O GLOBO - 13/04
O Metropolitan de NY e o Museu de Arte de São Paulo retratam o andar de cima de cada uma dessas cidades
Em 1871 havia em Nova York uma das mais endinheiradas plutocracias da história. Era demófoba, antissemita e racista. Do nada, ela criou o Metropolitan Museum com a ajuda de um general e conde italiano, que não era general nem conde, apenas um finório. O museu só abriu ao domingos em 1889 porque pobre cospe no chão. Judeu no conselho, só em 1909. Negro, em 1971. Hoje o Met abre sete dias por semana, recebe 6 milhões de visitantes a cada ano e os nomes de seus 960 grandes benfeitores estão nas placas de mármore que ladeiam sua escadaria.
São Paulo também tem sua plutocracia. Graças ao jornalista Assis Chateaubriand, dono da maior rede de comunicação do país na metade do século 20, existe o Museu de Arte. Recebe 50 mil visitantes por mês e está arruinado, deve R$ 8 milhões e recentemente ganhou notoriedade quando dele saiu a proposta para gradear seu vão livre.
Na sua enésima encrenca, saíram do Masp duas notícias. Uma boa, outra ruim. A boa é que existe a possibilidade de os bancos Itaú e Bradesco apadrinharem a instituição, remodelando-a. A ruim é que os governos do Estado e da cidade querem participar da gestão do museu.
O Masp precisa blindar sua natureza privada. Os impostos estaduais dos paulistas sustentam uma boa instituição, a Pinacoteca, e uma ruína, o velho museu do Ipiranga, que está fechado. (O Masp, pelo menos, está aberto.) O governo de São Paulo e a prefeitura sustentam mais museus que os governos do Estado e da cidade de Nova York. Os americanos dão benefícios às instituições, às vezes têm assentos em seus conselhos, mas não se metem na gestão.
O Itaú, o Bradesco e quem mais estiver disposto podem transformar o Masp na vitrine de excelência e gestão de uma elite. Nos anos 70, quando Nova York e o Metropolitan viviam dias de crise, quem presidiu a mudança do museu foi um banqueiro. Douglas Dillon, que havia sido secretário do Tesouro de John Kennedy, apoiou uma política que reorientou a instituição para o povo. O museu preocupou-se sobretudo em exibir. Foi na sua presidência que expandiram-se as lojas de lembranças, transformadas em agradáveis mafuás. Hoje o Metropolitan opera uma máquina que é o sonho de qualquer banqueiro. Tem 170 mil pequenos contribuintes que a cada ano depositam cerca de 30 milhões de dólares, e não sacam.
QUEM FALOU COM EDUARDO CUNHA?
O líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha, prestou um serviço à moralidade pública defendendo o veto ao dispositivo da medida provisória 627, na qual incluiu-se um contrabando que alivia as operadoras de planos de saúde das multas a que estão sujeitas por negarem os serviços que vendem. Ele foi claro: se o governo da doutora Dilma tivesse ficado contra a medida, teria tirado o gato da tuba. Mais: discutiu o assunto com comissários da Casa Civil, do Ministério da Fazenda, da Advocacia-Geral da União e, por certo, com a liderança governista na Câmara.
Tudo bem, mas ele poderia dar os nomes dos bípedes com quem falou. Cada um se explicaria, e o assunto ficaria no seu verdadeiro tamanho. Varrendo para baixo do tapete, arrisca-se uma situação perigosa. Amanhã aparece uma gravação na qual um barão dos planos de saúde conversa com um hierarca e produzem o seguinte diálogo:
- Como vai a MP 627?
- Acho que vai bem.
Não quer dizer nada, mas o silêncio de hoje acabará se transformando em suspeita.
Vale repetir: o contrabando fazia com que uma empresa multada cem vezes, devendo R$ 8 milhões, pagasse apenas R$ 320 mil. Isso em ano de campanha eleitoral.
NOSSO GUIA
Lula deu um jeito e conseguiu vestir seu velho macacão.
Com o tom paternal de um pai da pátria, faz oposição ao governo Dilma.
O MAPA DE VARGAS
Até bem pouco tempo o deputado André Vargas era um dos principais coordenadores da campanha de Gleisi Hoffmann ao governo do Paraná.
Hoje ele é um mapa das conexões do PT paranaense, mais precisamente do colégio eleitoral de Londrina.
Puxando-se um fio, viu-se que ele usava jatinho na conta do doleiro Alberto Youssef e ambos mercadejavam negócios no Ministério da Saúde atrás de uma "independência financeira".
Vargas fez sua carreira política no circuito ONGs-PT. Na campanha de 2010 adquiriu tamanha mobilidade que repassou doações legais para 13 candidatos do PT, no total de R$ 876 mil (R$ 45,8 mil para a doutora Dilma).
