quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Luta política - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 06/02

Poucos dias depois de ter sido eleito presidente da Câmara no primeiro governo petista, o então desconhecido deputado federal João Paulo Cunha, em conversa com jornalistas em que eu estava presente, deu uma explicação singela para o fato de o PT passar a apoiar uma reforma da Previdência que nos oito anos anteriores, no governo de Fernando Henrique Cardoso, combatera ferozmente. Luta política , resumiu, sem o menor pingo de constrangimento, mesmo confrontado com os prejuízos que essa atitude causara ao país que agora seu partido governava.

Mais uma vez, é essa luta política que João Paulo Cunha e seus companheiros petistas vêm travando, desde que foram condenados à prisão pelos crimes cometidos no episódio que ficou conhecido na história política brasileira como o mensalão . Até mesmo a arrecadação pública de dinheiro para pagar as multas dos condenados está sendo manipulada como sendo uma resposta popular às injustiças do Supremo tribunal Federal. São criminosos comuns, mas fingem ser presos políticos.

Não haveria nada de surpreendente se militantes petistas depositassem dinheiro para ajudar o pagamento de multas de seus líderes. O que é de se espantar, como ressaltou muito bem o Ministro Gilmar Mendes, é que num mesmo dia tenham caído na conta de Delúbio Soares nada menos que 600 mil reais. E também é de se espantar que a doação média tenha sido de 600 reais. São cifras que merecem pelo menos uma boa investigação, como disse o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.

João Paulo, que foi obrigado a deixar a disputa pela prefeitura de Osasco depois de condenado, tem sido dos mais agressivos na luta política contra o ministro Joaquim Barbosa e as decisões do STF, e tem coragem de se dizer inocente a despeito das provas apresentadas no julgamento e de ter, num primeiro momento, revelado a fragilidade de sua situação ao dizer que sua mulher fora ao banco pagar a conta da TV a cabo.

A estúpida bravata do gesto do deputado Pepe Vargas, com o punho cerrado para constranger o presidente do Supremo que estava a seu lado em uma solenidade do Congresso, só demonstra o desapreço desses políticos pelas instituições democráticas. Foi a versão masculina da dança grotesca da ex-deputada Angela Guadagnin festejando a absolvição de um petista no plenário da Câmara.

Outro dos petistas condenados foi descoberto agora na Itália com documentos falsos e milhares de euros e dólares verdadeiros, depois de ter sido transformado em mártir da causa petista. Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil que desviou milhões de reais dos cofres públicos através da Visanet para viabilizar o golpe, tem também, segundo a PF, uma conta na Suíça com cerca de dois milhões de euros, que vem sendo utilizada desde que fugiu do Brasil numa confissão de culpa expressa.

É outro que tenta explicar o dinheiro recebido com versões bizarras como a do envelope que lhe teria sido dado pelo lobista Marcos Valério para ser entregue a um portador do PT, tarefa que ele cumpriu sem saber do que se tratava. É de reparar que somente os petistas tentam politizar a condenação do Supremo, pois os demais condenados pelo mensalão estão sabiamente mudos e respeitosos cumprindo as penas, na expectativa de conseguir sua redução e outras benesses previstas pela legislação em vigor.

Os comentários feitos pelos prisioneiros do alto comando petista e os ataques pessoais ao presidente do STF vindos da direção nacional do partido são tentativas de desmoralizar o julgamento, transformando-o em uma ação de exceção. Ora, temos um colegiado de 11 ministros dos quais nada menos que oito foram nomeados por governos petistas, e um regime democrático em pleno funcionamento, embora setores petistas queiram limitá-lo com leis de cunho autoritário.

Esses setores, que dominam a máquina partidária mas não conseguiram ainda controlar o governo, empenham-se em desmoralizar o STF para debilitar o sistema democrático. Assim como insistem em controlar o sistema midiático independente que lhes denuncia os desmandos. Controlando o Judiciário e as informações, estarão prontos para governar um simulacro de democracia.

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