FOLHA DE SP - 20/02
Diminuiu a exclusão, mas será que existe uma comunidade na qual valha a pena sentir-se incluído?
Querem saber se acho que o Brasil melhorou desde os anos 1980.
Se estou de bom humor, digo que sim: falo da época em que o telefone era imóvel para investimento, a inflação transformava qualquer crédito em usura, carro usado custava mais que carro novo e comprar um notebook significava "conversar" com um comissário da Varig, para que ele trouxesse o aparelho de Miami.
Se estou de mau humor, digo que não: falo de nossos estudantes que se perdem no ranking internacional, da mediocridade de grande parte da classe política, da vagarosidade dos serviços básicos e, enfim, da produtividade pífia, da ganância e da corrupção, que tornam absurdamente caro tudo o que é nacional.
Seja qual for o humor, lembro que, nas últimas décadas, diminuiu substancialmente a percentagem dos excluídos, ou seja, diminuiu aquela miséria que situa alguém num barco à parte, na deriva e sem relação com o rumo comum.
Mas logo paro: será que, ao longo dessas décadas, constituiu-se um rumo comum? Diminuiu a exclusão, disse, mas será que passou a existir uma comunidade na qual seja possível e valha a pena sentir-se incluído? Será que existe, no Brasil, o sentimento de uma comunidade de destino, passado e futuro? Será que o Brasil, como nação, existe dentro de nós que aqui vivemos?
Na noite de 31/1, no Rio de Janeiro, um garoto de rua foi encontrado nu, preso a um poste com uma trava de bicicleta no pescoço. Ele foi seviciado por uma turma de motoqueiros vigilantes. O garoto, nas fotografias, parece um filhote esgarrado; mas cuidado com a ternura: se você o encontrasse livre, com os amigos dele, no escuro do aterro do Flamengo, você procuraria ansiosamente as luzes de uma viatura. Por outro lado, provavelmente, o bando que o prendeu lhe inspiraria um medo análogo, se não pior.
Enfim, alguns se indignaram pela ação dos vigilantes. Outros felicitaram os vigilantes, conclamando que está na hora de os cidadãos de bem reagirem.
Na Folha (pág. 3, 11 de fevereiro), o debate culminou com os artigos de Rachel Sheherazade, âncora do "SBT Brasil", e Ivan Valente, deputado federal pelo PSOL: Sheherazade cansada do "coitadismo" de esquerda, que protege os criminosos, e Valente achando que a violência dos vigilantes só gera "mais violência".
Não é preciso brigar, visto que linchadores e bandidos são filhos de um mesmo problema endêmico: aqui, a coisa pública não vingou --o Estado, para nós, é uma pompa, mais ou menos ridícula, ele não é nada dentro da gente. Se não tem coisa pública, por que eu não viveria matando quem não me entrega seu relógio? Se não tem coisa pública, por que eu não lincharia quem me assalta?
Linchadores e bandidos vingam porque não vivemos num país comum (com mesmos valores, história e antepassados para nos inspirarem). Habitamos uma zona de tiro livre, ou seja, uma área de combate em que ninguém é "dos nossos", mas tudo o que mexe é um alvo permitido.
Ao longo do debate, foi citada, mais de uma vez, a receita de Nova York nos anos 90, "tolerância zero", como se fosse uma medida de repressão. Não era. Nunca foi. "Tolerância zero" era uma estratégia para fazer existir o espaço público. Sua moral: se você não quer assaltos no parque, cuide das flores. Não deixe que mijem nos canteiros, e o número dos assassinatos diminuirá. Diminuiu.
Não é que os criminosos tenham medo de flores. É que as flores manifestam que a comunidade existe no coração e nas mentes de todos (e ela vai se defender).
Por que não haveria em nós o sentimento de uma comunidade de destino? Há razões antigas, sobre as quais se debruçam os intérpretes do Brasil. Mas há também razões imediatas. Clóvis Rossi, na Folha de 13/2: "alguém precisa aparecer com um projeto de país, em vez de projetos de poder".
Em 30 anos, desde que cheguei ao Brasil, parece que só assisti aos conflitos de projetos de poder.
Mais duas notas. 1) O sentimento de uma comunidade de destino, que é o que faz uma nação, não tem nada a ver com o nacionalismo. Ao contrário, o nacionalismo surge para compensar a falta desse sentimento. Portanto, torcer no Mundial ou, como Policarpo Quaresma, falar tupi e tocar maracá, tudo isso é uma grande perda de tempo.
2) Será que, nessa zona de tiro livre, só tem espaço para linchadores e bandidos? Não, claro, há todos os outros, que são (somos) os "salve-se quem puder" --com diferenças: alguns podem fugir para Miami, outros só podem baixar os olhos e caminhar rente aos muros.
quinta-feira, fevereiro 20, 2014
Sorriso de mulher - CARLOS RAMALHETE
GAZETA DO POVO - 20/02
Nada é mais belo que uma bela mulher. E nada é mais fascinante, nada lava mais completamente a alma, que o sorriso de uma bela mulher. Quando a dona deste sorriso – que, claro, não tem coração – nos rouba o nosso, então, temos o apogeu de toda a beleza da Criação. É fácil, fácil demais, atribuir esta percepção do Belo à necessidade biológica de encontrar uma parceira para a reprodução. Há isso também, mas há muito mais: a mulher completa o homem em níveis muito mais profundos, muito mais verdadeiros, que o meramente biológico, que o meramente psicológico.
O sorriso da mulher amada é um vislumbre da glória prometida, é uma janela que se abre a um infinito apenas vislumbrado. Não apenas por ser feminino, mas por ser um acesso ao Feminino, àquilo que nos completa, nos torna capazes de ser plenamente humanos.
Biologicamente, também, há evidentemente um sentido, ainda que raso: se o sorriso da mulher nos agrada, temos um incentivo subconsciente para protegê-la, agradá-la; fica ainda mais fácil tornar em ato o cavalheirismo instintivo que move todo homem diante de uma bela mulher. Mas, ao mesmo tempo, é um sorriso que nos civiliza, que tira as arestas deste mesmo cavalheirismo, que de fábrica vem um pouco desordenado. É o mesmo impulso de arrancar da mulher um sorriso que leva o homem à aventura, a deixar a testosterona tomar conta e partir para a guerra, para o salto de paraquedas, para a pilotagem em alta velocidade. E é aí a reação feminina daquela bela face preocupada, ou mesmo triste, que nos impede de perder, por excesso de macheza, a admiração da mulher amada.
É o sorriso feminino que nos impede de ter uma barba até o joelho, que apavora os fabricantes de pochetes, que impõe limites àquela estranha forma de selvageria que assola o homem só. Sem este sorriso o ogro desperta, a barriga de cerveja cresce, o pelame toma formas estranhas e inusitadas.
Com ele, civilizam-se os aspectos e as aventuras; as motocicletas ganham garupas, os jardins ganham flores, e o ogro retira-se às negras entranhas do subconsciente, de onde só sairá para defender o mesmo sorriso que o aprisionou.
As invenções do homem – do fogo e da roda às bombas termonucleares e aviões – são, no fundo, o fruto desta influência civilizadora que só pode ter o sorriso da mulher amada. Sem ele, nada somos. Com ele, o mundo é nosso. Sem ele caímos àqueles 97% dos genes comuns aos outros primatas. Com ele, subimos muito além dos 3% restantes: subimos ao Céu, prefigurado na terra por aquela boca, aquele olhar.
Nada é mais belo que uma bela mulher. E nada é mais fascinante, nada lava mais completamente a alma, que o sorriso de uma bela mulher. Quando a dona deste sorriso – que, claro, não tem coração – nos rouba o nosso, então, temos o apogeu de toda a beleza da Criação. É fácil, fácil demais, atribuir esta percepção do Belo à necessidade biológica de encontrar uma parceira para a reprodução. Há isso também, mas há muito mais: a mulher completa o homem em níveis muito mais profundos, muito mais verdadeiros, que o meramente biológico, que o meramente psicológico.
O sorriso da mulher amada é um vislumbre da glória prometida, é uma janela que se abre a um infinito apenas vislumbrado. Não apenas por ser feminino, mas por ser um acesso ao Feminino, àquilo que nos completa, nos torna capazes de ser plenamente humanos.
Biologicamente, também, há evidentemente um sentido, ainda que raso: se o sorriso da mulher nos agrada, temos um incentivo subconsciente para protegê-la, agradá-la; fica ainda mais fácil tornar em ato o cavalheirismo instintivo que move todo homem diante de uma bela mulher. Mas, ao mesmo tempo, é um sorriso que nos civiliza, que tira as arestas deste mesmo cavalheirismo, que de fábrica vem um pouco desordenado. É o mesmo impulso de arrancar da mulher um sorriso que leva o homem à aventura, a deixar a testosterona tomar conta e partir para a guerra, para o salto de paraquedas, para a pilotagem em alta velocidade. E é aí a reação feminina daquela bela face preocupada, ou mesmo triste, que nos impede de perder, por excesso de macheza, a admiração da mulher amada.
É o sorriso feminino que nos impede de ter uma barba até o joelho, que apavora os fabricantes de pochetes, que impõe limites àquela estranha forma de selvageria que assola o homem só. Sem este sorriso o ogro desperta, a barriga de cerveja cresce, o pelame toma formas estranhas e inusitadas.
Com ele, civilizam-se os aspectos e as aventuras; as motocicletas ganham garupas, os jardins ganham flores, e o ogro retira-se às negras entranhas do subconsciente, de onde só sairá para defender o mesmo sorriso que o aprisionou.
As invenções do homem – do fogo e da roda às bombas termonucleares e aviões – são, no fundo, o fruto desta influência civilizadora que só pode ter o sorriso da mulher amada. Sem ele, nada somos. Com ele, o mundo é nosso. Sem ele caímos àqueles 97% dos genes comuns aos outros primatas. Com ele, subimos muito além dos 3% restantes: subimos ao Céu, prefigurado na terra por aquela boca, aquele olhar.
Escravidão, sadismo e inteligência - MARIO SERGIO CONTI
O GLOBO - 20/02
O filme ‘12 anos de escravidão’ emociona, mas não pensa nem deixa pensar
O novo filme do diretor Steve McQueen, que estreia amanhã no Rio, recebeu um título em português que, apesar de semelhante ao original, tem sentido diferente. “12 anos escravo” virou aqui “12 anos de escravidão”. Ele conta a vida de um indivíduo que é sequestrado e vendido ilegalmente. Como virou mercadoria, seus donos fazem dele o que querem. No título brasileiro, o indivíduo deixa de ser proeminente: “Escravidão” remete ao sistema econômico que molda uma sociedade. Como não existe escravo sem escravismo, o modelo econômico e social está também presente no filme, embora não seja o seu fulcro. É um sinal dos tempos. Tempos de Barack Obama.
“12 anos de escravidão” é um filme para ganhar prêmios. Já recebeu uma penca deles e é considerado barbada na disputa do Oscar. Tudo nele é admirável, pomposo, solene. A sua sobriedade é esmagadora. Steve McQueen, artista plástico de formação, compõe cada sequência com esmeros de pintor. Não há uma sujeirinha fora do lugar. O objetivo não foi fazer um entretenimento que se acompanha comendo pipoca, e sim um “clássico” que provoca lágrimas. É uma pretensão cabível, e até certo ponto obtida. Isso ocorre em função do tema, do contexto que envolve o filme e do seu naturalismo.
O tema: “12 anos” é o primeiro filme americano sério sobre escravos. Perto dele, “O nascimento de uma nação” e “E o vento levou”, superproduções que marcaram época, são exercícios racistas de edulcoração histórica. Avançou-se no reconhecimento da importância do passado escravista para o presente de assalariamento. A sensibilidade de Hollywood em relação a remorsos nacionais pode ser medida em números: há milhares de filmes sobre a II Guerra Mundial (nos quais os americanos posam de heróis), centenas sobre a invasão do Vietnã (levaram uma surra), bem menos sobre a guerra civil (massacraram-se uns aos outros) e meia dúzia sobre o escravismo (o país foi feito por meio da exploração de africanos).
A escravidão contundente chegou ao cinema em último lugar. “A cabana do Pai Tomás”, de Harriet Beecher Stowe, foi publicado antes da abolição. O romance “Negras raízes”, de Alex Haley, de 1976, provocou comoção no ano seguinte, ao ser adaptado para a televisão numa minissérie de enorme sucesso. O cinema chegou atrasado e por vias tortas: Steve McQueen é inglês e mora na Holanda.
Agora o contexto: o filme se materializa no segundo mandato de um negro na presidência, ainda que Barack Obama não tenha ancestrais escravos. Sua mãe, branca, nasceu no Kansas; o pai, negro, no Quênia. Séculos de luta contra a discriminação o levaram à Casa Branca. Mas Obama se comporta como um presidente tradicional, e não como um político que lidera transformações radicais na vida do povo negro. Ele é mais um símbolo do que um político da estirpe de Martin Luther King ou, noutra linha, Malcolm X.
O protagonista de “12 anos de escravidão”, Solomon Northup, era um homem livre, marido dedicado e pai prestimoso. Conhece a escravidão na carne quando é posto para trabalhar na roça. Começa a sua degradação: surras diárias de açoite, traição e desespero. Vira uma besta de carga. Tem que esconder que sabe ler para que os seus donos não percebam que é semelhante a eles. A sua astúcia é a de conformar-se, ao mesmo tempo em que mantém intacta (para usar uma expressão hollywoodiana) a dignidade de ser humano. Até que, por fim, uma boa alma — Brad Pitt... — o escuta e ajuda. Com acordes melodiosos ao fundo, o filme acaba.
Por fim, o naturalismo: o filme tem força, incomoda. Será arte? Ao ter que expor uma exploração atroz, Steve McQueen dá uma resposta violenta: explora a atrocidade. Para o diretor, a escravidão se manifesta no dilaceramento do corpo dos escravos, e ali deve ser vista. E revolvida. E repetida. Com isso, a brutalidade do filme é de arrepiar, quando não repulsiva. Espancamentos, chicotadas, enforcamentos, estupros — a crueldade física está no âmago de “12 anos de escravidão”. Conduz a narrativa e não sai nunca do primeiro plano.
O sofrimento infligido aos escravos era real. Funcionava como justificativa dos proprietários: como escravo é inferior aos brancos, deve ser espancado e humilhado até aprender o seu lugar. Como o filme não se distancia da dor física, não a pensa, o sadismo encobre tudo em torno, torna-se o elemento central. Só que a associação de prazer e dor nunca foi a substância da escravidão. Nos Estados Unidos, ela foi um modo de apropriação do trabalho. O escravo, mercadoria viva, produzia valor. A perversão sádica, bem como a religiosa, eram construções ideológicas. Ao privilegiar o realismo cru, deixando a inteligência em segundo plano, “12 anos de escravidão” emociona. Mas não pensa nem deixa pensar.
O filme ‘12 anos de escravidão’ emociona, mas não pensa nem deixa pensar
O novo filme do diretor Steve McQueen, que estreia amanhã no Rio, recebeu um título em português que, apesar de semelhante ao original, tem sentido diferente. “12 anos escravo” virou aqui “12 anos de escravidão”. Ele conta a vida de um indivíduo que é sequestrado e vendido ilegalmente. Como virou mercadoria, seus donos fazem dele o que querem. No título brasileiro, o indivíduo deixa de ser proeminente: “Escravidão” remete ao sistema econômico que molda uma sociedade. Como não existe escravo sem escravismo, o modelo econômico e social está também presente no filme, embora não seja o seu fulcro. É um sinal dos tempos. Tempos de Barack Obama.
“12 anos de escravidão” é um filme para ganhar prêmios. Já recebeu uma penca deles e é considerado barbada na disputa do Oscar. Tudo nele é admirável, pomposo, solene. A sua sobriedade é esmagadora. Steve McQueen, artista plástico de formação, compõe cada sequência com esmeros de pintor. Não há uma sujeirinha fora do lugar. O objetivo não foi fazer um entretenimento que se acompanha comendo pipoca, e sim um “clássico” que provoca lágrimas. É uma pretensão cabível, e até certo ponto obtida. Isso ocorre em função do tema, do contexto que envolve o filme e do seu naturalismo.
O tema: “12 anos” é o primeiro filme americano sério sobre escravos. Perto dele, “O nascimento de uma nação” e “E o vento levou”, superproduções que marcaram época, são exercícios racistas de edulcoração histórica. Avançou-se no reconhecimento da importância do passado escravista para o presente de assalariamento. A sensibilidade de Hollywood em relação a remorsos nacionais pode ser medida em números: há milhares de filmes sobre a II Guerra Mundial (nos quais os americanos posam de heróis), centenas sobre a invasão do Vietnã (levaram uma surra), bem menos sobre a guerra civil (massacraram-se uns aos outros) e meia dúzia sobre o escravismo (o país foi feito por meio da exploração de africanos).
