O Estado de S.Paulo - 01/03
Não quero engrossar o coro da turma do "quanto pior, melhor", até porque não estamos no período de ditadura militar, em que uma ruptura era necessária e o "mais pior" era uma das boas opções para quem queria o fim da era dos militares. Rupturas não são mais opções para o Brasil. Com governo de esquerda ou liberal, o País precisa entrar numa rota de longo prazo de melhorias incrementais. Mas, sobretudo em ano eleitoral, é preciso manter a capacidade crítica sobre quase tudo o que um governo em busca de continuidade fala. Se o "quanto pior, melhor" em nada ajuda, o "otimismo acima de tudo" deste governo deve ser criticado. Além disso, em assuntos ligados à economia, ainda mais diante da inegável deterioração dos indicadores macroeconômicos, é necessário ser muito preciso sobre o desempenho futuro de indicadores que quase nunca vão mal. Refiro-me às exportações do agronegócio para 2014.
Depois de visitar Lucas do Rio Verde (MT), Dilma Rousseff fez afirmações bastante arriscadas sobre o desempenho do agronegócio em 2014. Da minha parte, espero que o Ministério da Fazenda esteja guardando para si projeções mais realistas para este ano.
Já é "carne de vaca" falar que é o agronegócio que garante o saldo comercial brasileiro, variável tão importante diante de uma balança de pagamentos sob estresse. Em 2013 as exportações do setor atingiram US$ 99,9 bilhões, com uma sequência de quatro anos seguidos de crescimento. Em 2009 as exportações haviam sido de US$ 65 bilhões. É um crescimento impressionante, mas que não pode ser tomado como dado, sobretudo em 2014.
Segundo meus cálculos, ao contrário do que disse a presidente após a visita a Lucas do Rio Verde, o cenário de 2014 é de queda da receita em dólares das exportações do agronegócio. As projeções indicam redução de 5% a 7%.
Analisando as exportações do agronegócio, decompondo a contribuição dos volumes e dos preços na receita total, fica claro que a coincidência virtuosa de volumes e preços crescentes não tem ocorrido mais. De 2005 a 2011, com leve interrupção em 2009 por causa da crise financeira detonada no 2.º semestre de 2008, quantidades cresceram 66% e preços, 116%, acarretando um crescimento da receita de 120%. Analisando os produtos principais da pauta exportadora, que representam 85% do total, o crescimento da receita para este período vai para 152%!
Mas, se o governo tivesse mais cuidado em analisar as exportações do setor, veria que a contribuição positiva dos preços internacionais parou em 2011. Incluindo 2014 na análise, que reforça para a maioria dos produtos a tendência de preços internacionais menores, a queda estimada dos preços a partir de 2011 é de 19%. Já nos volumes, eles continuaram a crescer até 2013, mas, em produtos-chave como açúcar, milho, algodão e suco de laranja, eles deverão cair em 2014. Como a tendência é de queda de preços nesses produtos, mas também em outros igualmente importantes, como complexo soja, café, carne bovina, o efeito combinado é de menores exportações em 2014.
É claro que não estou advogando pelo "quanto pior, melhor". Com uma taxa de câmbio mais depreciada, o que leva exportações em dólares a crescentes receitas em reais, podemos assumir que a queda nos volumes exportados em alguns produtos em 2014 é conjuntural e associada a fatores que pertencem apenas a 2014, e não aos anos subsequentes. Tudo isso precisa ser monitorado por produto, mas o histórico desde 2005 mostra que um ano de queda nos volumes é sempre acompanhado de uma recuperação no ano posterior. Mas isso vai para 2015.
Menores receitas de exportação estão longe de significar que o agronegócio vai mal. Com exceção de setores que estão em grave crise, como o sucroalcooleiro, e aqueles que viram seus preços derreterem como o do café, o setor agropecuário crescerá em 2014. O ponto é que, para uma balança comercial em que cada bilhão é conquistado a duras ginásticas, com plataformas de petróleo, vai dar trabalho achar uma solução criativa para repor os US$ 5 bilhões a 7 bilhões de redução das exportações do agronegócio.
Senhor André, no final do artigo o senhor cita:(.) "vai dar trabalho achar uma solução criativa para repor os US$ 5 bilhões a 7 bilhões de redução das exportações do agronegócio".
ResponderExcluirOuso em dizer: O senhor está redondamente enganado! A nova arma para anular os "pessimistas de plantão", está sendo muito usada recentemente, é a contabilidade criativa.
Então, o trabalho vai ser de mudar os números das colunas de despesa para a coluna de receita, pronto o resultado se inverteu!
BRAZIL, PAÍS RICO...DE "MR. X"!!!