sábado, fevereiro 15, 2014

Muito ruim a prévia do PIB - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 15/02
O mau desempenho da economia brasileira no ano passado, já denunciado pelos dados muito ruins da indústria e do emprego industrial e pelos últimos números do consumo, é confirmado por mais um indicador calculado por um órgão de governo. A produção encolheu 0,17% do segundo para o terceiro trimestre e 1,35% de novembro para dezembro, segundo o índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia imperfeita, mas útil, do Produto Interno Bruto (PIB). De janeiro a dezembro houve crescimento de 2,57%, segundo a série livre de fatores sazonais, e de 2,52%, de acordo com as informações registradas sem depuração. Qualquer desses dois números aponta mais um ano de resultados medíocres, o terceiro consecutivo. O PIB cresceu apenas 2,7% em 2011 e 1% em 2012. O número oficial de 2013 deve ser anunciado no fim do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelas estimativas do mercado financeiro e de consultorias independentes, muito dificilmente será mais animador que o IBC-Br.
Não há discriminação de setores na tabela desse indicador, mas a fraqueza da economia, já se sabe, é explicável, principalmente, pelas más condições da indústria, especialmente do segmento de transformação, pelo baixo nível de investimento e por uma ampla coleção de ineficiências. O crescimento da indústria geral, 1,2% segundo já informou o IBGE, nem sequer bastou para o setor se recuperar da queda de 2,5% no ano anterior.

Pela estimativa do BC, a atividade econômica diminuiu em dois trimestres consecutivos: 0,21% do segundo para o terceiro e 0,17% do terceiro para o quarto. Reduções em dois trimestres seguidos configuram tecnicamente uma recessão. Mas é cedo para usar essa palavra, embora a segunda metade do ano tenha sido indiscutivelmente muito ruim. Mas só os dados do IBGE poderão confirmar ou desmentir um cenário tecnicamente recessivo. Parte da informação necessária já é conhecida. No período de julho a setembro o PIB foi 0,5% menor que nos três meses anteriores. Falta ainda conhecer a estimativa do PIB entre outubro e dezembro.

Para o planejamento empresarial faz pouca diferença, nesta altura, o reconhecimento de uma recessão na segunda metade do ano passado. Tampouco fará diferença o registro oficial de um modesto crescimento do PIB nos três meses finais. De toda forma, o período foi desastroso para a maior parte da indústria, inegavelmente, e quem sobreviveu deve cuidar de outros assuntos para alcançar maior expansão e maior segurança neste ano e nos próximos.

Essa tarefa será especialmente complicada, se o governo insistir nas políticas seguidas nos últimos três anos e der prioridade - como geralmente se espera - às conveniências eleitorais. Um maior dinamismo econômico seria muito conveniente para as pretensões políticas da presidente, mas o empresariado precisa de mais confiança para investir e assumir riscos maiores. Mas a equipe de governo tem mostrado, até agora, pouca disposição para mudar o repertório de políticas.

Completadas as duas primeiras semanas de fevereiro, o Executivo nem sequer anunciou sua meta fiscal para este ano. O compromisso em relação às contas públicas tem de ser ao mesmo tempo crível e realizável sem muita dificuldade, para atender às conveniências eleitorais da presidente. De toda forma, seria precipitado imaginar um ano de austeridade fiscal, com redução da gastança.

O BC, tudo indica, deve continuar sendo o responsável principal - talvez o único - pelo combate à inflação. A contenção dos preços dependerá, portanto, principalmente dos juros. O acesso ao crédito de longo prazo continuará difícil para a maior parte das empresas no País, e mais escasso no exterior.

O câmbio um pouco mais depreciado e pressões salariais mais brandas poderão dar algum oxigênio às indústrias, mas outros custos, como o da energia, poderão pesar nas contas. Se os investimentos em infraestrutura deslancharem, as perspectivas ficarão melhores, mas os bons efeitos só deverão surgir nos próximos anos. É difícil, hoje, apostar em resultados muito melhores que os de 2013.

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