A escravidão contundente chegou ao cinema em último lugar. “A cabana do Pai Tomás”, de Harriet Beecher Stowe, foi publicado antes da abolição. O romance “Negras raízes”, de Alex Haley, de 1976, provocou comoção no ano seguinte, ao ser adaptado para a televisão numa minissérie de enorme sucesso. O cinema chegou atrasado e por vias tortas: Steve McQueen é inglês e mora na Holanda.
Agora o contexto: o filme se materializa no segundo mandato de um negro na presidência, ainda que Barack Obama não tenha ancestrais escravos. Sua mãe, branca, nasceu no Kansas; o pai, negro, no Quênia. Séculos de luta contra a discriminação o levaram à Casa Branca. Mas Obama se comporta como um presidente tradicional, e não como um político que lidera transformações radicais na vida do povo negro. Ele é mais um símbolo do que um político da estirpe de Martin Luther King ou, noutra linha, Malcolm X.
O protagonista de “12 anos de escravidão”, Solomon Northup, era um homem livre, marido dedicado e pai prestimoso. Conhece a escravidão na carne quando é posto para trabalhar na roça. Começa a sua degradação: surras diárias de açoite, traição e desespero. Vira uma besta de carga. Tem que esconder que sabe ler para que os seus donos não percebam que é semelhante a eles. A sua astúcia é a de conformar-se, ao mesmo tempo em que mantém intacta (para usar uma expressão hollywoodiana) a dignidade de ser humano. Até que, por fim, uma boa alma — Brad Pitt... — o escuta e ajuda. Com acordes melodiosos ao fundo, o filme acaba.
Por fim, o naturalismo: o filme tem força, incomoda. Será arte? Ao ter que expor uma exploração atroz, Steve McQueen dá uma resposta violenta: explora a atrocidade. Para o diretor, a escravidão se manifesta no dilaceramento do corpo dos escravos, e ali deve ser vista. E revolvida. E repetida. Com isso, a brutalidade do filme é de arrepiar, quando não repulsiva. Espancamentos, chicotadas, enforcamentos, estupros — a crueldade física está no âmago de “12 anos de escravidão”. Conduz a narrativa e não sai nunca do primeiro plano.
O sofrimento infligido aos escravos era real. Funcionava como justificativa dos proprietários: como escravo é inferior aos brancos, deve ser espancado e humilhado até aprender o seu lugar. Como o filme não se distancia da dor física, não a pensa, o sadismo encobre tudo em torno, torna-se o elemento central. Só que a associação de prazer e dor nunca foi a substância da escravidão. Nos Estados Unidos, ela foi um modo de apropriação do trabalho. O escravo, mercadoria viva, produzia valor. A perversão sádica, bem como a religiosa, eram construções ideológicas. Ao privilegiar o realismo cru, deixando a inteligência em segundo plano, “12 anos de escravidão” emociona. Mas não pensa nem deixa pensar.
Venezuela! Caracas tá do caraca! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 20/02
Em Búzios, uns coroas se juntaram e criaram o bloco Os Tremendo! Vamos tremendo mesmo! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada pronta: "Vereador tem bicicleta furtada na avenida Paulista".
Como é o nome do vereador? POLICE Neto. Acho que por isso mesmo que furtaram. Rarará!
E atenção! Contagem regressiva. Faltam nove dias pro Carnaval!
E os blocos? Adoro os blocos! Direto de Olinda: "Virgens de Verdade". Xi, não vai ter ninguém! Nem pra segurar a faixa do bloco.
E se você pensa que Floripa só tem Jurerê, DJs e música eletrônica, se enganou. Direto de Floripa, o bloco Baiacu de Alguém. Ainda bem que é de alguém. Rarará!
E, em Búzios, uns coroas se juntaram e criaram o bloco Os Tremendo! Vamos tremendo mesmo! Rarará!
E a Venezuela? A Chavezuela! A cuíca tá roncando na Venezuela. A cuíca, o pandeiro e o reco-reco!
A situação em Caracas tá do caraca! E o Maduro é a cara do Professor Girafales! Rarará!
Eu acho esse Maduro podre. E a oposição muito Miami! Esse Maduro é muito tosco! Não é por ele ter sido cobrador de ônibus, isso não tem nada a ver, é porque ele é tosco mesmo!
E a oposição? A oposição mora em Miami! Oposição shopping center. Oposição outlet! Coxinhas! Maduro de Podre x Coxinhas de Miami!
Eu gostava do Chávez, que era mais engraçado que o Chaves do SBT! Que fazia aqueles discursos anos 60: "Yankees de mierda! Go Home! Al carajo, mil veces al carajo! Viva la patria". Rarará!
E os brasileiros torcem, brigam e discutem tanto sobre a Venezuela. Parece que a Venezuela é um Estado brasileiro!
E eu escrevi isso no Twitter e a esquerda e a direita acabaram comigo! Rarará!
Por isso que eu não sou nem de esquerda nem direita, sou da cintura pra baixo! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! Recebi a foto dum barquinho lindo numa praia incrível, com a placa em cima: "Não suba nessa porra!". Pela "porra" deve ser na Bahia! Porra na Bahia é vírgula!
Um dia encontrei uma baiana na praça de Arembepe e ela gritou: "Zé Simão em Arembepe? Que porra é essa?!". Essa porra sou eu! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje, só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Em Búzios, uns coroas se juntaram e criaram o bloco Os Tremendo! Vamos tremendo mesmo! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada pronta: "Vereador tem bicicleta furtada na avenida Paulista".
Como é o nome do vereador? POLICE Neto. Acho que por isso mesmo que furtaram. Rarará!
E atenção! Contagem regressiva. Faltam nove dias pro Carnaval!
E os blocos? Adoro os blocos! Direto de Olinda: "Virgens de Verdade". Xi, não vai ter ninguém! Nem pra segurar a faixa do bloco.
E se você pensa que Floripa só tem Jurerê, DJs e música eletrônica, se enganou. Direto de Floripa, o bloco Baiacu de Alguém. Ainda bem que é de alguém. Rarará!
E, em Búzios, uns coroas se juntaram e criaram o bloco Os Tremendo! Vamos tremendo mesmo! Rarará!
E a Venezuela? A Chavezuela! A cuíca tá roncando na Venezuela. A cuíca, o pandeiro e o reco-reco!
A situação em Caracas tá do caraca! E o Maduro é a cara do Professor Girafales! Rarará!
Eu acho esse Maduro podre. E a oposição muito Miami! Esse Maduro é muito tosco! Não é por ele ter sido cobrador de ônibus, isso não tem nada a ver, é porque ele é tosco mesmo!
E a oposição? A oposição mora em Miami! Oposição shopping center. Oposição outlet! Coxinhas! Maduro de Podre x Coxinhas de Miami!
Eu gostava do Chávez, que era mais engraçado que o Chaves do SBT! Que fazia aqueles discursos anos 60: "Yankees de mierda! Go Home! Al carajo, mil veces al carajo! Viva la patria". Rarará!
E os brasileiros torcem, brigam e discutem tanto sobre a Venezuela. Parece que a Venezuela é um Estado brasileiro!
E eu escrevi isso no Twitter e a esquerda e a direita acabaram comigo! Rarará!
Por isso que eu não sou nem de esquerda nem direita, sou da cintura pra baixo! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! Recebi a foto dum barquinho lindo numa praia incrível, com a placa em cima: "Não suba nessa porra!". Pela "porra" deve ser na Bahia! Porra na Bahia é vírgula!
Um dia encontrei uma baiana na praça de Arembepe e ela gritou: "Zé Simão em Arembepe? Que porra é essa?!". Essa porra sou eu! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje, só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
A grande incógnita - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 20/02
Na corda bamba
As experiências passadas com o PSDB não são as únicas que perturbam seu principal aliado, o DEM. A insegurança se mantém nesse pleito. Seus parlamentares contam que o senador Aécio Neves (PSDB) garante que vai intervir no Mato Grosso do Sul, para que os tucanos não apoiem o senador Delcídio Amaral (PT). Mas o deputado tucano Reinaldo Azambuja diz que não tem nada disso e que eles estão liberados. A despeito das garantias de Aécio, o governador Simão Jatene (PA) resiste a dar a vice para o deputado Lira Maia (DEM). O deputado Pauderney Avelino acusa o prefeito tucano de Manaus, Arthur Virgílio, de usar a máquina para eleger à Câmara seu filho, o deputado estadual Arthur Bisneto.
“O Azeredo não renunciou para criar obstáculos ao julgamento. A sinalização do caso Donadon é a de que nesses casos o STF julga, não volta para a primeira instância”
Marcus Pestana
Presidente do PSDB de Minas Gerais e deputado federal
Empurra-empurra em São Paulo
Uma ala do PSB tenta confinar a Rede, de Marina Silva, no apoio à candidatura ao governo de Vladimir Safatle (PSOL). Os socialistas ficariam com a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB).
Ideia fixa
A presidente Dilma continua com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, na cabeça. Dilma o quer na Integração, desistindo do governo do Ceará. Isso facilita o jogo para a sucessão do governador Cid Gomes (PROS). Ontem, Dilma falou por telefone com o vice Michel Temer. Eles voltarão a se reunir semana que vem.
Aulinha do Professor Raimundo
A Associação dos Peritos da PF convidou a mídia para a cobertura, hoje, de treinamento sobre como desarmar bombas caseiras. Agentes do FBI vão dar aula. Mudaram de ideia. As reportagens poderiam estimular sua fabricação?
Aproveitando a viagem
O DEM propôs a criação de Comissão Externa da Câmara para ir à Holanda acompanhar investigação sobre o pagamento de propina na Petrobras pela empresa SMB Offshore. A Holanda fica ao lado da França, sede da GEC Alstom, e da Alemanha, sede da Siemens AG, investigadas pelo pagamento de propina no Metrô de São Paulo.
Autonomia regional
O PSD de Minas Gerais bateu o martelo. Ele vai apoiar Pimenta da Veiga (PSDB) para o governo. Apesar da posição pró-Dilma do PSD nacional, a maioria dos mineiros fará campanha para o tucano Aécio Neves. A decisão foi unânime.
Essas coincidências
O PSDB jura que a renúncia do deputado Eduardo Azeredo (MG) foi uma decisão pessoal. O réu do mensalão mineiro tenta sair de cena um dia antes do lançamento da candidatura de Pimenta da Veiga para o governo estadual.
A EXECUTIVA DO PT concluiu o balanço final de candidaturas próprias aos governos estaduais. Os petistas terão candidatos em 18 estados.
De volta ao holofote - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 20/02
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, escolheu o atual secretário de Logística e Transportes, Saulo de Castro, para substituir Edson Aparecido na Casa Civil, principal pasta da administração. A troca não será imediata, pois Alckmin quer preservar Aparecido, citado no inquérito que investiga cartel em contratos de trem e metrô no Estado. Saulo de Castro, um dos auxiliares mais próximos do tucano, foi o czar da Segurança Pública em sua passagem anterior pelo Bandeirantes.
Cimento Depois de "reinventar" o amigo na pasta de Transportes, Alckmin tem elogiado sua gestão. A avaliação do tucano é que Castro "entrega" obras, o que não ocorre em outras secretarias. A duplicação da Tamoios é citada como exemplo.
Devagar Aparecido só deve deixar a Casa Civil depois dos demais secretários-candidatos, cujos substitutos ainda não foram definidos.
Plim... A Rede Globo apresentou ontem a partidos políticos as regras para a cobertura da eleição em São Paulo: assim como na disputa nacional, a participação em debates e entrevistas será restrita a quatro candidatos. Houve chiadeira de nanicos.
... plim Os debates acontecerão em 30 de setembro e 28 de outubro, se houver segundo turno. As entrevistas nas duas edições do "SPTV" serão nas semanas de 18 de agosto e 15 de setembro.
Ecumênico Alexandre Padilha participou ontem do Café de Pastores, evento evangélico organizado por Jabes Alencar, líder da Assembleia de Deus Bom Retiro. O petista tenta se aproximar de igrejas que deram apoio a Geraldo Alckmin em 2010.
O sonho... A decisão do coordenador-geral da seção paulista da Rede, Celio Turino, de deixar o cargo foi precedida por tensa discussão no grupo de e-mails dos sonháticos. Dirigentes ainda tentariam convencê-lo a ficar no posto em reunião ontem.
... acabou A discussão girou em torno da presença de dirigentes da Rede em outras siglas e da negociação de alianças para o governo paulista. O grupo, que não aceita Márcio França (PSB) como candidato, também repudia a aproximação com o PV.
Tá liberado O vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, se manifestou pela rejeição de representação do PT contra as propagandas veiculadas pelo PSDB em setembro de 2013. Aragão afirmou que o protagonismo de Aécio Neves nas peças não teve caráter eleitoral.
Sem aval Petistas receberam recado de que Lula não vai participar de atos de pré-campanha do partido em Estados onde há conflagração da sigla com outras legendas da base de Dilma. Por isso, o ex-presidente não deve aparecer no evento do PT cearense marcado para 29 de março.
Canelada Foi tensa a reunião entre o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), e o representante da Fifa Charles Botta, anteontem. O pedetista lembrou atraso em outras sedes e cobrou retratação da entidade sobre as críticas feitas à cidade pelo andamento das obras, mas o emissário da federação se recusou.
Isca Ao receber o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para discutir apoio do banco à pesca na Amazônia, a senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) atacou pelo estômago: serviu apenas pratos que levam pirarucu, peixe típico da região.
Visita à Folha Márcio Elias Rosa, procurador-geral de Justiça de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava com Arnaldo Hossepian Júnior, subprocurador-geral, e José Francisco Pacóla, assessor de comunicação.
tiroteio
"Depois de anos apontando para o PT, caiu o manto de ética tucano. O que se vê, nem a manobra da renúncia poderá esconder."
DE LUIZ CLÁUDIO MARCOLINO (PT-SP), líder na Assembleia, sobre ação aberta pela Justiça no caso Alstom e a renúncia de Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
contraponto
No microondas
A secretária municipal do Planejamento de São Paulo, Leda Paulani, conversava com o vereador tucano Floriano Pesaro em reunião para discutir demandas de associações de bairros, quando fustigou o adversário:
-Se vocês tivessem aprovado o novo IPTU, teríamos dinheiro para atender seu pleito...
-É só melhorar a gestão do gasto -retrucou o tucano.
Para firmar posição, a secretária rebateu outra crítica.
- E tem mais: não criamos 1.200 cargos sem concurso. Criamos 348. O restante nós descongelamos -afirmou, provocando risos tímidos até dos demais governistas.
Obsessão por Copa preocupa - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 20/02
No jantar, os empresários destacaram que o Brasil não conseguiu destravar o gargalo da infraestrutura, mesmo com as recentes concessões de rodovias e de aeroportos. Também estão preocupados com a questão energética e reclamam que falta ao atual governo capacidade de planejamento estratégico.
Além disso, eles também acreditam que um eventual acirramento das manifestações, com cenas de violência como as registradas no Rio, manche a imagem do Brasil no exterior. “Não podemos dar a impressão de que viramos uma Venezuela”, disse um dos presentes
ao jantar.
À vontade
O secretário executivo da Casa Civil, Valdyr Moisés Simão, respondeu à coluna que não há qualquer desconforto com relação ao estilo e ao ambiente de trabalho no quarto andar do Palácio. “Esclareço, ainda, que tenho desempenhando normalmente minhas funções de secretário executivo da Casa Civil.”
Contra o uso da máquina
A senadora Ana Amélia (PP-RS) esclareceu ontem que o prazo de quatro meses para a renúncia, que consta da proposta de emenda à Constituição (PEC) sugerida por ela, se refere aos integrantes do Poder Executivo que concorrerão à reeleição. “É para evitar o uso inadequado e indevido da estrutura pública, normalmente direcionada em favor de quem já está no poder, sobretudo nos períodos eleitorais”, destacou a senadora.
Passando a limpo
O pré-candidato tucano à Presidência, senador Aécio Neves (MG), marcou um jantar ontem com o senador Cássio Cunha Lima (PB) e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, ambos do PSDB. À mesa, uma planilha com a real situação da legenda nas disputas estaduais.
Baile dos mascarados
O líder do Solidariedade na Câmara, Fernando Franschini (PR), conseguiu coletar, no primeiro dia de peregrinação, mais de 100 assinaturas para a CPI que investigará os financiadores do movimento black bloc.
Molotov
“Seremos os black blocs contra o ‘homem’”, declarou o deputado Fernando Ferro (PT-PE), explicando como o PT vai se comportar na disputa contra o poder político do governador Eduardo Campos (PSB) nas eleições estaduais de outubro.
