O GLOBO - 04/03
Não é comum ter desemprego baixo numa economia fraca. Em geral, a desaceleração da economia contamina o mercado de trabalho, pelo menos depois de um tempo. Mas nos últimos anos no Brasil o PIB tem crescido ao redor de 2%, enquanto o desemprego continuou caindo para 5%. É importante. Afinal, o desemprego tem relevância única para a sociedade. Na economia, afeta o poder de compra e o consumo, sem falar na sua contribuição para a produção. Nas pesquisas de bem-estar figura como determinante. Por isso, é crucial na política, pois pode decidir eleições. Mas o que explica esse aparente paradoxo entre crescimento e desemprego? Qual é a consequência para a economia?
Apesar do desemprego baixo, o crescimento mais fraco do PIB afetou o mercado de trabalho, pelo menos na criação de empregos. A quantidade total de trabalhadores (população ocupada) caiu 0,1% em janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado. Essa taxa de crescimento anual alcançou 2,1%, em média, em 2011 e 2012, e em torno de 3,0% no período entre 2006 e 2008, antes da crise financeira mundial.
O paradoxo é que, não obstante a menor criação de emprego, o desemprego permaneceu baixo. Uma explicação importante são as mudanças demográficas. Há menos trabalhadores disponíveis para a economia. A razão é simples: se a população cresce menos, o número de trabalhadores disponíveis para a economia também diminui. Na faixa etária de 20 a 59 anos, grupo que forma grande parte da força de trabalho, a desaceleração do crescimento passou de 2% ao ano (2004-2008) para 1,4% ao ano (2009-2013). No fim da década, esperamos expansão de apenas 0,7%. Uma queda e tanto.
Mas a dinâmica demográfica explica apenas uma parte da queda da População Economicamente Ativa (PEA) e do desemprego baixo. Ocorre que mesmo pessoas em idade ativa estão desistindo de trabalhar. De 2012 a 2013, a média de inativos entre os jovens de 18 a 24 anos subiu de 1,58 milhão para 1,62 milhão, uma alta de 47 mil. Pode parecer pouco, mas não é, quando consideramos que a população nessa faixa etária diminuiu em 115 mil nesse período.
A desaceleração das contratações provavelmente explica parte da queda na taxa de participação dos jovens na economia. Diante das taxas mais baixas de crescimento econômico, uma parcela da população em idade ativa desistiu de procurar emprego. Desde 2012, houve aumento de 8.700 jovens na situação “nem-nem”, que não trabalham, não procuram emprego e nem estudam (os números referem-se às seis regiões metropolitanas da PME/IBGE).
A boa notícia é que a grande maioria dos jovens que desistiu de trabalhar (82% do total, 38.700) desde 2012 está estudando. Esses jovens devem voltar no futuro ao mercado de trabalho, espera-se que mais qualificados e produtivos, o que será benéfico para a economia. Mas isso não é imediato, pois quem está estudando em geral demora mais para voltar ao mercado de trabalho.
Um fator que pode ter contribuído para a redução da participação desses jovens no mercado de trabalho é o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), um programa do governo para a educação superior. O número de matrículas no Fies, que era de 50 mil por ano, em média, entre 1999 e 2009, saltou para 556 mil em 2013.
Na verdade, o Fies pode potencializar o efeito da desaceleração da economia na procura por trabalho. Com condições mais fáceis e menor custo para conseguir financiamento dos estudos, um enfraquecimento da economia que reduz as opções no mercado de trabalho pode levar os estudantes a optar por estudar mais.
Quais as consequências desse fatores para a economia?
Na última década, a forte expansão do mercado de trabalho foi possível, em grande parte, pela existência de ociosidade de mão de obra. Havia pessoas disponíveis para trabalhar em abundância, o que permitiu o emprego crescer a taxas elevadas durante o ciclo recente de expansão econômica. Contudo, com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, associada a um baixo crescimento do número de jovens em idade de trabalhar, esse processo mostra sinais de esgotamento. De fato, começam a surgir restrições à expansão da economia advindas das condições do mercado de trabalho.
Sem imigração ou aumento relevante da produtividade do trabalho (ou seja, produzir mais com o mesmo número de trabalhadores), haverá falta de mão de obra e menor contribuição do trabalho para o crescimento. A força de trabalho já tem contribuído menos para a expansão do PIB (de 1 ponto percentual entre 2004 e 2008 para 0,6% nos próximos anos).
A atual falta de ganhos de produtividade está aumentando os custos da economia, tornando-a menos competitiva. A solução para a frente é mais fácil de diagnosticar do que de implementar. É necessário aumentar a produtividade da economia através de mais investimento (inclusive infraestrutura) e educação. A boa notícia é que uma parte dos jovens está adiando a entrada no mercado para estudar mais.
terça-feira, março 04, 2014
Mensalão: uma visão pessimista - RODRIGO NOSCHANG
ZERO HORA - 04/03
Não se diga que o tão falado julgamento será um divisor de águas
Muito se tem falado em novos tempos no país após o julgamento da Ação Penal nº 470 pelo Supremo Tribunal Federal. A partir de então, elitizados políticos e gestores públicos teriam “aprendido” a lição de que não são imunes à justiça criminal. Daqui para frente, tudo passaria a ser diferente, e a corrupção teria sofrido um duro golpe.
Ledo engano.
O modelo eleitoral e os sistemas de governo e de Estado brasileiro são corruptos desde o seu nascedouro. E o pior: as pessoas aprenderam com ele a corromper e a serem corruptíveis. Por isso, não se diga que o tão falado julgamento será um divisor de águas.
Obviamente que não se pode negar que a repressão casuística a crimes praticados por altos políticos e gestores públicos em prejuízo de toda a coletividade há de ser louvada. Entretanto, soa ingênuo pensar que esses delitos escassearão.
O Brasil tem impregnada em seu âmago uma cultura pela vantagem fácil. O famoso “jeitinho brasileiro” nada mais é do que a representação desta assertiva. Tudo pode ser resolvido de uma forma “mais fácil”, desde que, obviamente, os interessados saiam lucrando.
Daqueles que nos governam, então, o que esperar, se são justamente os seus eleitores que mais esperam ter alguma vantagem (leia-se: cargos ou até mesmo dinheiro) após o êxito eleitoral?
Sim, há exceções. Há cidadãos que ainda mantêm hígida a probidade exigível e necessária a uma sociedade republicana que tem como objetivo promover o bem de todos, como reza o texto constitucional (art. 3º, IV). O grande problema é que estes, na sua grande maioria, estão muito ocupados tentando sobreviver alheios a todas as mazelas que esta verdadeira subversão institucional lhes impõem (alta carga tributária, burocracia excessiva etc).
Enfim, nada mudará, num futuro próximo ou distante. Os órgãos e instituições responsáveis pela repressão aos crimes de colarinho branco terão que estar cada vez mais preparados, e terão cada vez mais trabalho na consecução de suas funções.
Das lições de Aristóteles e Platão já se extraía que a democracia é um sistema perigoso e corrupto. E parece que os ilustres filósofos, efetivamente, estavam certos.
Não se diga que o tão falado julgamento será um divisor de águas
Muito se tem falado em novos tempos no país após o julgamento da Ação Penal nº 470 pelo Supremo Tribunal Federal. A partir de então, elitizados políticos e gestores públicos teriam “aprendido” a lição de que não são imunes à justiça criminal. Daqui para frente, tudo passaria a ser diferente, e a corrupção teria sofrido um duro golpe.
Ledo engano.
O modelo eleitoral e os sistemas de governo e de Estado brasileiro são corruptos desde o seu nascedouro. E o pior: as pessoas aprenderam com ele a corromper e a serem corruptíveis. Por isso, não se diga que o tão falado julgamento será um divisor de águas.
Obviamente que não se pode negar que a repressão casuística a crimes praticados por altos políticos e gestores públicos em prejuízo de toda a coletividade há de ser louvada. Entretanto, soa ingênuo pensar que esses delitos escassearão.
O Brasil tem impregnada em seu âmago uma cultura pela vantagem fácil. O famoso “jeitinho brasileiro” nada mais é do que a representação desta assertiva. Tudo pode ser resolvido de uma forma “mais fácil”, desde que, obviamente, os interessados saiam lucrando.
