quinta-feira, abril 10, 2014

Desceu até o chão - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 10/04
Ainda não vivemos um quadro venezuelano de escassez nas prateleiras, mas, certamente, o estoque de óleo de peroba deve estar perto do fim no Brasil. É desconcertante até mesmo para um cidadão minimamente ligado aos fatos, acostumado a ver tanta coisa errada rolar impune no dia a dia, perceber o quão longe a desfaçatez de membros das instituições políticas chegou. Ou melhor, recorrendo às letras de canções do funk carioca, é duro constatar o quão baixo o nível da atividade pública desceu: até o chão.
Nenhuma autoridade do Executivo e poucos parlamentares mostram vergonha com os flagrantes desvios do dinheiro público. Para piorar, começa a engrossar o velho discurso escapista de que denúncias graves de crimes são meros instrumentos da disputa eleitoral. É possível anular os efeitos danosos de roubo de dinheiro do contribuinte se classificá-los apenas como o "carnaval da oposição"? Ninguém mostra constrangimento, nenhuma resposta clara é dada e o povo toca a vida.

Se a honradez fosse uma preocupação real da classe política, nem sequer seria preciso correr atrás de comissões parlamentares de inquérito (CPI) para investigar rolos como os supostamente envolvendo a Petrobras. A simples prisão de suspeitos e os pareceres técnicos desabonadores seriam suficientes para haver pedidos de renúncia em série e novas investidas da Polícia Federal. Mas o que se assiste no meio do salão do baile da corrupção é à culpa contornável e aos escândalos que não escandalizam caberem no tamanho pequeno do ringue das eleições.

Prova disso é ver o ex-presidente Lula, vestido com a armadura de teflon, indo para a beirada do campo, como técnico de time de futebol, gritando para os jogadores do PT: "Chuta a bola para o mato, que é jogo de campeonato". Outrora estilingue a pedir CPIs contra governos, o partido se esforça hoje em blindar a própria vidraça e a repetir as falas dos que antes atacava.

É triste ver que a força da democracia brasileira ainda esbarre nos maus costumes e em conchavos resistentes ao voto popular. Para os governistas, a receita é esconder o malfeito e continuar dourando a pílula das alegadas realizações da gestão atual. Aos oposicionistas, por seu turno, resta torcer para que a sujeira sob o tapete alheio transborde e pratear a bala de sua arma. Que bom seria se ambos os lados competissem pela confiança do eleitor, com crítica honesta e autocrítica desejável.

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