Ordem… / Os policiais militares que fazem a segurança dos prédios da Praça dos Três Poderes reclamam que falta um parâmetro unificado de atuação na área. Segundo os comandantes do policiamento, as ordens dadas aos PMs que protegem o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto são divergentes.
…Unida/ Em conversa com o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (foto), de Goiás, os militares disseram que, ao mesmo tempo em que podem impedir a presença de manifestantes à beira do espelho d’água do Congresso Nacional, nada puderam fazer em relação aos petistas que acamparam ao lado do Supremo para protestar contra o julgamento do mensalão.
Heróis/ Caiado pretende convidar, para uma homenagem na Comissão de Segurança Pública da Câmara, os 30 policiais militares que faziam a segurança do Palácio do Planalto no dia do confronto com integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 20/02
Rede de lanchonetes abrirá unidades próprias nos Estados Unidos neste ano
A rede de fast food de comida italiana Spoleto entrará no mercado americano com lojas próprias. Ainda neste ano, serão abertas duas unidades em Orlando. Para 2015, deverão ser mais cinco.
A companhia já atua no exterior, mas com franquias. São 12 pontos no México e três na Costa Rica.
"Pelo menos os dez primeiros restaurantes serão nossos", diz Mario Chady, presidente do grupo Trigo, dono do Spoleto e das redes Domino's Pizza e Koni Store.
"Queremos entender o mercado e os riscos para depois sabermos como vamos acelerar o crescimento no país", acrescenta.
Orlando foi escolhida como porta de entrada da empresa não apenas por receber muitos turistas brasileiros, segundo Chady.
"É uma cidade típica americana e com logística favorável. A rota de acesso é fácil", afirma.
"A visão é atender o público americano, mas, de início, os brasileiros farão diferença. Eles devem levar amigos não-brasileiros e ajudar a popularizar a marca."
Além das lojas no exterior, outras 62 devem ser inauguradas no país até dezembro. A região Sudeste e o Distrito Federal, localidades onde a companhia já é mais forte, serão o foco da expansão.
"Apesar de instalarmos mais unidades neste ano que em 2013 [quando foram abertos 58 pontos], estamos cautelosos por causa do valor dos imóveis", diz Chady.
"O comércio pode desacelerar nos próximos meses e não sabemos se o aluguel vai seguir esse ritmo."
O Spoleto faturou R$ 387,7 milhões no ano passado --alta de 11,9% ante 2012.
Setor de embalagens prevê alta de 1,5% neste ano
Apesar de as projeções de que o câmbio neste ano favoreça a competitividade de produtos nacionais, a expectativa do setor de embalagens é ter um incremento de 1,5% em relação a 2013, segundo a Abre (entidade do setor).
"Assim como não tivemos reflexos da explosão do consumo, como tiveram outros setores da economia, não vamos nos retrair agora, que o crescimento do varejo deve ser menor que no ano anterior", afirma Maurício Groke, presidente da entidade.
A produção do segmento cresceu 1,4% em 2013, segundo o balanço da associação, feito em parceria com a FGV, que será divulgado na próxima semana, na CNI.
"Além de a capacidade produtiva estar bastante tomada, a importação tira o trabalho da indústria nacional, uma vez que os itens já chegam embalados no país", acrescenta o executivo.
O segmento alimentício, que é o principal consumidor de embalagens, foi o que mais importou, de acordo com Groke.
Em receita, a indústria fechou o ano com R$ 51,8 bilhões --11% a mais que em 2012, quando foram registrados R$ 46,7 bilhões.
Longe...
O escritório Silveira, Athias, Soriano de Mello, Guimarães, Pinheiro & Scaff Advogados abrirá sua primeira filial no exterior, nos EUA.
...de casa
A banca tem unidades no Pará, no Amazonas, no Amapá, em Rondônia, no Maranhão, em São Paulo, no Rio e em Brasília.
BANCA BRITÂNICA
O escritório global de advocacia Norton Rose Fulbright, de origem britânica, vai abrir uma unidade no Rio de Janeiro, a primeira no Brasil.
A banca irá atuar com demandas relacionadas ao direito inglês, americano e canadense --a legislação local proíbe que escritórios estrangeiros operem com temas do direito nacional.
"Vamos ajudar clientes estrangeiros e brasileiros que precisem de serviços com as leis internacionais. Não vamos competir com os escritórios brasileiros", diz Andrew Haynes, sócio e codiretor da empresa no Brasil.
Será a 55ª operação do grupo, a terceira na América Latina. As outras duas ficam em Caracas, na Venezuela, e em Bogotá, na Colômbia.
A empresa vai trabalhar no Brasil nos segmentos de minas e matérias-primas, fusões e aquisições, projetos e financiamento, aviação e transporte marítimo.
No país, a Norton Rose Fulbright já presta serviços para grandes companhias como Vale, Petrobras e TAM, além de instituições financeiras.
VENTO A FAVOR
A Engebasa, empresa de usinagem e equipamentos industriais localizada em Cubatão (SP), terá uma fábrica de torres eólicas no Rio Grande do Sul.
A planta ficará em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, e receberá aporte de R$ 76 milhões.
A unidade vai produzir 300 torres de aço por ano. Hoje, em Cubatão, o limite anual é de de aproximadamente 170 estruturas.
"Poderíamos ter produzido mais em 2013, mas perdemos muitas horas de trabalho por causa dos congestionamentos de caminhões [que se dirigem ao porto de Santos]", afirma José Quina Diogo, sócio e diretor-executivo da Engebasa.
A nova unidade permitirá à empresa, além de atender ao crescente mercado interno, fechar contratos de exportação. "Teremos possibilidade de fornecer para países do Cone Sul, principalmente Uruguai e Argentina."
A fábrica deve operar ainda neste ano. Do investimento total, 45% serão financiados por meio do BNDES.
FUNCIONÁRIO AFASTADO
Áustria, Alemanha, Bélgica e Dinamarca são os países europeus onde as empresas são as maiores responsáveis por pagar o salário de um funcionário afastado por problemas de saúde.
Levantamento da EIU (Economist Intelligence Unit) mostra que, nessas localidades, as companhias arcam com 100% da remuneração dos empregados que ficam ausentes por um mês.
Irlanda e Portugal estão no lado oposto. Neles, apenas funcionário e governo pagam as despesas do afastamento.
O panorama muda quando se consideram licenças médicas de um ano. Nessa condição, as holandesas ficam responsáveis pela maior parte do salário (69%).
Áustria e Itália ocupam as posições seguintes, com 15% e 13%, respectivamente. Bélgica, Alemanha e Dinamarca empatam com 12%.
A Noruega é o único país onde o trabalhador não precisa colaborar com nada. Na Suíça e no Reino Unido, é o governo que não auxilia.
Preparativos...
O Casa Grande Hotel Resort & SPA, no Guarujá, está investindo R$ 6 milhões em infraestrutura para receber a seleção da Bósnia durante a Copa do Mundo.
...para o Mundial O aporte inclui modernização de acomodações e treinamento de funcionários. A delegação, formada por 150 pessoas, chegará na cidade no início de junho.
Pé...
A Uatt?, rede de lojas de produtos para presentes, começará a atuar no exterior. A empresa venderá seus produtos para redes de varejo dos Estados Unidos, do Canadá, do México, da Colômbia e da Costa Rica.
...pra fora
A empresa operará com um centro de distribuição em Miami, de onde enviará suas mercadorias.
Rede de lanchonetes abrirá unidades próprias nos Estados Unidos neste ano
A rede de fast food de comida italiana Spoleto entrará no mercado americano com lojas próprias. Ainda neste ano, serão abertas duas unidades em Orlando. Para 2015, deverão ser mais cinco.
A companhia já atua no exterior, mas com franquias. São 12 pontos no México e três na Costa Rica.
"Pelo menos os dez primeiros restaurantes serão nossos", diz Mario Chady, presidente do grupo Trigo, dono do Spoleto e das redes Domino's Pizza e Koni Store.
"Queremos entender o mercado e os riscos para depois sabermos como vamos acelerar o crescimento no país", acrescenta.
Orlando foi escolhida como porta de entrada da empresa não apenas por receber muitos turistas brasileiros, segundo Chady.
"É uma cidade típica americana e com logística favorável. A rota de acesso é fácil", afirma.
"A visão é atender o público americano, mas, de início, os brasileiros farão diferença. Eles devem levar amigos não-brasileiros e ajudar a popularizar a marca."
Além das lojas no exterior, outras 62 devem ser inauguradas no país até dezembro. A região Sudeste e o Distrito Federal, localidades onde a companhia já é mais forte, serão o foco da expansão.
"Apesar de instalarmos mais unidades neste ano que em 2013 [quando foram abertos 58 pontos], estamos cautelosos por causa do valor dos imóveis", diz Chady.
"O comércio pode desacelerar nos próximos meses e não sabemos se o aluguel vai seguir esse ritmo."
O Spoleto faturou R$ 387,7 milhões no ano passado --alta de 11,9% ante 2012.
Setor de embalagens prevê alta de 1,5% neste ano
Apesar de as projeções de que o câmbio neste ano favoreça a competitividade de produtos nacionais, a expectativa do setor de embalagens é ter um incremento de 1,5% em relação a 2013, segundo a Abre (entidade do setor).
"Assim como não tivemos reflexos da explosão do consumo, como tiveram outros setores da economia, não vamos nos retrair agora, que o crescimento do varejo deve ser menor que no ano anterior", afirma Maurício Groke, presidente da entidade.
A produção do segmento cresceu 1,4% em 2013, segundo o balanço da associação, feito em parceria com a FGV, que será divulgado na próxima semana, na CNI.
"Além de a capacidade produtiva estar bastante tomada, a importação tira o trabalho da indústria nacional, uma vez que os itens já chegam embalados no país", acrescenta o executivo.
O segmento alimentício, que é o principal consumidor de embalagens, foi o que mais importou, de acordo com Groke.
Em receita, a indústria fechou o ano com R$ 51,8 bilhões --11% a mais que em 2012, quando foram registrados R$ 46,7 bilhões.
Longe...
O escritório Silveira, Athias, Soriano de Mello, Guimarães, Pinheiro & Scaff Advogados abrirá sua primeira filial no exterior, nos EUA.
...de casa
A banca tem unidades no Pará, no Amazonas, no Amapá, em Rondônia, no Maranhão, em São Paulo, no Rio e em Brasília.
BANCA BRITÂNICA
O escritório global de advocacia Norton Rose Fulbright, de origem britânica, vai abrir uma unidade no Rio de Janeiro, a primeira no Brasil.
A banca irá atuar com demandas relacionadas ao direito inglês, americano e canadense --a legislação local proíbe que escritórios estrangeiros operem com temas do direito nacional.
"Vamos ajudar clientes estrangeiros e brasileiros que precisem de serviços com as leis internacionais. Não vamos competir com os escritórios brasileiros", diz Andrew Haynes, sócio e codiretor da empresa no Brasil.
Será a 55ª operação do grupo, a terceira na América Latina. As outras duas ficam em Caracas, na Venezuela, e em Bogotá, na Colômbia.
A empresa vai trabalhar no Brasil nos segmentos de minas e matérias-primas, fusões e aquisições, projetos e financiamento, aviação e transporte marítimo.
No país, a Norton Rose Fulbright já presta serviços para grandes companhias como Vale, Petrobras e TAM, além de instituições financeiras.
VENTO A FAVOR
A Engebasa, empresa de usinagem e equipamentos industriais localizada em Cubatão (SP), terá uma fábrica de torres eólicas no Rio Grande do Sul.
A planta ficará em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, e receberá aporte de R$ 76 milhões.
A unidade vai produzir 300 torres de aço por ano. Hoje, em Cubatão, o limite anual é de de aproximadamente 170 estruturas.
"Poderíamos ter produzido mais em 2013, mas perdemos muitas horas de trabalho por causa dos congestionamentos de caminhões [que se dirigem ao porto de Santos]", afirma José Quina Diogo, sócio e diretor-executivo da Engebasa.
A nova unidade permitirá à empresa, além de atender ao crescente mercado interno, fechar contratos de exportação. "Teremos possibilidade de fornecer para países do Cone Sul, principalmente Uruguai e Argentina."
A fábrica deve operar ainda neste ano. Do investimento total, 45% serão financiados por meio do BNDES.
FUNCIONÁRIO AFASTADO
Áustria, Alemanha, Bélgica e Dinamarca são os países europeus onde as empresas são as maiores responsáveis por pagar o salário de um funcionário afastado por problemas de saúde.
Levantamento da EIU (Economist Intelligence Unit) mostra que, nessas localidades, as companhias arcam com 100% da remuneração dos empregados que ficam ausentes por um mês.
Irlanda e Portugal estão no lado oposto. Neles, apenas funcionário e governo pagam as despesas do afastamento.
O panorama muda quando se consideram licenças médicas de um ano. Nessa condição, as holandesas ficam responsáveis pela maior parte do salário (69%).
Áustria e Itália ocupam as posições seguintes, com 15% e 13%, respectivamente. Bélgica, Alemanha e Dinamarca empatam com 12%.
A Noruega é o único país onde o trabalhador não precisa colaborar com nada. Na Suíça e no Reino Unido, é o governo que não auxilia.
Preparativos...
O Casa Grande Hotel Resort & SPA, no Guarujá, está investindo R$ 6 milhões em infraestrutura para receber a seleção da Bósnia durante a Copa do Mundo.
...para o Mundial O aporte inclui modernização de acomodações e treinamento de funcionários. A delegação, formada por 150 pessoas, chegará na cidade no início de junho.
Pé...
A Uatt?, rede de lojas de produtos para presentes, começará a atuar no exterior. A empresa venderá seus produtos para redes de varejo dos Estados Unidos, do Canadá, do México, da Colômbia e da Costa Rica.
...pra fora
A empresa operará com um centro de distribuição em Miami, de onde enviará suas mercadorias.
Azarada - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 20/02
Dilma está apanhando uma seca parecida com a de FH. A presidente também apanhou com os efeitos da crise financeira
Uma coisa a gente precisa admitir: a presidente Dilma é azarada. Bem ao contrário do sortudo presidente Lula.
É verdade que Dilma fez escolhas que se mostraram equivocadas, como a tentativa de crescer via consumo e as intervenções nos juros, nos preços, no sistema elétrico. Mas não é menos verdade que o ambiente foi desfavorável.
Se FH, também azarado, havia padecido com as sucessivas crises dos emergentes (México 94, Coreia 97, Rússia 98), Lula assumiu a Presidência em 2003, quando o mundo todo exibia um crescimento exuberante. E, especialmente, no momento de máxima aceleração da China, o que turbinou nossas exportações e trouxe uma enxurrada de dólares para o país. Pela primeira vez na história, o Brasil teve sobra de dólares.
Caiu do céu. Do céu internacional e do agronegócio, sempre tão hostilizado pelo PT. Pois foi o agronegócio que trouxe a maior parte dos dólares.
Lula também usufruiu dos benefícios da estabilização monetária, iniciada com o Real em 1994 e consolidada no início de seu governo, o que permitiu a volta do crédito, turbina do consumo.
Verdade que veio a crise financeira dos EUA (2009). Mas, como todos os demais emergentes, o Brasil estava mais preparado, em razão mesmo das reservas de dólares.
E, se FH havia sofrido com a maior seca da história, Lula ganhou períodos generosamente chuvosos. Verdade que houve enchentes e alagamentos, mas o apagão teria sido pior.
E, por falar em azar, Dilma está apanhando uma seca parecida com a de FH. A presidente também apanhou com os efeitos da crise financeira. Primeiro, pegou recessão nos países desenvolvidos e, quando estes começaram a se levantar, os emergentes, e especialmente a China, desaceleraram. O comércio externo virou, dos superávits enormes, para um déficit real.
O Fed, banco central dos EUA, primeiro inundou o mundo de dólares baratos, forçando a valorização das moedas emergentes; agora, está retirando dólares, forçando desvalorizações — e inflação.
Os efeitos da estabilização monetária e da volta do crédito se esgotaram. E os truques da era Lula, como a falsa capitalização da Petrobras ou a equivocada aliança Sul-Sul, começaram a mostrar seus efeitos negativos.
O Brasil e os emergentes em geral, de queridinhos, viraram fonte de instabilidades.
Só falta Dilma perder a Copa.
Com racionamento?
