o estilo irascível da petista só joga contra ela própria. Leva ao isolamento --tem ministro que hoje prefere evitar o Planalto-- e sufoca a criatividade de sua equipe. Algo que não combina nem um pouco com a boa governança.
Jornalismo com alma - CARLOS ALBERTO DI FRANCO
O Estado de S.Paulo - 28/04
Antes da era digital, em quase todas as famílias existia um álbum de fotos ou uma caixa de sapatos cheia de fotografias. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos. Muitas vezes abríamos o álbum ou a caixa e a imaginação voava. Era bem legal.
Agora, fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nossa antiga caixa de sapatos foi substituída pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos. Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada momento com intensidade.
Algo análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersam a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre. É preciso olhar para trás para dar saltos consistentes.
"Hoje", dizia Nelson Rodrigues, "ninguém imagina o que eram as velhas gerações românticas da imprensa. Mudaram o jornal e o leitor. No ano passado, houve uma chuva inédita, uma chuva bíblica, flagelando a cidade. Desde Estácio de Sá não víamos nada parecido. E todo mundo morreu e desabou, e se afogou, menos o repórter. Não houve uma única baixa na reportagem. Fez-se toda a cobertura do dilúvio e ninguém ficou resfriado, ninguém espirrou, ninguém apanhou uma reles coriza. Por aí se vê que há, entre a nossa imprensa moderna e o fato, uma distância fatal. O repórter age e reage como um marginal do acontecimento. Antigamente, não. Antigamente, o profissional sofria o fato na carne e na alma."
Jornalismo sem alma. É o diagnóstico de uma doença que contamina inúmeras redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar o seu modelo e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento.
É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis, transformam um princípio irretocável num jogo de aparência.
A apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada, hermético e dogmático, convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
Sucumbe-se, frequentemente, ao politicamente correto. Certas matérias, algemadas por chavões inconsistentes que há muito deveriam ter sido banidos das redações, mostram o flagrante descompasso entre essas interpretações e a força eloquente dos números e dos fatos. Resultado: a credibilidade, verdadeiro capital de um veículo, se esvai pelo ralo dos preconceitos.
A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade. A incompetência foge dos bancos de dados. Na falta de pergunta inteligente, a ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro, burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. Quando editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é expulsa pela ditadura do deadline, quando as pautas não nascem da vida real, mas de pauteiros anestesiados pelo clima rarefeito das redações, é preciso ter a coragem de repensar todos os processos.
Autor do mais famoso livro sobre a história do jornal The New York Times, Gay Talese vê alguns problemas a partir da crise que atingiu um dos jornais mais influentes do mundo. Embora faça uma vibrante defesa do Times, "uma instituição que está no negócio há mais de cem anos", Talese põe o dedo em algumas chagas que, no fundo, não são exclusividade do diário americano. Elas ameaçam, de fato, a credibilidade da própria imprensa. "Não fazemos matéria direito, porque a reportagem se tornou muito tática, confiando em e-mail, telefones, gravações. Não é cara a cara. Quando eu era repórter, nunca usava o telefone. Queria ver o rosto das pessoas. Não se anda na rua, não se pega o metrô ou um ônibus, um avião, não se vê, cara a cara, a pessoa com quem se está conversando", conclui Talese.
O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.
Antes da era digital, em quase todas as famílias existia um álbum de fotos ou uma caixa de sapatos cheia de fotografias. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos. Muitas vezes abríamos o álbum ou a caixa e a imaginação voava. Era bem legal.
Agora, fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nossa antiga caixa de sapatos foi substituída pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos. Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada momento com intensidade.
Algo análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersam a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre. É preciso olhar para trás para dar saltos consistentes.
"Hoje", dizia Nelson Rodrigues, "ninguém imagina o que eram as velhas gerações românticas da imprensa. Mudaram o jornal e o leitor. No ano passado, houve uma chuva inédita, uma chuva bíblica, flagelando a cidade. Desde Estácio de Sá não víamos nada parecido. E todo mundo morreu e desabou, e se afogou, menos o repórter. Não houve uma única baixa na reportagem. Fez-se toda a cobertura do dilúvio e ninguém ficou resfriado, ninguém espirrou, ninguém apanhou uma reles coriza. Por aí se vê que há, entre a nossa imprensa moderna e o fato, uma distância fatal. O repórter age e reage como um marginal do acontecimento. Antigamente, não. Antigamente, o profissional sofria o fato na carne e na alma."
Jornalismo sem alma. É o diagnóstico de uma doença que contamina inúmeras redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar o seu modelo e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento.
É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis, transformam um princípio irretocável num jogo de aparência.
A apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada, hermético e dogmático, convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
Sucumbe-se, frequentemente, ao politicamente correto. Certas matérias, algemadas por chavões inconsistentes que há muito deveriam ter sido banidos das redações, mostram o flagrante descompasso entre essas interpretações e a força eloquente dos números e dos fatos. Resultado: a credibilidade, verdadeiro capital de um veículo, se esvai pelo ralo dos preconceitos.
A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade. A incompetência foge dos bancos de dados. Na falta de pergunta inteligente, a ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro, burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. Quando editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é expulsa pela ditadura do deadline, quando as pautas não nascem da vida real, mas de pauteiros anestesiados pelo clima rarefeito das redações, é preciso ter a coragem de repensar todos os processos.
Autor do mais famoso livro sobre a história do jornal The New York Times, Gay Talese vê alguns problemas a partir da crise que atingiu um dos jornais mais influentes do mundo. Embora faça uma vibrante defesa do Times, "uma instituição que está no negócio há mais de cem anos", Talese põe o dedo em algumas chagas que, no fundo, não são exclusividade do diário americano. Elas ameaçam, de fato, a credibilidade da própria imprensa. "Não fazemos matéria direito, porque a reportagem se tornou muito tática, confiando em e-mail, telefones, gravações. Não é cara a cara. Quando eu era repórter, nunca usava o telefone. Queria ver o rosto das pessoas. Não se anda na rua, não se pega o metrô ou um ônibus, um avião, não se vê, cara a cara, a pessoa com quem se está conversando", conclui Talese.
O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.
Próximo ao totalitarismo - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 28/04
É lamentável que, nos governos do PT, o Brasil, líder da América Latina, tenha perdido a capacidade crítica em relação ao chavismo. Isto se deu pela adoção da “diplomacia companheira”, relacionamento pautado mais por afinidade ideológica do que pelas tradicionais linhas da política externa brasileira. Não que estas devam ser imutáveis, mas a mudança foi para pior.
Em nome de uma frente ideológica comum e da retomada de superados conceitos e bandeiras da esquerda, o governo brasileiro passou a considerar “democrático” o regime chavista, que mantém apenas algumas características formais desse sistema de governo, mas, no essencial, se aproxima muito mais do velho caudilhismo e do totalitarismo.
