domingo, novembro 16, 2014

O alerta do desemprego - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 16/11

A mais perversa consequência da falta de crescimento da economia, aquela que todos torcem para que nunca apareça, infelizmente não perdoou a desaceleração persistente da atividade econômica, principalmente da indústria brasileira. Passada a eleição, o governo não tem mais motivo para esconder ou adiar a divulgação de más notícias, nem mesmo quando a vítima é a estrela de sua campanha eleitoral: o emprego.

Mesmo que tentasse minimizar o fato, não dá mais para esconder o óbvio. Com a economia estagnada e o pessimismo tomando conta do consumidor e dos empresários, a manutenção dos empregos fica sempre ameaçada e, mais dia, menos dia, o trabalhador paga a maior parte da conta da recessão. Seja com a inflação comendo o salário, seja com a perda do emprego. Pior ainda é quando as duas coisas ocorrem ao mesmo tempo.

Ao fim de uma semana recheada de más notícias na economia brasileira, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou na sexta-feira os resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em outubro: um desastre. A esta altura, ninguém de juízo esperava desempenho brilhante na criação de empregos formais no país. Mas o prato servido teve péssimo sabor: o país mais desempregou do que empregou gente em outubro.

As dispensas de trabalhadores que tinham carteira assinada superaram as contratações em 30.283. Foi o pior resultado em outubro de toda a série histórica, iniciada em 1999. Foi, aliás, a primeira vez que o Caged apresentou saldo negativo em outubro, mês que não costuma concentrar muitas demissões (fato que geralmente ocorre em dezembro e janeiro, com a dispensa das contratações temporárias).

Baseado nas baixas e nas entradas nas carteiras de trabalho, obrigatoriamente comunicadas ao Ministério do Trabalho, o Caged reflete uma realidade que não permite dúvidas. Não se trata da declaração de pessoas entrevistadas por instituto público ou privado, mas de número frio. Por isso mesmo, reflete a realidade incontestável do mercado formal de trabalho. É importante, portanto, levá-lo a sério.

Melhor ainda tratar de entender suas causas e procurar enfrentá-las. Pouco adianta a candura das explicações do ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, para quem a culpa foi da seca em São Paulo e do animado calendário eleitoral. Fosse só isso, ninguém deveria se preocupar e os empresários, experientes ou não, estariam exagerando ao demitir mais do que contratar, ao engavetar projetos à espera das mudanças prometidas na campanha eleitoral.

O país caminha para fechar o ano com uma coleção de maus resultados: inflação acima da meta, deficit fiscal, deficit em contas-correntes e, pior de tudo, Produto Interno Bruto (PIB) com evolução próxima de zero. Não cabe, portanto, qualquer manifestação de surpresa ante tão expressiva perda de postos de trabalhos pela economia formal. Mesmo que as festas de fim de ano motivem alguma melhora nas contratações de novembro e dezembro, o resultado negativo de outubro é expressivo demais para deixar de ser entendido como um alerta de que as coisas vão muito mal na economia. Há razões de sobra para a presidente não esperar mais nada para fazer as mudanças que prometeu.

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