De uma entrevista na CBN (quarta-feira) com o engenheiro Mário Veiga, presidente da consultoria PSR, e um dos mas respeitados especialistas no setor elétrico:
— Há um risco de racionamento de 18,5%; racionamento, no caso, quer dizer, falta de mais de 4% da demanda por energia, algo equivalente a deixar sem luz 12 milhões de residências;
— Embora seja verdade que, por oposição, há uma chance de 81,5% de não ocorrer racionamento, o risco de 18,5% é muito elevado para os padrões do sistema;
— O problema não decorre da atual seca, nem do excesso de demanda; o sistema vem dando sinais de dificuldades há anos;
— Não é o caso de se recorrer agora a um racionamento preventivo; dá para esperar até abril, ou seja, até o fim do período de chuvas; pode ser que São Pedro ajude; mas um racionamento é uma complexa operação, que não pode ser improvisada; ou seja, deveria estar sendo preparada;
— Há óbvios atrasos na entrada em operação de usinas e sistema de distribuição;
— Há problemas estruturais; não se pode dizer que está tudo em ordem quando o sistema está usando todas as termoelétricas (espécie de seguro) e quando as usou mesmo em tempos de chuva;
— Os últimos anos mostram também uma série de trapalhadas do governo, que deixaram distribuidoras sem energia contratada, obrigando-as a recorrer ao mercado livre, pagando preços muito mais elevados (hoje, de R$ 1.700/megawatt/hora);
— O prejuízo tem que ser pago pelo Tesouro (pelo contribuinte brasileiro) ou pelo consumidor, na tarifa, já que a culpa do desequilíbrio financeiro não é das distribuidoras, nem das demais empresas do setor.
— Simplificando, e sem contar os rombos do ano passado, o Tesouro teria que repassar, em 2014, cerca de R$ 24,5 bilhões; ou aplicar um aumento de tarifas de 24%.
Eis, portanto, o dilema da presidente Dilma: aumentar o gasto público — e prejudicar a realização do superávit primário, num ambiente de desconfiança com as contas do governo — ou elevar tarifas, com forte impacto numa inflação já alta, isso exigindo juros mais altos — tudo com prejuízo político.
Uma bela enrascada — trapalhadas em cima de azar.
(Íntegra da entrevista no site cbn.com.br ou em sardenberg.com.br ).
Dilma está apanhando uma seca parecida com a de FH. A presidente também apanhou com os efeitos da crise financeira
Uma coisa a gente precisa admitir: a presidente Dilma é azarada. Bem ao contrário do sortudo presidente Lula.
É verdade que Dilma fez escolhas que se mostraram equivocadas, como a tentativa de crescer via consumo e as intervenções nos juros, nos preços, no sistema elétrico. Mas não é menos verdade que o ambiente foi desfavorável.
Se FH, também azarado, havia padecido com as sucessivas crises dos emergentes (México 94, Coreia 97, Rússia 98), Lula assumiu a Presidência em 2003, quando o mundo todo exibia um crescimento exuberante. E, especialmente, no momento de máxima aceleração da China, o que turbinou nossas exportações e trouxe uma enxurrada de dólares para o país. Pela primeira vez na história, o Brasil teve sobra de dólares.
Caiu do céu. Do céu internacional e do agronegócio, sempre tão hostilizado pelo PT. Pois foi o agronegócio que trouxe a maior parte dos dólares.
Lula também usufruiu dos benefícios da estabilização monetária, iniciada com o Real em 1994 e consolidada no início de seu governo, o que permitiu a volta do crédito, turbina do consumo.
Verdade que veio a crise financeira dos EUA (2009). Mas, como todos os demais emergentes, o Brasil estava mais preparado, em razão mesmo das reservas de dólares.
E, se FH havia sofrido com a maior seca da história, Lula ganhou períodos generosamente chuvosos. Verdade que houve enchentes e alagamentos, mas o apagão teria sido pior.
E, por falar em azar, Dilma está apanhando uma seca parecida com a de FH. A presidente também apanhou com os efeitos da crise financeira. Primeiro, pegou recessão nos países desenvolvidos e, quando estes começaram a se levantar, os emergentes, e especialmente a China, desaceleraram. O comércio externo virou, dos superávits enormes, para um déficit real.
O Fed, banco central dos EUA, primeiro inundou o mundo de dólares baratos, forçando a valorização das moedas emergentes; agora, está retirando dólares, forçando desvalorizações — e inflação.
Os efeitos da estabilização monetária e da volta do crédito se esgotaram. E os truques da era Lula, como a falsa capitalização da Petrobras ou a equivocada aliança Sul-Sul, começaram a mostrar seus efeitos negativos.
O Brasil e os emergentes em geral, de queridinhos, viraram fonte de instabilidades.
Só falta Dilma perder a Copa.
Com racionamento?
De uma entrevista na CBN (quarta-feira) com o engenheiro Mário Veiga, presidente da consultoria PSR, e um dos mas respeitados especialistas no setor elétrico:
— Há um risco de racionamento de 18,5%; racionamento, no caso, quer dizer, falta de mais de 4% da demanda por energia, algo equivalente a deixar sem luz 12 milhões de residências;
— Embora seja verdade que, por oposição, há uma chance de 81,5% de não ocorrer racionamento, o risco de 18,5% é muito elevado para os padrões do sistema;
— O problema não decorre da atual seca, nem do excesso de demanda; o sistema vem dando sinais de dificuldades há anos;
— Não é o caso de se recorrer agora a um racionamento preventivo; dá para esperar até abril, ou seja, até o fim do período de chuvas; pode ser que São Pedro ajude; mas um racionamento é uma complexa operação, que não pode ser improvisada; ou seja, deveria estar sendo preparada;
— Há óbvios atrasos na entrada em operação de usinas e sistema de distribuição;
— Há problemas estruturais; não se pode dizer que está tudo em ordem quando o sistema está usando todas as termoelétricas (espécie de seguro) e quando as usou mesmo em tempos de chuva;
— Os últimos anos mostram também uma série de trapalhadas do governo, que deixaram distribuidoras sem energia contratada, obrigando-as a recorrer ao mercado livre, pagando preços muito mais elevados (hoje, de R$ 1.700/megawatt/hora);
— O prejuízo tem que ser pago pelo Tesouro (pelo contribuinte brasileiro) ou pelo consumidor, na tarifa, já que a culpa do desequilíbrio financeiro não é das distribuidoras, nem das demais empresas do setor.
— Simplificando, e sem contar os rombos do ano passado, o Tesouro teria que repassar, em 2014, cerca de R$ 24,5 bilhões; ou aplicar um aumento de tarifas de 24%.
Eis, portanto, o dilema da presidente Dilma: aumentar o gasto público — e prejudicar a realização do superávit primário, num ambiente de desconfiança com as contas do governo — ou elevar tarifas, com forte impacto numa inflação já alta, isso exigindo juros mais altos — tudo com prejuízo político.
Uma bela enrascada — trapalhadas em cima de azar.
(Íntegra da entrevista no site cbn.com.br ou em sardenberg.com.br ).
"Meu Mercado, Meu Amor" - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 20/02
Anúncio da meta de superavit não pode ser marketing do governo; tem de ser início da mudança
GOVERNO deve contar hoje ao público quanto pretende poupar dos dinheiros que arrecada. Em tese, trata-se de uma das notícias mais importantes do ano. Em tese.
A meta de poupança não pode ser "para inglês ver". Além do mais, dados os estragos dos últimos anos, consertar a torneira vazante dos gastos nem de longe basta para colocar ordem na casa.
Antes de mais nada, esclareça-se que o governo não poupa nada. Essa meta a ser anunciada hoje, o superavit primário, desconsidera gastos com os juros da dívida pública. Contados os juros, há deficit.
O anúncio dessa meta de superavit primário tornou-se mais relevante neste ano porque o governo do Brasil tem perdido crédito na praça (por tabela, a economia do Brasil também).
Na prática, isso significa que os credores cobram juros maiores do governo. Para piorar, empresas classificadoras de crédito ameaçam rebaixar formalmente a nota de crédito do Brasil. O governo do Brasil ficaria com o "nome menos limpinho na praça" (paga juro mais alto, recebe menos investimento).
Ao dizer de modo crível que pretende controlar gastos, o governo indica que a dívida não vai crescer de modo a se tornar impagável. Os credores, "o mercado", querem o dinheiro de volta, com um retorno gordo.
Mas o problema vai além da meta crível de superavit. Decerto uma poupança mínima ajuda também a controlar a inflação, por exemplo. A meta crível joga água na fervura dos juros em alta e de outras degradações financeiras do país. Os credores ficam menos desconfiados, os empresários, também (muita vez, trata-se da mesma pessoa).
O deficit e a dívida do governo federal crescem também devido a outros vazamentos, como despejar dinheiro nos bancos estatais a fim de estimular o crédito e a economia (o que foi, a partir de 2010, contraproducente). Devido a erros rudimentares, como subsidiar o preço da energia elétrica. Devido a vazamentos enormes, como gastos descontrolados com seguro-desemprego e Previdência.
O conserto vai parecer remendo se o governo não apresentar plano para conter os aumentos de gastos acordados para os próximos anos (em geral, gastos sociais). O corte de agora nem tem como ser muito grande, pois o governo está no osso.
A obra vai parecer mais profissional se o governo der cabo de tabelamentos disfarçados de preços e outras intervenções inúteis na economia (sim, existem intervenções úteis).
Enfim, não se trata de "recuperar credibilidade", apenas, de propaganda, de melhorar a "relação com o mercado", de lançar um programa com nome fantasia, "Brasil Mimimi", "Brasil Bonitinho", "Meu Mercado, Meu Amor". A política econômica do governo causou desarranjos reais nas finanças e no funcionamento do mercado (para nem falar das omissões graves).
Investidores refugam porque acham que vão perder dinheiro, simples assim. O descrédito é real, nos enfraquece de fato, e atrai urubus, "especuladores".
Feito o conserto, porém, não virá o bis do "espetáculo do crescimento". Isso tudo é obra para colocar a casa minimamente em ordem, evitar degradações maiores e, a seguir, pensar no que vamos ser quando crescermos --se queremos crescer.
Anúncio da meta de superavit não pode ser marketing do governo; tem de ser início da mudança
GOVERNO deve contar hoje ao público quanto pretende poupar dos dinheiros que arrecada. Em tese, trata-se de uma das notícias mais importantes do ano. Em tese.
A meta de poupança não pode ser "para inglês ver". Além do mais, dados os estragos dos últimos anos, consertar a torneira vazante dos gastos nem de longe basta para colocar ordem na casa.
Antes de mais nada, esclareça-se que o governo não poupa nada. Essa meta a ser anunciada hoje, o superavit primário, desconsidera gastos com os juros da dívida pública. Contados os juros, há deficit.
O anúncio dessa meta de superavit primário tornou-se mais relevante neste ano porque o governo do Brasil tem perdido crédito na praça (por tabela, a economia do Brasil também).
Na prática, isso significa que os credores cobram juros maiores do governo. Para piorar, empresas classificadoras de crédito ameaçam rebaixar formalmente a nota de crédito do Brasil. O governo do Brasil ficaria com o "nome menos limpinho na praça" (paga juro mais alto, recebe menos investimento).
Ao dizer de modo crível que pretende controlar gastos, o governo indica que a dívida não vai crescer de modo a se tornar impagável. Os credores, "o mercado", querem o dinheiro de volta, com um retorno gordo.
Mas o problema vai além da meta crível de superavit. Decerto uma poupança mínima ajuda também a controlar a inflação, por exemplo. A meta crível joga água na fervura dos juros em alta e de outras degradações financeiras do país. Os credores ficam menos desconfiados, os empresários, também (muita vez, trata-se da mesma pessoa).
O deficit e a dívida do governo federal crescem também devido a outros vazamentos, como despejar dinheiro nos bancos estatais a fim de estimular o crédito e a economia (o que foi, a partir de 2010, contraproducente). Devido a erros rudimentares, como subsidiar o preço da energia elétrica. Devido a vazamentos enormes, como gastos descontrolados com seguro-desemprego e Previdência.
O conserto vai parecer remendo se o governo não apresentar plano para conter os aumentos de gastos acordados para os próximos anos (em geral, gastos sociais). O corte de agora nem tem como ser muito grande, pois o governo está no osso.
A obra vai parecer mais profissional se o governo der cabo de tabelamentos disfarçados de preços e outras intervenções inúteis na economia (sim, existem intervenções úteis).
Enfim, não se trata de "recuperar credibilidade", apenas, de propaganda, de melhorar a "relação com o mercado", de lançar um programa com nome fantasia, "Brasil Mimimi", "Brasil Bonitinho", "Meu Mercado, Meu Amor". A política econômica do governo causou desarranjos reais nas finanças e no funcionamento do mercado (para nem falar das omissões graves).
Investidores refugam porque acham que vão perder dinheiro, simples assim. O descrédito é real, nos enfraquece de fato, e atrai urubus, "especuladores".
Feito o conserto, porém, não virá o bis do "espetáculo do crescimento". Isso tudo é obra para colocar a casa minimamente em ordem, evitar degradações maiores e, a seguir, pensar no que vamos ser quando crescermos --se queremos crescer.
Coisa de beiço - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 20/02
Um velho jeito de não lidar com um problema é tentar desclassificar quem o traz à discussão.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, por exemplo, em vez de tentar entender por quais motivos o empresário está descontente com o governo e não se anima a investir, preferiu dizer que "ele faz beicinho".
Não foi muito diferente do que tem feito a presidente Dilma quando afirma que as críticas a seu governo são veiculadas pelos pessimistas de sempre, como se este fosse um problema de mau funcionamento do fígado - ou dos melancólicos, os que produzem bílis negra, como se pensava há alguns séculos.
A falta de confiança dos empresários na política econômica do governo é inegável. Ela não só se manifesta nas pesquisas divulgadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ou pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Está aí todos os dias nos jornais. Há 11 dias, o empresário Pedro Passos, que falou não em seu nome, mas no do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), advertiu em entrevista ao Estadão que "o empresário perdeu a confiança no governo". O ex-ministro Delfim Netto, interlocutor tanto dos empresários como do governo, repete a mesma coisa. Essa percepção é hoje a principal causa da falta de respostas do investimento privado.
Não é apenas o empresário nacional que está fazendo o beicinho identificado pelo ministro. Os analistas do mercado financeiro internacional todos os dias vêm editando análises de prospectos negativos sobre o comportamento da economia. As projeções de mais de cem instituições e consultorias captadas pela Pesquisa Focus do Banco Central apontam para novas decepções sobre o desempenho da economia.
E já não é apenas gente descolada e leviana que aproveita a má fase para descarregos sobre o governo, "perchè piove, perchè no piove", como diz o italiano reclamão. Há meses, as agências de classificação de risco vêm alertando para a ameaça de rebaixamento da qualidade da dívida brasileira, o que implica percepção de deterioração. Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), em documento oficial encaminhado ao Congresso dos Estados Unidos, advertiu que a economia brasileira é a segunda mais vulnerável às crises internacionais entre os países emergentes. Certa ou errada, é a percepção do Fed, com suas consequências. E, ainda ontem, o Fundo Monetário Internacional, sem excluir o Brasil, avisou que os países emergentes estão vulneráveis.
Mas o povão está feliz da vida, como comprovam as pesquisas de intenção de voto... Será? Afinal, o que desde junho estão dizendo as manifestações, os protestos e os rolezinhos? Estão dizendo que, em vez de reduzir o IPI dos automóveis e subsidiar a gasolina, o governo deveria ter cuidado mais do transporte coletivo, que é ruim e caro. Estão dizendo que tem dinheiro para garantir o padrão Fifa para a Copa do Mundo, mas não tem para a Saúde, para a Educação e para a Segurança.
Não é apenas o empresário. É o Brasil fazendo beicinho.
Um velho jeito de não lidar com um problema é tentar desclassificar quem o traz à discussão.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, por exemplo, em vez de tentar entender por quais motivos o empresário está descontente com o governo e não se anima a investir, preferiu dizer que "ele faz beicinho".
Não foi muito diferente do que tem feito a presidente Dilma quando afirma que as críticas a seu governo são veiculadas pelos pessimistas de sempre, como se este fosse um problema de mau funcionamento do fígado - ou dos melancólicos, os que produzem bílis negra, como se pensava há alguns séculos.
A falta de confiança dos empresários na política econômica do governo é inegável. Ela não só se manifesta nas pesquisas divulgadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ou pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Está aí todos os dias nos jornais. Há 11 dias, o empresário Pedro Passos, que falou não em seu nome, mas no do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), advertiu em entrevista ao Estadão que "o empresário perdeu a confiança no governo". O ex-ministro Delfim Netto, interlocutor tanto dos empresários como do governo, repete a mesma coisa. Essa percepção é hoje a principal causa da falta de respostas do investimento privado.
Não é apenas o empresário nacional que está fazendo o beicinho identificado pelo ministro. Os analistas do mercado financeiro internacional todos os dias vêm editando análises de prospectos negativos sobre o comportamento da economia. As projeções de mais de cem instituições e consultorias captadas pela Pesquisa Focus do Banco Central apontam para novas decepções sobre o desempenho da economia.