Londrina já teve um prefeito preso (Antonio Belinati), e outro, petista (Nedson Micheleti), condenado por improbidade administrativa. O poder do comissariado na região foi favorecido por sua aliança com o cacique José Janene, do PP, cujas pegadas apareceram no escândalo do mensalão.
As tramas de Youssef e Janene remontam à administração de Belinati, quando funcionou na Câmara Municipal um "mensalinho".
O PT de São Paulo carrega a cruz de sua aliança com Paulo Maluf. O do Paraná parece beneficiado por uma distração. Afinal, Janene conseguiu do comissariado coisas que Maluf nunca ousou pedir. Teve um pé na Visanet do mensalão e outro na Petrobras.
PAPUDA
O Ministério Público começou a colher os frutos do julgamento do mensalão e da formação da bancada da Papuda. Melhorou a memória de muitos depoentes, sobretudo a do doleiro Alberto Youssef.
FINGEM NÃO VER
Os sábios das ekipekonômicas tucanas sabem que o Planalto está deixando correr no Congresso a mutilação da Lei da Responsabilidade Fiscal por meio da alteração retroativa dos índices de cálculo das dívidas que os Estados e municípios têm com a União. Deram-lhe o nome de "novo pacto federativo", mas é apenas a velha e boa revisão de contratos já assinados pelas partes. Feita a mudança, os beneficiados ganham uma folga de algo como R$ 100 bilhões para gastar. Trata-se de aliviar os orçamentos dos governadores e prefeitos às custas da bolsa da Viúva federal. Todas as vezes em que isso foi feito, mais adiante, quebraram a Boa Senhora. Como há governadores e prefeitos do PSDB, é melhor mudar de assunto.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e convenceu-se de que o atraso na entrega da hidrelétrica de Jirau é razoável. Devia gerar energia em setembro de 2015, mas ficou para meados de 2016. Em 2008 diziam que a obra estaria pronta em 2013, mas deixa pra lá. O que o idiota não entende, porque tenta fazer negócios semelhantes e não consegue, é porque a usina custaria R$ 9 bilhões e sairá por R$ 17,4 bilhões.
SOBERBA
Em 2008 o PSDB de São Paulo passou o rolo compressor em cima de uma proposta de abertura de uma CPI na Assembleia para investigar o cartel da Alstom. Mágica besta. Arriscam tomar uma CPI federal.
São Paulo também tem sua plutocracia. Graças ao jornalista Assis Chateaubriand, dono da maior rede de comunicação do país na metade do século 20, existe o Museu de Arte. Recebe 50 mil visitantes por mês e está arruinado, deve R$ 8 milhões e recentemente ganhou notoriedade quando dele saiu a proposta para gradear seu vão livre.
Na sua enésima encrenca, saíram do Masp duas notícias. Uma boa, outra ruim. A boa é que existe a possibilidade de os bancos Itaú e Bradesco apadrinharem a instituição, remodelando-a. A ruim é que os governos do Estado e da cidade querem participar da gestão do museu.
O Masp precisa blindar sua natureza privada. Os impostos estaduais dos paulistas sustentam uma boa instituição, a Pinacoteca, e uma ruína, o velho museu do Ipiranga, que está fechado. (O Masp, pelo menos, está aberto.) O governo de São Paulo e a prefeitura sustentam mais museus que os governos do Estado e da cidade de Nova York. Os americanos dão benefícios às instituições, às vezes têm assentos em seus conselhos, mas não se metem na gestão.
O Itaú, o Bradesco e quem mais estiver disposto podem transformar o Masp na vitrine de excelência e gestão de uma elite. Nos anos 70, quando Nova York e o Metropolitan viviam dias de crise, quem presidiu a mudança do museu foi um banqueiro. Douglas Dillon, que havia sido secretário do Tesouro de John Kennedy, apoiou uma política que reorientou a instituição para o povo. O museu preocupou-se sobretudo em exibir. Foi na sua presidência que expandiram-se as lojas de lembranças, transformadas em agradáveis mafuás. Hoje o Metropolitan opera uma máquina que é o sonho de qualquer banqueiro. Tem 170 mil pequenos contribuintes que a cada ano depositam cerca de 30 milhões de dólares, e não sacam.
QUEM FALOU COM EDUARDO CUNHA?
O líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha, prestou um serviço à moralidade pública defendendo o veto ao dispositivo da medida provisória 627, na qual incluiu-se um contrabando que alivia as operadoras de planos de saúde das multas a que estão sujeitas por negarem os serviços que vendem. Ele foi claro: se o governo da doutora Dilma tivesse ficado contra a medida, teria tirado o gato da tuba. Mais: discutiu o assunto com comissários da Casa Civil, do Ministério da Fazenda, da Advocacia-Geral da União e, por certo, com a liderança governista na Câmara.
