quinta-feira, novembro 13, 2014

Reforma sem controle - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 13/11


Ministros pedem demissão sem que a presidente Dilma, do outro lado do mundo, pareça conduzir o processo de mudança em seu gabinete


Várias hipóteses podem ser formuladas a partir da atitude da senadora Marta Suplicy (PT-SP), que na terça-feira (11) pediu demissão do Ministério da Cultura.

Uma coisa, todavia, parece fora de dúvida. Com tantos ministros colocando à disposição seus cargos enquanto a presidente Dilma Rousseff (PT) nem sequer se encontra no país, fica a impressão de que o Planalto se vê às voltas com uma movimentação que não controla nem soube planejar.

A sensação de desencontro se agrava com o papel exercido no episódio pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Depois da intempestiva decisão de Marta, o coordenador político do governo teria tentado minimizar o que havia de disruptivo no gesto da companheira de partido.

Segundo se noticia, Mercadante acionou os demais membros do primeiro escalão para que antecipassem uma movimentação que em tese ocorreria na próxima semana. Ao mesmo tempo, a Casa Civil nega que se tenha articulado uma renúncia coletiva.

Não ficou menor, em qualquer caso, o impacto da saída de Marta, sobretudo pelos termos críticos da carta que a acompanhou. Mas seu real significado não se deixa analisar com facilidade.

Manifestando votos de que a presidente escolha "uma equipe econômica independente, experiente e comprovada", capaz de resgatar "a confiança e a credibilidade de seu governo", Marta teria dado voz às expectativas do ex-presidente Lula, adepto de uma correção de rumos na atual administração.

Cabe lembrar que outro ministro próximo de Lula tem dado indicações de inconformidade com o estilo de Dilma. Ao atual governo faltou diálogo, disse Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com "os principais atores na economia e na política"; além disso, teriam faltado ações concretas para atender reivindicações sociais.

O lulismo, talvez ainda mais exposto do que Dilma às revelações em torno da Petrobras, parece mostrar seu poder de pressão, com críticas nominalmente de "esquerda" e de "direita" ao atual governo.

Não se excluem, ao mesmo tempo, as pretensões eleitorais da própria Marta Suplicy, cujo caminho para a sucessão de Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo se vê obstaculizado dentro do PT.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, Dilma Rousseff é quem menos aparenta ter a condução do processo. A pretendida reforma ministerial assume estranho ares de debandada.

O capital próprio da presidente, enquanto liderança política, nunca foi notável; mostra-se, todavia, mais frágil a cada dia que passa.

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