Daqueles que nos governam, então, o que esperar, se são justamente os seus eleitores que mais esperam ter alguma vantagem (leia-se: cargos ou até mesmo dinheiro) após o êxito eleitoral?
Sim, há exceções. Há cidadãos que ainda mantêm hígida a probidade exigível e necessária a uma sociedade republicana que tem como objetivo promover o bem de todos, como reza o texto constitucional (art. 3º, IV). O grande problema é que estes, na sua grande maioria, estão muito ocupados tentando sobreviver alheios a todas as mazelas que esta verdadeira subversão institucional lhes impõem (alta carga tributária, burocracia excessiva etc).
Enfim, nada mudará, num futuro próximo ou distante. Os órgãos e instituições responsáveis pela repressão aos crimes de colarinho branco terão que estar cada vez mais preparados, e terão cada vez mais trabalho na consecução de suas funções.
Das lições de Aristóteles e Platão já se extraía que a democracia é um sistema perigoso e corrupto. E parece que os ilustres filósofos, efetivamente, estavam certos.
Fracasso, que fracasso? - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 04/03
BRASÍLIA - Depois de mais de 30 horas de viagem por três países desde a Austrália, a chegada ao aeroporto de Guarulhos é um choque.
O avião entra na fila para descer, pousa e não tem para onde ir, depois a escada demora. Centenas de passageiros, doidos para chegar, ficam 40 minutos trancados já em terra.
A fila dos que têm conexão e precisam entregar a mala já etiquetada é grande e, como é grande, as pessoas vão perdendo seus voos para casa, os funcionários passam a cuidar delas e apenas um fica por conta dos que ainda têm chance de embarcar --que, em consequência, também acabam se atrasando. Um círculo vicioso.
Aí, vem a hora do embarque. Socorro! Quero minha mãe. Você desce a escada rolante para os três portões de número um, que ficam concentrados no mesmo espaço e servem para vários voos. Velhos, grávidas, crianças, todo mundo se acotovelando como num baile de carnaval popular. O banheiro é constrangedor, as cadeiras são poucas e há várias rasgadas.
O voo, claro, atrasa duas horas. Já passa da meia-noite, funcionários e passageiros caindo pelas tabelas, ninguém respeita fila nenhuma e vai se enfiando como pode nos ônibus e depois no avião. Bem, agora vai! Não, não vai.
O piloto anuncia um "problema técnico" na porta principal. Penso: "Se a porta, que está à vista de todos, está assim, imagine-se o resto". Mas vem o mecânico, troca uma peça e lá vamos nós. Sorte de quem sabe rezar.
Tudo isso, além de desabafo, é para questionar a frase do tucano Aécio Neves, de que a infraestrutura da Copa "está um fracasso". Para o governo e para a candidatura de Dilma Rousseff, é ótimo que esteja tudo péssimo e melhor ainda que os adversários apontem o dedo.
Por quê? Porque, quando os aeroportos ficarem prontos, vai ser um alívio geral. Pior do que está não fica e qualquer coisa que melhore já troca "fracasso" por "sucesso".
É curioso, mas o governo, agora, torce para o quanto pior, melhor.
BRASÍLIA - Depois de mais de 30 horas de viagem por três países desde a Austrália, a chegada ao aeroporto de Guarulhos é um choque.
O avião entra na fila para descer, pousa e não tem para onde ir, depois a escada demora. Centenas de passageiros, doidos para chegar, ficam 40 minutos trancados já em terra.
A fila dos que têm conexão e precisam entregar a mala já etiquetada é grande e, como é grande, as pessoas vão perdendo seus voos para casa, os funcionários passam a cuidar delas e apenas um fica por conta dos que ainda têm chance de embarcar --que, em consequência, também acabam se atrasando. Um círculo vicioso.
Aí, vem a hora do embarque. Socorro! Quero minha mãe. Você desce a escada rolante para os três portões de número um, que ficam concentrados no mesmo espaço e servem para vários voos. Velhos, grávidas, crianças, todo mundo se acotovelando como num baile de carnaval popular. O banheiro é constrangedor, as cadeiras são poucas e há várias rasgadas.
O voo, claro, atrasa duas horas. Já passa da meia-noite, funcionários e passageiros caindo pelas tabelas, ninguém respeita fila nenhuma e vai se enfiando como pode nos ônibus e depois no avião. Bem, agora vai! Não, não vai.
O piloto anuncia um "problema técnico" na porta principal. Penso: "Se a porta, que está à vista de todos, está assim, imagine-se o resto". Mas vem o mecânico, troca uma peça e lá vamos nós. Sorte de quem sabe rezar.
Tudo isso, além de desabafo, é para questionar a frase do tucano Aécio Neves, de que a infraestrutura da Copa "está um fracasso". Para o governo e para a candidatura de Dilma Rousseff, é ótimo que esteja tudo péssimo e melhor ainda que os adversários apontem o dedo.
Por quê? Porque, quando os aeroportos ficarem prontos, vai ser um alívio geral. Pior do que está não fica e qualquer coisa que melhore já troca "fracasso" por "sucesso".
É curioso, mas o governo, agora, torce para o quanto pior, melhor.
Despolitizar é preciso - FÁBIO OSTERMANN
GAZETA DO POVO - 04/03
Fundada em 1969, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ou simplesmente “Correios”) tem uma história que remete ao período colonial, quando em 1663 foi instituído pela Coroa portuguesa o serviço postal no Brasil. Apesar da tradição, têm crescido nos últimos anos os questionamentos sobre a adequação do atual modelo de funcionamento dos Correios à realidade brasileira.
Os Correios são uma empresa estatal que atua sob a condição de monopolista sobre certas atividades, como remessa de cartas, telegramas e cartões. Segundo informações da própria empresa, esses serviços correspondem a 54,3% da sua receita. Ao longo dos últimos dois anos, no entanto, essas operações resultaram em um prejuízo operacional de quase R$ 2 bilhões.
A explicação para resultados negativos dentro de um monopólio encontra-se nos incentivos envolvidos. Em uma empresa privada, são recompensados aqueles que trabalham mais duro e geram mais valor. Não é porque seus proprietários assim o queiram, mas sim porque são forçados pela competição. Onde há livre concorrência, as empresas competem no mercado pelo direito de vender bens e serviços aos consumidores. Quem melhor satisfaz as vontades destes é recompensado. Quem não o faz é “punido”.
Em uma empresa como os Correios, no entanto, a situação é bastante distinta. Além de a maior parte do volume de operações da empresa não estar submetida à concorrência em virtude do monopólio legal, a politização de sua direção é completa. O presidente não é um executivo qualificado com experiência no setor de logística e entregas (como seria de se esperar em uma empresa deste porte), mas sim um militante do partido da presidente com trajetória no movimento sindical e ligado ao ex-ministro José Dirceu. Sua diretoria executiva e Conselho de Administração são compostos por pessoas de perfil similar, bem como as diretorias regionais. A gestão ineficiente e os casos de corrupção não deveriam surpreender.
Este cenário traz consigo, é lógico, ganhadores e perdedores: ganham partidos políticos e sindicatos, perdem trabalhadores (desmotivados pela politização e falta de meritocracia) e, especialmente, consumidores (reféns de um monopólio absolutamente ilegítimo).
Temos, de um lado, dois grupos relativamente pequenos, homogêneos e com alto poder de organização (partido e sindicato) obtendo ganhos concentrados contra, do outro lado, um grupo imenso e heterogêneo (toda a população brasileira que envia ou recebe cartas e telegramas, incluídos aí funcionários dos Correios sem autoridade sindical) arcando com perdas difusas. A lógica da ação coletiva nos auxilia a entender por que é tão difícil despolitizar os Correios por meio da abertura a concorrentes privados.
Talvez tenhamos de esperar até que cartas e telegramas sejam integralmente substituídos por meios digitais de comunicação ou até que partidos e sindicatos tenham dilapidado por completo o patrimônio de uma empresa pública bilionária para que ocorra uma mudança no arcabouço legal sob o qual atuam os Correios. Na política, como em tudo na vida, o tempo convence mais que a razão.
Fundada em 1969, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ou simplesmente “Correios”) tem uma história que remete ao período colonial, quando em 1663 foi instituído pela Coroa portuguesa o serviço postal no Brasil. Apesar da tradição, têm crescido nos últimos anos os questionamentos sobre a adequação do atual modelo de funcionamento dos Correios à realidade brasileira.