A Venezuela e discípulos — Bolívia, Equador, Nicarágua — mantêm instituições análogas aos poderes Legislativo e Judiciário. Só que esvaziadas de suas prerrogativas republicanas. Isto se deve à adoção por Hugo Chávez e seguidores, do “kit bolivariano”, um conjunto de ações capaz de criar um regime sob medida para o Poder Executivo.
Os chavistas dizem que o caráter democrático é atestado pela realização de eleições. Mas não mencionam que o primeiro item do tal kit é a adoção de um forte discurso nacional-populista, capaz de angariar votos para vencer o referendo, que é o segundo item do kit. Através dele, se aprova a instalação de uma constituinte capaz de transformar as instituições democráticas, que as tinha a Venezuela, em organismos submissos ao Executivo. Instaura-se o cesarismo.
Na Venezuela, os partidos políticos tradicionais foram banidos e virtualmente instituiu-se o partido único, tal a superioridade do governista PSUV. Garantiu-se, assim, o beneplácito da Assembleia Nacional aos projetos chavistas. E a composição do Judiciário ficou à mercê do Executivo, assegurando-lhe vantagem no exame de relevantes questões nacionais.
Este arranjo político foi feito para possibilitar a colocação em prática do projeto chavista, ineficiente e burocrático, pois calcado numa gigantesca intervenção estatal em todos os quadrantes da vida do país. Não se pode dizer que, no início, não houve avanços, sobretudo na redução da pobreza. Mas houve retrocessos demais. Basta dizer que um dos países mais ricos do mundo em petróleo está arruinado, importa quase tudo que consome, pouco produz, deixou a infraestrutura se deteriorar e sofre com o desabastecimento — a população tem enorme dificuldade para comprar alimentos e produtos básicos —, e uma criminalidade em ascensão. Caracas é hoje a segunda cidade mais violenta do mundo.
Gestões da Unasul, capitaneadas pelo Brasil, tentam hoje uma saída para a profunda divisão política do país. Mas o governo brasileiro agiu mal ao deixar que a situação chegasse a tal ponto. Ao invés de suspender o Paraguai do Mercosul para dar vez à Venezuela, deveria ter invocado a cláusula democrática do bloco para mostrar que só seriam aceitos países com sua democracia em dia. Mas democracia de fato.
É lamentável que, nos governos do PT, o Brasil, líder da América Latina, tenha perdido a capacidade crítica em relação ao chavismo. Isto se deu pela adoção da “diplomacia companheira”, relacionamento pautado mais por afinidade ideológica do que pelas tradicionais linhas da política externa brasileira. Não que estas devam ser imutáveis, mas a mudança foi para pior.
Em nome de uma frente ideológica comum e da retomada de superados conceitos e bandeiras da esquerda, o governo brasileiro passou a considerar “democrático” o regime chavista, que mantém apenas algumas características formais desse sistema de governo, mas, no essencial, se aproxima muito mais do velho caudilhismo e do totalitarismo.
A Venezuela e discípulos — Bolívia, Equador, Nicarágua — mantêm instituições análogas aos poderes Legislativo e Judiciário. Só que esvaziadas de suas prerrogativas republicanas. Isto se deve à adoção por Hugo Chávez e seguidores, do “kit bolivariano”, um conjunto de ações capaz de criar um regime sob medida para o Poder Executivo.
Os chavistas dizem que o caráter democrático é atestado pela realização de eleições. Mas não mencionam que o primeiro item do tal kit é a adoção de um forte discurso nacional-populista, capaz de angariar votos para vencer o referendo, que é o segundo item do kit. Através dele, se aprova a instalação de uma constituinte capaz de transformar as instituições democráticas, que as tinha a Venezuela, em organismos submissos ao Executivo. Instaura-se o cesarismo.
Na Venezuela, os partidos políticos tradicionais foram banidos e virtualmente instituiu-se o partido único, tal a superioridade do governista PSUV. Garantiu-se, assim, o beneplácito da Assembleia Nacional aos projetos chavistas. E a composição do Judiciário ficou à mercê do Executivo, assegurando-lhe vantagem no exame de relevantes questões nacionais.
Este arranjo político foi feito para possibilitar a colocação em prática do projeto chavista, ineficiente e burocrático, pois calcado numa gigantesca intervenção estatal em todos os quadrantes da vida do país. Não se pode dizer que, no início, não houve avanços, sobretudo na redução da pobreza. Mas houve retrocessos demais. Basta dizer que um dos países mais ricos do mundo em petróleo está arruinado, importa quase tudo que consome, pouco produz, deixou a infraestrutura se deteriorar e sofre com o desabastecimento — a população tem enorme dificuldade para comprar alimentos e produtos básicos —, e uma criminalidade em ascensão. Caracas é hoje a segunda cidade mais violenta do mundo.
Gestões da Unasul, capitaneadas pelo Brasil, tentam hoje uma saída para a profunda divisão política do país. Mas o governo brasileiro agiu mal ao deixar que a situação chegasse a tal ponto. Ao invés de suspender o Paraguai do Mercosul para dar vez à Venezuela, deveria ter invocado a cláusula democrática do bloco para mostrar que só seriam aceitos países com sua democracia em dia. Mas democracia de fato.
Um recorde inconveniente - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 28/04
Minimizar a importância de más notícias tem sido hábito constante e crescente de nossas autoridades, principalmente as da equipe econômica. Mas, por mais que se queira fazer pouco do que ocorre nas contas externas do país, não dá para não se preocupar com os resultados do primeiro trimestre. O Brasil acaba de conhecer um recorde incômodo: o deficit em transações correntes - que inclui as exportações e importações de mercadorias, a compra e venda de serviços e as chamadas transferências unilaterais (como as remessas de lucros e doações) - somou US$ 25,18 bilhões.
Não é pouca coisa. Trata-se do maior rombo nessa conta em toda a sua série histórica, iniciada em 1947 (há 66 anos). Significa que os negócios do Brasil com o resto do mundo estão desequilibrados, como ocorre com o trabalhador que anda comprando mais do que pode comprar só com o salário, sem, portanto, a ajuda do crediário ou, pior ainda, do cartão de crédito.
Além dessa constatação, há dois aspectos que só aumentam a gravidade desse mau desempenho do país. Internacionalmente, é aceito que um país em desenvolvimento, em determinados momentos e sob certas circunstâncias, acumule deficit em transações correntes que não ultrapasse valor correspondente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado negativo do trimestre bateu em 3,7%. Não quer dizer que essa proporção será mantida o ano todo, mas acende, ou deveria acender, luz amarela nos painéis de controle dos responsáveis pela política econômica.
