FOLHA DE SP - 01/03
Quando cada ministro do STF desconfia de intenções e motivos ocultos de seus colegas, é a instituição inteira que se desmoraliza
Quem acompanhou o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal conhece a vocação de seu presidente, Joaquim Barbosa, para o destempero, a invectiva e o desrespeito. De novo inconformado com a opinião divergente --desta vez, na absolvição dos mensaleiros no caso da formação de quadrilha--, o ministro foi além.
No discurso em que promulgou o resultado da sessão, considerou apropriado lançar um "alerta à nação brasileira". Prognosticou o início de uma temporada de absolvições, já que, em sua opinião, uma maioria circunstancial de membros da corte havia sido formatada expressamente para tal objetivo.
A referência era inequívoca. Só faltou apontar o dedo para os novos ministros, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso, cujos "argumentos pífios" livraram José Dirceu e associados do crime de quadrilha.
Barbosa não contestou, assim, apenas os argumentos de ambos --que, de resto, concordavam nesse ponto com a ministra Cármen Lúcia, em geral firme na convicção condenatória. Deixou sob suspeita a própria composição do tribunal.
Pode-se perguntar que condições terá, a partir de agora, para conduzir julgamentos que, no seu raciocínio, pouco diferem das cenas de um teatro de marionetes.
Num ambiente tenso, também as considerações de Barroso adentraram o terreno da desconfiança e da sistemática suspeição. Vendo exagero dos colegas na atribuição das sanções, o ministro deslizou, ainda que com mais graciosidade, pela mesma encosta perigosa.
Penas tão altas, raciocinou, teriam sido fixadas de caso pensado, a fim de evitar que os réus se beneficiassem da prescrição do crime.
Os fatos, entretanto, parecem ser outros. A escolha das punições pelos julgadores correspondeu, dentro dos limites da lei, ao que cada um entendeu ser necessário para que fosse feita justiça.
Classificar como arbitrária, forçada e artificial a pena mais alta pode ser tão perigoso quanto pensar que sua diminuição atendia a encomendas do governo petista.
Se cada ministro do STF passa a comentar as intenções supostas e os motivos ocultos das decisões dos colegas, é a instituição inteira que se desmoraliza --e isso interessa apenas aos condenados e aos réus que aguardam sua sentença.
Felizmente, o processo do mensalão fala por si. Personagens de peso no cenário nacional foram julgadas sob permanente escrutínio público. Assegurou-se o contraditório; apresentaram-se e discutiram-se as inúmeras provas; chegou-se, enfim, a um veredicto independente e equilibrado.
Para uns, a punição terá sido pequena; para outros, exagerada. É do jogo que seja assim. Nem comentários desmedidos nem advogados exaltados, contudo, conseguirão retirar desse julgamento seu caráter histórico e insuspeito.
Quando são escolhidos para compor a Corte do Supremo, antes passam pelo Senado da República, onde são sabatinados pelos senadores.
ResponderExcluirOuso em sugerir mudanças na sabatina.
Em vez de se fazer perguntas ao individuo, as mesmas devem ser encaminhadas aos "umbigos" dos mesmos, pois externam comportamentos, que estão subjugados cognitivamente pelos respectivos umbigos, muitas das atitudes e decisões destes senhores são umbigo cêntricas.
BRAZIL, PAÍS RICO...DE EGOCENTRISMO!!!