terça-feira, junho 10, 2014

A ata do Banco Central - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 10/06

As análises duras do BC e do Comitê de Política Monetária devem ser olhadas com atenção e como sinal de alerta



Nos dias 27 e 28 de maio, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) fez sua reunião de número 183, na qual foi mantida a taxa básica de juros, a Selic, em 11% ao ano. Participaram da reunião oito membros do órgão, mais sete chefes de departamento do Banco Central (BC). Além de definir a taxa de juros, o Copom faz análise da economia para justificar sua decisão e a ata publicada é rica em informações sobre os principais indicadores econômicos e as expectativas sobre os rumos do país. Os capítulos principais abordados nessa ata foram a evolução recente da economia, a avaliação prospectiva das tendências da inflação e a implementação da política monetária.

A decisão de manter a Selic em 11% pode ser explicada por alguns fatores já conhecidos. O primeiro tem a ver com a taxa de inflação, que ficou em 6,28% no acumulado de 12 meses, abaixo do teto da meta, que é de 6,5%. Vale lembrar, entretanto, que o alvo do BC é perseguir a meta de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Os 6,5% são um teto tolerável, mas não deveriam ser a inflação buscada. A julgar por esse ponto, o BC poderia ter elevado a taxa de juros, principalmente porque os preços livres têm aumentado acima de 7% ao ano, e o grupo de alimentos e bebidas havia registrado, em abril, elevação de 14% no acumulado de 12 meses. Como nas últimas semanas, houve certo arrefecimento do ímpeto altista dos preços; por esse ponto, o BC optou por não elevar a Selic.

Outro ponto que colaborou para a manutenção da taxa de juros foi o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que faz estimativa para a produção mensal dos três setores da economia (primário, secundário e terciário). O fato é que, mais uma vez, o crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) ficará muito abaixo da previsão feita pelo governo no início do ano e já há quem fale em 1%. Apesar da decisão de manter a Selic nos 11%, o BC faz comentários sobre a inflação, sugerindo que não haverá tolerância do órgão com eventual elevação dos preços acima do teto da meta. Pelo contrário: a ata afirma que mesmo a taxa de 6,28% não é a meta (que, lembremos, é de 4,5%) e explica seus malefícios.

Na ata, o BC diz textualmente: “O Copom ressalta que a evidência internacional, no que é ratificada pela experiência brasileira, indica que taxas de inflação elevadas geram distorções que levam a aumentos dos riscos e deprimem os investimentos. Essas distorções se manifestam, por exemplo, no encurtamento dos horizontes de planejamento das famílias, empresas e governos, bem como na deterioração da confiança de empresários. O Comitê enfatiza também que taxas de inflação elevadas subtraem o poder de compra de salários e de transferências, com repercussões negativas sobre a confiança e o consumo das famílias. Por conseguinte, taxas de inflação elevadas reduzem o potencial de crescimento da economia, bem como de geração de empregos e de renda”.

Esses pontos destacados na ata sugerem que o BC tem disposição para elevar a taxa de juros a fim de conter a inflação e somente não o fez em razão do fraco desempenho do PIB. Eventual aumento da taxa Selic agora poderia contribuir para desaquecer ainda mais a economia, com consequências negativas sobre o nível de emprego. Embora não tenha dito explicitamente, o Copom certamente levou em conta a elevação da taxa de desemprego que, segundo o IBGE, passou dos 7% da população economicamente ativa.

A conjugação de crescimento baixo, inflação alta e desemprego crescendo indica que o atual momento da economia brasileira não é bom. Segundo o Copom, também o cenário internacional passa por restrições que dificultam a situação brasileira. Exemplo disso é o déficit brasileiro de mais de US$ 81,6 bilhões nas transações correntes no acumulado de 12 meses (diferença entre as importações e exportações de mercadorias e serviços).

A ata do Copom faz algumas previsões otimistas e sinaliza que os problemas atuais tendem a ser revertidos, prevendo melhoria de alguns indicadores mais à frente, mas sem muito otimismo. Tanto o BC quanto seu Comitê de Política Monetária são órgãos do governo; logo, suas análises mais duras não vêm de setores de oposição. Justamente por isso, devem ser olhadas com atenção e como sinal de alerta para o risco de problemas mais à frente.

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