Os Correios são uma empresa estatal que atua sob a condição de monopolista sobre certas atividades, como remessa de cartas, telegramas e cartões. Segundo informações da própria empresa, esses serviços correspondem a 54,3% da sua receita. Ao longo dos últimos dois anos, no entanto, essas operações resultaram em um prejuízo operacional de quase R$ 2 bilhões.
A explicação para resultados negativos dentro de um monopólio encontra-se nos incentivos envolvidos. Em uma empresa privada, são recompensados aqueles que trabalham mais duro e geram mais valor. Não é porque seus proprietários assim o queiram, mas sim porque são forçados pela competição. Onde há livre concorrência, as empresas competem no mercado pelo direito de vender bens e serviços aos consumidores. Quem melhor satisfaz as vontades destes é recompensado. Quem não o faz é “punido”.
Em uma empresa como os Correios, no entanto, a situação é bastante distinta. Além de a maior parte do volume de operações da empresa não estar submetida à concorrência em virtude do monopólio legal, a politização de sua direção é completa. O presidente não é um executivo qualificado com experiência no setor de logística e entregas (como seria de se esperar em uma empresa deste porte), mas sim um militante do partido da presidente com trajetória no movimento sindical e ligado ao ex-ministro José Dirceu. Sua diretoria executiva e Conselho de Administração são compostos por pessoas de perfil similar, bem como as diretorias regionais. A gestão ineficiente e os casos de corrupção não deveriam surpreender.
Este cenário traz consigo, é lógico, ganhadores e perdedores: ganham partidos políticos e sindicatos, perdem trabalhadores (desmotivados pela politização e falta de meritocracia) e, especialmente, consumidores (reféns de um monopólio absolutamente ilegítimo).
Temos, de um lado, dois grupos relativamente pequenos, homogêneos e com alto poder de organização (partido e sindicato) obtendo ganhos concentrados contra, do outro lado, um grupo imenso e heterogêneo (toda a população brasileira que envia ou recebe cartas e telegramas, incluídos aí funcionários dos Correios sem autoridade sindical) arcando com perdas difusas. A lógica da ação coletiva nos auxilia a entender por que é tão difícil despolitizar os Correios por meio da abertura a concorrentes privados.
Talvez tenhamos de esperar até que cartas e telegramas sejam integralmente substituídos por meios digitais de comunicação ou até que partidos e sindicatos tenham dilapidado por completo o patrimônio de uma empresa pública bilionária para que ocorra uma mudança no arcabouço legal sob o qual atuam os Correios. Na política, como em tudo na vida, o tempo convence mais que a razão.
Vandalismo com dinheiro público - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 04/03
Sempre que podem, os ditos "sem-terra" reclamam publicamente da presidente Dilma Rousseff porque ela, corretamente, desapropriou menos terras para a reforma agrária do que Fernando Henrique Cardoso. Mas eles se queixam de barriga cheia: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), faça o que fizer, destrua o que destruir, será sempre beneficiado pelo governo petista com generosas verbas públicas - que garantem sua sobrevida como "movimento social", mesmo que não haja mais a menor justificativa para sua existência, a não ser como caso de polícia.
Segundo revelou o Estado, uma entidade ligada ao MST recebeu dinheiro da Petrobrás, da Caixa Econômica Federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para realizar um congresso de sem-terra - e foi nesse evento, em Brasília, no último dia 12/2, que o MST reafirmou sua verdadeira natureza: criminosa e hostil às instituições democráticas.
Milhares de militantes atacaram policiais que tentavam impedi-los de invadir o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. O saldo de feridos deu a exata medida do ânimo violento dos manifestantes: 30 policiais (8 em estado grave) e apenas 2 sem-terra.
Os militantes lá estavam para cobrar de Dilma que acelerasse a reforma agrária, mas o protesto incluiu críticas ao julgamento do mensalão, ao uso de agrotóxicos e à espionagem americana. No balaio do grupo que diz defender desde a estatização completa do sistema produtivo nacional até a "democratização da comunicação" cabe tudo. Foi essa impostura que recebeu farto financiamento do governo para uma manifestação que, como era previsível, degenerou em quebra-quebra.
A injeção de dinheiro público no MST e em outras entidades de sem-terra que se envolvem em banditismo e ameaças ao Estado de Direito não é novidade. Em 2006, cerca de 500 desses militantes invadiram a Câmara dos Deputados, sob o comando de um petista histórico, Bruno Maranhão, dono de uma entidade que recebera R$ 2,2 milhões para "capacitação" de assentados. Segundo o Tribunal de Contas da União, esse dinheiro simplesmente sumiu.
Três anos mais tarde, o MST invadiu, depredou e saqueou a Fazenda Santo Henrique, da empresa Cutrale, em Borebi (SP). Naquela ocasião, os repasses de verbas públicas para o grupo e seus associados haviam chegado a R$ 115 milhões em cinco anos. Só no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o aumento fora de 315% em relação ao governo anterior. E o MST ainda tentou engordar o caixa vendendo produtos que seus militantes roubaram da Cutrale.
É esse histórico de leniência e de cumplicidade que explica por que a estatal de petróleo e dois dos principais bancos federais de fomento continuaram a bancar esses desordeiros sem nenhum constrangimento. No presente caso, a Petrobrás deu R$ 650 mil, a Caixa pagou R$ 200 mil e o BNDES contribuiu com outros R$ 350 mil para um convescote intitulado "Mostra Nacional de Cultura Camponesa", organizado por uma certa Associação Brasil Popular (Abrapo), ligada ao MST, e que foi o principal evento do congresso de sem-terra. Já o Incra bancou, com R$ 448 mil, a estrutura da Feira Nacional de Reforma Agrária. Em nenhum caso houve licitação.
Tanto a Caixa como o BNDES argumentaram que o patrocínio tinha como objetivo ampliar sua visibilidade no setor agrícola. A Caixa, por exemplo, informou que o evento "valoriza a população campesina brasileira e oferece oportunidade de intercambiar conhecimentos e culturas do País". Já a Petrobrás considera que o congresso "alinha-se ao programa Petrobrás Socioambiental na linha dedicada à produção inclusiva e sustentável". A estatal está tão animada com os sem-terra que vai financiar a produção de CDs do MST com "canções infantis no meio rural".
Nenhuma das empresas comentou sobre os possíveis danos à sua imagem por causa dos tumultos do dia 12. Mas o governo não parece muito preocupado. No dia seguinte aos atos de selvageria, como se sabe, os vândalos foram recebidos pela presidente Dilma em pessoa.
Sempre que podem, os ditos "sem-terra" reclamam publicamente da presidente Dilma Rousseff porque ela, corretamente, desapropriou menos terras para a reforma agrária do que Fernando Henrique Cardoso. Mas eles se queixam de barriga cheia: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), faça o que fizer, destrua o que destruir, será sempre beneficiado pelo governo petista com generosas verbas públicas - que garantem sua sobrevida como "movimento social", mesmo que não haja mais a menor justificativa para sua existência, a não ser como caso de polícia.
Segundo revelou o Estado, uma entidade ligada ao MST recebeu dinheiro da Petrobrás, da Caixa Econômica Federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para realizar um congresso de sem-terra - e foi nesse evento, em Brasília, no último dia 12/2, que o MST reafirmou sua verdadeira natureza: criminosa e hostil às instituições democráticas.
Milhares de militantes atacaram policiais que tentavam impedi-los de invadir o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. O saldo de feridos deu a exata medida do ânimo violento dos manifestantes: 30 policiais (8 em estado grave) e apenas 2 sem-terra.
Os militantes lá estavam para cobrar de Dilma que acelerasse a reforma agrária, mas o protesto incluiu críticas ao julgamento do mensalão, ao uso de agrotóxicos e à espionagem americana. No balaio do grupo que diz defender desde a estatização completa do sistema produtivo nacional até a "democratização da comunicação" cabe tudo. Foi essa impostura que recebeu farto financiamento do governo para uma manifestação que, como era previsível, degenerou em quebra-quebra.
A injeção de dinheiro público no MST e em outras entidades de sem-terra que se envolvem em banditismo e ameaças ao Estado de Direito não é novidade. Em 2006, cerca de 500 desses militantes invadiram a Câmara dos Deputados, sob o comando de um petista histórico, Bruno Maranhão, dono de uma entidade que recebera R$ 2,2 milhões para "capacitação" de assentados. Segundo o Tribunal de Contas da União, esse dinheiro simplesmente sumiu.
