sexta-feira, maio 16, 2014

Mercado está atento à rejeição de Dilma - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 16/05
Preços dos ativos indicam aposta no segundo turno
É o aumento da rejeição da presidente Dilma Rousseff, e não a queda das intenções de voto, o que chama a atenção dos analistas de mercado para as pesquisas - tanto as realizadas pelos institutos e registradas na Justiça Eleitoral quanto às feitas por encomenda, para o consumo interno de algumas instituições financeiras. Segundo o Datafolha, em outubro o índice de rejeição dos eleitores à Dilma era de 27%. Caiu para 25% em novembro, subiu para 33% em abril e chegou a 35% em maio. Aécio Neves, candidato à Presidência da República pelo PSDB, e Eduardo Campos, pelo PSB, também apresentam elevados índices de rejeição, de 31% e 33%, respectivamente. Mas quando ela se revela sobre a pré-candidata conhecida e testada no governo há pelo menos três anos e meio, a informação é mais forte e a rejeição é de difícil reversão.

Tão importante quanto saber dos rumos da taxa de juros, da renda variável e do câmbio, agora, é tomar o pulso dos eleitores. Há, no mercado financeiro, economistas e analistas especializados na leitura de pesquisas.

O alto índice de rejeição da presidente seria um dos sinais mais contundentes de que haverá segundo turno e, provavelmente, com Aécio Neves na disputa. Se ele chegar às vésperas das eleições em queda, Dilma será reeleita. Mas se Aécio estiver em uma curva ascendente, as chances de ele ser vitorioso são grandes.

Várias outras possibilidades saem dos números, dependendo das combinações. Por exemplo, se a presidente e os votos nulos e brancos - em torno de 25% a 30%, enquanto o padrão seria de 9% - permanecerem nos patamares de hoje, Dilma poderia até ganhar no primeiro turno.

A rejeição de Dilma indica que aquele contingente é de eleitores da oposição. Trata-se de um quadro bem diferente da rejeição a um candidato que pouco se conhece, argumentam os analistas. Em resumo: "Um candidato à reeleição em geral só perde para si mesmo".

Essa é a visão que orienta a dinâmica dos mercados, hoje. "Se Dilma estivesse com o jogo ganho, certamente a Bolsa de Valores estaria mais baixa e os juros e o dólar mais altos", aposta uma fonte da área financeira que há anos acompanha as pesquisas eleitorais. Os preços dos ativos, por enquanto, não refletem a vitória nem a derrota da presidente. Eles vislumbram o segundo turno.

Os mercados, no Brasil, exercem muito pouca, praticamente nenhuma, influência nas intenções de voto da população. Do conjunto de pesquisas se extrai quatro grandes preocupações da sociedade - saúde, educação, segurança e corrupção. Esta última pela primeira vez está entre as maiores inquietações dos eleitores.

O debate que no momento ocupa o tempo dos pré-candidatos à Presidência estaria, na ótica desses analistas, totalmente descolado dos reais interesses do cidadão. Inflação, autonomia do Banco Central, represamento de preços administrados, política industrial, papel do BNDES na economia, são assuntos importantes para os agentes econômicos e caros ao mercado financeiro, mas de pouca serventia à conquista de votos. Assim como as críticas do ex-presidente Lula à mídia e o perigoso desejo de enquadrá-la ao sabor das suas ideias não sensibilizam o eleitor, que está mais interessado em saber quando diminuirão as filas dos hospitais públicos.

O consumidor percebe que a inflação está elevada, checa os preços a cada vez que vai ao supermercado. Mas ele está empregado, seu salário foi reajustados pela inflação passada mais um ganho real e o poder de compra está preservado. Portanto, acreditam esses economistas, não é a inflação que aumenta a rejeição da presidente Dilma.

Nesse aspecto, arriscam uma explicação: a nova classe média, que deixou a pobreza nos anos mais recentes, tem renda de US$ 15 mil mas demanda bens e serviços de trabalhadores com renda de US$ 30 mil por ano. Ela tornou-se mais seletiva, mais crítica e menos tolerante com a baixa qualidade dos serviços prestados pelo Estado. A disputa sobre quem vai melhor atender a essas novas necessidades, em um curto período de campanha, estimula o discurso populista. "Como a campanha começa mesmo depois da Copa do Mundo, não haverá tempo hábil para os candidatos firmarem um contrato com a sociedade, a não ser o do discurso populista", observou um analista.

No Palácio do Planalto, a determinação é de rebater todas as críticas que vierem da oposição e defender os quase quatro anos de governo Dilma. Cumprindo rigorosamente o "script", ministros e auxiliares graduados foram instados a procurar a imprensa para responder às críticas sobre o excesso de subsídios concedidos pelo governo em nome de uma suposta política industrial, sobre o gigantismo assumido pelo BNDES como um banco do Tesouro Nacional, assim como à política de represamento de preços de energia elétrica, combustíveis e tarifas de transportes urbanos.

Em relação à algumas dessas questões, as diferenças entre os pré-candidatos começaram a surgir. Eduardo Campos e Aécio apoiam a autonomia operacional do BC, estabelecida em lei, para que a autoridade monetária possa cumprir a meta de inflação. Segundo o presidente do PT, Rui Falcão, o partido é contra essa proposta. Aécio, em texto publicado no Valor no dia 2 de maio, feito em parceria com Armínio Fraga, considerou um "exagero" a política de concessão de recursos subsidiados pelo BNDES, em benefício de poucas empresas e em detrimento do restante da sociedade. O ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, saiu em defesa do banco e dos subsídios.

Esta semana, em entrevista à Folha de São Paulo, o ministro chefe da Casa Civil, Aloysio Mercadante, justificou o represamento de preços públicos como forma de proteção ao consumidor. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou que não há preços represados. Os candidatos das oposições criticaram o modelo de gestão econômica do PT.

Pela leitura que analistas do mercado financeiro fazem das pesquisas, Dilma, Aécio e Campos não ganharam um voto sequer nessa discussão. As questões macroeconômicas, reiteram essas fontes, não vão definir as eleições deste ano.

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