No PT há mais gente preocupada em ‘desconstruir’ a nova adversária do que em mudar a maneira de governar. Subestimar Marina é erro. Lula já provou desse veneno
O primeiro cenário depois do desastre, mapeado pelo Datafolha, teve o efeito de um bálsamo para candidatos e seguidores aflitos: Dilma Rousseff (com 36%) e Aécio Neves (20%) se mantiveram intactos, e Marina Silva entrou na disputa com preferência (21%) similar à sua votação na eleição presidencial de 2010.
Grande novidade é a mudança no comportamento do eleitorado. Um mês atrás os sem-candidato, por indecisão ou opção, somavam 50 milhões de eleitores (35% ) e agora são 31 milhões (22%). Ou seja, 19 milhões de brasileiros resolveram entrar no jogo.
Esse movimento teve como primeira consequência a afirmação — agora de maneira explícita e majoritária — da vontade de uma eleição presidencial em dois turnos. Pela primeira vez em 18 meses, Dilma perde no confronto com os dois principais adversários — ficou abaixo (5%) da soma de Aécio e Marina.
Isso aconteceu mantendo-se intocado o desejo de mudanças, talvez a característica dessa campanha, expresso por mais de dois terços do eleitorado em sucessivas sondagens.
Candidatos deveriam interpretar como pressão, a 11 semanas do primeiro turno, por urgência na apresentação de ideias objetivas sobre como o país pode avançar em saúde, educação, transporte, segurança e desenvolvimento econômico, sem perder o já conquistado, como o valor da moeda e o controle da inflação.
Ontem, porém, havia mais gente no comando do PT preocupada em “desconstruir” a nova adversária do que em pensar sobre uma nova maneira de governar. É um método de autoengano, porque subestima o adversário.
Lula provou desse veneno no outono de 2008. Na quinta-feira 8 de maio, ele reuniu governadores da Amazônia e ministros, entre eles Marina Silva, responsável pelo Meio Ambiente, na época em conflito com Dilma Rousseff.
Lula anunciou uma nova política ambiental para a Amazônia delegando-a ao ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger. Justificou: “O importante é alguém isento para tocar. A Marina não é isenta...”.
Ela ouviu calada. Ficou até o fim, como se nada houvesse acontecido, com seu peculiar meio sorriso, os passos e gestos comedidos que acentuam sua aparência frágil.
Na terça-feira seguinte, 13 de maio, Lula estava em um almoço no Itamaraty, onde discursaria sobre a Abolição da Escravatura. Um assessor entregou-lhe a carta de demissão de Marina com uma notícia: o texto já estava nos sites de notícias (“Deixo seu governo com a consciência tranquila”, ela dizia).
A ministra demitira o presidente, em público. E Lula foi o último a saber — registraram os jornais, de Porto Alegre a Berlim.
Em setembro passado, Lula previu a impossibilidade de registro do partido de Marina. A decisão seria confirmada pela Justiça dias depois. A maior contribuição para anulação de filiações à Rede partiu dos cartórios eleitorais do ABCD paulista, por coincidência região dominada pelo PT. Ali, a rejeição chegou a 60%. Alegou-se até a ausência “por gravidez” da responsável pelo reconhecimento de firma.
Marina não desistiu, uniu-se a Eduardo Campos. Numa trapaça da História, está aí, de novo. Com todas as suas contradições, mas acompanhada por 19 milhões de eleitores, informa a mais recente pesquisa.
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