Três anos mais tarde, o MST invadiu, depredou e saqueou a Fazenda Santo Henrique, da empresa Cutrale, em Borebi (SP). Naquela ocasião, os repasses de verbas públicas para o grupo e seus associados haviam chegado a R$ 115 milhões em cinco anos. Só no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o aumento fora de 315% em relação ao governo anterior. E o MST ainda tentou engordar o caixa vendendo produtos que seus militantes roubaram da Cutrale.
É esse histórico de leniência e de cumplicidade que explica por que a estatal de petróleo e dois dos principais bancos federais de fomento continuaram a bancar esses desordeiros sem nenhum constrangimento. No presente caso, a Petrobrás deu R$ 650 mil, a Caixa pagou R$ 200 mil e o BNDES contribuiu com outros R$ 350 mil para um convescote intitulado "Mostra Nacional de Cultura Camponesa", organizado por uma certa Associação Brasil Popular (Abrapo), ligada ao MST, e que foi o principal evento do congresso de sem-terra. Já o Incra bancou, com R$ 448 mil, a estrutura da Feira Nacional de Reforma Agrária. Em nenhum caso houve licitação.
Tanto a Caixa como o BNDES argumentaram que o patrocínio tinha como objetivo ampliar sua visibilidade no setor agrícola. A Caixa, por exemplo, informou que o evento "valoriza a população campesina brasileira e oferece oportunidade de intercambiar conhecimentos e culturas do País". Já a Petrobrás considera que o congresso "alinha-se ao programa Petrobrás Socioambiental na linha dedicada à produção inclusiva e sustentável". A estatal está tão animada com os sem-terra que vai financiar a produção de CDs do MST com "canções infantis no meio rural".
Nenhuma das empresas comentou sobre os possíveis danos à sua imagem por causa dos tumultos do dia 12. Mas o governo não parece muito preocupado. No dia seguinte aos atos de selvageria, como se sabe, os vândalos foram recebidos pela presidente Dilma em pessoa.
Desindexação urgente - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 04/02
Os salários são livremente negociados no Brasil desde a criação do real. O plano que livrou a economia brasileira de um processo de superinflação crônica buscou desarmar a indexação de curto prazo, atrelada à alta de preços ocorrida anteriormente, que contribuía para uma corrida sem fim entre preços e salários.
Empregados e empregadores geralmente levam em conta, na livre negociação, a corrosão sofrida pelos salários quando a inflação se mantém acima de percentuais admitidos como movimentos de acomodação dos preços decorrentes de flutuações passageiras.
No entanto, essa livre negociação também têm como referência o comportamento do mercado de trabalho e a situação financeiras das empresas no curto e médio prazos.
Não há, assim, uma indexação formal para os salários. A exceção é o salário mínimo. Fixado por decreto presidencial, o mínimo é passível de injunções políticas.
Há uma política deliberada de valorização do mínimo que assegurou ganhos expressivos tanto para trabalhadores como para a grande maioria de aposentados e pensionistas da previdência social. Essa política tem impacto ainda sobre os salários que estão ligeiramente acima do piso.
Em uma tentativa de estabelecer alguma previsibilidade para essa política de valorização deliberada do salário mínimo, instituiu-se uma regra de ajuste anual que incorpora a inflação do ano imediatamente anterior ao do ajuste somada a um ganho real equivalente à variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.
Se por um lado tal regra de fato deu previsibilidade à política de de valorização do mínimo, por outro instituiu um mecanismo de indexação que ignora a conjuntura. A variação do PIB de dois anos antes pode não ser mais compatível com a situação da economia no momento em que o ajuste é repassado ao salário mínimo.
Tal regra tem data para terminar: 2015. A indexação automática, e inflexível, não pode se perpetuar. Pela importância do salário mínimo no conjunto da economia brasileira, essa indexação se transformou em fonte de pressão sobre a inflação (direta e indiretamente, em especial quando aumenta a folha de pagamentos do setor público e o déficit da previdência social).
A valorização do salário mínimo é bem-vinda e necessária, mas não pode ignorar as condições da economia. Se a evolução dos salários não tem relação com a produtividade do trabalho, a política de valorização deliberada do mínimo tira competitividade das cadeias produtivas (pela elevação dos custos). A perda de competitividade acaba fechando postos de trabalho, o que impede que mais categorias profissionais se beneficiem do crescimento econômico. Desse modo, em vez de se conseguir que haja um avanço da massa salarial, asfixia-se a galinha dos ovos de ouro.
Os salários são livremente negociados no Brasil desde a criação do real. O plano que livrou a economia brasileira de um processo de superinflação crônica buscou desarmar a indexação de curto prazo, atrelada à alta de preços ocorrida anteriormente, que contribuía para uma corrida sem fim entre preços e salários.
Empregados e empregadores geralmente levam em conta, na livre negociação, a corrosão sofrida pelos salários quando a inflação se mantém acima de percentuais admitidos como movimentos de acomodação dos preços decorrentes de flutuações passageiras.
No entanto, essa livre negociação também têm como referência o comportamento do mercado de trabalho e a situação financeiras das empresas no curto e médio prazos.
Não há, assim, uma indexação formal para os salários. A exceção é o salário mínimo. Fixado por decreto presidencial, o mínimo é passível de injunções políticas.
Há uma política deliberada de valorização do mínimo que assegurou ganhos expressivos tanto para trabalhadores como para a grande maioria de aposentados e pensionistas da previdência social. Essa política tem impacto ainda sobre os salários que estão ligeiramente acima do piso.
Em uma tentativa de estabelecer alguma previsibilidade para essa política de valorização deliberada do salário mínimo, instituiu-se uma regra de ajuste anual que incorpora a inflação do ano imediatamente anterior ao do ajuste somada a um ganho real equivalente à variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.
Se por um lado tal regra de fato deu previsibilidade à política de de valorização do mínimo, por outro instituiu um mecanismo de indexação que ignora a conjuntura. A variação do PIB de dois anos antes pode não ser mais compatível com a situação da economia no momento em que o ajuste é repassado ao salário mínimo.
Tal regra tem data para terminar: 2015. A indexação automática, e inflexível, não pode se perpetuar. Pela importância do salário mínimo no conjunto da economia brasileira, essa indexação se transformou em fonte de pressão sobre a inflação (direta e indiretamente, em especial quando aumenta a folha de pagamentos do setor público e o déficit da previdência social).
A valorização do salário mínimo é bem-vinda e necessária, mas não pode ignorar as condições da economia. Se a evolução dos salários não tem relação com a produtividade do trabalho, a política de valorização deliberada do mínimo tira competitividade das cadeias produtivas (pela elevação dos custos). A perda de competitividade acaba fechando postos de trabalho, o que impede que mais categorias profissionais se beneficiem do crescimento econômico. Desse modo, em vez de se conseguir que haja um avanço da massa salarial, asfixia-se a galinha dos ovos de ouro.
As greves e a legislação - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 04/03
Uma legislação moderna deve prever canais de negociação e meios legítimos de reivindicação pelos trabalhadores, de forma que a greve somente ocorra em casos extremos
A sensível melhora das condições no ambiente de trabalho, do respeito ao bem-estar dos empregados, das políticas de segurança e dos salários, nos últimos 100 anos, se deve em larga medida à organização dos trabalhadores, à liberdade sindical e ao direito de greve. Nas sociedades livres, o direito de organização e de mobilização é um dos pilares do conjunto das liberdades e dos direitos individuais. Entretanto, o excessivo número de greves que se repetem todos os anos tanto nas empresas de produtos individuais como nas empresas de bens públicos e em serviços do governo é consequência, entre outros fatores, da legislação precária e insuficiente.
A legislação trabalhista brasileira, incluindo as normas legais sobre greve, está velha, superada e incompatível com os tempos modernos. Somente isso já seria motivo suficiente para reformá-la e atualizá-la. Mas antes de começar a discussão é necessário estabelecer algumas premissas. A primeira é a de que dá para fazer uma legislação moderna sem suprimir as chamadas conquistas sociais dos trabalhadores. Qualquer reforma somente terá chance de prosperar se ficar acordado que não serão retirados benefícios trabalhistas, como décimo terceiro salário, férias remuneradas, licença-maternidade e outros.
