sexta-feira, julho 25, 2014

Copom descarta alívio monetário no curto prazo - EDITORIAL VALOR ECONÔMICO

VALOR ECONÔMICO - 25/07


A ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária deixou claro que a política monetária vai hibernar nos próximos meses até que as elevações da taxa de juros já realizadas tenham pleno efeito e a economia se desacelere a ponto de garantir um nível de inflação mais comportado. Essa posição, embora coerente em um momento em que a inflação anual permanece acima de 6,5%, foi um sinal inusualmente claro do Banco Central de que a conjectura de um arrefecimento do aperto monetário para dar estímulo ao crescimento não ocorrerá, pelo menos no curto prazo..

A economia está crescendo abaixo de seu potencial e esse é um dos fatos com que conta a autoridade monetária para reduzir a temperatura dos preços. O BC coloca entre os fatores favoráveis ao combate à inflação o "deslocamento do hiato do produto para o campo desinflacionário". Que o BC não está olhando neste momento para qualquer alívio que anime uma combalida economia consta, não por acaso, do mesmo parágrafo, em demonstração clara dos rumos que pretende seguir nos próximos meses.

O Copom repete a nota confiante do Relatório de Inflação, que "as pressões inflacionárias ora presentes na economia (...) tendem a arrefecer ou, até mesmo, a se esgotarem ao longo do horizonte relevante para a política monetária".

O horizonte relevante para o início da convergência para a meta de inflação, segundo a ata, é o segundo semestre de 2015. "Ainda assim" ressalta a ata, "o Comitê antecipa cenário que contempla inflação resistente nos próximos trimestres, mas, que, mantidas as condições monetárias - isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária - tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção".

A manutenção do curso da política monetária, entretanto, poderá não ser suficiente para domar os preços. O IPCA-15 de julho apresentou variação abaixo da esperada e os preços dos alimentos estão em baixa. Mas a inflação dos preços livres aumentou 7,31% nos doze meses encerrados em junho e a dos serviços continua próxima de dois dígitos (9,2%). Como registra a ata, a média das variações mensais dos núcleos de inflação subiu (0,54% para 0,62%) e o índice de difusão permanece elevado (61,4%).

O realinhamento dos preços administrados é outra incógnita relevante nesse cenário. Nada acontecerá até que o país vá às urnas e não se sabe o que o próximo governo fará a respeito. Boa parte dos analistas se inclina pelo ajuste único das defasagens, o que jogaria a inflação para bem acima da meta. Na ata, o BC elevou a variação projetada para esses preços em 2015 de 5% para 6%.

Outros fatores de pressão inflacionária apontados como riscos pelo BC estão, de fato, se dissipando. Um deles é "a possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade", dada a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho. Com o enfraquecimento generalizado da economia, a evolução dos salários refluiu razoavelmente. Os dissídios continuam sendo fechados com ganhos reais para os trabalhadores, embora em percentual bem mais modesto do que nos anos anteriores.

O BC considera que a demanda agregada tende a continuar "relativamente robusta" nesse e no próximo ano, embora a desaceleração econômica possa vir a desmentir essa expectativa. De qualquer forma, a expansão do crédito está bem mais moderada, assim como o consumo das famílias. O Copom espera mais ação no lado dos investimentos, decorrentes da exploração do pré-sal e da concessão de serviços públicos. Quanto ao balanço fiscal do governo, a expectativa da autoridade monetária continua sendo a de que ele se deslocará para a "zona de neutralidade". Um superávit primário do tamanho do dos últimos anos ajudaria a criar uma "percepção positiva" sobre a economia no médio e longo prazo.

Com a posição clara do BC de que não haverá alívio na política monetária, não tão logo de qualquer forma, o jogo econômico até as eleições está dado. Os indicadores de produção, vendas e de confiança continuam piorando, assim como as projeções sobre o crescimento da economia neste ano e em 2015. Se isso será suficiente para reduzir uma inflação renitente só o futuro dirá.


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