Nas internas e em público, ex-presidente pressiona Dilma a mandar 'cartinha ao povo brasileiro'
ERA FÁCIL especular que o governo Dilma Rousseff não faria mudanças relevantes na economia neste 2014, as quais de imediato tendem a causar desprestígio político. O ano é de disputa eleitoral, e o governo não tem convicção de que precisa fazer mudanças, para citar os motivos mais óbvios da inércia.
A difusão ampla da ansiedade econômica, evidente e crescente nas pesquisas desde junho de 2013, encurtou de modo até modesto a vantagem da presidente candidata sobre a oposição, mas diminuiu de maneira importante sua estatura no governismo. Dilma Rousseff ficou mais dependente de Lula.
A especulação educada agora é: qual sera o efeito dessa relativa minoridade política de Dilma sobre a política econômica deste ano?
A presidente vai escrever uma "cartinha" ou "bilhetinho" ao povo brasileiro, um versão em escala da "Carta ao Povo Brasileiro" de Lula, em 2002, quando o PT abriu mão das maluquices do seu programa?
Há poucas medidas práticas que poderiam fazer efeito ainda neste ano; das mais efetivas, todas seriam eleitoralmente desastrosas.
A pressão sobre a presidente não vem apenas do movimento "volta Lula" entre empresários, petistas e no governismo em geral.
Lula voltou a fazer pressão direta sobre a presidente, a "recomendar" mudanças na política econômica, como na crise dos protestos de junho de 2013.
Ontem, em entrevista a blogueiros, o ex-presidente afirmou que Dilma tem de "dizer claramente como a gente vai melhorar a economia brasileira". Não foi por acaso, foi meio combinado.
Petistas de São Paulo dizem que esse foi o teor da mensagem de Lula para Dilma na conversa entre eles na semana passada: é preciso mostrar que a administração da economia será "responsável e rigorosa". Isto é, que haverá mais controle de gastos e da inflação.
Lulistas paulistas dizem desde o fim de semana que Lula "não quer saber" da conversa da sua volta, mas que o ex-presidente vai "administrar" sua apadrinhada, representando ainda o papel de "ouvidor da sociedade".
No entanto, não foi possível descobrir o sentido prático desse suposto arranjo político-eleitoral entre criador e criatura.
O pessoal de São Paulo diz que o governo voltou a ter mais influência paulista, com Lula definitivamente na posição de tutor e a articulação política nas mãos de Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini.
Quanto a mudanças ou mesmo reparos econômicos, a ansiedade econômica revelada nas pesquisas deve é até aumentar a relutância do governo em tomar alguma atitude prestante. Por exemplo, corrigir os preços quase-tabelados a princípio faria a inflação aumentar e causaria ainda mais medo.
Logo é possível que o governo fique inclinado a fazer ainda mais bobagem, represando os preços para um grande (e estelionatário) tarifaço em 2015. Ou seja, dada a insegurança do eleitorado, tende a aumentar a propensão do governo a empurrar os problemas com a barriga até o ano que vem.
Mesmo que Dilma aceite a tutela de Lula e mande um "bilhetinho ao povo brasileiro", o calculo eleitoral pode engrossar ainda mais o dossiê explosivo de problemas de 2015.
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