A segunda premissa é a necessidade de tratar as atividades econômicas em grupos distintos, organizados segundo sua função no sistema econômico. Empresas que produzem bens pessoais – a exemplo de uma fábrica de camisas – e operam em regime de concorrência devem ter um tipo específico de legislação de greve, pois, quando seus empregados paralisam as atividades, o único prejudicado é o patrão. Quanto ao consumidor, ele tanto pode adiar a compra do produto como pode comprá-lo de outro fabricante.
Empresas que produzem bens monopolistas – a exemplo de uma companhia de água ou energia – devem ter outro tipo de legislação de greve, porque, quando seus empregados paralisam as atividades, eles têm um poder de morte sobre a população, já que sem água e sem luz as pessoas não sobrevivem. Em certa medida, isso também ocorre com as empresas de transporte coletivo, o policiamento e outros serviços públicos ofertados em regime de monopólio.
A terceira premissa diz respeito às consequências da greve sobre um empregado privado regido pela CLT e sobre um funcionário público com estabilidade no emprego. Sobre o empregado privado paira o fantasma da demissão, e uma greve radical pode levar o negócio à falência com perda do emprego para todos. Funcionário público jamais é demitido por causa de greve. Logo, não é razoável que a lei seja a mesma para o empregado privado e para o funcionário público.
Uma legislação moderna deve prever canais de negociação e meios legítimos de reivindicação pelos trabalhadores, de forma que a greve somente ocorra em casos extremos e após esgotados todos os meios anteriores. Nos casos de serviços públicos e de produtos monopolizados (serviços postais, energia, água, policiamento, transporte coletivo), a negociação e a solução dos conflitos salariais e trabalhistas não devem ficar restritos às duas partes envolvidas – patrões e empregados. É necessário o envolvimento de outras instâncias – por exemplo, a Justiça do Trabalho – desde o início do processo a fim de que a paralisação se torne quase desnecessária e, se ocorrer, deve prever a continuação do atendimento à população.
A legislação ruim atual é, em grande medida, responsável pelo grevismo e pelo excessivo número de paralisações que vêm infernizando a vida da população. No caso do serviço público, é inexplicável que o Congresso Nacional não tenha regulamentado o direito de greve até hoje, apesar de a Constituição de 1988 mandar fazê-lo. Em algumas greves de funcionários do governo, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi provocado a se pronunciar, levando muitos políticos a gritarem contra o suposto ativismo legislativo do STF, o qual simplesmente ocupa um vácuo deixado pela omissão do parlamento.
Lamentavelmente, as greves rotineiras e cotidianas e o sofrimento que elas têm imposto à população não têm sido suficientes para sensibilizar os políticos e as autoridades no sentido de começarem a reforma trabalhista.
Uma legislação moderna deve prever canais de negociação e meios legítimos de reivindicação pelos trabalhadores, de forma que a greve somente ocorra em casos extremos
A sensível melhora das condições no ambiente de trabalho, do respeito ao bem-estar dos empregados, das políticas de segurança e dos salários, nos últimos 100 anos, se deve em larga medida à organização dos trabalhadores, à liberdade sindical e ao direito de greve. Nas sociedades livres, o direito de organização e de mobilização é um dos pilares do conjunto das liberdades e dos direitos individuais. Entretanto, o excessivo número de greves que se repetem todos os anos tanto nas empresas de produtos individuais como nas empresas de bens públicos e em serviços do governo é consequência, entre outros fatores, da legislação precária e insuficiente.
A legislação trabalhista brasileira, incluindo as normas legais sobre greve, está velha, superada e incompatível com os tempos modernos. Somente isso já seria motivo suficiente para reformá-la e atualizá-la. Mas antes de começar a discussão é necessário estabelecer algumas premissas. A primeira é a de que dá para fazer uma legislação moderna sem suprimir as chamadas conquistas sociais dos trabalhadores. Qualquer reforma somente terá chance de prosperar se ficar acordado que não serão retirados benefícios trabalhistas, como décimo terceiro salário, férias remuneradas, licença-maternidade e outros.
A segunda premissa é a necessidade de tratar as atividades econômicas em grupos distintos, organizados segundo sua função no sistema econômico. Empresas que produzem bens pessoais – a exemplo de uma fábrica de camisas – e operam em regime de concorrência devem ter um tipo específico de legislação de greve, pois, quando seus empregados paralisam as atividades, o único prejudicado é o patrão. Quanto ao consumidor, ele tanto pode adiar a compra do produto como pode comprá-lo de outro fabricante.
Empresas que produzem bens monopolistas – a exemplo de uma companhia de água ou energia – devem ter outro tipo de legislação de greve, porque, quando seus empregados paralisam as atividades, eles têm um poder de morte sobre a população, já que sem água e sem luz as pessoas não sobrevivem. Em certa medida, isso também ocorre com as empresas de transporte coletivo, o policiamento e outros serviços públicos ofertados em regime de monopólio.
A terceira premissa diz respeito às consequências da greve sobre um empregado privado regido pela CLT e sobre um funcionário público com estabilidade no emprego. Sobre o empregado privado paira o fantasma da demissão, e uma greve radical pode levar o negócio à falência com perda do emprego para todos. Funcionário público jamais é demitido por causa de greve. Logo, não é razoável que a lei seja a mesma para o empregado privado e para o funcionário público.
Uma legislação moderna deve prever canais de negociação e meios legítimos de reivindicação pelos trabalhadores, de forma que a greve somente ocorra em casos extremos e após esgotados todos os meios anteriores. Nos casos de serviços públicos e de produtos monopolizados (serviços postais, energia, água, policiamento, transporte coletivo), a negociação e a solução dos conflitos salariais e trabalhistas não devem ficar restritos às duas partes envolvidas – patrões e empregados. É necessário o envolvimento de outras instâncias – por exemplo, a Justiça do Trabalho – desde o início do processo a fim de que a paralisação se torne quase desnecessária e, se ocorrer, deve prever a continuação do atendimento à população.
A legislação ruim atual é, em grande medida, responsável pelo grevismo e pelo excessivo número de paralisações que vêm infernizando a vida da população. No caso do serviço público, é inexplicável que o Congresso Nacional não tenha regulamentado o direito de greve até hoje, apesar de a Constituição de 1988 mandar fazê-lo. Em algumas greves de funcionários do governo, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi provocado a se pronunciar, levando muitos políticos a gritarem contra o suposto ativismo legislativo do STF, o qual simplesmente ocupa um vácuo deixado pela omissão do parlamento.
Lamentavelmente, as greves rotineiras e cotidianas e o sofrimento que elas têm imposto à população não têm sido suficientes para sensibilizar os políticos e as autoridades no sentido de começarem a reforma trabalhista.
O nó da educação - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 04/03
O país tem que se mostrar capaz de motivar os jovens no Ensino Médio, a ponto de fazê-los se interessar pelos conteúdos e de se manter em sala de aula.
Recém divulgado, o Censo da Educação Básica revela alguns aspectos promissores para o país, como o aumento do número de crianças em creches e pré-escolas e uma maior quantidade de alunos em instituições de tempo integral e na educação profissional. Ao mesmo tempo, aponta uma evasão de proporções inquietantes no Ensino Médio, motivada principalmente pelo fato de muitos alunos continuarem nesse nível numa faixa de idade em que já deveriam estar na universidade. Em consequência, a estimativa mais recente, de 2012, é que o Brasil tinha 1,5 milhão de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola, o equivalente a toda a população de Porto Alegre. O país já demonstrou que é possível universalizar o acesso ao ensino no nível fundamental. Precisa agora estender o avanço ao Ensino Médio, evitando que um contingente tão expressivo de alunos acabe deixando a sala de aula antes do tempo.
Menos mal que, nessa faixa de idade, cada vez mais adolescentes estejam se encaminhando para a Educação de Jovens Adultos (EJA) e para a educação profissional, que na mais recente edição do Censo registrou uma expansão de 6% sobre o ano anterior. Ainda assim, essa é uma etapa do ensino que precisa ser acompanhada muito de perto, pois é responsável pela formação de jovens prestes a ingressar no mercado de trabalho ou na universidade. A qualidade do ensino ministrado nessa etapa tem relação direta com o padrão dos futuros universitários e com o nível de excelência da mão de obra das empresas, mostrando-se decisiva para os ganhos de competitividade. E é preciso considerar que essas alternativas não podem ser vistas simplesmente como substitutas do Ensino Médio.
