terça-feira, junho 03, 2014

O resfriado fica com jeito de gripe - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 03/06

Indicadores que antecipam resultado da indústria de abril e maio dão sinal de friagem extra


A GENTE AINDA não sabe quão mal das pernas esteve a indústria no mês de abril, mas as primeiras notícias a respeito de maio também não são boas, segundo relatos das próprias empresas. As condições de negócio pioraram pelo ritmo mais rápido em dez meses.

Já está mais do que sabido que o humor do empresário industrial não estava tão abalado desde 2009, dizem as pesquisas de opinião econômica (da FGV e da Confederação Nacional da Indústria). Sempre pode haver um exagero aí.

Infelizmente, há novos indícios de que o grande desânimo pode até vir a ser temporário, mas não parece no momento um despropósito, a julgar por outra dessas pesquisas que procuram antever o desempenho industrial. No caso, trata-se do Índice Gerente de Compras compilado pela empresa Markit para o banco HSBC (PMI HSBC).

Os dados mais recentes do IBGE a respeito da indústria referem-se a março. Amanhã, deve sair a Pesquisa Industrial Mensal do desempenho de abril. Pelo PMI HSBC, os negócios pioraram em abril e em maio.

No mês passado, a queda da produção relatada pelas empresas foi a maior desde outubro de 2011. Os preços cobrados pelos produtos caíram pela primeira vez em 27 meses (desde fevereiro de 2012).

Nesse tipo de pesquisa, pergunta-se a um responsável da empresa se, por exemplo, produção, pedidos e encomendas de exportações aumentaram ou diminuíram em relação ao mês anterior. Investigam-se ainda preços, estoques, prazos.

Não se trata de uma medida de produção física ou de faturamento, mas de um levantamento de declarações de altas e baixas nas operações das empresas. Em abril e maio, a tendência foi de contração.

O pior desempenho veio do setor de bens de investimento. Isto é, de bens necessários à ampliação ou renovação da capacidade produtiva. Contenção de investimento é, óbvio, um sinal de desconfiança no futuro da economia.

Na semana passada, soube-se que o investimento total na economia caiu pelo terceiro trimestre consecutivo no início deste ano (pelos dados do PIB, a Formação Bruta de Capital Fixo, jargão para investimento, cai desde o terceiro trimestre de 2013).

Segundo a pesquisa PMI HSBC, as empresas dizem ter reduzido a produção devido a dois meses de queda nos pedidos. O número de empregados caiu de novo, dada a procura fraca e a alta de custos. Com mercado reduzido e pressões competitivas, empresas baixam preços.

A notícia melhor, relativamente melhor, é que o preço dos insumos cresceu no menor ritmo desde agosto de 2009, meados de um ano em que o Brasil passou por ligeira recessão, provocada pelo estouro da crise de 2008. Isso é, meados de um ano em que houve uma onda de demissões na indústria. O aspecto talvez positivo é que, talvez, a política monetária (alta de juros para conter a atividade) esteja funcionando.

Os indícios concretos de desaceleração geral (pelo menos até março) mais os indicadores prévios de atividade e de confiança em abril e maio têm levado os economistas a baixarem suas expectativas de crescimento para o ano.

Na mediana dos economistas ouvidos pelo Banco Central, a previsão desta semana para o aumento do PIB baixou para 1,5% em 2014. Mas vai baixar mais.

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