terça-feira, setembro 16, 2014

O risco de Lula se perder a eleição - ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR


O ESTADO DE S.PAULO - 16/09


É muito provável que o ex-presidente Lula esteja vivendo o mais tormentoso período de sua vida política, porque pela primeira vez, desde que assumiu a Presidência da República, 12 anos atrás, percebe que o plano de perpetuação no poder existente nas raízes de seu partido ameaça ir por água abaixo.

Realmente, nunca Lula e o seu partido viveram antes incerteza igual à que se instalou no quadro político brasileiro com a morte do candidato Eduardo Campos e o consequente crescimento de Marina Silva. As coisas sempre transcorreram suaves para o Partido dos Trabalhadores desde que ganhou a primeira eleição que o levou ao Palácio do Planalto.

Houve um momento de risco, quando Lula disputava o segundo mandato, e se deu mal, muito mal, num debate pela televisão com outros candidatos. Naquela ocasião, amaldiçoou ele os assessores, em quem pôs a culpa, e permaneceu em estado de insegurança, mas não tão acentuada como a dos dias presentes.

Agora, é curioso perceber que a sua sucessora, a quem ele atribuía enorme competência, vem mostrando um despreparo de assustar, pois desde que assumiu o cargo atua de forma tão desastrosa que coloca o País no plano inclinado, ladeira abaixo. No exterior, principalmente, percebe-se que o Brasil encolhe de tamanho e perde credibilidade, sobretudo em face de dever muito mais do que dispõe nas reservas e de viver inflação alta com baixíssimo crescimento econômico.

É possível admitir que Lula realmente acreditasse na competência de Dilma Rousseff, mas agora, vendo suas atrapalhadas, talvez esteja arrependido da escolha feita quatro anos atrás. O pior é que não pode deixar transparecer isso, sob pena de fortalecer ainda mais os dois candidatos concorrentes.

Vê-se obrigado, enfim, a jogar todas as suas fichas em Dilma, porque essa é a única forma de salvar a própria pele. Ele sabe que eventual derrota dela poderá significar o ocaso da carreira política de ambos, bem como o encolhimento do Partido dos Trabalhadores e do sonho de perpetuação no poder, cujo objetivo final sempre pareceu ser fazer do Brasil uma enorme Cuba.

Não há exagero quando se afirma que o propósito dos petistas sempre foi realmente nos impor uma República popular e sindical governada pelo partido. Na visão petista, quem tem de mandar é o partido, e não "a elite branca e reacionária". Como parte principal do programa está a necessidade de disciplinar a imprensa, ou seja, torná-la dócil e obediente como a imprensa cubana.

Em Cuba há mais de 20 jornais de maior importância, porém em nenhum deles se lê notícia alguma sobre descontentamento dos seus habitantes. Tudo naquela ilha está uma maravilha e o que não está bom é culpa dos Estados Unidos. Lá foi totalmente sufocada a "elite branca e reacionária", aquela que no linguajar petista não aceita a participação do povo na missão de governar. Quem manda é o partido - e por isso mesmo a ilha, tão bonita, ficou pobre e sem nenhuma perspectiva de desenvolvimento.

A elite incômoda, segundo os adeptos de Lula, precisará se submeter a necessárias modificações nas leis que regulamentam o exercício das atividades de comunicações no País. Sim, seria necessário fazer que obedeçam ao poder central e passem a divulgar o que interessa ao partido que está no poder, como ocorre em Cuba.

A pressão por tais mudanças transcorria nessa direção - inclusive com o estímulo de exemplos de sufocação de jornais na Venezuela, na Argentina e no Equador - até que a própria imprensa brasileira, a "elite branca e reacionária", passou a denunciar e a ridicularizar o plano.

Num país onde a imprensa é livre as forças totalitárias não conseguirão jamais manter-se no poder. Isso porque as injustiças e os desmandos, quando perpetrados, são denunciados para o grande público, o que provoca revolta e faz ampliar os ressentimentos contra os governantes.

Exemplo claro disso está na circunstância de o Partido dos Trabalhadores haver transformado a Petrobrás, a maior empresa do Brasil e uma das maiores do mundo, num cabidão de empregos e de negócios sujos. Ali, atividades que deveriam ser exercidas unicamente por pessoas comprovadamente habilitadas acabaram delegadas a apaniguados políticos, com voo livre para atos de corrupção e de enriquecimento pessoal.

Isso teve começo quando Lula era presidente da República, mas Dilma Rousseff estava lá e agora procura figurar como inocente ou desinformada, circunstância que faz lembrar o milenar princípio jurídico, insculpido em nosso Código Penal, de que existe crime tanto por ação como por omissão.

Algumas pessoas conseguem escapar da penalidade por omissão, como o próprio Lula no caso do mensalão, em que autorizou pelo consentimento tácito o avanço no dinheiro público para seduzir os congressistas e fazê-los aprovar as leis de interesse do programa político petista de perpetuação no poder.

Dilma também está escapando, mas tão somente quanto ao aspecto penal. Do ponto de vista político e eleitoral tornou-se evidente que os exemplos de corrupção na Petrobrás a atingem em cheio, sobretudo agora, quando é candidata de si mesmo e tem de contar com as próprias pernas. Na eleição anterior Dilma era tão somente a figura feminina de Lula e ganhou a eleição sem fazer nenhum esforço.

No momento presente o quadro é outro e para sair vitoriosa a candidata à reeleição precisa demonstrar melhor preparo do que seus dois principais concorrentes - e isso não está nada fácil, pois o que a atrapalha é o seu próprio despreparo. Não há como esconder que a sua gestão na Presidência da República está afundando o Brasil. Nós hoje somos muito menores e menos importantes do que dez anos atrás.

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