O segundo aspecto é como cobrir esse deficit. No caso do trabalhador, o "buraco" foi pelo carnê de prestações e pelo parcelamento do cartão. No caso do país, pode ser coberto de duas maneiras. A mais saudável delas, pela entrada de investimentos estrangeiros não especulativos no país. A mais cara, por meio do endividamento, seja pela emissão de títulos do governo, seja por contratos de empréstimos e financiamentos. Foi por abusar dessa segunda modalidade que o Brasil, nos anos do milagre econômico, atolou-se em dívidas que o levaram a declarar moratória (default).
Superada a má fase e tendo adotado políticas de controle fiscal e da inflação, o Brasil voltou a ser confiável, a atrair capitais na forma de investimentos diretos em empresas, principalmente no período anterior à crise mundial de 2008. Hoje, essas entradas de recursos não se dão mais na proporção desejada, e o deficit em transações do trimestre não pode ser coberto por esses investimentos.
Resta apelar para o financiamento, e é aí que entram as agências classificadoras de risco. Dependendo da avaliação delas, o país pode pagar mais caro e até nem conseguir o empréstimo. É, portanto, urgente que o Brasil melhore seu desempenho comercial. É preciso acelerar acordos comerciais com países capazes de comprar e pagar por nossas mercadorias e, é claro, adotar políticas de aumento da competitividade da economia, ou seja, reduzir a carga tributária, investir o quanto antes em infraestrutura e modernizar a legislação que rege as atividades produtivas.
Não é pouca coisa. Trata-se do maior rombo nessa conta em toda a sua série histórica, iniciada em 1947 (há 66 anos). Significa que os negócios do Brasil com o resto do mundo estão desequilibrados, como ocorre com o trabalhador que anda comprando mais do que pode comprar só com o salário, sem, portanto, a ajuda do crediário ou, pior ainda, do cartão de crédito.
Além dessa constatação, há dois aspectos que só aumentam a gravidade desse mau desempenho do país. Internacionalmente, é aceito que um país em desenvolvimento, em determinados momentos e sob certas circunstâncias, acumule deficit em transações correntes que não ultrapasse valor correspondente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado negativo do trimestre bateu em 3,7%. Não quer dizer que essa proporção será mantida o ano todo, mas acende, ou deveria acender, luz amarela nos painéis de controle dos responsáveis pela política econômica.
O segundo aspecto é como cobrir esse deficit. No caso do trabalhador, o "buraco" foi pelo carnê de prestações e pelo parcelamento do cartão. No caso do país, pode ser coberto de duas maneiras. A mais saudável delas, pela entrada de investimentos estrangeiros não especulativos no país. A mais cara, por meio do endividamento, seja pela emissão de títulos do governo, seja por contratos de empréstimos e financiamentos. Foi por abusar dessa segunda modalidade que o Brasil, nos anos do milagre econômico, atolou-se em dívidas que o levaram a declarar moratória (default).
Superada a má fase e tendo adotado políticas de controle fiscal e da inflação, o Brasil voltou a ser confiável, a atrair capitais na forma de investimentos diretos em empresas, principalmente no período anterior à crise mundial de 2008. Hoje, essas entradas de recursos não se dão mais na proporção desejada, e o deficit em transações do trimestre não pode ser coberto por esses investimentos.
Resta apelar para o financiamento, e é aí que entram as agências classificadoras de risco. Dependendo da avaliação delas, o país pode pagar mais caro e até nem conseguir o empréstimo. É, portanto, urgente que o Brasil melhore seu desempenho comercial. É preciso acelerar acordos comerciais com países capazes de comprar e pagar por nossas mercadorias e, é claro, adotar políticas de aumento da competitividade da economia, ou seja, reduzir a carga tributária, investir o quanto antes em infraestrutura e modernizar a legislação que rege as atividades produtivas.
Caridade com chapéu alheio - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 28/04
Desde o grande terremoto que devastou o Haiti, em 2010, o Acre se converteu na principal porta de entrada de um significativo fluxo de imigrantes haitianos ilegais. O direito internacional e a lei brasileira não reconhecem esses clandestinos como refugiados - e, portanto, como candidatos a visto permanente. Mas o governo federal petista criou instrumentos para regularizar a presença deles no País e decidiu não repatriar aqueles que entram de forma irregular, o que serve como um convite para a imigração em massa. Já chegam a 20 mil os haitianos que ingressaram no Brasil pelo Acre. Como as cidades acrianas que os receberam não têm condições de suportar esse aumento populacional, o governo estadual encontrou uma forma simples de resolver o problema: enviar os haitianos para outros Estados.
Nas últimas semanas, 400 deles chegaram a São Paulo - sem nenhum aviso prévio por parte do governo acriano, que financiou as viagens, feitas inclusive em aviões da Força Aérea Brasileira. A maioria procurou a ajuda de parentes e amigos que já vivem na capital paulista, mas 100 deles pediram abrigo na Casa do Migrante, no Glicério. Mantido pelos padres da Igreja Nossa Senhora da Paz, o local tem capacidade para apenas 100 pessoas. A situação dos imigrantes é, portanto, precária.
Com razão, a secretária paulista de Justiça e Defesa da Cidadania, Eloisa de Souza Arruda, se mostrou indignada. Chamou de "desleal" o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, por não tê-la informado antes sobre o embarque dos haitianos. "Esse secretário Nilson Mourão não procurou seu equivalente em São Paulo, que, por acaso, sou eu, para providenciar os cuidados adequados. Procurou o padre da pastoral e avisou que 'alguns' haitianos chegariam aqui. Chegaram 400", queixou-se Eloisa. Para ela, "nos padrões internacionais, isso poderia ser classificado como deportação forçada".
Como resposta, o governo acriano, que é do PT, apontou um "viés político" na reação da administração tucana de São Paulo. Para o secretário Mourão, os paulistas tentam "transformar um problema humanitário, de tão fácil solução para o Estado mais rico da Federação, em uma crise". Já o governador Tião Viana preferiu dizer, numa argumentação rasteira, que a reclamação é fruto de racismo da "elite paulista", que quer "assegurar seu território livre de imigrantes do Haiti".
Ao contrário do que dizem os petistas, o problema não se resolveria com a caridade do "Estado mais rico" do País. A situação chegou ao ponto atual graças à inabilidade do governo federal. Em lugar de lidar com os imigrantes ilegais conforme a legislação em vigor, segundo a qual o deslocamento por desastre natural não configura motivo para a concessão de visto de refugiado, a administração petista inventou um instrumento improvisado chamado "visto humanitário".
A intenção do governo era mostrar que o Brasil, na era petista, era diferente dos países ricos, que expulsam os imigrantes ilegais. Mas o golpe de propaganda não funcionou. As exigências para obter o tal visto são tantas - passaporte em dia, atestado de bons antecedentes, comprovante de residência e o pagamento de uma taxa de US$ 200, além de um mês de espera para que a documentação seja emitida - que a maioria dos haitianos que pretendem vir ao Brasil prefere pagar aos "coiotes" no Peru e no Equador para ajudá-los a entrar clandestinamente no País.
