sábado, agosto 02, 2014

Pecadilho estético - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 02/08


Talvez seja, por definição, um título frívolo, mas é ainda assim digno de nota que o Brasil tenha deixado os Estados Unidos para trás na disputa pelo maior número de cirurgias plásticas do mundo.

Segundo a Isaps (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), em 2013 foram realizados 1,49 milhão de procedimentos cirúrgicos estéticos por aqui, contra 1,45 milhão no país da América do Norte, o antigo campeão global.

A pequena vantagem torna-se acentuada quando se considera que os EUA têm população quase 60% maior que a brasileira e uma renda per capita 340% superior.

Moldar o próprio corpo costuma exigir somas significativas de dinheiro, mas os médicos brasileiros, premidos pela baixa remuneração dos planos de saúde, passaram a oferecer pacotes promocionais --ao que tudo indica, com sucesso.

Agora o paciente pode pagar a intervenção em módicas prestações; o mercado, como seria de esperar, abriu-se para um grande contingente populacional.

Nos EUA, por sua vez, a medicina continua especialmente cara. Assim, muitos americanos viajam a outros países, incluindo o Brasil, para realizar suas cirurgias estéticas. O fenômeno já tem nome: "turismo médico". É improvável, contudo, que ajustes estatísticos para corrigir esse efeito mudem de forma expressiva o quadro geral.

Chama a atenção, em todo caso, que 88% desses procedimentos feitos no Brasil ocorram em mulheres (os favoritos são lipoaspiração, aumento das mamas por silicone e elevação dos seios); nos EUA, a fatia é semelhante, 90%.

Para o cientista comportamental Gad Saad, cirurgias plásticas --assim como maquiagem, sutiã e salto alto-- equivalem ao que os biólogos chamam de sinalização enganosa. Trata-se de imitar ou realçar características que tragam alguma vantagem em termos de sobrevivência ou reprodução.

Os homens, se recorrem pouco ao esteticista, nem por isso se isentam de "truques". Grandes relógios (mesmo falsos) e carrões (de preferência importados) estão entre os itens preferidos para simular ou destacar status social elevado.

Nesse modelo, a vaidade é um fenômeno biológico: eles são atraídos pela aparência, elas se deixam seduzir pelo poder. Não é por acaso que, em geral, eles exageram altura, salário e currículo, enquanto elas remodelam peso, idade e, cada vez mais, aspectos físicos --tudo para tentar tornar os jogos sexuais mais interessantes do que o mero sucesso reprodutivo.

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