quarta-feira, agosto 13, 2014

Usar raticida - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 13/08


RIO DE JANEIRO - Em matéria de futebol, qual é o seu campeonato favorito? O Italiano, o Espanhol, o Inglês? Ou o Francês, o Português, o Argentino? Seja qual for, são grandes as chances de que, sintonizando algum canal de TV por assinatura, à tarde ou à noite de qualquer dia, você conseguirá acompanhá-lo. E aposto que logo poderemos torcer pelo Dínamo de Moscou, o Lokomotiva de Zagreb ou o Changchun Yatai de Pequim.

O contrário não se dá. Em viagem pela Europa ou pela vizinhança, tente assistir a uma final do Campeonato Brasileiro no seu hotel. Não existe essa possibilidade. Não passa em lugar nenhum. Você dirá: "Há a internet". Sim. Mas refiro-me à recíproca: nosso campeonato não interessa às redes internacionais de TV. É o grande produto do futebol pentacampeão do mundo e não vale nada.

E, pelo que a maioria dos nossos times tem jogado nos últimos anos, é até bom que seja assim. É o campeonato recordista em número de faltas --reais ou simuladas--, passes errados e péssimos gramados. Em compensação, é ridículo em média de gols, de bola rolando e de público. E não se sabe de outro em que tantas torcidas se massacrem antes, durante ou depois do jogo.

Uma entrevista recente com o ex-craque Leonardo, de brilhante carreira no Flamengo, São Paulo, seleção e Europa --nesta, também como dirigente--, produziu um diagnóstico construtivo da situação. Ele prega o fortalecimento econômico dos clubes em relação às federações, sua transformação em empresas com fins lucrativos e o gerenciamento criativo do futebol, para que não dependam de benesses do governo ou da venda de jogadores mal saídos das fraldas.

Leonardo conhece os intestinos do esporte, entende de administração e, acredito, não hesitaria em usar raticida para sanear o que restou do nosso futebol. Seria um grande presidente da CBF. Hei, boa ideia!

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