Como a situação no Acre tornou-se insustentável graças a essa política tão marqueteira quanto desastrada, o governo petista local preferiu a solução "provisória, paliativa e descoordenada", nas palavras de Camila Asano, da ONG de direitos humanos Conectas: livrar-se dos imigrantes.
A crise gerada pela imigração em massa dos haitianos no Norte do Brasil não pode ser agravada por políticas irresponsáveis dos governos envolvidos. É preciso ter consciência dos deveres humanitários, mas também é preciso saber que as leis que limitam a entrada de estrangeiros devem ser cumpridas, pois o preço a ser pago pela leniência travestida de solidariedade é rateado por toda a sociedade.
Desde o grande terremoto que devastou o Haiti, em 2010, o Acre se converteu na principal porta de entrada de um significativo fluxo de imigrantes haitianos ilegais. O direito internacional e a lei brasileira não reconhecem esses clandestinos como refugiados - e, portanto, como candidatos a visto permanente. Mas o governo federal petista criou instrumentos para regularizar a presença deles no País e decidiu não repatriar aqueles que entram de forma irregular, o que serve como um convite para a imigração em massa. Já chegam a 20 mil os haitianos que ingressaram no Brasil pelo Acre. Como as cidades acrianas que os receberam não têm condições de suportar esse aumento populacional, o governo estadual encontrou uma forma simples de resolver o problema: enviar os haitianos para outros Estados.
Nas últimas semanas, 400 deles chegaram a São Paulo - sem nenhum aviso prévio por parte do governo acriano, que financiou as viagens, feitas inclusive em aviões da Força Aérea Brasileira. A maioria procurou a ajuda de parentes e amigos que já vivem na capital paulista, mas 100 deles pediram abrigo na Casa do Migrante, no Glicério. Mantido pelos padres da Igreja Nossa Senhora da Paz, o local tem capacidade para apenas 100 pessoas. A situação dos imigrantes é, portanto, precária.
Com razão, a secretária paulista de Justiça e Defesa da Cidadania, Eloisa de Souza Arruda, se mostrou indignada. Chamou de "desleal" o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, por não tê-la informado antes sobre o embarque dos haitianos. "Esse secretário Nilson Mourão não procurou seu equivalente em São Paulo, que, por acaso, sou eu, para providenciar os cuidados adequados. Procurou o padre da pastoral e avisou que 'alguns' haitianos chegariam aqui. Chegaram 400", queixou-se Eloisa. Para ela, "nos padrões internacionais, isso poderia ser classificado como deportação forçada".
Como resposta, o governo acriano, que é do PT, apontou um "viés político" na reação da administração tucana de São Paulo. Para o secretário Mourão, os paulistas tentam "transformar um problema humanitário, de tão fácil solução para o Estado mais rico da Federação, em uma crise". Já o governador Tião Viana preferiu dizer, numa argumentação rasteira, que a reclamação é fruto de racismo da "elite paulista", que quer "assegurar seu território livre de imigrantes do Haiti".
Ao contrário do que dizem os petistas, o problema não se resolveria com a caridade do "Estado mais rico" do País. A situação chegou ao ponto atual graças à inabilidade do governo federal. Em lugar de lidar com os imigrantes ilegais conforme a legislação em vigor, segundo a qual o deslocamento por desastre natural não configura motivo para a concessão de visto de refugiado, a administração petista inventou um instrumento improvisado chamado "visto humanitário".
A intenção do governo era mostrar que o Brasil, na era petista, era diferente dos países ricos, que expulsam os imigrantes ilegais. Mas o golpe de propaganda não funcionou. As exigências para obter o tal visto são tantas - passaporte em dia, atestado de bons antecedentes, comprovante de residência e o pagamento de uma taxa de US$ 200, além de um mês de espera para que a documentação seja emitida - que a maioria dos haitianos que pretendem vir ao Brasil prefere pagar aos "coiotes" no Peru e no Equador para ajudá-los a entrar clandestinamente no País.
Como a situação no Acre tornou-se insustentável graças a essa política tão marqueteira quanto desastrada, o governo petista local preferiu a solução "provisória, paliativa e descoordenada", nas palavras de Camila Asano, da ONG de direitos humanos Conectas: livrar-se dos imigrantes.
A crise gerada pela imigração em massa dos haitianos no Norte do Brasil não pode ser agravada por políticas irresponsáveis dos governos envolvidos. É preciso ter consciência dos deveres humanitários, mas também é preciso saber que as leis que limitam a entrada de estrangeiros devem ser cumpridas, pois o preço a ser pago pela leniência travestida de solidariedade é rateado por toda a sociedade.
À espera de um ajuste - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE S. PAULO - 28/04
Calmaria no mercado de trabalho é mais um sinal de que economia se deteriora de modo lento e gradual, com reflexos diretos no cotidiano
Uma calmaria abateu-se sobre o mercado de trabalho no primeiro trimestre deste ano. Como em tantos aspectos da vida econômica que dizem mais respeito ao cotidiano da população, como no caso do consumo ou da renda, não se detecta piora, mas avanços cada vez mais vagarosos --ou estagnação.
O número de empregados deixou de crescer nas regiões metropolitanas. O emprego formal cresce com mais vagar. Um setor importante da cadeia industrial, as montadoras de veículos, começa a dispensar funcionários.
No entanto, a taxa de desemprego é historicamente baixa. A renda média dos trabalhadores cresce ainda bem acima da inflação.
Tal balanço tem algo de extraordinário, pois o país cresceu de modo modestíssimo no último triênio, sem perspectiva de aceleração para este 2014 e para o ano seguinte.
A taxa de desemprego é a proporção daqueles que procuram trabalho, mas não encontram colocação. Não tem aumentado, em especial porque jovens de 18 a 24 anos optam por apenas estudar, dadas oportunidades maiores de financiar seu curso universitário e a melhoria de renda de suas famílias.
A oferta de trabalho não tem diminuído, embora pareça estagnar, porque empresas preferem represar trabalhadores treinados e qualificados, atitude facilitada em parte pela redução de custos trabalhistas devido à desoneração de impostos sobre a folha de pagamentos.
Parece difícil, porém, que tal situação perdure. Os custos salariais em alta pressionam a inflação, o que resulta em taxas de juros maiores, o que acabará por arrefecer mais a atividade econômica.
Os indicadores de confiança do consumidor e do cidadão estão nos níveis mais fracos desde a crise de 2009. O brasileiro ressente-se da inflação persistente e de dificuldades algo maiores de encontrar trabalho e obter reajustes salariais.