E já não é apenas gente descolada e leviana que aproveita a má fase para descarregos sobre o governo, "perchè piove, perchè no piove", como diz o italiano reclamão. Há meses, as agências de classificação de risco vêm alertando para a ameaça de rebaixamento da qualidade da dívida brasileira, o que implica percepção de deterioração. Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), em documento oficial encaminhado ao Congresso dos Estados Unidos, advertiu que a economia brasileira é a segunda mais vulnerável às crises internacionais entre os países emergentes. Certa ou errada, é a percepção do Fed, com suas consequências. E, ainda ontem, o Fundo Monetário Internacional, sem excluir o Brasil, avisou que os países emergentes estão vulneráveis.
Mas o povão está feliz da vida, como comprovam as pesquisas de intenção de voto... Será? Afinal, o que desde junho estão dizendo as manifestações, os protestos e os rolezinhos? Estão dizendo que, em vez de reduzir o IPI dos automóveis e subsidiar a gasolina, o governo deveria ter cuidado mais do transporte coletivo, que é ruim e caro. Estão dizendo que tem dinheiro para garantir o padrão Fifa para a Copa do Mundo, mas não tem para a Saúde, para a Educação e para a Segurança.
Não é apenas o empresário. É o Brasil fazendo beicinho.
Hora de dizer a verdade a Maduro - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 20/02
Diplomacia brasileira não pode cometer o erro de tomar partido em uma Venezuela rachada ao meio
No finalzinho de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente eleito, mas ainda não empossado, enviou a Caracas o seu futuro assessor diplomático, Marco Aurélio Garcia, para um esforço de conciliação em um momento em que o país parecia caminhar para uma guerra civil.
É bom lembrar que, meses antes, Hugo Chávez havia sido deposto por um golpe de efêmera duração, claro indicativo do grau de exacerbação a que chegara o país.
Graças à gestão de Marco Aurélio, criou-se um grupo chamado de Amigos da Venezuela, que foi essencial para amortecer a crise.
Onze anos depois, a situação na Venezuela voltou ao ponto de ebulição, o que sugere que Marco Aurélio poderia ser de novo convocado para uma discreta missão moderadora. Afinal, tudo o que não interessa ao Brasil é mais turbulência em sua fronteira norte ou dar cego apoio ao regime chavista.
Antes de mais nada, é preciso aceitar que a Venezuela rachou ao meio. O resultado eleitoral do ano passado (50,6% para Nicolás Maduro contra 49,12% para o oposicionista Henrique Capriles) é definitivo a esse respeito.
Trabalhar só com o chavismo seria, assim, dar às costas à metade da população venezuelana, erro que nenhum país sério pode cometer.
Convém, portanto, ser cauteloso em relação à prisão do líder opositor Leopoldo López. Como diz José Miguel Vivanco, da respeitada ONG Human Rights Watch, "até o momento, as autoridades não apresentaram nenhuma prova séria para sustentar as acusações contra Leopoldo López, apenas insultos e teorias de complô".
Não que a oposição faça muito diferente. O quadro no país é bem descrito por Rogélio Núñez, do site Infolatam, para quem "chavistas e antichavistas foram escalando seu ódio mútuo, a ponto de o rival se converter em inimigo irreconciliável, não em alternativa de governo".
O problema é que quem tem a força é o governo, que pode transformar seu ódio em perseguição.
Acusar López pelas mortes nas manifestações da semana passada é ignorar as evidências de que pelo menos duas delas podem ter sido obra de agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência, conforme vídeos divulgados pelo jornal "Últimas Notícias".
Não por acaso, o chefe do Sebin, general Manuel Bernal, acaba de ser destituído.
Uma discreta gestão brasileira deveria incluir um palpite forte: a dramática situação econômica na Venezuela só começará a ser corrigida se o governo dialogar com o setor privado. Afinal, este ainda é majoritário (responde por 58,2% do Produto Interno Bruto, segundo dados de 2012), apesar do avanço do Estado nos anos Chávez.
Suspeito que nem o governo cubano, que pôs em marcha reformas capitalistas, recomendaria a seu amigo Maduro que adote o caminho oposto e estatize o que resta do setor privado. Só desvairados poderiam supor que o socialismo do século 21, se imitasse o do século 20, chegaria a resultados diferentes.
Fracassaria do mesmo modo.
Se o governo brasileiro quer ajudar Maduro, melhor dizer-lhe verdades óbvias.
Diplomacia brasileira não pode cometer o erro de tomar partido em uma Venezuela rachada ao meio
No finalzinho de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente eleito, mas ainda não empossado, enviou a Caracas o seu futuro assessor diplomático, Marco Aurélio Garcia, para um esforço de conciliação em um momento em que o país parecia caminhar para uma guerra civil.
É bom lembrar que, meses antes, Hugo Chávez havia sido deposto por um golpe de efêmera duração, claro indicativo do grau de exacerbação a que chegara o país.
Graças à gestão de Marco Aurélio, criou-se um grupo chamado de Amigos da Venezuela, que foi essencial para amortecer a crise.
Onze anos depois, a situação na Venezuela voltou ao ponto de ebulição, o que sugere que Marco Aurélio poderia ser de novo convocado para uma discreta missão moderadora. Afinal, tudo o que não interessa ao Brasil é mais turbulência em sua fronteira norte ou dar cego apoio ao regime chavista.
Antes de mais nada, é preciso aceitar que a Venezuela rachou ao meio. O resultado eleitoral do ano passado (50,6% para Nicolás Maduro contra 49,12% para o oposicionista Henrique Capriles) é definitivo a esse respeito.
Trabalhar só com o chavismo seria, assim, dar às costas à metade da população venezuelana, erro que nenhum país sério pode cometer.
Convém, portanto, ser cauteloso em relação à prisão do líder opositor Leopoldo López. Como diz José Miguel Vivanco, da respeitada ONG Human Rights Watch, "até o momento, as autoridades não apresentaram nenhuma prova séria para sustentar as acusações contra Leopoldo López, apenas insultos e teorias de complô".
Não que a oposição faça muito diferente. O quadro no país é bem descrito por Rogélio Núñez, do site Infolatam, para quem "chavistas e antichavistas foram escalando seu ódio mútuo, a ponto de o rival se converter em inimigo irreconciliável, não em alternativa de governo".
O problema é que quem tem a força é o governo, que pode transformar seu ódio em perseguição.
Acusar López pelas mortes nas manifestações da semana passada é ignorar as evidências de que pelo menos duas delas podem ter sido obra de agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência, conforme vídeos divulgados pelo jornal "Últimas Notícias".
Não por acaso, o chefe do Sebin, general Manuel Bernal, acaba de ser destituído.
Uma discreta gestão brasileira deveria incluir um palpite forte: a dramática situação econômica na Venezuela só começará a ser corrigida se o governo dialogar com o setor privado. Afinal, este ainda é majoritário (responde por 58,2% do Produto Interno Bruto, segundo dados de 2012), apesar do avanço do Estado nos anos Chávez.
Suspeito que nem o governo cubano, que pôs em marcha reformas capitalistas, recomendaria a seu amigo Maduro que adote o caminho oposto e estatize o que resta do setor privado. Só desvairados poderiam supor que o socialismo do século 21, se imitasse o do século 20, chegaria a resultados diferentes.
Fracassaria do mesmo modo.
Se o governo brasileiro quer ajudar Maduro, melhor dizer-lhe verdades óbvias.
Desenvolve-se o subdesenvolvimento - MARCO ANTONIO ROCHA
O Estado de S.Paulo - 20/02
Lá se foram 20 anos. Puxa. Parece que foi ontem. Vinte anos de Plano Real (1994). Estão nas universidades - pelo menos têm idade para tanto - os brasileiros que nasceram naquele ano. Sabem, ou pelo menos já ouviram falar, que no ano em que nasceram foi baixado o Plano Real, por um presidente da República chamado Itamar Franco, cujo ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso.
O que os moços e moças de 20 anos de idade talvez não tenham ideia, nem poderiam ter, é da sensação, do sentimento de angústia e desespero de conviver com uma taxa de inflação de 2.477%, como foi a do ano de 1993, anterior ao Plano Real, quando "o dinheiro virava pó em questão de horas", como diz Claudio Conceição, editor da revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas. Basta lembrar que a chamada "compra de mês" tinha de ser feita praticamente no dia do pagamento. Os pobres, principalmente, se angustiavam mais, pois tinham de comprar tudo o que podiam comprar em um só dia. No dia seguinte, já não poderiam. Comprar aos pouquinhos, indo várias vezes ao mercado, era um hábito que arriscava deixar vazia a "mesa do pobre", tão defendida pelos demagogos de televisão. Na sua última edição, a revista traz um artigo especial, seguido de importantes entrevistas, sobre "as duas décadas de estabilização monetária, sem acertar a fórmula do crescimento sustentado".
Na frase está embutida a pergunta que Conceição faz no editorial da revista e que também há muito me intriga: se fomos capazes de debelar o fantasma da inflação (e que inflação!), o que deu errado que não colocou o Brasil no rumo do crescimento? Principalmente do crescimento sustentado?
Pós-Plano Real, o crescimento do PIB tem sido, na melhor das hipóteses, uma caixinha de surpresa, com variações tão díspares, em 20 anos, como 7,5% no ano de 2010 e (-) 0,3% no ano precedente. O crescimento do PIB tem ficado entre 2,5% e 3,5%, bem abaixo dos 6% a 7% dos anos anteriores aos anos 80, quando o Brasil crescia robustamente mesmo com uma inflação também robusta. Seria, pois, o caso de perguntar se uma boa taxa de crescimento econômico exige uma taxa também boa de inflação.
Pergunta de tolos, porque já ficou claro, historicamente, que a inflação é como uma bola de neve: quando começa a rolar, é terrivelmente difícil evitar a calamidade final. Por isso, o que aconteceu em 1994 foi tido como milagre: deteve-se subitamente uma inflação de mais de 2.400% ao ano. Na verdade, houve um quê de mágica, graças à proposta dos jovens economistas que engendraram o Plano Real: a criação da lendária Unidade Real de Valor (URV). Os produtos cotados em URV ficaram com esse valor estabilizado, enquanto a moeda corrente se desvalorizava. Algum tempo depois, já não se falava em CR (cruzeiro real), mas em URV. Um quilo de carne valia tantas URVs. Ponto final.
Esse truque matou a "memória da inflação", pois os preços em URV não mudavam. Foi então que se tornou possível trocar a URV por uma nova moeda, livre da doença da inflação, o real, que temos até hoje.
Atualmente, a inflação está voltando. Sem a virulência de então. Pequenininha, por enquanto. Mas estamos sem crescimento. Temos estagflação - estagnação com inflação. Quadro ainda não tenebroso, mas temível.
Por quê?
Arrisco resposta de jornalista, não de economista: porque nada mudou, a não ser a moeda. Continuamos com baixa produtividade do trabalho, baixa taxa de investimento privado, alta taxa de desperdício público, excesso de exação fiscal, baixíssima taxa de inovação tecnológica, baixo nível de aproveitamento escolar, alto nível de analfabetismo real e funcional, alto grau de demagogia política. Somam-se os aumentos da criminalidade e da superpopulação urbana, a falência dos transportes, a insegurança nas famílias, a incerteza sobre o futuro.
Brindemos, pois, a 20 anos de relativa estabilidade monetária. E atiremos cinzas à cabeça por 20 anos de nenhum desenvolvimento em nada!
Lá se foram 20 anos. Puxa. Parece que foi ontem. Vinte anos de Plano Real (1994). Estão nas universidades - pelo menos têm idade para tanto - os brasileiros que nasceram naquele ano. Sabem, ou pelo menos já ouviram falar, que no ano em que nasceram foi baixado o Plano Real, por um presidente da República chamado Itamar Franco, cujo ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso.
O que os moços e moças de 20 anos de idade talvez não tenham ideia, nem poderiam ter, é da sensação, do sentimento de angústia e desespero de conviver com uma taxa de inflação de 2.477%, como foi a do ano de 1993, anterior ao Plano Real, quando "o dinheiro virava pó em questão de horas", como diz Claudio Conceição, editor da revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas. Basta lembrar que a chamada "compra de mês" tinha de ser feita praticamente no dia do pagamento. Os pobres, principalmente, se angustiavam mais, pois tinham de comprar tudo o que podiam comprar em um só dia. No dia seguinte, já não poderiam. Comprar aos pouquinhos, indo várias vezes ao mercado, era um hábito que arriscava deixar vazia a "mesa do pobre", tão defendida pelos demagogos de televisão. Na sua última edição, a revista traz um artigo especial, seguido de importantes entrevistas, sobre "as duas décadas de estabilização monetária, sem acertar a fórmula do crescimento sustentado".
Na frase está embutida a pergunta que Conceição faz no editorial da revista e que também há muito me intriga: se fomos capazes de debelar o fantasma da inflação (e que inflação!), o que deu errado que não colocou o Brasil no rumo do crescimento? Principalmente do crescimento sustentado?
Pós-Plano Real, o crescimento do PIB tem sido, na melhor das hipóteses, uma caixinha de surpresa, com variações tão díspares, em 20 anos, como 7,5% no ano de 2010 e (-) 0,3% no ano precedente. O crescimento do PIB tem ficado entre 2,5% e 3,5%, bem abaixo dos 6% a 7% dos anos anteriores aos anos 80, quando o Brasil crescia robustamente mesmo com uma inflação também robusta. Seria, pois, o caso de perguntar se uma boa taxa de crescimento econômico exige uma taxa também boa de inflação.
Pergunta de tolos, porque já ficou claro, historicamente, que a inflação é como uma bola de neve: quando começa a rolar, é terrivelmente difícil evitar a calamidade final. Por isso, o que aconteceu em 1994 foi tido como milagre: deteve-se subitamente uma inflação de mais de 2.400% ao ano. Na verdade, houve um quê de mágica, graças à proposta dos jovens economistas que engendraram o Plano Real: a criação da lendária Unidade Real de Valor (URV). Os produtos cotados em URV ficaram com esse valor estabilizado, enquanto a moeda corrente se desvalorizava. Algum tempo depois, já não se falava em CR (cruzeiro real), mas em URV. Um quilo de carne valia tantas URVs. Ponto final.
Esse truque matou a "memória da inflação", pois os preços em URV não mudavam. Foi então que se tornou possível trocar a URV por uma nova moeda, livre da doença da inflação, o real, que temos até hoje.
Atualmente, a inflação está voltando. Sem a virulência de então. Pequenininha, por enquanto. Mas estamos sem crescimento. Temos estagflação - estagnação com inflação. Quadro ainda não tenebroso, mas temível.
Por quê?
Arrisco resposta de jornalista, não de economista: porque nada mudou, a não ser a moeda. Continuamos com baixa produtividade do trabalho, baixa taxa de investimento privado, alta taxa de desperdício público, excesso de exação fiscal, baixíssima taxa de inovação tecnológica, baixo nível de aproveitamento escolar, alto nível de analfabetismo real e funcional, alto grau de demagogia política. Somam-se os aumentos da criminalidade e da superpopulação urbana, a falência dos transportes, a insegurança nas famílias, a incerteza sobre o futuro.
Brindemos, pois, a 20 anos de relativa estabilidade monetária. E atiremos cinzas à cabeça por 20 anos de nenhum desenvolvimento em nada!
Palavra banida - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 20/02
Pelo modelo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a ordem para despachar as termelétricas vai, claro, da mais barata até a mais cara. Há uma escala que vai até além da que vende energia ao preço maior. Quando chega nesse pico, e ainda há necessidade de energia, o modelo determina que se corte 5% da carga. Já se chegou a esse ponto, segundo fontes do setor.
Para quem ainda tenta se acostumar com os termos do setor - um dialeto muito peculiar - "despachar" é mandar a térmica fornecer a sua energia ao sistema integrado. E "cortar carga" é reduzir a oferta para as distribuidoras. Bom, mas se há demanda e a oferta pode ser reduzida, isso vai dar em racionamento?
Pergunta inconveniente. A palavra está banida do dicionário porque não cabe no calendário político da presidente Dilma. Nessa situação difícil, pelo menos uma empresa estadual já recebeu ordens não explícitas de que reduzisse a oferta aos seus maiores clientes. O nome disso é aquela palavra banida do dicionário.
A crise da energia está produzindo vários efeitos em cascata. Um deles é prejuízo nas empresas. Só uma delas, a Elektro, que serve à região de Campinas, está com 18% de energia descontratada. Explicando: 18% de tudo o que ela tem que fornecer ela não comprou, não tem, portanto, para entregar. Quando isso acontece, a empresa compra no mercado livre e nele o preço disparou para R$ 822 o MWh, um custo no mínimo quatro vezes maior do que ela pode cobrar.