Os dados do Censo, de 2012, demonstram que 98% das crianças entre 6 e 14 anos cursavam o ensino formal. Na faixa de 15 a 17 anos, porém, 15,8% não estudavam, o que exige uma ação firme da parte do poder público. Se foi possível atrair e reter a quase totalidade dos alunos do nível fundamental, o mesmo deve ocorrer na etapa posterior. O país tem que se mostrar capaz de motivar os jovens no Ensino Médio, a ponto de fazê-los se interessar pelos conteúdos e de se manter em sala de aula. Nesta idade, os futuros profissionais precisam ser devidamente orientados sobre a importância de assegurarem mais qualificação para disputar o mercado de trabalho.
Alternativas como o turno integral, em ascensão no país, podem colaborar no esforço de retenção e qualificação de alunos, desde que alicerçadas em projetos pedagógicos coerentes. O nó da educação no Ensino Médio, porém, só será desfeito quando a escola contar com professores, condições materiais e conteúdos sintonizados com o que os alunos buscam nessa fase da vida.
O país tem que se mostrar capaz de motivar os jovens no Ensino Médio, a ponto de fazê-los se interessar pelos conteúdos e de se manter em sala de aula.
Recém divulgado, o Censo da Educação Básica revela alguns aspectos promissores para o país, como o aumento do número de crianças em creches e pré-escolas e uma maior quantidade de alunos em instituições de tempo integral e na educação profissional. Ao mesmo tempo, aponta uma evasão de proporções inquietantes no Ensino Médio, motivada principalmente pelo fato de muitos alunos continuarem nesse nível numa faixa de idade em que já deveriam estar na universidade. Em consequência, a estimativa mais recente, de 2012, é que o Brasil tinha 1,5 milhão de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola, o equivalente a toda a população de Porto Alegre. O país já demonstrou que é possível universalizar o acesso ao ensino no nível fundamental. Precisa agora estender o avanço ao Ensino Médio, evitando que um contingente tão expressivo de alunos acabe deixando a sala de aula antes do tempo.
Menos mal que, nessa faixa de idade, cada vez mais adolescentes estejam se encaminhando para a Educação de Jovens Adultos (EJA) e para a educação profissional, que na mais recente edição do Censo registrou uma expansão de 6% sobre o ano anterior. Ainda assim, essa é uma etapa do ensino que precisa ser acompanhada muito de perto, pois é responsável pela formação de jovens prestes a ingressar no mercado de trabalho ou na universidade. A qualidade do ensino ministrado nessa etapa tem relação direta com o padrão dos futuros universitários e com o nível de excelência da mão de obra das empresas, mostrando-se decisiva para os ganhos de competitividade. E é preciso considerar que essas alternativas não podem ser vistas simplesmente como substitutas do Ensino Médio.
Os dados do Censo, de 2012, demonstram que 98% das crianças entre 6 e 14 anos cursavam o ensino formal. Na faixa de 15 a 17 anos, porém, 15,8% não estudavam, o que exige uma ação firme da parte do poder público. Se foi possível atrair e reter a quase totalidade dos alunos do nível fundamental, o mesmo deve ocorrer na etapa posterior. O país tem que se mostrar capaz de motivar os jovens no Ensino Médio, a ponto de fazê-los se interessar pelos conteúdos e de se manter em sala de aula. Nesta idade, os futuros profissionais precisam ser devidamente orientados sobre a importância de assegurarem mais qualificação para disputar o mercado de trabalho.
Alternativas como o turno integral, em ascensão no país, podem colaborar no esforço de retenção e qualificação de alunos, desde que alicerçadas em projetos pedagógicos coerentes. O nó da educação no Ensino Médio, porém, só será desfeito quando a escola contar com professores, condições materiais e conteúdos sintonizados com o que os alunos buscam nessa fase da vida.
A âncora petista - EDITORIAL FOLHA DE SP
Folha de SP - 04/03
Exame mais detalhado dos dados de pesquisa Datafolha revela que Dilma conta com vantagem expressiva entre os eleitores típicos de 2014
O exame detalhado da mais recente pesquisa Datafolha ajuda a esclarecer a considerável vantagem da presidente Dilma Rousseff nos levantamentos de preferência eleitoral. A petista aparece com 47% das intenções de voto no cenário mais provável, e o seu governo é avaliado como ótimo ou bom por 41% dos brasileiros.
Se a disputa fosse hoje, Dilma venceria no primeiro turno. Tamanha dianteira contrasta com problemas na área econômica, como o baixo crescimento do PIB e a inflação relativamente alta, e não reflete, à primeira vista, a insatisfação que se dissemina nas grandes cidades desde junho passado.
Na realidade, depois de sofrer queda acentuada em sua aprovação (de 65% para 30%), sob o impacto das manifestações, a presidente recuperou parte de seu prestígio, que parece acomodado em novo patamar --abaixo do anterior, mas alto o bastante para mantê-la em posição vantajosa.
O cruzamento de dados apurados pelo Datafolha mostra que a presidente se beneficia da adesão do que seria o "eleitor típico" de 2014: brasileiros de 25 a 34 anos, que possuem ensino médio e renda familiar mensal de até R$ 1.448.
São eleitores que, na maioria, moram na região Sudeste, mas em cidades de pequeno porte, com menos de 50 mil habitantes. Trata-se do segmento mais baixo da estratificação socioeconômica e o mais numeroso da população.
A conquista dessa espécie de âncora político-eleitoral não é, por certo, mérito exclusivo da atual governante. Consolidou-se, de fato, ao longo dos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que obteve reconhecidos êxitos na elevação do padrão de vida dos mais pobres. Destacam-se, quanto a isso, programas compensatórios e medidas econômicas de promoção da renda e do consumo.
Nesse contexto, saltam aos olhos as dificuldades encontradas pela oposição para sensibilizar essa fatia estratégica do eleitorado.
Tanto o senador mineiro Aécio Neves, pelo PSDB, como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-ministra Marina Silva, ambos pelo PSB, têm falhado ao se apresentar como alternativas convincentes para esses setores de renda mais baixa.
Os oposicionistas podem argumentar que o atual reduto petista representa a parcela menos esclarecida e informada da população. Tal consideração até pode ser verdadeira, mas não serve de consolo.
Incapazes de entusiasmar o país com um projeto de mudança, os adversários de Dilma terão de confiar nos embates de campanha e na propaganda eleitoral para conquistar terreno. Sua maior esperança, porém, reside no clima de instabilidade política que se vê em todo o país --algo que nenhum candidato controla, mas que afeta sobretudo aqueles que estão no poder.
Exame mais detalhado dos dados de pesquisa Datafolha revela que Dilma conta com vantagem expressiva entre os eleitores típicos de 2014
O exame detalhado da mais recente pesquisa Datafolha ajuda a esclarecer a considerável vantagem da presidente Dilma Rousseff nos levantamentos de preferência eleitoral. A petista aparece com 47% das intenções de voto no cenário mais provável, e o seu governo é avaliado como ótimo ou bom por 41% dos brasileiros.
Se a disputa fosse hoje, Dilma venceria no primeiro turno. Tamanha dianteira contrasta com problemas na área econômica, como o baixo crescimento do PIB e a inflação relativamente alta, e não reflete, à primeira vista, a insatisfação que se dissemina nas grandes cidades desde junho passado.
Na realidade, depois de sofrer queda acentuada em sua aprovação (de 65% para 30%), sob o impacto das manifestações, a presidente recuperou parte de seu prestígio, que parece acomodado em novo patamar --abaixo do anterior, mas alto o bastante para mantê-la em posição vantajosa.
O cruzamento de dados apurados pelo Datafolha mostra que a presidente se beneficia da adesão do que seria o "eleitor típico" de 2014: brasileiros de 25 a 34 anos, que possuem ensino médio e renda familiar mensal de até R$ 1.448.
São eleitores que, na maioria, moram na região Sudeste, mas em cidades de pequeno porte, com menos de 50 mil habitantes. Trata-se do segmento mais baixo da estratificação socioeconômica e o mais numeroso da população.