Tudo bem, mas ele poderia dar os nomes dos bípedes com quem falou. Cada um se explicaria, e o assunto ficaria no seu verdadeiro tamanho. Varrendo para baixo do tapete, arrisca-se uma situação perigosa. Amanhã aparece uma gravação na qual um barão dos planos de saúde conversa com um hierarca e produzem o seguinte diálogo:
- Como vai a MP 627?
- Acho que vai bem.
Não quer dizer nada, mas o silêncio de hoje acabará se transformando em suspeita.
Vale repetir: o contrabando fazia com que uma empresa multada cem vezes, devendo R$ 8 milhões, pagasse apenas R$ 320 mil. Isso em ano de campanha eleitoral.
NOSSO GUIA
Lula deu um jeito e conseguiu vestir seu velho macacão.
Com o tom paternal de um pai da pátria, faz oposição ao governo Dilma.
O MAPA DE VARGAS
Até bem pouco tempo o deputado André Vargas era um dos principais coordenadores da campanha de Gleisi Hoffmann ao governo do Paraná.
Hoje ele é um mapa das conexões do PT paranaense, mais precisamente do colégio eleitoral de Londrina.
Puxando-se um fio, viu-se que ele usava jatinho na conta do doleiro Alberto Youssef e ambos mercadejavam negócios no Ministério da Saúde atrás de uma "independência financeira".
Vargas fez sua carreira política no circuito ONGs-PT. Na campanha de 2010 adquiriu tamanha mobilidade que repassou doações legais para 13 candidatos do PT, no total de R$ 876 mil (R$ 45,8 mil para a doutora Dilma).
Londrina já teve um prefeito preso (Antonio Belinati), e outro, petista (Nedson Micheleti), condenado por improbidade administrativa. O poder do comissariado na região foi favorecido por sua aliança com o cacique José Janene, do PP, cujas pegadas apareceram no escândalo do mensalão.
As tramas de Youssef e Janene remontam à administração de Belinati, quando funcionou na Câmara Municipal um "mensalinho".
O PT de São Paulo carrega a cruz de sua aliança com Paulo Maluf. O do Paraná parece beneficiado por uma distração. Afinal, Janene conseguiu do comissariado coisas que Maluf nunca ousou pedir. Teve um pé na Visanet do mensalão e outro na Petrobras.
PAPUDA
O Ministério Público começou a colher os frutos do julgamento do mensalão e da formação da bancada da Papuda. Melhorou a memória de muitos depoentes, sobretudo a do doleiro Alberto Youssef.
FINGEM NÃO VER
Os sábios das ekipekonômicas tucanas sabem que o Planalto está deixando correr no Congresso a mutilação da Lei da Responsabilidade Fiscal por meio da alteração retroativa dos índices de cálculo das dívidas que os Estados e municípios têm com a União. Deram-lhe o nome de "novo pacto federativo", mas é apenas a velha e boa revisão de contratos já assinados pelas partes. Feita a mudança, os beneficiados ganham uma folga de algo como R$ 100 bilhões para gastar. Trata-se de aliviar os orçamentos dos governadores e prefeitos às custas da bolsa da Viúva federal. Todas as vezes em que isso foi feito, mais adiante, quebraram a Boa Senhora. Como há governadores e prefeitos do PSDB, é melhor mudar de assunto.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e convenceu-se de que o atraso na entrega da hidrelétrica de Jirau é razoável. Devia gerar energia em setembro de 2015, mas ficou para meados de 2016. Em 2008 diziam que a obra estaria pronta em 2013, mas deixa pra lá. O que o idiota não entende, porque tenta fazer negócios semelhantes e não consegue, é porque a usina custaria R$ 9 bilhões e sairá por R$ 17,4 bilhões.
SOBERBA
Em 2008 o PSDB de São Paulo passou o rolo compressor em cima de uma proposta de abertura de uma CPI na Assembleia para investigar o cartel da Alstom. Mágica besta. Arriscam tomar uma CPI federal.
Fernando Gabeira citou em artigo "O Farmacêutico do Ar", ESTADÃO (11/04):
ResponderExcluir"Num dos documentos surgidos na imprensa, fala-se que Youssef estava numa delegação oficial brasileira discutindo negócios em Cuba. Por que um doleiro numa delegação oficial? Por que Cuba?"
Essas questões a ex-ministra da Casa Civil e candidata ao governo paranaense, deve responder aos seus eleitores, pois o deputado André Vargas estava cotado para ser o chefe de sua campanha política. Após esta "viagem" com o jatinho emprestado, acho que perdeu o cargo de "capo" da campanha.
BRAZIL, PAÍS RICO...DE "QUESTÕES"!!!