É uma empresa grande que distribui 4% da energia do país, ou, 13 mil gigawatt/hora/ano. O problema é que esse descasamento é um custo financeiro que pesa cada vez mais sobre a empresa e que, pela regulação, ela só pode passar para o consumidor no reajuste do ano seguinte. Em agosto de 2015 é que essa empresa poderá cobrir o custo enorme que está tendo agora com essa necessidade de compra no mercado livre.
Não é a única que está exposta a esse problema. Várias outras estão. O que o setor diz é que a Empresa de Planejamento Energético (EPE), em alguns dos leilões para acertar as geradoras e as distribuidoras, fixou o preço máximo muito baixo. Em pelo menos um leilão não apareceu quem quisesse vender energia. Houve novo leilão tempos depois, a um preço maior, que cobriu alguns desses buracos. Mas não todos. Esse é um dos vários curtos-circuitos do setor atualmente.
Há outros, como o custo das termelétricas que também onera as distribuidoras. No ano passado, o Tesouro socorreu as empresas com R$ 9,5 bilhões. Este ano, o orçamento prevê outros R$ 9 bilhões, mas já se sabe que será mais porque está se usando mais termelétrica do que se imaginava.
O ministro Guido Mantega não quer incluir os custos extras nas contas fiscais que está preparando. O problema é que se não o fizer estará omitindo uma despesa que todo mundo já sabe que ocorrerá.
Ele conta com a hipótese de chover bastante e elevar os reservatórios. Aí, menos térmicas seriam usadas. Tomara, mas os números oficiais do ONS são de que o nível dos reservatórios do Sudeste caiu de novo para 35,3%. Eles também estimam que fevereiro terminará com chuva no mês de 41% da média histórica. No começo do mês, achavam que poderia ser 55%. Para março, preveem 69% da média histórica. Se acontecer isso, o calculo é de que os reservatórios terminem fevereiro em 38% e março em 41%. Num ano bom, como foi 2012, esse número oscilou entre 75% e 80% entre janeiro e fevereiro.
Muito calor, pouca chuva; muita confusão, pouco juízo; muito prejuízo, pouca transparência sobre como tudo isso será resolvido. Assim caminha o setor energético brasileiro. O que o governo faz é negar que o problema exista. E ele só faz crescer.
Pelo modelo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a ordem para despachar as termelétricas vai, claro, da mais barata até a mais cara. Há uma escala que vai até além da que vende energia ao preço maior. Quando chega nesse pico, e ainda há necessidade de energia, o modelo determina que se corte 5% da carga. Já se chegou a esse ponto, segundo fontes do setor.
Para quem ainda tenta se acostumar com os termos do setor - um dialeto muito peculiar - "despachar" é mandar a térmica fornecer a sua energia ao sistema integrado. E "cortar carga" é reduzir a oferta para as distribuidoras. Bom, mas se há demanda e a oferta pode ser reduzida, isso vai dar em racionamento?
Pergunta inconveniente. A palavra está banida do dicionário porque não cabe no calendário político da presidente Dilma. Nessa situação difícil, pelo menos uma empresa estadual já recebeu ordens não explícitas de que reduzisse a oferta aos seus maiores clientes. O nome disso é aquela palavra banida do dicionário.
A crise da energia está produzindo vários efeitos em cascata. Um deles é prejuízo nas empresas. Só uma delas, a Elektro, que serve à região de Campinas, está com 18% de energia descontratada. Explicando: 18% de tudo o que ela tem que fornecer ela não comprou, não tem, portanto, para entregar. Quando isso acontece, a empresa compra no mercado livre e nele o preço disparou para R$ 822 o MWh, um custo no mínimo quatro vezes maior do que ela pode cobrar.
É uma empresa grande que distribui 4% da energia do país, ou, 13 mil gigawatt/hora/ano. O problema é que esse descasamento é um custo financeiro que pesa cada vez mais sobre a empresa e que, pela regulação, ela só pode passar para o consumidor no reajuste do ano seguinte. Em agosto de 2015 é que essa empresa poderá cobrir o custo enorme que está tendo agora com essa necessidade de compra no mercado livre.
Não é a única que está exposta a esse problema. Várias outras estão. O que o setor diz é que a Empresa de Planejamento Energético (EPE), em alguns dos leilões para acertar as geradoras e as distribuidoras, fixou o preço máximo muito baixo. Em pelo menos um leilão não apareceu quem quisesse vender energia. Houve novo leilão tempos depois, a um preço maior, que cobriu alguns desses buracos. Mas não todos. Esse é um dos vários curtos-circuitos do setor atualmente.
Há outros, como o custo das termelétricas que também onera as distribuidoras. No ano passado, o Tesouro socorreu as empresas com R$ 9,5 bilhões. Este ano, o orçamento prevê outros R$ 9 bilhões, mas já se sabe que será mais porque está se usando mais termelétrica do que se imaginava.
O ministro Guido Mantega não quer incluir os custos extras nas contas fiscais que está preparando. O problema é que se não o fizer estará omitindo uma despesa que todo mundo já sabe que ocorrerá.
Ele conta com a hipótese de chover bastante e elevar os reservatórios. Aí, menos térmicas seriam usadas. Tomara, mas os números oficiais do ONS são de que o nível dos reservatórios do Sudeste caiu de novo para 35,3%. Eles também estimam que fevereiro terminará com chuva no mês de 41% da média histórica. No começo do mês, achavam que poderia ser 55%. Para março, preveem 69% da média histórica. Se acontecer isso, o calculo é de que os reservatórios terminem fevereiro em 38% e março em 41%. Num ano bom, como foi 2012, esse número oscilou entre 75% e 80% entre janeiro e fevereiro.
Muito calor, pouca chuva; muita confusão, pouco juízo; muito prejuízo, pouca transparência sobre como tudo isso será resolvido. Assim caminha o setor energético brasileiro. O que o governo faz é negar que o problema exista. E ele só faz crescer.
Mudou o cenário para a meta fiscal de 2014 - RIBAMAR OLIVEIRA
VALOR ECONÔMICO - 20/02
O governo vai anunciar hoje a meta fiscal para 2014, no momento em que cresce o pessimismo do mercado com relação ao desempenho da economia brasileira neste ano. As instituições financeiras, consultorias e demais empresas que têm departamento de pesquisa estão revisando para baixo as suas projeções para o crescimento que, na mediana, ficou em 1,79% na última edição do Focus, o boletim do Banco Central. Algumas instituições apostam em expansão menor ainda, como é o caso do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que prevê 1,4%. A trajetória da economia é fundamental para definir a meta de superávit primário, pois determina o comportamento da receita tributária. Menor crescimento significa menos receita e maior dificuldade para fechar as contas.
A proposta orçamentária para 2014 foi elaborada pelo governo na perspectiva de que a economia brasileira tinha iniciado a sua recuperação em 2013 e que essa tendência seria consolidada neste ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava convencido de que a recuperação brasileira seria fortalecida pela retomada da economia dos Estados Unidos e da Europa, embora já houvesse sinais claros de perda de fôlego da China. Nem de longe, no entanto, passava pela cabeça de alguém que o fato mais relevante do início de 2014 seria a deterioração das economias de alguns países emergentes.
Apostando na recuperação da economia brasileira, o governo elaborou a proposta de orçamento com a previsão de crescimento de 4% em 2014, o que os senadores e deputados consideraram por demais otimista. Para deixá-la mais realista , os parlamentares reduziram a projeção para 3,8% quando aprovaram a lei orçamentária. Essa visão otimista sobre a trajetória da economia brasileira foi sepultada quando o Banco Central divulgou o IBC-Br do quarto trimestre de 2013, que apresentou uma contração em relação ao trimestre anterior.
O índice do BC é uma espécie de prévia do cálculo do IBGE para o Produto Interno Bruto (PIB). Retração da economia no último trimestre de um ano repassa para o ano seguinte uma herança negativa e obriga que a expansão do ano em curso seja ainda maior para compensar esse efeito estatístico, que os economistas chamam de carry-over .
A expectativa de um crescimento mais forte em 2014 deu lugar a um sentimento generalizado de que o nível de atividade está em queda, na comparação com 2013. A economia está desacelerando. Inverteu-se, portanto, o cenário a partir do qual foi elaborado o Orçamento deste ano. Em uma situação como esta, uma política fiscal que seja contracionista tenderá a derrubar ainda mais a economia que, aparentemente, está rodando abaixo de seu potencial.
A presidente Dilma Rousseff comprometeu-se, em discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, a apresentar uma meta fiscal para este ano suficiente para manter a trajetória de redução do endividamento do setor público. Se o governo fosse seguir a lógica de uma política fiscal anticíclica, que diz ter praticado nos últimos três anos, teria que apresentar uma meta menor do que a do ano passado, pois só assim não reforçaria a tendência de desaquecimento.
Para cumprir o prometido em Davos e tentar reverter a percepção negativa dos mercados sobre a economia brasileira, o governo terá que elaborar o decreto de contingenciamento das despesas orçamentárias com uma taxa de expansão do PIB em 2014 mais realista. A primeira dificuldade do governo, portanto, é esta. Se a escolha for repetir a taxa de 3,8% que está na lei orçamentária ou reduzi-la para 3,5%, certamente surgirão críticas sobre a inconsistência da meta fiscal.
Mas se a previsão de crescimento for reduzida para 2,5%, por exemplo, o governo terá que rever para baixo, em muito, a sua estimativa para a receita tributária em 2014. Na proposta orçamentária deste ano, a previsão era de que a arrecadação tributária diretamente administrada pela Receita Federal (exceto a arrecadação da Previdência Social) aumentaria 9,9%, o que daria um crescimento real (descontada a inflação) em torno de 4% - muito superior aos 2,3% registrados no ano passado, quando se exclui do cálculo a chamada arrecadação extraordinária, resultante de contenciosos judiciais.
Em janeiro, a arrecadação tributária diretamente administrada pela Receita Federal (exceto INSS) não foi muito boa. Estimativas preliminares indicam que a receita líquida de transferências e de restituições aumentou cerca de 1,5%, em termos reais, em relação ao mesmo mês de 2013. Muito longe, portanto, da projeção de crescimento real de 4%, que constou da proposta orçamentária. Janeiro costuma ser um dos melhores meses em termos de arrecadação. Mas não se pode, com base apenas nele, traçar uma tendência para o ano.
Se ficar caracterizado o desaquecimento da economia neste ano, em relação a 2013, apontado pelas projeções de mercado, a receita tributária tenderá também a ser menor. Nestes casos, ela costuma cair mais intensamente que a atividade. Neste cenário, o governo estará mais dependente da ocorrência de receitas extraordinárias para fechar suas contas. No ano passado, essas receitas extras superaram R$ 40 bilhões. A proposta orçamentária estima que elas ficarão em R$ 27 bilhões neste ano.
A redução da estimativa da receita é um problema sério porque o governo terá que cortar mais de suas despesas se quiser apresentar um superávit primário mais robusto. Duas dificuldades adicionais turvam ainda mais essa questão. O Orçamento deste ano foi elaborado com uma meta de superávit do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) de apenas 1,1% do PIB. Para elevar essa meta para 1,57% do PIB - igual à registrada em 2013 - o governo teria que aumentar o seu superávit em algo como R$ 25 bilhões.
A outra dificuldade é a inesperada despesa adicional com o uso mais intensivo das usinas térmicas neste ano, em decorrência da escassez de chuvas e o esvaziamento dos reservatórios. A energia das térmicas é mais cara e esse custo terá que ser pago de imediato pelo Tesouro ou pelo consumidor final, com o aumento das tarifas. Se for pelo Tesouro, ficará mais difícil um superávit primário mais robusto neste ano.
O governo vai anunciar hoje a meta fiscal para 2014, no momento em que cresce o pessimismo do mercado com relação ao desempenho da economia brasileira neste ano. As instituições financeiras, consultorias e demais empresas que têm departamento de pesquisa estão revisando para baixo as suas projeções para o crescimento que, na mediana, ficou em 1,79% na última edição do Focus, o boletim do Banco Central. Algumas instituições apostam em expansão menor ainda, como é o caso do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que prevê 1,4%. A trajetória da economia é fundamental para definir a meta de superávit primário, pois determina o comportamento da receita tributária. Menor crescimento significa menos receita e maior dificuldade para fechar as contas.
A proposta orçamentária para 2014 foi elaborada pelo governo na perspectiva de que a economia brasileira tinha iniciado a sua recuperação em 2013 e que essa tendência seria consolidada neste ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava convencido de que a recuperação brasileira seria fortalecida pela retomada da economia dos Estados Unidos e da Europa, embora já houvesse sinais claros de perda de fôlego da China. Nem de longe, no entanto, passava pela cabeça de alguém que o fato mais relevante do início de 2014 seria a deterioração das economias de alguns países emergentes.
Apostando na recuperação da economia brasileira, o governo elaborou a proposta de orçamento com a previsão de crescimento de 4% em 2014, o que os senadores e deputados consideraram por demais otimista. Para deixá-la mais realista , os parlamentares reduziram a projeção para 3,8% quando aprovaram a lei orçamentária. Essa visão otimista sobre a trajetória da economia brasileira foi sepultada quando o Banco Central divulgou o IBC-Br do quarto trimestre de 2013, que apresentou uma contração em relação ao trimestre anterior.
O índice do BC é uma espécie de prévia do cálculo do IBGE para o Produto Interno Bruto (PIB). Retração da economia no último trimestre de um ano repassa para o ano seguinte uma herança negativa e obriga que a expansão do ano em curso seja ainda maior para compensar esse efeito estatístico, que os economistas chamam de carry-over .
A expectativa de um crescimento mais forte em 2014 deu lugar a um sentimento generalizado de que o nível de atividade está em queda, na comparação com 2013. A economia está desacelerando. Inverteu-se, portanto, o cenário a partir do qual foi elaborado o Orçamento deste ano. Em uma situação como esta, uma política fiscal que seja contracionista tenderá a derrubar ainda mais a economia que, aparentemente, está rodando abaixo de seu potencial.
A presidente Dilma Rousseff comprometeu-se, em discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, a apresentar uma meta fiscal para este ano suficiente para manter a trajetória de redução do endividamento do setor público. Se o governo fosse seguir a lógica de uma política fiscal anticíclica, que diz ter praticado nos últimos três anos, teria que apresentar uma meta menor do que a do ano passado, pois só assim não reforçaria a tendência de desaquecimento.
Para cumprir o prometido em Davos e tentar reverter a percepção negativa dos mercados sobre a economia brasileira, o governo terá que elaborar o decreto de contingenciamento das despesas orçamentárias com uma taxa de expansão do PIB em 2014 mais realista. A primeira dificuldade do governo, portanto, é esta. Se a escolha for repetir a taxa de 3,8% que está na lei orçamentária ou reduzi-la para 3,5%, certamente surgirão críticas sobre a inconsistência da meta fiscal.
Mas se a previsão de crescimento for reduzida para 2,5%, por exemplo, o governo terá que rever para baixo, em muito, a sua estimativa para a receita tributária em 2014. Na proposta orçamentária deste ano, a previsão era de que a arrecadação tributária diretamente administrada pela Receita Federal (exceto a arrecadação da Previdência Social) aumentaria 9,9%, o que daria um crescimento real (descontada a inflação) em torno de 4% - muito superior aos 2,3% registrados no ano passado, quando se exclui do cálculo a chamada arrecadação extraordinária, resultante de contenciosos judiciais.
Em janeiro, a arrecadação tributária diretamente administrada pela Receita Federal (exceto INSS) não foi muito boa. Estimativas preliminares indicam que a receita líquida de transferências e de restituições aumentou cerca de 1,5%, em termos reais, em relação ao mesmo mês de 2013. Muito longe, portanto, da projeção de crescimento real de 4%, que constou da proposta orçamentária. Janeiro costuma ser um dos melhores meses em termos de arrecadação. Mas não se pode, com base apenas nele, traçar uma tendência para o ano.
Se ficar caracterizado o desaquecimento da economia neste ano, em relação a 2013, apontado pelas projeções de mercado, a receita tributária tenderá também a ser menor. Nestes casos, ela costuma cair mais intensamente que a atividade. Neste cenário, o governo estará mais dependente da ocorrência de receitas extraordinárias para fechar suas contas. No ano passado, essas receitas extras superaram R$ 40 bilhões. A proposta orçamentária estima que elas ficarão em R$ 27 bilhões neste ano.
A redução da estimativa da receita é um problema sério porque o governo terá que cortar mais de suas despesas se quiser apresentar um superávit primário mais robusto. Duas dificuldades adicionais turvam ainda mais essa questão. O Orçamento deste ano foi elaborado com uma meta de superávit do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) de apenas 1,1% do PIB. Para elevar essa meta para 1,57% do PIB - igual à registrada em 2013 - o governo teria que aumentar o seu superávit em algo como R$ 25 bilhões.