A conquista dessa espécie de âncora político-eleitoral não é, por certo, mérito exclusivo da atual governante. Consolidou-se, de fato, ao longo dos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que obteve reconhecidos êxitos na elevação do padrão de vida dos mais pobres. Destacam-se, quanto a isso, programas compensatórios e medidas econômicas de promoção da renda e do consumo.
Nesse contexto, saltam aos olhos as dificuldades encontradas pela oposição para sensibilizar essa fatia estratégica do eleitorado.
Tanto o senador mineiro Aécio Neves, pelo PSDB, como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-ministra Marina Silva, ambos pelo PSB, têm falhado ao se apresentar como alternativas convincentes para esses setores de renda mais baixa.
Os oposicionistas podem argumentar que o atual reduto petista representa a parcela menos esclarecida e informada da população. Tal consideração até pode ser verdadeira, mas não serve de consolo.
Incapazes de entusiasmar o país com um projeto de mudança, os adversários de Dilma terão de confiar nos embates de campanha e na propaganda eleitoral para conquistar terreno. Sua maior esperança, porém, reside no clima de instabilidade política que se vê em todo o país --algo que nenhum candidato controla, mas que afeta sobretudo aqueles que estão no poder.
Ucrânia: hora da diplomacia - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 04/03
Delicada - talvez seja esse o adjetivo mais adequado para qualificar a situação da Ucrânia. O país ainda sofre as acomodações ditadas pelo fim da União Soviética e a redistribuição de forças antes concentradas na potência comunista. Independente desde 1991, a república semipresidencial com divisão de poderes mantém laços estreitos com Moscou que vão além do fato de ser rota de gasodutos e abrigar base militar estratégica do Kremlin.
Um deles: a divisão da população. Parte significativa dos 44,6 milhões de ucranianos se sente russa em razão da nacionalidade dos antecedentes ou de anexações recentes. O outro: a dependência energética. Kiev compra de Moscou mais da metade do gás que utiliza. Essa fragilidade, aliás, foi determinante no afastamento da Ucrânia e da União Europeia (UE) - estopim da crise que eclodiu em novembro de 2013 e ameaça a unidade do país.
Estrangulado por profunda crise financeira, com reservas cambiais em colapso e o deficit público que abocanha quase 6% do PIB, o então presidente Victor Yanukovich recebeu de bom grado a proposta de Vladimir Putin - reduzir em um terço o preço do combustível vendido ao vizinho. Em troca, teria de dar prioridade às relações com a Rússia, fato que levou à recusa da assinatura de acordo com a UE.
Milhares de pessoas foram às ruas em protesto contra a decisão. O governo reagiu com violência. Em fevereiro, 82 pessoas morreram. O presidente deixou o poder, destituído pelo parlamento. Mas a instabilidade continuou. É que a Rússia e parte da população simpática a Moscou, especialmente da Crimeia, consideraram golpe a saída de Yanukovich.
A situação se agrava. Vladimir Putin obteve autorização do congresso para intervir na Ucrânia. O objetivo: proteger cidadãos e militares russos que trabalham em bases na região. O presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov, decretou a Ucrânia área de exclusão aérea e convocou reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.
Vozes da comunidade internacional se fizeram ouvir. Barack Obama, com discurso que lembrou a guerra fria, acusou Putin de violar a lei internacional e o exortou a respeitar a integridade territorial ucraniana. O secretário de Estado americano, John Kerry, ameaçou retirar a Rússia do G8, o bloco dos países mais industrializados, caso o conflito continue. Autoridades da União Europeia manifestaram preocupação com a possibilidade de intervenção militar no país. Milhares de pessoas participam de atos em Kiev.
Há muitos interesses em jogo capazes de inflamar ainda mais os ânimos. O risco de guerra civil existe. A opção pelas armas, porém, deve ser descartada. Em vez de balas e mísseis, a munição da contenda tem de ser o diálogo. As partes, incluída a Rússia, devem sentar-se à mesa de negociações para levar a estabilidade ao país, o que inclui, necessariamente, a escolha de governo honesto, responsável e disposto a promover reformas. Eleições estão marcadas para maio.
Um deles: a divisão da população. Parte significativa dos 44,6 milhões de ucranianos se sente russa em razão da nacionalidade dos antecedentes ou de anexações recentes. O outro: a dependência energética. Kiev compra de Moscou mais da metade do gás que utiliza. Essa fragilidade, aliás, foi determinante no afastamento da Ucrânia e da União Europeia (UE) - estopim da crise que eclodiu em novembro de 2013 e ameaça a unidade do país.
Estrangulado por profunda crise financeira, com reservas cambiais em colapso e o deficit público que abocanha quase 6% do PIB, o então presidente Victor Yanukovich recebeu de bom grado a proposta de Vladimir Putin - reduzir em um terço o preço do combustível vendido ao vizinho. Em troca, teria de dar prioridade às relações com a Rússia, fato que levou à recusa da assinatura de acordo com a UE.
Milhares de pessoas foram às ruas em protesto contra a decisão. O governo reagiu com violência. Em fevereiro, 82 pessoas morreram. O presidente deixou o poder, destituído pelo parlamento. Mas a instabilidade continuou. É que a Rússia e parte da população simpática a Moscou, especialmente da Crimeia, consideraram golpe a saída de Yanukovich.
A situação se agrava. Vladimir Putin obteve autorização do congresso para intervir na Ucrânia. O objetivo: proteger cidadãos e militares russos que trabalham em bases na região. O presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov, decretou a Ucrânia área de exclusão aérea e convocou reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.
Vozes da comunidade internacional se fizeram ouvir. Barack Obama, com discurso que lembrou a guerra fria, acusou Putin de violar a lei internacional e o exortou a respeitar a integridade territorial ucraniana. O secretário de Estado americano, John Kerry, ameaçou retirar a Rússia do G8, o bloco dos países mais industrializados, caso o conflito continue. Autoridades da União Europeia manifestaram preocupação com a possibilidade de intervenção militar no país. Milhares de pessoas participam de atos em Kiev.
Há muitos interesses em jogo capazes de inflamar ainda mais os ânimos. O risco de guerra civil existe. A opção pelas armas, porém, deve ser descartada. Em vez de balas e mísseis, a munição da contenda tem de ser o diálogo. As partes, incluída a Rússia, devem sentar-se à mesa de negociações para levar a estabilidade ao país, o que inclui, necessariamente, a escolha de governo honesto, responsável e disposto a promover reformas. Eleições estão marcadas para maio.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
ASSESSORES DE MENSALEIROS GANHAM BOQUINHAS
Condenados pelo Supremo Tribunal Federal no maior escândalo de corrupção da História brasileira, os mensaleiros João Paulo Cunha e José Genoino, do PT-SP, renunciaram aos mandatos de deputado e hoje desfrutam da hospitalidade da Papuda, mas permanecem agarrados ao dinheiro público: distribuíram seus assessores em “boquinhas” na Câmara dos Deputados e até no Palácio do Planalto.
QUEM PAGA
Parte da turma de João Paulo foi absorvida por André Vargas (PT-PR) na 1ª vice-presidência da Câmara. Todos pagos por nós, claro.
GARANTIDA
Maria Socorro Neiva, por exemplo, ganhava R$ 4,7 mil no gabinete de João Paulo Cunha, e vai receber R$ 5,7 mil na 1ª vice-presidência.
PROMOÇÃO
Eduardo Dalbosco, assessor de Genoino, também foi aumentado em seu novo emprego, na Casa Civil do Planalto: R$ 10,2 mil por mês.
VASSOURA
Obrigado a manter assessores de Genoino, o suplente Renato Simões (PT-SP) aos poucos se livra da herança, promovendo substituições.
ITAMARATY ATRASA SALÁRIOS E ALUGUÉIS NO EXTERIOR
A crise no Itamaraty agora chega às finanças, apesar do prometido “corte de despesas”: contratados locais de sete consulados-gerais e de duas embaixadas ainda não receberam os salários de fevereiro, após o atraso de janeiro. O “pendura” atinge a missão do Brasil na OEA, em Washington, da ONU em Nova York, além de várias embaixadas, o que poderá render multas milionárias ao governo brasileiro lá fora.
ESTICA E PUXA
Servidores não sabem como fechar as contas em Boston, Montevidéu, São Francisco, Los Angeles, Chicago, Houston, Paris e Londres.
