sábado, novembro 15, 2014

Sufocaram até a música - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA

CORREIO BRAZILIENSE - 15/11

Juro. Hoje eu estava decidido a não falar de política. Havia me programado para escrever sobre a, para mim inusitada, prestação de contas on-line de Camilla Ines. Praticamente todos os dias, a cantora pernambucana que adotou Brasília como lar revela um pouco mais sobre a gestação de seu novo álbum, The rythm of samba. Um projeto cofinanciado por admiradores de seu trabalho, que funde jazz com música brasileira da melhor qualidade.

Era essa a intenção - falar sobre a música e a bela iniciativa de Camilla - até ser atropelado pela notícia de mais uma operação da Polícia Federal para prender nova leva de acusados de sangrar os cofres da Petrobras. No Brasil, virou samba de uma nota só. Não se passa uma semana sem que o país seja assaltado com informações sobre políticos roubando o dinheiro que pagamos de impostos ou tramando projetos que lhes garantam impunidade.

Um dos figurões presos, entre empreiteiros e executivos, se chama Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal. Também ex-dirigente da empresa, o homem-bomba Paulo Roberto Costa, que fez acordo de delação premiada com a Justiça, atribui a nomeação de Duque no cargo a José Dirceu. Condenado pelo Supremo, no processo do mensalão, a 7 anos e 11 meses de detenção, o ex-ministro Dirceu não chegou a ficar um ano preso. Deixou a cadeia logo depois da reeleição de Dilma. Na diretoria então chefiada por Duque, confessou Costa, todo o dinheiro roubado era destinado ao PT. Nas demais, contou o delator, o saque era repartido entre o PT, o PP e o PMDB.

Na ação de ontem, a sétima ligada à Petrobras, foram bloqueados cerca de R$ 720 milhões, pertencentes a 36 investigados. Agentes federais cumpriram seis mandados de prisão preventiva, 21 de prisão temporária, nove de condução coercitiva e 49 mandados de busca e apreensão. A PF estima que o esquema de corrupção na estatal, durante os governos Dilma e Lula, movimentou mais de R$ 10 bilhões. O mais incrível nisso tudo é que, tirando os delatores - que aceitaram confessar tudo para não mofar na cadeia, igualzinho a Marcos Valério, no mensalão -, ninguém até agora, na estatal e no governo, sabe de nada. Uma proeza e tanto.

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