quinta-feira, agosto 14, 2014

Pausa trágica - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 14/08
A temperatura da campanha presidencial - tragicamente interrompida ontem com a morte prematura do candidato Eduardo Campos (PSB) - ainda se assemelha com a da economia, cada vez mais fria. Os três principais candidatos vinham se deslocando pelo território nacional e se preparando para colocar a cara no horário político da tevê, a partir da próxima semana, quando uma página triste da história nacional foi escrita. Mas eles também não tinham conseguido despertar o interesse dos eleitores de baixa renda, o que sempre acaba decidindo o pleito.
Segundo os especialistas, o momento até então era dos dois desafiantes da presidente Dilma Rousseff (PT), Campos e o também ex-governador Aécio Neves (PSDB), se apresentarem além dos seus redutos eleitorais, para ficarem menos desconhecidos. A troca de acusações de malfeitos que sempre pipocam nessa fase de largada também não fizeram o cidadão comum coçar a cabeça, embora estejamos a poucos dias de apertar botões da urna.

Depois das grandes manifestações de 2013, a expectativa era de que o ambiente eleitoral ganhasse a esta altura novos predicados, basicamente com um eleitor mais ativo e interessado em ter voz no processo. O voto continua valendo a mesma coisa, e a sua importância suplanta os quatro ou oito anos de mandato, caso de algumas cadeiras no Senado. Por isso é uma pena que os brados das ruas no ano passado não tenham emparedado de vez o mau político.

As eleições de outubro são importantes sob vários aspectos, e o marketing que compõem as alianças para chegar ao poder não consegue mostrar isso. O exercício da cidadania e as aspirações da maioria deveriam encontrar convergência nos nomes colocados na disputa. Incomoda ver tantos rostos e tantas siglas sem expressão brigando por uma vaga parlamentar e saber que a renovação de quadros nas grandes legendas partidárias nem sequer começou - e ainda sofreu dura baixa como a de ontem.

Desejosos de mudanças profundas, muitos eleitores chegam à campanha eleitoral sem muita segurança das escolhas que deveriam fazer. Pior, fica propenso ao desânimo, sem gana de encontrar alternativa, por achar que elas não existem de fato. Nessa toada, pode acabar votando pela lei da gravidade. Mas, com o voto tendo o merecido peso que tem, tomara que o cidadão não abdique do direito de influir na vida do país.

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