A outra dificuldade é a inesperada despesa adicional com o uso mais intensivo das usinas térmicas neste ano, em decorrência da escassez de chuvas e o esvaziamento dos reservatórios. A energia das térmicas é mais cara e esse custo terá que ser pago de imediato pelo Tesouro ou pelo consumidor final, com o aumento das tarifas. Se for pelo Tesouro, ficará mais difícil um superávit primário mais robusto neste ano.
Economia brasileira sai mal no filme - ROBERTO MACEDO
O Estado de S.Paulo - 20/02
É comum dizer que algo ou alguém saiu mal na foto. É o que acontece hoje com a economia brasileira. Mas a foto não diz como se chegou a tal situação. Assim, é melhor um filme que revele a história. Como neles, a economia segue um roteiro, tem atores principais e coadjuvantes e pode-se falar também da sua direção.
Por falar em filmes, a premiação anual pelo Oscar vem aí, conferida por uma academia do ramo. Em economia a láurea mais importante é o Nobel, que também alcança outras áreas. E há ainda o Ig Nobel. A instituição que o confere busca pesquisas que fazem rir, e também pensar. É coisa séria misturada com humor.
Por exemplo, em 2009 a pesquisadora Elena Bodnar foi premiada por inventar um sutiã que pode ser rapidamente convertido numa máscara que protege o nariz e a boca da inalação de substâncias danosas. A invenção foi depois patenteada e creio que interesse aos que saem às ruas para se manifestar no Brasil. Como poderia ser usada por homens? Deixo a resposta para a imaginação do leitor.
Passando ao filme que mostrarei, a economia brasileira é uma produção gigantesca dos que nela trabalham no agronegócio, na indústria e nos serviços. Contudo a direção que o governo federal tenta dar-lhe não tem nada de Nobel nem de Ig Nobel. Não provoca risos, mas lamentos. Economicamente tem, entretanto, um quê de "igno".
Começando de meados da década passada, a demanda internacional de nossas commodities agrícolas e minerais, em particular da parte da China, teve papel importante na produção brasileira. Aliás, creio que então o Partido Comunista Chinês fez mais pelo Brasil do que qualquer partido político nacional.
O governo federal segue um roteiro que se expressa na política econômica que pratica. Mas ela é ditada quase que exclusivamente por seu desejo de se manter no poder, e não pelas regras de uma boa gestão econômica. Na sua essência, são normas consagradas pelo bom senso e de eficácia comprovada pela experiência internacional.
Assim, no período de vacas gordas que marcou um bom pedaço da década passada faltou o cuidado de fortalecer a economia, até para evitar ou aliviar a fase de vacas magras que hoje se configura. Como na parábola do filho pródigo, este antes de sua regeneração, que aqui ainda não se vê, o governo optou por estimular o consumo e a distribuição de benesses, sem dar a devida atenção à poupança e ao investimento para fortalecer a capacidade produtiva do País e torná-lo menos dependente dos ventos que vêm de fora.
Agora, com a fria ventania que prejudica nossas exportações e com importações ainda estimuladas pelo consumismo, sobreveio um desequilíbrio das contas externas do País. Mesmo ainda embrionário, leva atores econômicos internos e externos a uma atitude de precaução, trocando ativos nacionais por estrangeiros, o que também desvaloriza o real e provoca surtos de insônia no dragão da inflação.
Esta vem essencialmente de um desequilíbrio entre a demanda e a oferta da economia como um todo. Mas, sem atacar suas causas, o governo insiste em conter efeitos, segurando preços como os de petróleo e energia. Num efeito colateral, prejudica empresas estatais que, paradoxalmente, diz orgulhar-se de defender. Com isso o dragão inflacionário reduz um pouco a insônia, mas na bula desse remédio está escrito que acordará mais energizado posteriormente. Uma das razões é que a oferta futura de produtos com preços controlados não se expandirá como devia, porque tal controle desestimula investimentos capazes de ampliá-la.
O aspecto mais sério e complicado é o de como a própria direção se apresenta. Além de atacar inadequadamente a inflação, insiste em gastar muito mais do que arrecada. Dessa forma também contribui para estimular a demanda agregada da economia e recorre à criatividade contábil para dissimular seu desequilíbrio. Mas quem examina suas contas não é bobo e a contabilidade criativa se torna destrutiva da confiança de atores econômicos, em particular de investidores.
Igualmente impulsiona a desconfiança um nada transparente orçamento paralelo de financiamentos, como os do BNDES, concedidos a juros subsidiados e bancados com mais dívida pública. Também aí o governo dissimula ao dizer que sua dívida líquida não cresce com tal esquema, pois os correspondentes aumentos de dívida são compensados pelos créditos adicionais que acumula ao emprestar. Só que o padrão internacional para a análise do endividamento público é a dívida bruta, em face dos riscos envolvidos nesses créditos e dos custos dos subsídios.
Assim, a desconfiança na gestão governamental e o que se passa na inflação e nas contas externas compõem um quadro perigoso. Além do impacto na taxa cambial, estimula a saída de capitais, leva ao aumento dos juros internos e dos externos cobrados nos financiamentos a empresas brasileiras. E a um ambiente desfavorável à realização de investimentos capazes de ampliar com vigor as taxinhas de crescimento que marcam o produto interno bruto (PIB) brasileiro.
O governo reclama que o Brasil é diferente e que não merece estar em grupos de países tidos como vulneráveis. Mas com esse filme em que sua direção só pensa em agradar ao eleitor, sem enfrentar com eficácia as muitas dificuldades existentes, quem a ele assiste, e ao fracasso de países que seguiram o mesmo roteiro, não vê um final feliz.
São várias as academias que dão notas a filmes de países na gestão de sua economia. Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu ao do Brasil uma nota baixíssima. No mês que vem ouviremos vozes de outra academia, a das agências de risco que falam individualmente.
Dada essa obsessão eleitoreira que orienta a direção, não creio em mudanças eficazes, exceto se na próxima escolha a plateia optar por outro filme, que siga a linha do bom senso e com outro elenco.
É comum dizer que algo ou alguém saiu mal na foto. É o que acontece hoje com a economia brasileira. Mas a foto não diz como se chegou a tal situação. Assim, é melhor um filme que revele a história. Como neles, a economia segue um roteiro, tem atores principais e coadjuvantes e pode-se falar também da sua direção.
Por falar em filmes, a premiação anual pelo Oscar vem aí, conferida por uma academia do ramo. Em economia a láurea mais importante é o Nobel, que também alcança outras áreas. E há ainda o Ig Nobel. A instituição que o confere busca pesquisas que fazem rir, e também pensar. É coisa séria misturada com humor.
Por exemplo, em 2009 a pesquisadora Elena Bodnar foi premiada por inventar um sutiã que pode ser rapidamente convertido numa máscara que protege o nariz e a boca da inalação de substâncias danosas. A invenção foi depois patenteada e creio que interesse aos que saem às ruas para se manifestar no Brasil. Como poderia ser usada por homens? Deixo a resposta para a imaginação do leitor.
Passando ao filme que mostrarei, a economia brasileira é uma produção gigantesca dos que nela trabalham no agronegócio, na indústria e nos serviços. Contudo a direção que o governo federal tenta dar-lhe não tem nada de Nobel nem de Ig Nobel. Não provoca risos, mas lamentos. Economicamente tem, entretanto, um quê de "igno".
Começando de meados da década passada, a demanda internacional de nossas commodities agrícolas e minerais, em particular da parte da China, teve papel importante na produção brasileira. Aliás, creio que então o Partido Comunista Chinês fez mais pelo Brasil do que qualquer partido político nacional.
O governo federal segue um roteiro que se expressa na política econômica que pratica. Mas ela é ditada quase que exclusivamente por seu desejo de se manter no poder, e não pelas regras de uma boa gestão econômica. Na sua essência, são normas consagradas pelo bom senso e de eficácia comprovada pela experiência internacional.
Assim, no período de vacas gordas que marcou um bom pedaço da década passada faltou o cuidado de fortalecer a economia, até para evitar ou aliviar a fase de vacas magras que hoje se configura. Como na parábola do filho pródigo, este antes de sua regeneração, que aqui ainda não se vê, o governo optou por estimular o consumo e a distribuição de benesses, sem dar a devida atenção à poupança e ao investimento para fortalecer a capacidade produtiva do País e torná-lo menos dependente dos ventos que vêm de fora.
Agora, com a fria ventania que prejudica nossas exportações e com importações ainda estimuladas pelo consumismo, sobreveio um desequilíbrio das contas externas do País. Mesmo ainda embrionário, leva atores econômicos internos e externos a uma atitude de precaução, trocando ativos nacionais por estrangeiros, o que também desvaloriza o real e provoca surtos de insônia no dragão da inflação.
Esta vem essencialmente de um desequilíbrio entre a demanda e a oferta da economia como um todo. Mas, sem atacar suas causas, o governo insiste em conter efeitos, segurando preços como os de petróleo e energia. Num efeito colateral, prejudica empresas estatais que, paradoxalmente, diz orgulhar-se de defender. Com isso o dragão inflacionário reduz um pouco a insônia, mas na bula desse remédio está escrito que acordará mais energizado posteriormente. Uma das razões é que a oferta futura de produtos com preços controlados não se expandirá como devia, porque tal controle desestimula investimentos capazes de ampliá-la.
O aspecto mais sério e complicado é o de como a própria direção se apresenta. Além de atacar inadequadamente a inflação, insiste em gastar muito mais do que arrecada. Dessa forma também contribui para estimular a demanda agregada da economia e recorre à criatividade contábil para dissimular seu desequilíbrio. Mas quem examina suas contas não é bobo e a contabilidade criativa se torna destrutiva da confiança de atores econômicos, em particular de investidores.
Igualmente impulsiona a desconfiança um nada transparente orçamento paralelo de financiamentos, como os do BNDES, concedidos a juros subsidiados e bancados com mais dívida pública. Também aí o governo dissimula ao dizer que sua dívida líquida não cresce com tal esquema, pois os correspondentes aumentos de dívida são compensados pelos créditos adicionais que acumula ao emprestar. Só que o padrão internacional para a análise do endividamento público é a dívida bruta, em face dos riscos envolvidos nesses créditos e dos custos dos subsídios.
Assim, a desconfiança na gestão governamental e o que se passa na inflação e nas contas externas compõem um quadro perigoso. Além do impacto na taxa cambial, estimula a saída de capitais, leva ao aumento dos juros internos e dos externos cobrados nos financiamentos a empresas brasileiras. E a um ambiente desfavorável à realização de investimentos capazes de ampliar com vigor as taxinhas de crescimento que marcam o produto interno bruto (PIB) brasileiro.
O governo reclama que o Brasil é diferente e que não merece estar em grupos de países tidos como vulneráveis. Mas com esse filme em que sua direção só pensa em agradar ao eleitor, sem enfrentar com eficácia as muitas dificuldades existentes, quem a ele assiste, e ao fracasso de países que seguiram o mesmo roteiro, não vê um final feliz.
São várias as academias que dão notas a filmes de países na gestão de sua economia. Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu ao do Brasil uma nota baixíssima. No mês que vem ouviremos vozes de outra academia, a das agências de risco que falam individualmente.
Dada essa obsessão eleitoreira que orienta a direção, não creio em mudanças eficazes, exceto se na próxima escolha a plateia optar por outro filme, que siga a linha do bom senso e com outro elenco.
Lição invertida - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 20/02
A modelagem do mensalão nasceu em Minas Gerais, na campanha do tucano Eduardo Azeredo para a reeleição ao governo do Estado em 1998.
O esquema viria a ser ampliado e usado em âmbito nacional quando o PT assumiu o poder: desvio de dinheiro público, empréstimos bancários fraudulentos e distribuição de recursos por intermédio das empresas de Marcos Valério de Souza.
A renúncia de Azeredo ao mandato de deputado mostra que o professor aprendeu alguma coisa com os erros cometidos pelo aluno durante o processo e julgamento que aconteceu antes porque o crime de Minas só foi descoberto depois, durante as investigações do mensalão petista.
Se, conforme alega, o PSDB não pressionou Azeredo a renunciar, ao menos fez fortes gestões, o que dá no mesmo. O agora ex-deputado não deixará por isso de pertencer ao partido nem o caso deixará de ser chamado de mensalão mineiro ou mensalão tucano.
Mas, se a decisão do Supremo Tribunal Federal for devolver o processo à primeira instância em decorrência da perda do foro de função, dito privilegiado, o caso perde muito de seu potencial de repercussão.
Um réu sem mandato em processo tramitando na Justiça de Minas, convenhamos, não tem o mesmo atrativo. Para o PSDB é uma boa redução de danos. Estratégia esta já posta em prática nas declarações de defesa discreta e apenas em relação ao caráter do correligionário.
Uma palavra não se ouviu de tucano algum que pudesse ser entendida como ataque ou mera desconfiança da lisura do tribunal para julgar Azeredo. Gestos feitos com a evidente intenção de se diferenciar do PT.
A renúncia ao mandato antes do início do julgamento, enquanto o processo ainda não saiu das mãos do relator Luís Roberto Barroso, enquadra-se nessa tentativa de diferenciação.
Mais que isso: a antecedência busca contar com a boa vontade do STF em devolver o processo para Minas Gerais e aí levar as coisas praticamente à estaca zero.
Dois precedentes com resultados diferentes: em 2007, o então deputado Ronaldo Cunha Lima (já falecido) renunciou ao mandato de deputado federal cinco dias antes de ir a julgamento por tentativa de assassinato do ex-governador Tarcísio Buriti. A manobra deu certo e o caso voltou à justiça da Paraíba.
Três anos depois, Natan Donadon renunciou ao mandato na véspera de ser julgado pelo STF por corrupção, mas o tribunal entendeu o gesto como chicana e resolveu prosseguir com o processo.
Naquele mesmo ano o réu candidatou-se e foi eleito deputado. A história seguinte é conhecida: condenado, preso, absolvido na Câmara com voto secreto, julgado de novo, cassado com voto aberto.
Embora o ministro Barroso tenha sugerido a possibilidade do envio do processo de Azeredo para a primeira instância, nada é garantido. O colegiado pode perfeitamente entender que se trata de uma manobra. Até porque é difícil ver de outra forma.
Todos os detentores de mandatos envolvidos no esquema de Marcos Valério tinham plena certeza de que não seriam punidos. Eles podem ser padecido do excesso de confiança na tradição de impunidade ou do erro de cálculo dos advogados.
Mas, se era para manobrar no sentido de escapulir do foro único deveriam tê-lo feito em tempo hábil. Ou renunciando aos mandatos antes do julgamento ou não cometendo a temeridade de se candidatarem.
Sem nos esquecermos dos eleitores que a eles delegaram mandatos. Parceiros no delito.
O "russo". Fala-se no desejo do governador Eduardo Campos de ter o ministro Joaquim Barbosa como candidato do PSB ao Senado pelo Rio de Janeiro.
Mas ninguém fala se houve combinação prévia com Romário, que recentemente anunciou sua candidatura pelo partido ao Senado - que, na eleição deste ano, só dispõe de uma vaga para cada Estado.
A modelagem do mensalão nasceu em Minas Gerais, na campanha do tucano Eduardo Azeredo para a reeleição ao governo do Estado em 1998.
O esquema viria a ser ampliado e usado em âmbito nacional quando o PT assumiu o poder: desvio de dinheiro público, empréstimos bancários fraudulentos e distribuição de recursos por intermédio das empresas de Marcos Valério de Souza.
A renúncia de Azeredo ao mandato de deputado mostra que o professor aprendeu alguma coisa com os erros cometidos pelo aluno durante o processo e julgamento que aconteceu antes porque o crime de Minas só foi descoberto depois, durante as investigações do mensalão petista.
Se, conforme alega, o PSDB não pressionou Azeredo a renunciar, ao menos fez fortes gestões, o que dá no mesmo. O agora ex-deputado não deixará por isso de pertencer ao partido nem o caso deixará de ser chamado de mensalão mineiro ou mensalão tucano.
Mas, se a decisão do Supremo Tribunal Federal for devolver o processo à primeira instância em decorrência da perda do foro de função, dito privilegiado, o caso perde muito de seu potencial de repercussão.
Um réu sem mandato em processo tramitando na Justiça de Minas, convenhamos, não tem o mesmo atrativo. Para o PSDB é uma boa redução de danos. Estratégia esta já posta em prática nas declarações de defesa discreta e apenas em relação ao caráter do correligionário.
Uma palavra não se ouviu de tucano algum que pudesse ser entendida como ataque ou mera desconfiança da lisura do tribunal para julgar Azeredo. Gestos feitos com a evidente intenção de se diferenciar do PT.
