domingo, novembro 09, 2014

Dilma e o ajuste de contas duvidoso - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 09/11

A então candidata à reeleição Dilma Rousseff, de discurso mais sintonizado com a desenvolvimentista histórica que sempre foi, parece estar travando duro debate íntimo com a agora presidente reeleita, instada pelos mercados a responder à série de desafios econômicos. Entre todos os ajustes que terá de executar para evitar o pior e até mesmo para garantir a governabilidade até 2018, o que se apresenta como o mais complexo, abrangente e urgente é o de sanar o grave e crescente desequilíbrio das contas públicas.

Nas entrevistas que vem dando desde o resultado das urnas, Dilma promete ouvir as opiniões divergentes e impedir que se alarguem os rombos fiscais, sejam os conhecidos, sejam os só revelados agora. Mais: a petista insiste que fará o "dever de casa" para recuperar a compatibilidade entre receitas, em queda, e despesas, ainda em alta. Cortes no Orçamento não são novidade no Executivo, algo que é sempre anunciado por volta da véspera do carnaval para adequar a peça de ficção orçamentária à realidade de caixa da administração.

Gastança em ano eleitoral e arrumação das contas no ano seguinte também são triste rotina nesta República, desde quando as eleições livres em todos os níveis voltaram à cena, em 1989. O drama atual, contudo, está no fato de que as contenções de despesas a serem canetadas este ano e no começo do próximo precisam ser suficientemente ousadas e exequíveis para não empurrar a nota de crédito brasileira para baixo.

O rebaixamento do indicador da capacidade de honrar os compromissos e o infame clube dos países marcados pela desconfiança dos credores trouxeram arrocho e instabilidades de toda ordem no século passado. Apesar disso, a presidente, fiel à sua formação econômica, de viés intervencionista, parece resistir a tomar medidas realmente capazes de recolocar o Orçamento nos eixos, em paralelo com inflação alta e debacle da indústria.

Declarações que refletem as teses defendidas em palanque de campanha, basicamente a da existência de opção entre ajustes com dor (creditados à oposição) e ajustes sem dor (já adotados pelo primeiro governo Dilma) não contribuem com nada. Dizer que é bobagem reduzir o número de ministros, dos atuais e inacreditáveis 39, também não. Investidores e especialistas sabem que ajuste indolor soa ajuste mentiroso ou parcial, que pode fazer a fatura ficar ainda mais cara a curto prazo.

Sem cortar despesas, restará ao governo elevar a já pesada carga tributária, sobretudo sobre as classes médias, com implicações diretas no crescimento já perto de zero do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto Dilma libera aos poucos as ações corretivas para fazer o governo recuperar o azul das planilhas, como o aumento nos preços de combustíveis e da eletricidade, ela tenta encontrar forças para contornar obstáculos erguidos pela falta de diálogo que lhe marcou a gestão.

A presidente sabe que os sinais emitidos pelo cenário externo só complicam a inadiável tarefa de equilibrar as contas federais. Ela também entende que o Tesouro e suas pedaladas contábeis já não têm mais tanta desenvoltura para represar preços controlados. Para completar, o contexto político advindo das eleições não lhe é confortável e exige mudanças de postura não percebidas até agora.


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