terça-feira, fevereiro 11, 2014

O exemplo do México - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 11/02

O país está longe de ser um paraíso, mas o progresso é notório: reforma tributária, melhor gestão do gasto público, modernização de relações de trabalho e programas de redução da pobreza



De forma surpreendente, em apenas dois anos o México deixa de ser um patinho feio latino-americano e desponta como um exemplo de país que fez reformas, rompeu com políticas atrasadas, ganhou credibilidade internacional e iniciou o caminho do crescimento econômico e do desenvolvimento social. Alguma coisa certa o país fez para conseguir tal proeza em tão pouco tempo. Na prática, o México está provando que o liberalismo com preocupação social (diferente, é preciso dizer, do puro laissez faire) é o melhor formato para fazer a economia crescer e melhorar as condições de vida da população.

Enquanto isso, Argentina e Venezuela seguem firmes rumo ao desastre econômico, e seus governos se recusam a tentar entender por que o México está indo bem. Certamente, não admitem nem em hipótese a possibilidade de adotarem o modelo mexicano. A razão é que o fervor ideológico estatizante impede a aceitação do óbvio e recusa as lições da história, mesmo que suas economias sigam caminhando a passos largos para o abismo.

Embora em menor grau que os vizinhos bolivarianos, nos últimos três anos do governo Dilma Rousseff os indicadores econômicos do Brasil vêm piorando, numa demonstração de que alguma coisa muito errada o país está fazendo. O diretor da agência de avaliação de risco Standard & Poor’s (S&P) Roberto Sifon-Arevalo declarou recentemente que os principais fatores responsáveis por colocarem o México em posição superior ao Brasil são as reformas estruturais e o ambiente político vigente naquele país.

As reformas avançaram na economia mexicana, o ambiente político tornou-se menos incerto, os indicadores econômicos melhoraram e o crescimento retornou. Enquanto isso, no Brasil as reformas estão praticamente estagnadas, a incerteza é maior e a vocação da presidente Dilma para intervir na economia – muitas vezes de maneira atabalhoada e improvisada – são fatores que contribuem para os maus resultados das contas fiscais, o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a fuga dos investidores dos projetos da infraestrutura.

O México está longe de ser um paraíso. Pelo contrário: o país continua com elevados níveis de pobreza, há gargalos estruturais que vêm de décadas, os problemas sociais continuam sérios, há regiões dominadas pelo narcotráfico e o caminho para superar o atraso é longo. Foram décadas de maus governos e más políticas públicas, coisa que não se pode consertar em pouco tempo. Vale lembrar que o presidente Enrique Peña Nieto assumiu o governo há um ano e três meses, tempo muito curto para mudar a face do país. Mas o progresso é notório. O país avançou na reforma tributária, melhorou a gestão do gasto público, modernizou as relações no mercado de trabalho e tomou medidas saneadoras nos setores de energia, telecomunicações e financeiro, além de manter um programa de redução da pobreza parecido com o Bolsa Família. É muita coisa para tão pouco tempo de mandato.

O México andava tão mal que os resultados apareceram rapidamente. Hoje, o grau de risco do país na avaliação das agências internacionais de risco é menor que o do Brasil e, por isso, o México paga taxa de juros menor que o Brasil nos empréstimos obtidos no exterior. Em dezembro passado, agência S&P elevou a nota soberana mexicana, enquanto o rating brasileiro foi colocado em perspectiva negativa em junho do ano passado, indicando que a nota pode ser rebaixada.

Gabriel Casillas, economista-chefe do banco mexicano Banorte-Ixe, afirmou que entre os problemas prejudiciais ao Brasil estão as constantes mudanças de direção que confundem os investidores e aumentam a incerteza, levando os agentes a não entender para onde vai a economia brasileira e dificultando a previsibilidade dos projetos. Havia a expectativa de que a presidente Dilma aprofundasse as reformas e mantivesse as bases da política econômica de Lula, que era a mesma do governo de Fernando Henrique. As reformas não vieram e a gestão macroeconômica piorou. Apesar de os maus indicadores terem aparecido logo, o governo não dá sinais de mudança.

O exemplo do México mostra que as reformas, a boa gestão das contas públicas, o respeito à liberdade econômica e um ambiente favorável ao empreendedorismo dão bons resultados. Se o México continuar no bom caminho e sua população for beneficiada com avanços significativos nos próximos anos, os povos da América Latina terão mais um elemento para pressionar seus governos contra as aventuras estatizantes e anticapitalistas, que sempre terminam em inflação, baixo crescimento e atraso social.

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