A renúncia ao mandato antes do início do julgamento, enquanto o processo ainda não saiu das mãos do relator Luís Roberto Barroso, enquadra-se nessa tentativa de diferenciação.
Mais que isso: a antecedência busca contar com a boa vontade do STF em devolver o processo para Minas Gerais e aí levar as coisas praticamente à estaca zero.
Dois precedentes com resultados diferentes: em 2007, o então deputado Ronaldo Cunha Lima (já falecido) renunciou ao mandato de deputado federal cinco dias antes de ir a julgamento por tentativa de assassinato do ex-governador Tarcísio Buriti. A manobra deu certo e o caso voltou à justiça da Paraíba.
Três anos depois, Natan Donadon renunciou ao mandato na véspera de ser julgado pelo STF por corrupção, mas o tribunal entendeu o gesto como chicana e resolveu prosseguir com o processo.
Naquele mesmo ano o réu candidatou-se e foi eleito deputado. A história seguinte é conhecida: condenado, preso, absolvido na Câmara com voto secreto, julgado de novo, cassado com voto aberto.
Embora o ministro Barroso tenha sugerido a possibilidade do envio do processo de Azeredo para a primeira instância, nada é garantido. O colegiado pode perfeitamente entender que se trata de uma manobra. Até porque é difícil ver de outra forma.
Todos os detentores de mandatos envolvidos no esquema de Marcos Valério tinham plena certeza de que não seriam punidos. Eles podem ser padecido do excesso de confiança na tradição de impunidade ou do erro de cálculo dos advogados.
Mas, se era para manobrar no sentido de escapulir do foro único deveriam tê-lo feito em tempo hábil. Ou renunciando aos mandatos antes do julgamento ou não cometendo a temeridade de se candidatarem.
Sem nos esquecermos dos eleitores que a eles delegaram mandatos. Parceiros no delito.
O "russo". Fala-se no desejo do governador Eduardo Campos de ter o ministro Joaquim Barbosa como candidato do PSB ao Senado pelo Rio de Janeiro.
Mas ninguém fala se houve combinação prévia com Romário, que recentemente anunciou sua candidatura pelo partido ao Senado - que, na eleição deste ano, só dispõe de uma vaga para cada Estado.
Os 'frágeis' na berlinda - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 20/02
SYDNEY - É uma pena, por vários motivos, que Guido Mantega tenha desistido de vir a Sydney, na Austrália, para a reunião de ministros da Fazenda e de presidentes de bancos centrais do G20, grupo das maiores economias do planeta.
O ministro tem lá boas razões, porque o Orçamento é prioritário, mas ele perde a chance de participar de um interessante momento de transição do G20, que diz respeito diretamente ao Brasil.
Se o foco vinha sendo sobre a crise dos ricos, que os EUA produziram e exportaram para a Europa e para o mundo, a situação agora parece bem outra. Os EUA estão se recuperando, a Europa aparentemente parou de cair e quem está sob suspeita são justamente os emergentes. Com destaque para os que vêm sendo chamados de os "cinco frágeis". Justo ou injusto, o apelido colou.
São eles Brasil, Indonésia, África do Sul, Índia e Turquia, cujas moedas têm sofrido uma pressão crescente e sem fim à vista. Note que, dos cinco, três são dos tão badalados e até bem pouco tempo muito promissores Brics: o próprio Brasil, a Índia e a África do Sul.
A lista dos "frágeis" não inclui economias que não chegaram a empolgar e já vinham trôpegas, como a Argentina, que vai de mal a pior, e a Venezuela, que vai de pior a péssimo. Inclui só as que vinham acontecendo e podem não acontecer mais.
O G20 existe exatamente para alargar as discussões e dar voz aos emergentes. Até aqui, eles falavam grosso com os países ricos atingidos pela crise. A partir de agora, vão ter de baixar o tom e ouvir mais. O momento é de prevenir, para não ter de remediar. Remédio para economia em crise é amargo de dar dó.
A pauta de Sydney e da nona cúpula do G20 (em Brisbrane, em novembro) foca emprego, em que o Brasil sai bem na foto, e infraestrutura, em que sai mal. Mas isso é detalhe. O fundamental para o grupo é justamente detectar e segurar crises. Ou seja, evitar novas surpresas.
SYDNEY - É uma pena, por vários motivos, que Guido Mantega tenha desistido de vir a Sydney, na Austrália, para a reunião de ministros da Fazenda e de presidentes de bancos centrais do G20, grupo das maiores economias do planeta.
O ministro tem lá boas razões, porque o Orçamento é prioritário, mas ele perde a chance de participar de um interessante momento de transição do G20, que diz respeito diretamente ao Brasil.
Se o foco vinha sendo sobre a crise dos ricos, que os EUA produziram e exportaram para a Europa e para o mundo, a situação agora parece bem outra. Os EUA estão se recuperando, a Europa aparentemente parou de cair e quem está sob suspeita são justamente os emergentes. Com destaque para os que vêm sendo chamados de os "cinco frágeis". Justo ou injusto, o apelido colou.
São eles Brasil, Indonésia, África do Sul, Índia e Turquia, cujas moedas têm sofrido uma pressão crescente e sem fim à vista. Note que, dos cinco, três são dos tão badalados e até bem pouco tempo muito promissores Brics: o próprio Brasil, a Índia e a África do Sul.
A lista dos "frágeis" não inclui economias que não chegaram a empolgar e já vinham trôpegas, como a Argentina, que vai de mal a pior, e a Venezuela, que vai de pior a péssimo. Inclui só as que vinham acontecendo e podem não acontecer mais.
O G20 existe exatamente para alargar as discussões e dar voz aos emergentes. Até aqui, eles falavam grosso com os países ricos atingidos pela crise. A partir de agora, vão ter de baixar o tom e ouvir mais. O momento é de prevenir, para não ter de remediar. Remédio para economia em crise é amargo de dar dó.
A pauta de Sydney e da nona cúpula do G20 (em Brisbrane, em novembro) foca emprego, em que o Brasil sai bem na foto, e infraestrutura, em que sai mal. Mas isso é detalhe. O fundamental para o grupo é justamente detectar e segurar crises. Ou seja, evitar novas surpresas.
A disputa PT e PMDB - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 20/02
A presidente Dilma fez ontem um gesto de aproximação com o PMDB telefonando para seu vice Michel Temer, para combinar a retomada das negociações para o Ministério. Na segunda-feira, já havia comparecido a um jantar na casa do vice em que prefeitos paulistas e o candidato do partido ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, estavam presentes. Seu discurso naquela ocasião foi música para os ouvidos peemedebistas. Disse, de maneira genérica, mas que foi entendido como dirigido a São Paulo, que para ela tanto faz vencer o PT ou o PMDB.
Ontem, fez outra indicação séria, que foi vazada pelo Palácio do Planalto como maneira de fortalecer Temer: qualquer indicação do partido terá que ser avalizada pelo vice-presidente. Uma maneira de tentar escantear o líder do PMDB, deputado federal Eduardo Cunha. A relação dos dois partidos está, portanto, em processo de reaproximação, mas mais difícil do que se previa.
As razões: políticos não gostam de Dilma, talvez até em parte por suas qualidades. Eles não se sentem parte do processo, acham que ela não negocia com eles de igual para igual, acham que não recebem a necessária atenção do Palácio do Planalto, os pedidos não são atendidos da maneira que gostariam. Esse é um sentimento generalizado, não apenas do PMDB, e por isso sempre há motivos para uma revolta.
Prefeririam vencer com Eduardo Campos ou Aécio Neves, e só ficam do lado dela se for a única opção de ganhar as eleições presidenciais. É dito dentro do partido que a presidente Dilma usa com o PMDB uma lógica sindical de negociação, como se ela fosse o sindicato patronal e eles, o sindicato dos empregados.
Chega com a proposta patronal, apresenta-a aos empregados, e aguarda uma resposta. Nunca é uma conversa sobre o que pode ser feito para chegar a um acordo. Não é uma relação de igual para igual. Nessa lógica, os parlamentares também resolveram adotar a lógica sindical. Quando a terceira proposta patronal não atinge o que o dissídio coletivo queria, eles partem para operação padrão, greve, todas as táticas sindicais para enfrentar os patrões.
A presidente Dilma reagiu a isso interrompendo as negociações até o término do movimento paredista. A presidente tinha absoluta convicção de que eles não a enfrentariam, de que voltariam atrás. Mesmo na terça-feira, tinha a convicção de que poderia vencer, com a ajuda do Senado, a resistência aos vetos na lei que cria novos municípios. Esse é um típico exemplo de um caso em que a presidente está absolutamente certa ao vetar a esdrúxula criação de novos municípios, mas não consegue ter a vitória no Congresso.
Mesmo que vencesse no Senado, mas recebesse uma maciça votação contrária na Câmara, a derrota política continuaria pesada, e o problema ficaria do mesmo tamanho. Mas os aliados tiveram que se empenhar para adiar a votação porque, em cima da hora, o Palácio do Planalto percebeu que poderia perder também no Senado.
A crise política é grave como nunca antes. O novo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi transformado em Ideli Salvatti com duas semanas de cargo justamente por não ter autonomia para fechar acordos. O PMDB é a parte visível de um desgaste que atinge toda a base governista. Surge no horizonte a possibilidade, ainda incipiente, de o partido ficar neutro na eleição presidencial, o que na prática significaria um rompimento do partido com o governo.
O mapa do PMDB é diferente do do Brasil. Lá, Ceará é maior que São Paulo, por exemplo, pela lógica interna do partido. E a crise envolvendo o senador Eunício Oliveira é grave. A maior representação é a do Rio de Janeiro, onde a crise entre o PT e o PMDB continua sem solução. O que seria uma crise fácil de resolver está se transformando em insolúvel. É preciso ter dez a 12 estados na convenção para criar uma dissidência forte. Mas o governo não consegue resolver os casos para desmobilizar a dissidência em três ou quatro desses estados, o que enfraqueceria a rebelião.
O nome da senadora do PP pelo Rio Grande do Sul é Ana Amélia, e não Maria Amélia, como escrevi na coluna de ontem.
O deputado federal Alfredo Sirkis, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), resolveu apresentar seu nome para concorrer ao governo do Estado do Rio.
O país dos importados - RODOLFO COELHO PRATES
GAZETA DO POVO - PR - 20/02
Diz o ditado popular que há dois caminhos: o fácil e o certo. E o Brasil vem, há várias décadas, trilhando o fácil, embora diga que sempre faz o certo. O mais recente episódio é o programa federal Mais Médicos. Embora em alguns locais possa acarretar melhora das condições de saúde, esse programa, de fato, não trilhou o caminho certo. Ele parte da premissa de que é mais fácil importar médicos de outros países do que estruturar melhor as universidades para formar profissionais em número necessário às demandas sociais. Trazer médicos é também mais cômodo que elaborar uma política sustentável para a atividade da medicina, pois isso envolve um amplo diálogo com inúmeros setores, e para esse diálogo o governo não demonstra habilidade ou interesse.
Mas esse episódio não é o único. Há mais de um século o Brasil importou europeus para substituir o trabalho escravo. Por várias razões, nas últimas décadas do século 19 a escravidão estava entrando em seu declínio, e o caminho mais fácil foi deixar marginalizados os que aqui estavam e trazer trabalhadores estrangeiros para essa nova fase da economia nacional. Hoje toda a sociedade brasileira sabe o equívoco que foi cometido.
Em meados do século passado, sob o governo de Juscelino Kubitscheck, o governo adotou o discurso fácil de desenvolver o país 50 anos em apenas cinco. Como se fosse possível dar saltos no tempo e pular etapas na construção social. E nada mais simbólico naquele momento que a indústria automobilística, sinônimo de modernidade e mobilidade. O governo decidiu interromper a importação de carros e importar as próprias indústrias. E até hoje, quando uma nova indústria automobilística aterrissa em nosso território, cria-se a ilusão de que é um grande feito. Atualmente, além das empresas tradicionais europeias, americanas e japonesas, que estão aqui há décadas, há também empresas da Coreia, da China e, no futuro próximo, da Índia, mas ninguém se pergunta onde está a empresa brasileira.
Infelizmente todas as iniciativas de uma indústria automobilística nacional foram abortadas. Algumas pessoas podem dizer que, se não há uma única empresa brasileira no setor, é por causa da incompetência dos empresários nacionais. Se esse argumento fosse correto, nenhuma empresa brasileira sobreviveria ao avanço dos tempos.
A experiência de muitos países é reveladora, e ela mostra a necessidade de uma conjugação de elementos que favoreçam o desenvolvimento industrial de uma nação. Enquanto em muitos países há políticas de desenvolvimento industrial, a política nacional é de atração do investimento internacional, que, por meio de um conjunto amplo de incentivos e benefícios, tenta facilitar a vinda de empresas já consolidadas nos seus países de origem. É, mais uma vez, a escolha do caminho fácil e não do caminho certo.
A estratégia democraticamente contestável da política nacional de solucionar os problemas domésticos por meio da importação gera resultados modestos e de curtíssimo prazo, e os problemas futuros decorrentes dessa estratégia se tornam gigantescos, como a história nos ensina.
O governo brasileiro deve necessariamente rever sua postura populista e priorizar ações corretas. Mas, se preferir continuar pelo mesmo caminho da facilidade, deveria excluir os políticos do governo e importar políticos mais comprometidos com as questões nacionais, a exemplo dos políticos dos países nórdicos, que sabem distinguir claramente o que é fácil e o que é o certo.
Diz o ditado popular que há dois caminhos: o fácil e o certo. E o Brasil vem, há várias décadas, trilhando o fácil, embora diga que sempre faz o certo. O mais recente episódio é o programa federal Mais Médicos. Embora em alguns locais possa acarretar melhora das condições de saúde, esse programa, de fato, não trilhou o caminho certo. Ele parte da premissa de que é mais fácil importar médicos de outros países do que estruturar melhor as universidades para formar profissionais em número necessário às demandas sociais. Trazer médicos é também mais cômodo que elaborar uma política sustentável para a atividade da medicina, pois isso envolve um amplo diálogo com inúmeros setores, e para esse diálogo o governo não demonstra habilidade ou interesse.
Mas esse episódio não é o único. Há mais de um século o Brasil importou europeus para substituir o trabalho escravo. Por várias razões, nas últimas décadas do século 19 a escravidão estava entrando em seu declínio, e o caminho mais fácil foi deixar marginalizados os que aqui estavam e trazer trabalhadores estrangeiros para essa nova fase da economia nacional. Hoje toda a sociedade brasileira sabe o equívoco que foi cometido.
Em meados do século passado, sob o governo de Juscelino Kubitscheck, o governo adotou o discurso fácil de desenvolver o país 50 anos em apenas cinco. Como se fosse possível dar saltos no tempo e pular etapas na construção social. E nada mais simbólico naquele momento que a indústria automobilística, sinônimo de modernidade e mobilidade. O governo decidiu interromper a importação de carros e importar as próprias indústrias. E até hoje, quando uma nova indústria automobilística aterrissa em nosso território, cria-se a ilusão de que é um grande feito. Atualmente, além das empresas tradicionais europeias, americanas e japonesas, que estão aqui há décadas, há também empresas da Coreia, da China e, no futuro próximo, da Índia, mas ninguém se pergunta onde está a empresa brasileira.
Infelizmente todas as iniciativas de uma indústria automobilística nacional foram abortadas. Algumas pessoas podem dizer que, se não há uma única empresa brasileira no setor, é por causa da incompetência dos empresários nacionais. Se esse argumento fosse correto, nenhuma empresa brasileira sobreviveria ao avanço dos tempos.
A experiência de muitos países é reveladora, e ela mostra a necessidade de uma conjugação de elementos que favoreçam o desenvolvimento industrial de uma nação. Enquanto em muitos países há políticas de desenvolvimento industrial, a política nacional é de atração do investimento internacional, que, por meio de um conjunto amplo de incentivos e benefícios, tenta facilitar a vinda de empresas já consolidadas nos seus países de origem. É, mais uma vez, a escolha do caminho fácil e não do caminho certo.
A estratégia democraticamente contestável da política nacional de solucionar os problemas domésticos por meio da importação gera resultados modestos e de curtíssimo prazo, e os problemas futuros decorrentes dessa estratégia se tornam gigantescos, como a história nos ensina.
O governo brasileiro deve necessariamente rever sua postura populista e priorizar ações corretas. Mas, se preferir continuar pelo mesmo caminho da facilidade, deveria excluir os políticos do governo e importar políticos mais comprometidos com as questões nacionais, a exemplo dos políticos dos países nórdicos, que sabem distinguir claramente o que é fácil e o que é o certo.