sábado, março 22, 2014

Sobre arranhões e campanhas - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 22/03

Dilma não se elegeu apenas por ter conquistado a imagem de gerentona por mais que isso a tenha ajudado. Ela levou a eleição principalmente porque Lula a escolheu como candidata. A compra de uma refinaria nos EUA é um assunto difícil de entrar no debate, mas a presidente sabe que sofreu um baque

Ao contrário do que os manuais anunciam, a presidente Dilma Rousseff precisou de pouco tempo e quase nenhum esforço para ganhar uma imagem positiva, no caso a de gerentona, nada tolerante com a incompetência e os malfeitos. Independentemente de a premissa ser verdadeira, isso a ajudou tanto ao longo da campanha de 2010 quanto nos três primeiros anos de governo. O “tecnicismo” de Dilma serviu para que aliados na Esplanada relevassem a falta de jogo de cintura nas negociações políticas e mesmo a rispidez no trato profissional — por mais que aqui ainda estejamos falando de imagem.

Ao longo desta semana, como se sabe, a imagem de gerentona foi abalada de forma ainda mais rápida. Segundo os lulistas, tais arranhões ocorreram por conta do próprio Planalto. Em resposta a uma reportagem de Andreza Matais e Fábio Fabrini, do jornal O Estado de S.Paulo, Dilma disse em nota que, em 2005, quando era presidente do conselho de administração da Petrobras, aprovou a compra de uma refinaria micada nos Estados Unidos com base em relatório com “informações incompletas” e “juridicamente falho”. Por mais que o objetivo de Dilma tenha sido se livrar do caso, a aquisição agora virou um problema para ela. Voltou como um bumerangue que sempre mira na cabeça do dono.

Até aqui o episódio envolvendo a refinaria de Pasadena é o mais emblemático nos arranhões da imagem de “gerentona” de Dilma. Do ponto de vista eleitoral, porém, o desgaste representa pouco ou quase nada neste momento. E não por causa da última pesquisa Ibope, divulgada na quinta, que mostra a petista com chances reais de ganhar no primeiro turno. O episódio é intricado demais para chegar na base do eleitorado a ponto de gerar uma mudança de comportamento de imediato. Mas não deixa de ter um simbolismo a ser explorado, por mais que parte dos adversários e até os peemedebistas insatisfeitos com Dilma mostrem não querer avançar em eventuais investigações do Congresso.

Cabo eleitoral
Dilma não se elegeu apenas por ter conquistado a imagem de gerentona — por mais que isso a tenha ajudado. Ela levou a eleição porque o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a escolheu como candidata. Com o cabo eleitoral de peso, a petista tinha poucas chances de perder a corrida. O brasileiro naquele momento estava satisfeito com a vida que levava e não queria mudanças. É claro que Dilma, ao longo da campanha, conseguiu convencer a maioria dos eleitores sobre a própria viabilidade política. Da mesma forma, o eleitor de Dilma hoje vai avaliar como está a vida, se está empregado ou conseguindo manter o poder de compra. O problema é que, em ano eleitoral, qualquer risco pode se transformar em grandes problemas. Qualquer arranhão na imagem é capaz de comprometer.

A Petrobras é considerada na cabeça do brasileiro um patrimônio próprio. O governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, se atrapalhou todo quando tentou, em 2002, mudar o nome da empresa para PetroBrax. O ação rendeu ao PT a chance de criticar os tucanos em horário eleitoral. Agora, até que Dilma consiga sair da enrascada — se é que conseguirá sair —, é o PSDB quem deve se aproveitar do mote. O que isso pode se significar em votos na prática é impossível saber. Mas o abalo na imagem dela é certo.

Outra coisa
O governo tem se preocupado pouco e dado respostas truncadas sobre as cheias que afetam moradores de Rondônia. Professores e ambientalistas mostram que o fenômeno das chuvas foi ampliado com os barramentos das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Ao contrário do estridente caso envolvendo a refinaria comprada pela Petrobras, o desastre no Norte do país tem passado despercebido em Brasília. Menos pior para a imagem de Dilma. Ex-ministra das Minas e Energia, entre 2003 e 2005, e da Casa Civil — nos anos finais do governo Lula —, ela foi uma das maiores defensoras dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no setor elétrico.

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