O Estado de S.Paulo - 21/04
E se existisse uma taxa mágica, capaz de prever o futuro de uma eleição? De passagem pelo Brasil no começo de fevereiro, Clifford Young, diretor-gerente do Ipsos, um dos maiores e melhores institutos do mundo, calculou em 85% as chances de Dilma Rousseff se reeleger presidente. Faltou dizer que a previsão tinha prazo de validade - e ele estava expirando.
O que não lhe faltava era confiança, porém. Em abril de 2012, o Ipsos calculou os mesmos 85% de probabilidade de reeleição de Barack Obama nos EUA. Não foi coincidência, mas o resultado do mesmo modelo de projeção baseado em cálculos estatísticos. Como todo modelo, seu sucesso depende da base de comparação - no caso, centenas de eleições pelo mundo - e de algumas assunções.
A principal delas é que quem já está no poder e quer continuar lá tem 2,6 vezes mais chances de vitória do que um candidato apoiado por ele. Por essa assunção, a Dilma de 2014 é uma candidata com mais do que o dobro de chances de vitória do que a Dilma apadrinhada pelo então presidente Lula em 2010.
Quando Mr. Young fez sua previsão, parecia que o governo Dilma estava no limiar do paraíso: 56% de aprovação. Mas a notícia era velha, o quadro já estava mudando - e não era para melhor.
Segundo a tabela de redenção eleitoral do Ipsos, quando o governante tem de 40% a 45% de aprovação, sua chance de reeleição varia imensamente, de 54% a 81%. Pois Dilma está escorregando célere para o purgatório da opinião pública. Nas pesquisas do Ibope, a presidente caiu dos 56% de aprovação em dezembro para 53% em março e, chegou, na semana passada, a 47%.
Para Mr. Young, a presidente só precisa se preocupar se essa taxa cair abaixo de 40% - quando bate nessa marca, a chance de vitória do governante seria a mesma de ganhar no par ou ímpar. Outros cálculos, porém, mostram que o sinal vermelho no Palácio do Planalto já deveria ter acendido em março.
Por trás dos números e porcentagens está o simples desejo do eleitorado de continuar com o mesmo governante ou trocá-lo. Todas as tentativas de predição das urnas se resumem a aferir se a eleição é de continuidade ou de mudança. Se for de continuidade, dá governo; de mudança, oposição.
Contradições. No Brasil os sinais são contraditórios. Enquanto 2 a cada 3 eleitores dizem querer mudar tudo ou quase tudo no governo, a maior parte declara voto em Dilma. Até outubro, essas taxas vão necessariamente se aproximar. Mas qual vai puxar qual? A tentativa de resposta não tem a pompa de um modelo estatístico, mas se baseia na análise histórica das pesquisas do Ibope.
Melhor do que o simples "aprova ou desaprova o governo" é a pergunta que pede ao eleitor para qualificá-lo de "ótimo", "bom", "regular", "ruim" ou "péssimo". Nesse sistema há, além dos sinais positivo e negativo, uma medida de intensidade. Neste momento, por exemplo, a rejeição ao governo Dilma está quase tão intensa quanto ficou logo após os protestos de junho de 2013.
Pesquisa feita pela CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari, mostra que a conversão das taxas de "ótimo+bom" e de "regular" de um governante em intenção de voto é praticamente a mesma ao longo dos anos. Nas médias das eleições presidenciais, 84% de quem diz que o governo é ótimo ou bom e 36% de quem o chama de regular acabam declarando voto naquele presidente no 2.º turno.
Como há constantes, é possível criar cenários eleitorais de acordo com as variáveis. Traduzindo: sabendo-se o "ótimo+bom" e o "regular" de um governante dá para estimar qual sua votação no turno final. Se essas assunções estiverem corretas, Dilma precisa melhorar. A presidente necessitaria de ao menos 38% de "ótimo+bom" e de 34% de "regular" para se reeleger, raspando.
Em qual taxa mágica acreditar? Na tranquilizadora, que mostra Dilma ainda na zona de conforto eleitoral, ou na preocupante? Depende do viés de cada um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário