terça-feira, agosto 26, 2014

Invasão de danos - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 26/08


Como se resolver o problema do deficit habitacional já não fosse tarefa complexa, invasões orquestradas por movimentos de sem-teto em empreendimentos populares inacabados adicionam à equação dificuldades nada desprezíveis --e não apenas para as autoridades.

Também a população que vive em áreas de risco ou espera há anos por sua residência se vê prejudicada por intervenções de grupos que, à margem da lei, decidem se apossar de conjuntos habitacionais construídos com recursos públicos.

Reportagem desta Folha mostra que, na cidade de São Paulo, 1.427 famílias de baixa renda continuam à espera de moradias do programa federal Minha Casa Minha Vida devido a danos causados por invasores.

Não satisfeitos em ocupar ilegalmente unidades quase prontas, que dependiam apenas de ligações de água e de esgoto para serem entregues, os sem-teto depredaram e incendiaram instalações de oito condomínios quando a polícia comandou uma ação de reintegração de posse.

O vandalismo tornou necessário reformar os empreendimentos. Assim, não se sabe quando as unidades, em construção desde 2010, serão oferecidas às famílias. Agrava-se, pois, a situação de quem hoje vivem em condições precárias.

É o caso, por exemplo, do mecânico Thiago do Nascimento Silva, 24, que mora com a mulher e a filha de três anos no Jardim Pantanal, bairro da zona leste frequentemente sujeito a alagamentos.

"Até hoje espero minha casa e quase não tenho mais esperança. Perdi meu carro na última enchente e tenho medo de a minha filha ficar doente", lamenta Silva.

Essa destruição, ademais, impõe um custo adicional às obras --responsabilidade da qual os invasores provavelmente escaparão. Segundo a Caixa Econômica Federal, que zela pelos imóveis, ainda não há estimativa para os gastos extraordinários em que incorrerá.

A julgar por experiência semelhante na esfera municipal, o prejuízo será significativo. Na Prefeitura de São Paulo, calcula-se em R$ 700 mil o custo para reformar 40 apartamentos de um condomínio da Cohab (empresa metropolitana de habitação) que também foi destruído no momento do despejo.

Os próprios sem-teto agradeceriam se os recursos não precisassem ser aplicados duas vezes no mesmo apartamento.

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