O SALÁRIO DANÇOU
O Itamaraty promete pagar até sexta (7), mas os funcionários, que trabalharam no Carnaval, podem parar o atendimento antes da Copa.
L’ARGENT TOUJOURS
A crise não bateu à porta do consulado em Paris: em 2012 o Itamaraty pagou € 100 mil de aluguel e manutenção, à espera do novo cônsul.
RIO EM PÂNICO
Até a livraria Argumento, no Leblon, querida dos cariocas, fechou suas portas no carnaval e, além das grades de aço, reforçou toda a fachada com tapumes de madeira, com medo de novos prejuízos com invasões e depredações. Isso no bairro onde mora o governador Sergio Cabral.
MARIONETE
Enrolado em graves acusações, o ministro Manoel Dias (Trabalho), nem considera pedir demissão, para poupar Dilma do constrangimento. Quem o proíbe de pedir o boné é Carlos Lupi, de quem é preposto.
FIRME E FORTE
Apesar de o PSD e PDT já terem pulado fora, partidos da base aliada que criaram o “blocão” para chantagear o governo já marcaram novo almoço para terça (11), após o feriado prolongado do carnaval.
PEDAGÓGICO
Marcos Rogério (PDT-RO), que votaria em Jair Bolsonaro na comissão de Direitos Humanos, comemorou o placar apertado de 10×8. “O PT precisava desse susto para aprender a respeitar acordos”, afirmou.
NÃO É FÁCIL
O cineasta baiano Dado Galvão, de “Conexão Cuba-Honduras” busca recursos para legendar o documentário “Missão Bolívia”, sobre a saga do senador boliviano Pinto Molina, que denunciou narcotráfico em seu país, passou a ser perseguido e se exilou na embaixada do Brasil.
BRIGA DE EGO
O PV identificou na briga do deputado Ricardo Izar (PSD-SP) por criar CPI dos maus tratos aos animais uma tentativa de esvaziar comissão especial que elaborará marco legal, cujo relator é José Penna (PV-SP).
DEVO-O, NÃO NEGO-O
Ex-assessor de Jânio Quadros, o escritor e jornalista Nelson Valente pede R$ 280 mil de indenização trabalhista ao eterno candidato a presidente Levy Fidelix (PRTB-SP), que tenta ser o Jânio 2.0.
É COISA NOSSA
Dinossauros comunistas da Itália, Alemanha e França foram poupados do mico de Lula visitar o porto de Mariel em Cuba, enquanto faltam portos no Brasil: o jornal Granma só mostrou em espanhol e português.
PENSANDO BEM…
…o diretor de “Gravidade”, Oscar de efeitos especiais, já deve estar de olho num filme sobre o julgamento do mensalão no Supremo.
PODER SEM PUDOR
GUERRA DAS ROSAS
Certa vez, o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), durante sessão em que se discutiam temas polêmicos, como uma “blindagem” ao presidente do Banco Central, afirmou que tudo se resolveria no Congresso e o Brasil melhoraria quando “chegar a primavera”. Inconformado, o então líder oposicionista José Carlos Aleluia (BA) espetou:
- Não será quando chegar a primavera, mas quando chegar o bom senso.
Na época, ainda sem ninguém saber, João Paulo Cunha e cúmplices abandonavam o bom senso para deitar e rolar no dinheiro farto do mensalão.
Condenados pelo Supremo Tribunal Federal no maior escândalo de corrupção da História brasileira, os mensaleiros João Paulo Cunha e José Genoino, do PT-SP, renunciaram aos mandatos de deputado e hoje desfrutam da hospitalidade da Papuda, mas permanecem agarrados ao dinheiro público: distribuíram seus assessores em “boquinhas” na Câmara dos Deputados e até no Palácio do Planalto.
QUEM PAGA
Parte da turma de João Paulo foi absorvida por André Vargas (PT-PR) na 1ª vice-presidência da Câmara. Todos pagos por nós, claro.
GARANTIDA
Maria Socorro Neiva, por exemplo, ganhava R$ 4,7 mil no gabinete de João Paulo Cunha, e vai receber R$ 5,7 mil na 1ª vice-presidência.
PROMOÇÃO
Eduardo Dalbosco, assessor de Genoino, também foi aumentado em seu novo emprego, na Casa Civil do Planalto: R$ 10,2 mil por mês.
VASSOURA
Obrigado a manter assessores de Genoino, o suplente Renato Simões (PT-SP) aos poucos se livra da herança, promovendo substituições.
ITAMARATY ATRASA SALÁRIOS E ALUGUÉIS NO EXTERIOR
A crise no Itamaraty agora chega às finanças, apesar do prometido “corte de despesas”: contratados locais de sete consulados-gerais e de duas embaixadas ainda não receberam os salários de fevereiro, após o atraso de janeiro. O “pendura” atinge a missão do Brasil na OEA, em Washington, da ONU em Nova York, além de várias embaixadas, o que poderá render multas milionárias ao governo brasileiro lá fora.
ESTICA E PUXA
Servidores não sabem como fechar as contas em Boston, Montevidéu, São Francisco, Los Angeles, Chicago, Houston, Paris e Londres.
O SALÁRIO DANÇOU
O Itamaraty promete pagar até sexta (7), mas os funcionários, que trabalharam no Carnaval, podem parar o atendimento antes da Copa.
L’ARGENT TOUJOURS
A crise não bateu à porta do consulado em Paris: em 2012 o Itamaraty pagou € 100 mil de aluguel e manutenção, à espera do novo cônsul.
RIO EM PÂNICO
Até a livraria Argumento, no Leblon, querida dos cariocas, fechou suas portas no carnaval e, além das grades de aço, reforçou toda a fachada com tapumes de madeira, com medo de novos prejuízos com invasões e depredações. Isso no bairro onde mora o governador Sergio Cabral.
MARIONETE
Enrolado em graves acusações, o ministro Manoel Dias (Trabalho), nem considera pedir demissão, para poupar Dilma do constrangimento. Quem o proíbe de pedir o boné é Carlos Lupi, de quem é preposto.
FIRME E FORTE
Apesar de o PSD e PDT já terem pulado fora, partidos da base aliada que criaram o “blocão” para chantagear o governo já marcaram novo almoço para terça (11), após o feriado prolongado do carnaval.
PEDAGÓGICO
Marcos Rogério (PDT-RO), que votaria em Jair Bolsonaro na comissão de Direitos Humanos, comemorou o placar apertado de 10×8. “O PT precisava desse susto para aprender a respeitar acordos”, afirmou.
NÃO É FÁCIL
O cineasta baiano Dado Galvão, de “Conexão Cuba-Honduras” busca recursos para legendar o documentário “Missão Bolívia”, sobre a saga do senador boliviano Pinto Molina, que denunciou narcotráfico em seu país, passou a ser perseguido e se exilou na embaixada do Brasil.
BRIGA DE EGO
O PV identificou na briga do deputado Ricardo Izar (PSD-SP) por criar CPI dos maus tratos aos animais uma tentativa de esvaziar comissão especial que elaborará marco legal, cujo relator é José Penna (PV-SP).
DEVO-O, NÃO NEGO-O
Ex-assessor de Jânio Quadros, o escritor e jornalista Nelson Valente pede R$ 280 mil de indenização trabalhista ao eterno candidato a presidente Levy Fidelix (PRTB-SP), que tenta ser o Jânio 2.0.
É COISA NOSSA
Dinossauros comunistas da Itália, Alemanha e França foram poupados do mico de Lula visitar o porto de Mariel em Cuba, enquanto faltam portos no Brasil: o jornal Granma só mostrou em espanhol e português.
PENSANDO BEM…
…o diretor de “Gravidade”, Oscar de efeitos especiais, já deve estar de olho num filme sobre o julgamento do mensalão no Supremo.
PODER SEM PUDOR
GUERRA DAS ROSAS
Certa vez, o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), durante sessão em que se discutiam temas polêmicos, como uma “blindagem” ao presidente do Banco Central, afirmou que tudo se resolveria no Congresso e o Brasil melhoraria quando “chegar a primavera”. Inconformado, o então líder oposicionista José Carlos Aleluia (BA) espetou:
- Não será quando chegar a primavera, mas quando chegar o bom senso.
Na época, ainda sem ninguém saber, João Paulo Cunha e cúmplices abandonavam o bom senso para deitar e rolar no dinheiro farto do mensalão.