A manutenção do emprego em alguns setores, em especial da indústria, parece depender de novas medidas de estímulo financiadas por impostos, reivindicação de montadoras e metalúrgicos. Mas o governo só pode dar tais incentivos se permitir deterioração ainda maior das contas, grande empecilho à aceleração do crescimento.
Excetuadas as hipóteses de acidente grave na economia mundial ou de gesto tresloucado das autoridades econômicas, o incremento do desemprego não será crítico, ao menos neste ano.
Deve persistir, no horizonte visível, o equilíbrio medíocre de baixo crescimento, inflação no limite e desemprego baixo, insustentável no médio prazo. A alta de preços ou o excesso de gastos externos implicarão algum ajuste e um ciclo de alta do desemprego.
Enquanto o ajuste não vem, o ambiente econômico se deteriora de modo lento e gradual, com reflexos no cotidiano, percebidos pelo cidadão comum desde meados do ano passado. Não há crise. Mas a paciência se esvai, ainda que a conta-gotas.
O número de empregados deixou de crescer nas regiões metropolitanas. O emprego formal cresce com mais vagar. Um setor importante da cadeia industrial, as montadoras de veículos, começa a dispensar funcionários.
No entanto, a taxa de desemprego é historicamente baixa. A renda média dos trabalhadores cresce ainda bem acima da inflação.
Tal balanço tem algo de extraordinário, pois o país cresceu de modo modestíssimo no último triênio, sem perspectiva de aceleração para este 2014 e para o ano seguinte.
A taxa de desemprego é a proporção daqueles que procuram trabalho, mas não encontram colocação. Não tem aumentado, em especial porque jovens de 18 a 24 anos optam por apenas estudar, dadas oportunidades maiores de financiar seu curso universitário e a melhoria de renda de suas famílias.
A oferta de trabalho não tem diminuído, embora pareça estagnar, porque empresas preferem represar trabalhadores treinados e qualificados, atitude facilitada em parte pela redução de custos trabalhistas devido à desoneração de impostos sobre a folha de pagamentos.
Parece difícil, porém, que tal situação perdure. Os custos salariais em alta pressionam a inflação, o que resulta em taxas de juros maiores, o que acabará por arrefecer mais a atividade econômica.
Os indicadores de confiança do consumidor e do cidadão estão nos níveis mais fracos desde a crise de 2009. O brasileiro ressente-se da inflação persistente e de dificuldades algo maiores de encontrar trabalho e obter reajustes salariais.
A manutenção do emprego em alguns setores, em especial da indústria, parece depender de novas medidas de estímulo financiadas por impostos, reivindicação de montadoras e metalúrgicos. Mas o governo só pode dar tais incentivos se permitir deterioração ainda maior das contas, grande empecilho à aceleração do crescimento.
Excetuadas as hipóteses de acidente grave na economia mundial ou de gesto tresloucado das autoridades econômicas, o incremento do desemprego não será crítico, ao menos neste ano.
Deve persistir, no horizonte visível, o equilíbrio medíocre de baixo crescimento, inflação no limite e desemprego baixo, insustentável no médio prazo. A alta de preços ou o excesso de gastos externos implicarão algum ajuste e um ciclo de alta do desemprego.
Enquanto o ajuste não vem, o ambiente econômico se deteriora de modo lento e gradual, com reflexos no cotidiano, percebidos pelo cidadão comum desde meados do ano passado. Não há crise. Mas a paciência se esvai, ainda que a conta-gotas.
Retrato do Judiciário - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 28/04
Um país que leva mais de duas décadas para concluir um caso como o do ex-presidente Fernando Collor ainda vai demorar algum tempo até se livrar da imagem de impunidade.
No último capítulo das acusações de corrupção que culminaram na sua inédita deposição por impeachment em 1992, o ex-presidente Fernando Collor foi absolvido na última quinta-feira, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), das acusações de desviar verbas públicas por meio de contratos de publicidade. Mais do que a absolvição, por unanimidade, o que chama a atenção é o período de mais de duas décadas transcorrido entre a acusação e o julgamento. Não há maior atestado de impunidade do que uma demora dessas, que chegou a ser definida como “um retrato de como funciona a Justiça criminal brasileira, com tropeços, com mil dificuldades”, pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa. Um retrato em que os brasileiros, de fato, veem claramente uma das razões para o fato de o país ser tão associado à impunidade.
A demora foi tanta, que os crimes de corrupção passiva e falsidade ideológica, pelos quais o ex-presidente havia sido denunciado, além de peculato, já estavam prescritos. E, mesmo assim, alguns ministros fizeram questão de recorrer a uma espécie de desagravo, declarando a inocência do réu. Mais do que um retrato do Brasil, o desfecho desse que é um dos mais conhecidos casos de desmandos na administração pública, ao ponto de ter levado à renúncia de um presidente eleito, mostra o quanto as instituições brasileiras ainda precisam avançar para tornar sua Justiça mais efetiva. Como lembrou o ministro Luís Roberto Barroso, “punir alguém em 2014 por fatos ocorridos em 1991 é quase como punir outra pessoa”.
A denúncia do Ministério Público foi recebida na Justiça comum em 2000 e o caso chegou ao STF em 2007. A relatora, ministra Cármen Lúcia, ficou com o processo parado por quatro anos em seu gabinete e, por isso, fez questão de ressaltar que a denúncia do Ministério Público ocorreu quase uma década depois do registro dos fatos. Além disso, queixou-se de que a denúncia não poderia ser tratada como “um primor de peça”, por estar repleta de inconsistências e carente de provas.
O ex-presidente Fernando Collor só foi punido politicamente, optando pela renúncia na tentativa de escapar do processo de impeachment, porque parcelas expressivas da população saíram às ruas exigindo sua responsabilização. A exemplo do que ocorreu agora, o hoje senador pelo PTB foi absolvido em todos os processos pela inconsistência das provas. Ainda assim, esse é um episódio para ser lembrado pela morosidade. Um país que leva mais de duas décadas para concluir um caso como o do ex-presidente Fernando Collor ainda vai demorar algum tempo até se livrar da imagem de impunidade.
Um país que leva mais de duas décadas para concluir um caso como o do ex-presidente Fernando Collor ainda vai demorar algum tempo até se livrar da imagem de impunidade.
No último capítulo das acusações de corrupção que culminaram na sua inédita deposição por impeachment em 1992, o ex-presidente Fernando Collor foi absolvido na última quinta-feira, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), das acusações de desviar verbas públicas por meio de contratos de publicidade. Mais do que a absolvição, por unanimidade, o que chama a atenção é o período de mais de duas décadas transcorrido entre a acusação e o julgamento. Não há maior atestado de impunidade do que uma demora dessas, que chegou a ser definida como “um retrato de como funciona a Justiça criminal brasileira, com tropeços, com mil dificuldades”, pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa. Um retrato em que os brasileiros, de fato, veem claramente uma das razões para o fato de o país ser tão associado à impunidade.
