sábado, julho 05, 2014

Fim de festa - ANDRÉ GUSTAVO STUMPF

CORREIO BRAZILIENSE - 05/07

No próximo sábado, duas equipes disputarão o terceiro e o quarto lugares na Copa do Mundo. Não é um título vistoso, mas conta pontos para o ranking da Fifa. Dia seguinte, haverá a final no Maracanã, no Rio de Janeiro, a catedral gótica do futebol brasileiro. É pena que falte apenas uma semana para o campeonato terminar. Alguns turistas vão esticar as férias. A maioria vai colocar o pé na estrada, no avião, no navio ou no automóvel e voltar para a casa.

A festa vai acabar. Depois virá o vazio dos dias sem jogo, sem discussões intermináveis dos muitos técnicos de futebol que apareceram subitamente em todos os canais de televisão. A época do nervosismo, da ansiedade, do sofrimento com prorrogações e penalidades máximas vai terminar. Ficará a memória da Copa do Brasil, de seus jogos espetaculares, viradas sensacionais e jogadas magistrais, como o gol de Van Persie. E aí o brasileiro vai bater de cara com a realidade: eleição presidencial, que não provoca sensações iguais às do futebol e tem o dom de irritar o espectador.

A Copa termina e a campanha já estará nas ruas. O pessoal ainda estará curtindo a ressaca do futebol e a publicidade eleitoral já estará em campo. Ela é permitida pela lei a partir de amanhã, 6 de julho. No próximo mês, entra no ar a famosa propaganda eleitoral gratuita que modifica todos os horários dos programas de televisão e acrescenta pouco ao candidato. Somente aqueles que disputam a eleição majoritária podem se beneficiar. O resto fica exposto ao enorme desfilar de votos e propostas sem o necessário fundamento.

A discussão é se a televisão - no caso, com o rádio - pode modificar a preferência do eleitor. Na eleição de 1989 - que foi solteira, ou seja só o cargo de presidente estava em jogo - o então candidato Fernando Collor mandou muito bem. Aparecia na tevê à frente de paisagens maravilhosas, sempre muito bem vestido e com um discurso duro e inflexível no sentido de abrir a economia nacional e perseguir os marajás. Collor era candidato de um partido pequeno, com pouco tempo na televisão. Ulysses Guimarães, ao contrário, presidente do PMDB, dispunha de uma enormidade de tempo. Não passou para o segundo turno.

Collor e Lula disputaram a final e o alagoano venceu depois de duelo fascinante no debate diante das câmeras de televisão. Lula precisou se candidatar outras duas vezes - e perder - antes de encontrar um articulador político, chamado José Dirceu, para fazer alianças e abrir o arco de apoios ao PT. Essa política se expandiu até o limite em que se encontra hoje. Um partido de pouca expressão como o PR coloca a presidente contra a parede, exige e consegue trocar ministros. Tudo por causa de um minuto e dois segundos no horário eleitoral gratuito.

Estão em campo hoje dois times com estilos diferentes. Aécio Neves herdou do avô, Tancredo, o gosto pela negociação. Ele complicou o cenário paulista ao convidar para vice-presidente o senador Aloysio Nunes Ferreira, amigo de Serra e ex-militante da ALN. Lutou com Marighela contra os militares. Viveu anos na Europa. O PSDB ficou unido no maior colégio eleitoral do país. No segundo maior, Minas Gerais, Aécio indicou seu amigo Pimenta da Veiga, que estava distante da política. Os dois trabalham para abrir boa vantagem de votos sobre Dilma Rousseff.

Andou também pelo Rio de Janeiro e provocou uma tremenda confusão. Sérgio Cabral abandonou a disputa ao Senado. Assumiu seu lugar o ex-prefeito César Maia. Pezão, o candidato ao governo, terá apoio do PMDB, que nega dar suporte ao candidato de Dilma Rousseff no estado, Lindbergh Farias. A candidatura Dilma Rousseff é produto de laboratório. O ex-presidente Lula conseguiu, com o simples apontar o dedo, eleger Dilma para a Presidência, Fernando Haddad para prefeito em São Paulo e agora tenta Padilha para o governo do estado.

A Copa do Mundo auxiliou Dilma. Sua popularidade parou de cair. Mas os números da economia são ruins. As montadoras de veículos começaram a demitir. A inflação incomoda. O mercado de trabalho tornou-se restritivo. A ela resta o caminho da negociação de cargos. A produção industrial brasileira acumula perda de 4,5% desde outubro do ano passado. Se a política econômica da presidente não a auxilia, o Programa Bolsa Família ajuda nos grotões. É nesse apoio que ela se pendura. E viaja sem parar. Inaugura o que encontra pela frente. Estilos diferentes, mas objetivos iguais. É a luta pelo poder.

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