terça-feira, março 11, 2014

Mercosul tem de ajudar Maduro - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 11/03
Farpas trocadas entre o vice-presidente americano e o presidente da Venezuela dão a exata dimensão da falta de respostas para a crise por que passa o país sul-americano. Joe Biden, em visita ao Chile para participar da cerimônia de posse de Michelle Bachelet, fez o que George W. Bush costumava fazer no início do mandato - responder às provocações de Hugo Chávez. Depois, ao se dar conta de que dava munição ao coronel presidente, desistiu da tática. Deixou Chávez falar sozinho. 
Em entrevista ao jornal El Mercurio, Biden acusou o governo de Caracas de "inventar conspirações falsas e extravagantes contra os Estados Unidos". Pediu que o governo escute a população "profundamente dividida" para não se assemelhar aos caudilhos que governaram a América Latina com violência e opressão. Em nota lida em rede de televisão, o vice de Maduro chamou a oposição de fascista "que avança em estratégia de golpe de Estado continuado". E defendeu as forças de repressão locais, segundo ele, bem mais brandas que as norte-americanas. 

É quase certo que a receita tantas vezes repetida - arrumar um inimigo externo para desviar a atenção dos problemas internos - não surta o resultado esperado. É que o país enfrenta dramas concretos que atingem diretamente a população. A inflação de 57% ao ano corrói o poder de compra dos salários. O dólar dispara. Apagões se tornam rotina. A violência explode. O desabastecimento de produtos básicos faz as filas crescerem em mercados e supermercados.

Em um mês, 21 pessoas morreram em confrontos com a polícia quando participavam de passeatas em protesto contra a falta de alimentos. No sábado, apesar da repressão, o povo voltou às ruas. A marcha das panelas vazias, organizada por mulheres da oposição, pretendia chegar ao Ministério da Agricultura. Mas cordão humano formado por policiais impediu o acesso ao prédio. Manifestações pró e contra o governo se repetem nas grandes cidades. 

Ao completar um ano de mandato, Maduro não tem projetos aptos a tirar o país da crise. Aplica a fórmula populista de Hugo Chávez que, uma década e meia depois, dá mostras de fadiga e inadequação para os problemas que se acumulam e se agravam. Ao prender o líder da oposição, Leopoldo López, e negar-se a conversar com o moderado Henrique Capriles, o diálogo tornou-se difícil, quase inviável. 

  Faltam vontade e interlocutores para sentar-se à mesa de negociação e encontrar saída. É lamentável. Maduro, presidente constitucionalmente eleito, tem mandato até abril de 2019. Terá de cumpri-lo. Golpe, no século 21, é inaceitável. Urge que o vizinho do norte encontre o caminho para sair da crise e retome a trilha do desenvolvimento. Os parceiros do Mercosul, entre os quais o Brasil sobressai, devem oferecer papel de facilitador para evitar o aumento da degeneração econômica e política do país.

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