A demora foi tanta, que os crimes de corrupção passiva e falsidade ideológica, pelos quais o ex-presidente havia sido denunciado, além de peculato, já estavam prescritos. E, mesmo assim, alguns ministros fizeram questão de recorrer a uma espécie de desagravo, declarando a inocência do réu. Mais do que um retrato do Brasil, o desfecho desse que é um dos mais conhecidos casos de desmandos na administração pública, ao ponto de ter levado à renúncia de um presidente eleito, mostra o quanto as instituições brasileiras ainda precisam avançar para tornar sua Justiça mais efetiva. Como lembrou o ministro Luís Roberto Barroso, “punir alguém em 2014 por fatos ocorridos em 1991 é quase como punir outra pessoa”.
A denúncia do Ministério Público foi recebida na Justiça comum em 2000 e o caso chegou ao STF em 2007. A relatora, ministra Cármen Lúcia, ficou com o processo parado por quatro anos em seu gabinete e, por isso, fez questão de ressaltar que a denúncia do Ministério Público ocorreu quase uma década depois do registro dos fatos. Além disso, queixou-se de que a denúncia não poderia ser tratada como “um primor de peça”, por estar repleta de inconsistências e carente de provas.
O ex-presidente Fernando Collor só foi punido politicamente, optando pela renúncia na tentativa de escapar do processo de impeachment, porque parcelas expressivas da população saíram às ruas exigindo sua responsabilização. A exemplo do que ocorreu agora, o hoje senador pelo PTB foi absolvido em todos os processos pela inconsistência das provas. Ainda assim, esse é um episódio para ser lembrado pela morosidade. Um país que leva mais de duas décadas para concluir um caso como o do ex-presidente Fernando Collor ainda vai demorar algum tempo até se livrar da imagem de impunidade.
Um déficit preocupante - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 28/04
Com um buraco de US$ 6,25 bilhões na conta corrente em março, o Brasil continua exibindo um mau desempenho nas transações internacionais, como indica o relatório sobre o setor externo publicado sexta-feira pelo Banco Central (BC). Os números ficaram próximos dos previstos, segundo o chefe do Departamento Econômico da instituição, Tulio Maciel. Surpresa, mesmo, só ocorrerá se as exportações avançarem, nos próximos meses, muito mais do que indicam as projeções. A piora do comércio exterior, com exportações estagnadas e importações em alta, foi a causa principal da sensível deterioração das contas externas nos últimos anos. Essa é mais uma consequência dos erros acumulados na política econômica e agravados a partir de 2011.
O BC projeta para 2014 um superávit comercial de US$ 8 bilhões, mais que o triplo do contabilizado oficialmente no ano passado (US$ 2,55 bilhões). Ainda será um resultado medíocre. Somado ao saldo positivo previsto para as transferências unilaterais (US$ 3,1 bilhões), ainda será muito inferior ao necessário para compensar o rombo estimado para as contas de serviços e de rendas. O resultado será um déficit de US$ 80 bilhões, muito parecido com o de 2013, de US$ 81,07 bilhões.
Para esse resultado as contas externas ainda terão de melhorar consideravelmente. No primeiro trimestre houve um déficit comercial de US$ 6,07 bilhões e o saldo negativo na conta corrente chegou a US$ 25,19 bilhões, mais um recorde negativo. Em 12 meses o buraco chegou a US$ 81,56 bilhões, soma equivalente a 3,64% do Produto Interno Bruto (PIB).
Desde agosto do ano passado, como lembrou Maciel, esse déficit acumulado em 12 meses tem-se mantido perto de 3,6% do PIB, com pequenas oscilações. Mas a pior notícia é outra. Desde março de 2013 o investimento estrangeiro direto recebido em 12 meses tem sido insuficiente para cobrir o déficit.
A cobertura tem sempre ocorrido sem perda de reservas, mas tem dependido em proporção significativa de outros tipos de financiamento, menos vinculados à produção, mais voláteis e muito mais sujeitos a mudanças repentinas de humor nos mercados financeiros. Capitais destinados a investimentos diretos - novos empreendimentos, capitalização ou compras de empresas - tendem a permanecer muito mais tempo no País. O déficit em conta corrente continua e continuará sendo coberto, insistem os economistas e diretores do BC, sem dificuldades. Mas a qualidade do financiamento, é preciso reconhecer, tem-se deteriorado.
Nos 12 meses terminados em março, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 64,96 bilhões, US$ 16,6 bilhões a menos que o necessário para cobrir o buraco. As projeções para o ano indicam investimentos diretos no valor de US$ 63 bilhões. Recursos de outro tipo serão necessários para compensar os US$ 17 bilhões restantes do déficit em conta corrente.
Com mais de US$ 370 bilhões de reservas cambiais, o governo tem exibido tranquilidade em relação às contas externas. Não há risco iminente, portanto, de crise cambial, embora o previsível aperto no mercado financeiro, em consequência da mudança na política monetária americana, justifique alguma preocupação. Mas o quadro é de fato muito mais preocupante do que as autoridades admitem.
Uma economia saudável e com grandes projetos de investimento pode precisar de recursos externos para sustentar sua demanda total. Nesse caso, a aceleração será facilitada por um déficit em conta corrente - moderado e administrável, naturalmente. Não é o caso do Brasil, onde o excesso de demanda está associado ao consumo tanto privado quanto público. O investimento tem-se mantido muito baixo há muitos anos.
Longe de refletir dinamismo e vigor, o déficit brasileiro em conta corrente é sintoma de uma economia cheia de distorções, com muito mais incentivos ao consumo do que ao investimento, indústria estagnada e um péssimo ambiente de negócios, como indicam todas as pesquisas internacionais de competitividade. Nesse quadro, o buraco em conta corrente é mais um sinal de vulnerabilidade visível para todos, menos, aparentemente, para o governo.
Com um buraco de US$ 6,25 bilhões na conta corrente em março, o Brasil continua exibindo um mau desempenho nas transações internacionais, como indica o relatório sobre o setor externo publicado sexta-feira pelo Banco Central (BC). Os números ficaram próximos dos previstos, segundo o chefe do Departamento Econômico da instituição, Tulio Maciel. Surpresa, mesmo, só ocorrerá se as exportações avançarem, nos próximos meses, muito mais do que indicam as projeções. A piora do comércio exterior, com exportações estagnadas e importações em alta, foi a causa principal da sensível deterioração das contas externas nos últimos anos. Essa é mais uma consequência dos erros acumulados na política econômica e agravados a partir de 2011.
O BC projeta para 2014 um superávit comercial de US$ 8 bilhões, mais que o triplo do contabilizado oficialmente no ano passado (US$ 2,55 bilhões). Ainda será um resultado medíocre. Somado ao saldo positivo previsto para as transferências unilaterais (US$ 3,1 bilhões), ainda será muito inferior ao necessário para compensar o rombo estimado para as contas de serviços e de rendas. O resultado será um déficit de US$ 80 bilhões, muito parecido com o de 2013, de US$ 81,07 bilhões.
Para esse resultado as contas externas ainda terão de melhorar consideravelmente. No primeiro trimestre houve um déficit comercial de US$ 6,07 bilhões e o saldo negativo na conta corrente chegou a US$ 25,19 bilhões, mais um recorde negativo. Em 12 meses o buraco chegou a US$ 81,56 bilhões, soma equivalente a 3,64% do Produto Interno Bruto (PIB).
Desde agosto do ano passado, como lembrou Maciel, esse déficit acumulado em 12 meses tem-se mantido perto de 3,6% do PIB, com pequenas oscilações. Mas a pior notícia é outra. Desde março de 2013 o investimento estrangeiro direto recebido em 12 meses tem sido insuficiente para cobrir o déficit.
A cobertura tem sempre ocorrido sem perda de reservas, mas tem dependido em proporção significativa de outros tipos de financiamento, menos vinculados à produção, mais voláteis e muito mais sujeitos a mudanças repentinas de humor nos mercados financeiros. Capitais destinados a investimentos diretos - novos empreendimentos, capitalização ou compras de empresas - tendem a permanecer muito mais tempo no País. O déficit em conta corrente continua e continuará sendo coberto, insistem os economistas e diretores do BC, sem dificuldades. Mas a qualidade do financiamento, é preciso reconhecer, tem-se deteriorado.
Nos 12 meses terminados em março, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 64,96 bilhões, US$ 16,6 bilhões a menos que o necessário para cobrir o buraco. As projeções para o ano indicam investimentos diretos no valor de US$ 63 bilhões. Recursos de outro tipo serão necessários para compensar os US$ 17 bilhões restantes do déficit em conta corrente.
Com mais de US$ 370 bilhões de reservas cambiais, o governo tem exibido tranquilidade em relação às contas externas. Não há risco iminente, portanto, de crise cambial, embora o previsível aperto no mercado financeiro, em consequência da mudança na política monetária americana, justifique alguma preocupação. Mas o quadro é de fato muito mais preocupante do que as autoridades admitem.
Uma economia saudável e com grandes projetos de investimento pode precisar de recursos externos para sustentar sua demanda total. Nesse caso, a aceleração será facilitada por um déficit em conta corrente - moderado e administrável, naturalmente. Não é o caso do Brasil, onde o excesso de demanda está associado ao consumo tanto privado quanto público. O investimento tem-se mantido muito baixo há muitos anos.
Longe de refletir dinamismo e vigor, o déficit brasileiro em conta corrente é sintoma de uma economia cheia de distorções, com muito mais incentivos ao consumo do que ao investimento, indústria estagnada e um péssimo ambiente de negócios, como indicam todas as pesquisas internacionais de competitividade. Nesse quadro, o buraco em conta corrente é mais um sinal de vulnerabilidade visível para todos, menos, aparentemente, para o governo.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
DEPUTADOS DO PR RETIRAM HOJE O APOIO A DILMA
Sob orientação do dono do PR, o mensaleiro Valdemar da Costa Neto, preso na Papuda em regime semiaberto, a bancada do PR na Câmara deve anunciar nesta segunda rompimento com o governo. Segundo o líder Bernardo Santana (MG), a maioria dos deputados é contrária à reedição da aliança com o PT para reeleger a presidenta Dilma. “Esse governo não é o mesmo que fizemos parte com José Alencar de vice”.
POSIÇÃO MAJORITÁRIA
Após levantamento nos Estados, Bernardo Santana garante que a maioria dos convencionais quer desembarcar do governo Dilma.
QUEM MANDA
O líder afirmou que o rompimento com Dilma tem apoio do “PR de Mogi das Cruzes”, numa referência à cidade de Valdemar da Costa Neto.
FORA DO ACORDO
Na bancada, só Anthony Garotinho – candidato ao governo do Rio – e o governista Luciano Castro (RR) divergem do rompimento com Dilma.
GUARANÁ EM PÓ
Joseph Blatter, chefão da Fifa, pede “otimismo” de brasileiros na Copa. Otimista hoje, no Brasil, é o pessimista que acordou de mau humor.
IMPOSTO DE 25% NO EXTERIOR REVOLTA APOSENTADOS
Cresce nas redes sociais a revolta contra os 25% de imposto de renda cobrados de aposentados e pensionistas do INSS que vivem no exterior em busca de segurança ou da ajuda de parentes. More no Paraguai ou na Suíça, 60 ou 80 anos, ganhe R$ 700 ou o teto, alíquota é implacável e ilegal, contrariando a ordem constitucional de que “todos são iguais perante a lei”. Nem o mais desumano agiota cobraria tanto.
NA ARENA DOS LEÕES
O assalto é duplo, sem o reajuste das aposentadorias acima de um salário, como garantem vários projetos esquecidos no Congresso.
ESPERA DORMINDO
Projeto de lei de alíquota zero tramita na Câmara há mais de um ano, quando começaram os protestos de brasileiros em Portugal e Espanha.
FORÇA DA IDADE
Aposentados do INSS vivendo no exterior querem se unir aos velhinhos no Brasil, para votar contra Dilma em outubro, se o imposto não cair.
CALABOCA, MENINO
Moreira Franco devolveu a ironia do jovem deputado Leonardo Picciani, que disse não saber se o ministro da Aviação Civil ainda está filiado ao PMDB. “Não faço política como brincadeirinha de criança”, alfinetou o ex-governador do Rio. E lembra: “Meu partido não trai aliados”.
TERCEIRA VIA
Com a candidatura de Alexandre Padilha (PT) fazendo água e a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) morrendo de sede, crescem as chances da terceira via, em São Paulo: Paulo Skaf (PMDB).
FORÇA-TAREFA
Os líderes de oposição Antônio Imbassahy (PSDB), Mendonça Filho (DEM), Fernando Francischini (SDD) e Rubens Bueno (PPS-PR) se reunirão na terça (29) para discutir estratégias para a CPI da Petrobras.
FOCO NA CPI
O ‘blocão’ formado por partidos da base aliada e da oposição marcou reunião para esta terça (29) na residência do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ). Na pauta, um único assunto: CPI da Petrobras.
AGORA VAI
Em vez de investir na melhoria da qualidade dos seus serviços, cada vez pior, os Correios resolveu investir alguns milhões na mudança de sua logomarca, que será lançada oficialmente em 6 de maio.
DEMISSÕES COM LOROTA
Menina dos olhos do ex-ministro Alexandre Padilha, o Cartão de Saúde sofreu um baque com a demissão de cinco dos sete integrantes do grupo que toca o projeto. O ministério jura que não haverá prejuízos ao programa e tira o corpo, atribuindo as demissões à terceirizada CTIS.
PIADA PRONTA
Para o líder Beto Albuquerque (PSB), são tantas as contradições entre versões de Dilma, Graça Foster, Sergio Gabrielli e Nestor Cerveró sobre refinaria de Pasadena, que é melhor perguntar no Posto Ipiranga.
COMBINADO
O líder do PSD, Moreira Mendes, acertou os últimos detalhes com o presidente Gilberto Kassab (SP), nesta semana, para sair candidato ao Senado na chapa do tucano Expedito Júnior em Rondônia.
PENSANDO BEM…
…está sem luz o poste do candidato Padilha.
PODER SEM PUDOR
Homenageado exigente
Juarez Távora era homenageado em Jaguaribe (CE), sua terra natal.
Ao subir no palanque, ele notou que o orador encarregado de saudá-lo, na solenidade, já se colocara diante do microfone. O homem ajeitou os óculos e retirou do bolso um calhamaço de papéis. Era o discurso. Longo.
O general Távora deu um salto em direção ao orador e, num golpe certeiro, arrancou-lhe os papéis de suas mãos, desafiando-o:
- Quero ver é você falar de improviso...
Sob orientação do dono do PR, o mensaleiro Valdemar da Costa Neto, preso na Papuda em regime semiaberto, a bancada do PR na Câmara deve anunciar nesta segunda rompimento com o governo. Segundo o líder Bernardo Santana (MG), a maioria dos deputados é contrária à reedição da aliança com o PT para reeleger a presidenta Dilma. “Esse governo não é o mesmo que fizemos parte com José Alencar de vice”.
POSIÇÃO MAJORITÁRIA
Após levantamento nos Estados, Bernardo Santana garante que a maioria dos convencionais quer desembarcar do governo Dilma.
QUEM MANDA
O líder afirmou que o rompimento com Dilma tem apoio do “PR de Mogi das Cruzes”, numa referência à cidade de Valdemar da Costa Neto.
FORA DO ACORDO
Na bancada, só Anthony Garotinho – candidato ao governo do Rio – e o governista Luciano Castro (RR) divergem do rompimento com Dilma.
GUARANÁ EM PÓ
Joseph Blatter, chefão da Fifa, pede “otimismo” de brasileiros na Copa. Otimista hoje, no Brasil, é o pessimista que acordou de mau humor.
IMPOSTO DE 25% NO EXTERIOR REVOLTA APOSENTADOS
Cresce nas redes sociais a revolta contra os 25% de imposto de renda cobrados de aposentados e pensionistas do INSS que vivem no exterior em busca de segurança ou da ajuda de parentes. More no Paraguai ou na Suíça, 60 ou 80 anos, ganhe R$ 700 ou o teto, alíquota é implacável e ilegal, contrariando a ordem constitucional de que “todos são iguais perante a lei”. Nem o mais desumano agiota cobraria tanto.
NA ARENA DOS LEÕES
O assalto é duplo, sem o reajuste das aposentadorias acima de um salário, como garantem vários projetos esquecidos no Congresso.
ESPERA DORMINDO
Projeto de lei de alíquota zero tramita na Câmara há mais de um ano, quando começaram os protestos de brasileiros em Portugal e Espanha.
FORÇA DA IDADE
Aposentados do INSS vivendo no exterior querem se unir aos velhinhos no Brasil, para votar contra Dilma em outubro, se o imposto não cair.
CALABOCA, MENINO
Moreira Franco devolveu a ironia do jovem deputado Leonardo Picciani, que disse não saber se o ministro da Aviação Civil ainda está filiado ao PMDB. “Não faço política como brincadeirinha de criança”, alfinetou o ex-governador do Rio. E lembra: “Meu partido não trai aliados”.
TERCEIRA VIA
Com a candidatura de Alexandre Padilha (PT) fazendo água e a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) morrendo de sede, crescem as chances da terceira via, em São Paulo: Paulo Skaf (PMDB).
FORÇA-TAREFA
Os líderes de oposição Antônio Imbassahy (PSDB), Mendonça Filho (DEM), Fernando Francischini (SDD) e Rubens Bueno (PPS-PR) se reunirão na terça (29) para discutir estratégias para a CPI da Petrobras.
FOCO NA CPI
O ‘blocão’ formado por partidos da base aliada e da oposição marcou reunião para esta terça (29) na residência do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ). Na pauta, um único assunto: CPI da Petrobras.
AGORA VAI
Em vez de investir na melhoria da qualidade dos seus serviços, cada vez pior, os Correios resolveu investir alguns milhões na mudança de sua logomarca, que será lançada oficialmente em 6 de maio.
DEMISSÕES COM LOROTA
Menina dos olhos do ex-ministro Alexandre Padilha, o Cartão de Saúde sofreu um baque com a demissão de cinco dos sete integrantes do grupo que toca o projeto. O ministério jura que não haverá prejuízos ao programa e tira o corpo, atribuindo as demissões à terceirizada CTIS.
PIADA PRONTA
Para o líder Beto Albuquerque (PSB), são tantas as contradições entre versões de Dilma, Graça Foster, Sergio Gabrielli e Nestor Cerveró sobre refinaria de Pasadena, que é melhor perguntar no Posto Ipiranga.
COMBINADO
O líder do PSD, Moreira Mendes, acertou os últimos detalhes com o presidente Gilberto Kassab (SP), nesta semana, para sair candidato ao Senado na chapa do tucano Expedito Júnior em Rondônia.
PENSANDO BEM…
…está sem luz o poste do candidato Padilha.
PODER SEM PUDOR
Homenageado exigente
Juarez Távora era homenageado em Jaguaribe (CE), sua terra natal.
Ao subir no palanque, ele notou que o orador encarregado de saudá-lo, na solenidade, já se colocara diante do microfone. O homem ajeitou os óculos e retirou do bolso um calhamaço de papéis. Era o discurso. Longo.
O general Távora deu um salto em direção ao orador e, num golpe certeiro, arrancou-lhe os papéis de suas mãos, desafiando-o:
- Quero ver é você falar de improviso...
SEGUNDA NOS JORNAIS
- Estadão: Lula diz que julgamento do mensalão foi '80% político'
- Folha: Decisão do mensalão foi 80% política, afirma Lula
- Globo: Conta de Pasadena já’chega a US$ 1,93 bi
- Correio: Trânsito caótico vai fazer Brasília parar em 2020
- Zero Hora: PAC 2 tem só 10% das ações prontas no RS
- Brasil Econômico: “Dilma não percebeu a armadilha do consumo”